nós somos os doentes de um mundo doente e o mundo está doente porque nós o adoecemos nós somos os doentes e a doença doentes da doença que nós mesmos causamos e tudo adoece ao nosso redor: os rios têm febre alta os animais vomitam sangue as árvores têm hemorragias as aves tossem sem parar os mares estão cobertos de chagas e feridas o céu está pálido e com fadiga as flores não conseguem respirar os campos têm rachaduras na pele as florestas têm tremores e não conseguem se erguer e as cidades têm cancer e nós somos as células cancerígenas
ano-novo? que é que terá de novo nisso? como que as pessoas esperam algo de novo se continuamos sendo os velhos bostas de sempre? como se a mudança viesse de fora e não de dentro como se o que mudasse fosse a humanidade e não o ser humano como se o novo viesse por decreto ou pela simples passagem do tempo que novo que haverá dentro das mesmas regras das mesmas convenções dos mesmos limites dos mesmos padrões? todo mundo pensa em novo mas ninguém muda como pensa todo mundo fala em novo mas segue o modelo que já está pronto e olha com cara feia a quem segue diferente quem quer mudar seus conceitos? olhar pelo olhar do outro? admitir que tem culpa que está errado? quem é que olha pra seu coração e confessa: "eu tenho que ser melhor" quem é que se propõe a amar mais? então até me falem em ano-outro mas não me falem em ano-novo.
eu não consigo olhar filme dublado não consigo comer comida recém saída do fogo não consigo usar roupas claras não consigo tomar cerveja no inverno frio exige vinho ou destilado não consigo ver um gato sem admirá-lo não consigo gostar de matemática não consigo dormir cedo (a não ser em caso de real necessidade, mas é complicado) não consigo entender quem não gosta de animais não consigo entender gente que não gosta da natureza nem mesmo quem gosta um pouco que negócio é esse de gostar um pouco? natureza é para ser amada adorada idolatrada não consigo ler poesia só mentalmente tem que se usar a voz e sentir a sonoridade das palavras não consigo escutar música baixa não consigo imaginar uma reunião divertida de amigos sem música não consigo ficar um dia sem ouvir música e eu não consigo ter esperanças nesta humanidade (eu disse NESTA) ainda mais agora enquanto escuto as sinfonias de Mahler.
Certo músico escreveu que se Beethoven tivesse composto SOMENTE a Missa Solemnis, já seria considerado um gênio da música. Na partitura da Missa, o seu Opus 123 (ou seja, é da mesma época da 9ª Sinfonia, Opus 125, da sua última fase) Beethoven escreveu "De todo o coração". E de fato o é: música composta de todo o coração, de toda alma, da genialidade mais profunda. Trata-se de uma das maiores obras musicais de todos os tempos, tão alta, tão poderosa, tão imponente, tão revolucionária quanto a Nona Sinfonia, mas bem menos conhecida do grande público. Há obras bem menores de Beethoven, bem menos expressivas, como a bagatelle Für Elise, que são muito mais conhecidas.
Não é música fácil, de se compreender com facilidade, exige uma, duas, três, quatro, várias audições, o que não a torna inacessível, pelo contrário, seu caráter é tão poderoso e impressionate que assombra a qualquer ouvinte já na primeira vez que a escutar. E mesmo sem muita concentração.
Também não é, como muitos devem imaginar, música de caráter meramente religioso, apesar do seu nome (uma missa) e de sua letra (é a letra da tradicional missa do cristianismo antigo, cantada em latim), pois a missa na música já havia se transformado em mais um gênero à serviço dos grandes gênios.
A Missa Solemnis vai muito, muito além. Beethoven não era um homem propriamente religioso. Também não era ateu. Entendia Deus como uma força, uma potência universal que abrangeria a tudo e a todos. Beethoven era um panteísta. E assim é o caráter da Missa Solemnis. Um sobre-humano monumento à essa força universal, uma obra-prima absoluta de expressão do Cosmos, do amor entre todos os seres, advinda do Ser, é a materialização musical da alma do universo.
A 2ª missa de Beethoven, ou seja, a Solemnis, finalizada em 1823, não é a única grande missa da história da música. Bach compôs a sua fenomenal Grande Missa em Si, Mozart tem a Grande Missa em Dó, Schubert, Bruckner, Haydn, entre outros, também criaram nesse gênero obras excepcionais. Mas a Solemnis de Beethoven possui algo que a torna única, inigualável, e não se sabe dizer exatamente o que é. Talvez a força descomunal, a inovadora potência instrumental, a inusitada violência sinfônica, talvez os coros alucinados, dilacerados entre o sofrimento e a glória, entre a angústia e a grandeza, entre o tragédia e o amor. Talvez tudo isso junto e ainda mais.
A Missa Solemnis é Beethoven em seu auge. É o que há de mais elevado no gênio de Bonn. É o que há de mais elevado na Arte. É arte "de todo o coração" para o coração dos homens.
Acima, um trecho da Missa Solemnis, o Gloria, em uma das melhores interpretações dessa obra gigantesca: a da Concertgebouw Orchestra, com o grande Bernstein na regência.
não precisamos de mais mente precisamos de mais coração. inteligência sem coração se transforma em vazio em maldade em destruição. desconfia de toda pessoa que despreza o coração e o sentimento: é ou será um perverso um tirano.
precisamos de mais coração: quem ama um árvore não corta uma árvore quem ama um animal não caça ou maltrata um animal quem ama um rio um mar não joga lixo nas águas quem ama sua terra não destrói sua terra.
quem mantém o seu coração entende e sente compaixão pelo sofrimento e evita o sofrimento dos outros busca aliviar as dores e reduzir as injustiças só o coração traz, ao menos, a empatia (eu nem vou falar de amor).
inteligência não significa sabedoria.
não é inteligência que falta: o que falta é sensibilidade. a ausência de coração está destruindo nosso planeta
tu serás tu mesmo: enquanto os homens se mostram tu te escondes como se nem fosses.
tu não estás nem aí
para o que os homens fizeram de 2020
ou de todos os anos que passaram
tu és pássaro
és noite e oculto tu existes no teu não estar não sendo nada além de Ser
és um verbo que se fantasma grito do não-dito és um lamento-punhal és toda a Dor
de uma era final quem te vê quando cantas?
quem te sente quando choras? o que cantas é um susto que não nos deixa sinal por isso este poema
ninguém te vê ninguém te quer por perto
porque dizem que és ave-funeral
mas tu sabes, Urutau que ninguém também
vê o Natal.
Obs.: o urutau é uma ave noturna que se utiliza muito bem da sua incrível capacidade de camuflagem. Por isso, raramente é vista. Vive da Costa Rica até a Argentina. Seu nome, urutau, em tupi-guarani significa "Ave-Fantasma". O motivo do nome, além de sua quase "invisibilidade", é que o seu canto melancólico é uma espécie de gemido muito triste, que lembra um lamento humano.
Beethoven, tu faz hoje dois séculos e meio de eternidade um gênio e um ser humano e emocionante pra caralho. (alguns vão reclamar do meu palavrão, foda-se.) tua música é profunda e é sincera é imensa e é simples: é simples fala direto ao coração: basta sentir. não é difícil como pensam aqueles que nunca pararam para te ouvir: é música de alma para alma é música para quem ama música (ou só pra quem gosta, nem precisa amar) é MÚSICA. ponto. é música para quem tem olhos para quem tem boca
para quem tem peito para quem sofre para quem luta para os vitoriosos para os derrotados para quem vive para quem morre para as lágrimas para os sorrisos é música para quem ama
é sangue para quem ama.
Beethoven, tu sofreu como um filhodaputa
e quase te matou mas decidiu viver putodacara para nos ensinar a amar. Beethoven, obrigado por resistir
e por sentir por todos nós.
eu teria sido pior (ainda pior) se não fosse tu. então, bêbados, como tu gostava, vamos comemorar! Salud!
há uma vida que não a vivida onde deveríamos estar mas os caras querem nos convencer de que a vida é só isso que esta aí esse rastejar cego de vermes que sempre seguem a mesma linha sempre na mesma fôrma no mesmo molde
esses caras querem que a vida seja só os meios de se viver: trabalhar comer cagar trabalhar dormir levantar trabalhar morrer e nas horas de folga se preocupar em ter que trabalhar para pagar o que nem se pode viver e não se chegar a fim nenhum a não ser chegar ao fim mas eles querem que isso seja a nossa vida e que agradeçamos com um sorriso a chance de sobreviver sem sentido para deixar uns poucos mais ricos (que por coincidência são eles) sendo só mais um entre um monte de uns
para eles o sonho a natureza a arte o amor pensar sentir passear e ver são só coisas fúteis que não valem nada (mas só quando é para os outros)
e se você mandar eles à puta que pariu eles vão ficar horrorizados enquanto eles é que são o horror.
entre o sim e o sol silencia o segredo calma de alma que nunca passa teu sempre sábio som de sonata calma da água que nada (a)tinge que pedra alguma nem mancha nenhuma perturba (a)funda infringe. olhar de fogo frieza lâmina adaga que ninguém enfrenta ou afaga sangra teu sopro sereno em veneno saga teu sonho em cosmos distantes teu silvo hipnótico a que tudo se rende e teme teu dente para sempre serpente.
um gato pode sofrer mas não se desespera pode estar triste mas nunca abatido pode perder tudo mas nunca fica sem nada um gato, se não tiver quem lhe ampare ele se vira se não tiver quem lhe alimente ele caça se não tiver quem lhe ame ele se ama um gato pode ser humilhado mas nunca perde a majestade pode estar faminto sem perder a presença de espírito pode estar um farrapo mas sua graça leveza agilidade inteligência sentidos elegância permanecem. um gato é uma obra prima enquanto o homem é uma vergonha. e aí está a Sophie que não me deixe mentir como um homem.
minha poesia não dá concessões não suaviza não ouve opiniões minha poesia é como um basta que não agrada não dá o braço não busca a paz (não mais) não se retrata não retrocede não se arrepende não volta atrás não dá ouvidos radicaliza definitiva poucos sorrisos quando ironiza.
minha poesia está cansada já não perdoa não alivia. minha poesia é de tristeza dilacerada angústia extrema é de um luto absoluto quase divino. é só um aviso que não dá chances não acredita e faz miséria e mau poema.
nem sente pena.
é a minha poesia não sou eu
não é o que eu sou. mas ela fica e eu logo me vou.
alguém poderia questionar: "por que tu escreve? ou pra quê? quase ninguém mais lê muito menos poesia e se lê entende muito pouco se é que entende e mesmo que entenda não dá muita atenção entra por um olho e sai pelo outro"
eu responderia que isso é escrever pelos outros mas eu escrevo por mim e para mim é para o meu bem
(com amáveis exceções) se for bom para os outros, melhor se não for, eu escrevi bem ou mal aí está: obra feita.
mas outros ainda poderiam argumentar: "não há mais nada a ser dito tudo o que se diz hoje já foi dito antes e de forma melhor por gente melhor."
eu responderia que não deixa de ser verdade mas completaria dizendo que ainda há algo a ser dito: o Adeus.
é a palavra que fala é a palavra que diz é a palavra que escreve é com a palavra que se pensa é com a palavra que se sente é a palavra que pede que manda que ora que sonha que sofre que chora que cria convida aconselha emociona
ninguém pode saber nada sem a palavra ninguém pode viver nada sem a palavra ninguém pode SER nada sem a palavra ninguém diz que ama sem a palavra ninguém diz que morre sem a palavra
"me liga", "falamos", "me manda mensagem":
é tudo palavra.
é a palavra que deixa o rastro é ela que diz o Faça-se e o Acabe-se em tudo o que se faz ou se deixa de fazer há uma palavra por trás antes da palavra ser dada não há nada e chega de conversinhas e me perdoem o palavrão mas a porra da palavra tem que ser respeitada.
eu disse às flores que só emitissem perfumes e só irradiassem suas cores quando tu passares muito perto delas eu disse às flores eu disse às árvores que só ficassem verdes e as que dão frutos que só dessem seus frutos quando tu estiveres entre as sombras delas eu disse às árvores eu disse às dores que só sofressem tanto e aos sofrimentos que só pudessem ser quanto tu fugires para longe deles eu disse às dores eu disse às onças que estivessem longe para vir bem perto de ti quando tu passeares não para te assustar com seus terrores mas para te proteger dos teus temores eu disse às onças eu disse aos rios que corressem mais limpos e às suas águas que fossem mais puras quando tu tocares os teus lábios neles eu disse aos rios eu disse às águas eu disse à chuva que só caísse forte e ao raio que só assombrasse a noite quando tu sonhares pelos astrais mundos descuidada por entre sóis e luas eu disse à chuva eu disse ao raio eu disse às nuvens que se abrissem todas quando tu sorrires para o céu com os olhos eu disse às nuvens e para o céu eu disse que te mostrasse os anjos quando tu pensares no amor mais fundo eu disse ao céu e eu disse aos anjos... aos anjos eu disse que eu te disse tudo.
as pessoas não querem mais ser gente não querem sentir nem pensar nem viver nem querem saber suas vidas são só vitrines é só o que o outro vai achar: que agora são todos fortes e vitoriosos todos de sucesso e todos de bem todos justos e saudáveis todos felizes com sorrisos constantes todos amantes e amados todos ricos e bonitos todos certos e espertos chorar é coisa do passado sofrer é coisa de fracasso ninguém mais chora ninguém mais sofre ninguém mais sente como diria Fernando Pessoa: "onde é que há gente?" ninguém mais erra ninguém mais falha ninguém mais se fode agora são só robôs sem defeitos feitos em fábrica e linhas de série autômatos pré-programados todos perfeitos e todos iguais... e nenhum presta. é preciso acabar esta humanidade para que volte a Humanidade.
quero ser aquele gato negro bicho tão noturno que não tem culpa de nada que com nada mais se importa que não tem seu rabo preso pra fugir da humanidade me ocultar entre o oculto e miar para o infinito pra ser sempre vagabundo vendo almas e fantasmas sem provar pra todo mundo pra sonhar sem ter os sonhos e dormir por entre a lua quero ser aquele gato ser sagrado e ser profano ser um deus ser um demônio e no fundo bem no fundo... desprezar o ser humano
chegamos a um ponto tão absurdamente absurdo de tudo que é absurdo que o absurdo nem traz susto estamos surdos aos absurdos vivemos surtos após surtos e são tantos os horrores e os mortos que o absurdo nem é mais a exceção: é a própria absurda instituição.
como se houvesse tempo estão lá com sede de progresso como se evoluíssem ceifando paraísos para semear infernos lucram como se fossem eternos a transformar vidas em desertos e é como se nunca bastasse mentindo como se fosse para matar a fome sem ter que distribuir a renda como se fosse em nome do que fosse justo como se não fosse pra colher ganâncias como se fosse ser herói se enriquecer à custa do que morre existir à custa do que some
e ainda se acham fortes e ainda se dizem homens como se não passassem de parasitas mais fracos do que cacos mais fiascos que palhaços como se não viesse a volta pelo horror do que plantaram como se não tivesse preço todo a beleza desfigurada como se ficasse por isso mesmo todo o amor que foi corrompido e como se não viesse o Tempo bater no seu endereço
fazem tudo como se o tudo ficasse mesmo assim: como se não houvesse o Fim.
um outro sol um outro sol mais ao alto se erguerá sobre o sol derradeiro vitorioso em som sonho e pesadelo e um outro som mais alto e vermelho se erguerá em de cada perdido instante em teu vasto sim de guerra e mais adiante um outro sou se erguerá em que vai avante mais alta em larga prata e mortífera espada de ponta adiante e ainda mais e mais elevada de ultra e além lâmina e mais afiada em adaga e um outro canto em soprano surgirá mais além de sublime em sublime e mais ainda em quem vem se erguerá mais acima e acima em que nunca ninguém e se erguerá mais um passo ao alto do horizonte que espanta e um outro verbo mais grave com fúria aguda venta e se lança e outro olho mais fundo e avante em outra Força mais alta levanta
tristeza de não-antídoto sorriso de lábio fêmino um beijo que seja válido entendo teu gesto lânguido o sonho em teu rosto sânguino o longe se arrasta rápido o tudo que eu digo é símbolo caminho que seja pórtico sangue de vela e lâmpada a chama escarlate tântrica meus olhos nas luas cálidas o longínquo em não ser-me ósculo: trágico é proparoxítono.
o sofrimento não deve ser medido pelo tipo de sofrimento mas pela relação sofrimento x anseio: sofre a pessoa não pelo que ela é ou deixa de ser não pelo que lhe acontece ou deixa de lhe acontecer não pelo que ela vive ou deixa de viver mas pelo que ela gostaria de ser ou gostaria que lhe acontecesse ou que fosse a sua vida sofrimento é muito mais o não-vindo.
o tamanho do sofrimento é o tamanho da insatisfação o sofrimento é um algo que falta. uma vida com tudo ou uma vida com nada pode dar no mesmo: o sofrimento se mede pelo desejo para quem não tem o que comer o alimento na mesa é a felicidade para quem tem alimento na mesa a felicidade está no alimento do sonho do coração da alma do espírito e ambos os sofrimentos são legítimos.
sim, há uma Paz profunda nos olhares das feras há verdades silêncios que se ocultam por eras saber desde o que é vida até mortes de estrelas o olho fogo do tigre só ao ser se revela o olho gelo do lobo em segredo nos vela
sim, há um Sangue profundo nos olhares das feras há tormentas noturnas que parecem com trevas são abutres nas árvores de sentinelas eternas serpentes que veem almas de quem passa por elas é que há um Fim profundo nos olhares das feras...
aquilo que não. que não o quê? que não tudo. desde o lá ao agora que não está ao que seja como sendo o longínquo de um algo de dentro o que nunca em nenhum momento sonho que sona o meu real o outro lado do que não o outro além-me-ar estando aqui pela sanga do teu quintal flor que cheirou o meu gesto sem tocar a minha mão fuga drogada de um verso ao voo do que não me fui em estares de imaginação o mas do que me distância e longos pelos teus anelos olhos no éter sem sê-los que terminam em um nada e começam em um fim e ainda tem o outro lado que é aquilo que sim.
Mozart morreu antes de terminar seu Réquiem de certeza uma das músicas mais emocionantes comoventes assombrosas já compostas nessa merda de mundo até um cara com um coração de pedra esfarelenta sentiria algum tipo de arrepio de pelos ao ouvir alguns trechos rápidos do sobre-humano Réquiem de Mozart.
Mozart finou-se antes de finalizar a maior Música de Fim da história ele escreveu sua própria Missa para os Mortos e morreu aos 35 anos no abandono e na miséria foi enterrado como indigente e se tornou imortal... (a vida é uma puta de uma ironia)
adoecido de corpo e de incompreensão Mozart já não podia suportar o peso de escrever a música mais trágica de todos os tempos. outros caras concluíram o Réquiem a partir de esboços de Mozart mas as partes completadas apenas pelo Amadeus já dizem tudo e fim de papo.
seu Réquiem é uma titânica súplica desesperada de ajuda ao mundo a Deus ao universo uma urgência em pânico daquele que aos 35 anos era o maior gênio musical de sua geração.
mas o Réquiem de Mozart é muito mais do que uma poderosa súplica sobrenatural é um monumento ao sentimento uma tentativa de salvação da humanidade pela vivência da própria morte. a gente se sente um pouquinho salvo ao ouvir a mais dolorosa música já arrancada do último amor antes da Morte.
poesia é sensação, não é entendimento. só fica o que for sentido só fica aquele gosto de algo nem que não se saiba do que é (Poesia não é para ser entendida) que se sente e não se explica aura de alma que é só sugerida uma impressão um indício um vago pelo ar (qual coisa é que faz sentido pela vida?) a poesia é mais ser do que pensar
eu sou mas não estou na poesia que escrevo a poesia é como o beijo: estraga se tentar explicar é tudo que fica do que pode haver é a palavra mais forte a mais funda a mais pura a mais próxima do amor pode ser trágica terrível mas é sempre bela está no olhar da Sophie nos olhos dela para ler poesia não há outro motivo a não ser o de amar seja lá o que for
essas palavras que digo
nem sei se estão comigo assim como não sei se estarei vivo no meu próximo dia mas se um deus ou deusa viesse nos falar só falará poesia.
o gavião voa pelo céu azul e paira no ar entre a corrente de vento com suas asas abertas aproveitando o instante e nós olhamos e achamos isso grande e belo
porque é a vida em seu estado puro e a vida em seu estado puro é imensa e simples e vivida a cada instante porque a vida é o instante e não há outra vida a não ser o instante que se vive e isso é simples e é grande e é belo
mas nós humanos estamos aqui não sabemos nem ser simples nem grandes nem belos sufocados numa existência complicada e pequena não vivemos os instantes porque pensamos em outros instantes que ainda não vieram e talvez nunca venham e bem lá dentro no nosso íntimo no nosso ser que é onde vive a vida nós não alcançamos porque não olhamos mais para dentro mas só para o próximo desejo lá fora a (não) ser alcançado.
Peguem meus versos e matem a pauladas sujem em fluídos de todas as mortes, deixem aos pedaços pingando dos cortes, e enterrem aos montes, não servem pra nada.
Joguem no lixo da Terra acabada, cacem minha alma em covardes esportes, juntem com a noite da antiga má-sorte, deixem que caiam meus olhos da escada.
Aplausos à arte são risos mentidos, e todo artista que se acha mui útil já vê seu vasto nas ruas cuspido.
Homens só louvam imbecis, o que é fútil, o verme e a merda. Tudo ânsia perdido num ato morto de um sonho que é inútil.
o ato de caminhar pelas ruas para quem vive é diferente de quem caminha só pelo necessidade de caminhar
ou pelo bem estar físico. geralmente as pessoas caminham mortas: ou afundadas no quem tem que fazer pelas ruas ou afundadas na sua dita saúde para que possam viver mais estando mortas.
para quem vive caminhar é algo que vem de dentro: como sentir que naquele canto da calçada de qualquer rua do centro de Santa Maria muita coisa já aconteceu, já houve almas ali sendo felizes ou desgraçadas e que tanta coisa poderia ter acontecido e é triste o não ter sido.
as folhas rolando pelas ruas com o vento são como facas que fere o que se olha e fere mais ainda o que se sente e o céu de amores e ausências se infiltra por entre prédios sacadas janelas e negócios como vapores de um pântano de distâncias.
caminhar para quem vive é um ato de solidão. e o porquê já está explicado.
Goethe disse que nunca conheceu um artista tão enérgico e concentrado como Beethoven. depois completou afirmando que o mundo lhe deveria ser detestável e que "infelizmente, tem uma personalidade incontrolável". Beethoven, que era fã de Goethe, bêbado mais tarde não gostou dos elogios e mandou Goethe se foder declarando que ele, Goethe gostava demais do ambiente dos ricos para um poeta.
sobre Van Gogh conta-se que ele passava por episódios de profunda
tristeza e isolamento (depressão, né) tinha personalidade complicada (sério?)
e adorava discussões. frequentemente causava apreensão em sua família (que ele mandava à merda) e só tinha amores impossíveis ou infelizes.
já Michelangelo, conhecido como "O Divino" era desconfiado e antissociável. tinha má digestão e dores de cabeças frequentes o que o deixava ainda mais melancólico. diziam os italianos que era terrível e passional e estava sempre puto da cara.
quanto ao borracho Edgar Allan Poe o inventor do terror moderno das histórias policiais e de crime criador do poema mais perfeito da história bom, esse era o pior. não passava de um pinguço apaixonado
com QI acima de 180. como não tinha Quem lhe Indicasse muito menos sorte ( que o diga O Corvo) o gênio da literatura morreu na sarjeta literalmente.
ninguém assume seu próprio peido ninguém se olha no seu espelho muito menos no próprio poço todos só querem saber de "eu posso" mas ninguém enxerga o "eu morro"
só queremos coisas leves sem preço retorno ou culpa otimismos sorrisos sucessos existências fashion e descoladas onde pensar tornou-se um saco e sentir tornou-se piada
queremos vidas de nada em que se possa ter de tudo e não se paga por nenhum ato com os lábios até as orelhas sem voltas sem consequências
enfim aquela coisa em que todo mundo caga e ninguém lava a bunda
eram quase 5h de canto estranho antigo desconhecido como se fosse um presságio um aviso um hino (aquela ave realmente cantou de madrugada) eu não soube que ave que era eu que conheço tantas aves e tantos cantos tantos sons tantas músicas tantos espantos parecia não ser deste século milênio ou idade soou pré-histórico não-existente algo de extinto de coisas que morrem que partem desaparecem parecia que vinha de florestas tombadas e paraísos perdidos havia algo de fim havia algo de morte um eco de tudo que foi e já não é de tudo que é e não será de tudo que será quando nada for era como um grito um sangue um pranto cheirava a sonhos ou de outros planetas um último ou um novo sopro de vida a morte e a donzela de Schubert lacrimosa do Réquiem de Mozart e foi no fim da madrugada mas era só o começo do que anoitece talvez fosse um bater de sino talvez do fim do mundo talvez do meu destino
há sabedoria na natureza. em todas as grandes extinções em massa (e hoje já vivemos outra) o objetivo final sempre foi extinguir a espécie dominante para que outras novas espécies pudessem reinar.