olho para o mundo que me cerca
e me sinto mal
olho para as pessoas que me cercam
e me sinto pior
olho para a morte que se acerca
e não me sinto vivo
olho para a vida entre cercas
e nem me sinto
não posso me sentir satisfeito
enquanto bilhões nem comida
têm para sua satisfação
não posso me sentir realizado
enquanto meu planeta
e tudo que nele vive
é aos poucos massacrado
anquilado
destruído
não existe sucesso algum
em meio ao fracasso desta civilização
o que se chama felicidade
não passa de mesquinharia
quem se julga feliz
é só um egoísta
28 junho 2019
26 junho 2019
Ladrão com Honra
há o ladrão covarde
e o ladrão com honra:
o ladrão covarde
entra pra política
vira deputado
ou abre uma empresa
ou funda uma igreja
(ou tudo isso junto)
para poder roubar
com a lei do lado
veja bem:
eu não escrevi
que TODO político empresário pastor
quis sê-lo por ser ladrão
(é preciso que se diga
pois há quem entenda
tudo errado)
já o ladrão com honra
(sejamos francos)
assalta bancos
e o ladrão com honra:
o ladrão covarde
entra pra política
vira deputado
ou abre uma empresa
ou funda uma igreja
(ou tudo isso junto)
para poder roubar
com a lei do lado
veja bem:
eu não escrevi
que TODO político empresário pastor
quis sê-lo por ser ladrão
(é preciso que se diga
pois há quem entenda
tudo errado)
já o ladrão com honra
(sejamos francos)
assalta bancos
23 junho 2019
O Homem Correto
Abordaram-me durante uma manhã de sol. Disseram que eu estava indo para o trabalho pelo caminho errado. Garantiram-me que, para meu próprio bem, eu deveria seguir por outro caminho. Protestei que, para mim, o caminho que percorria naquele momento era perfeito, que eu sempre o fizera, e que não via por que outro seria melhor. Mostraram-me então o caminho que eu deveria percorrer. E não somente naquele dia, mas por todos os outros em que eu fosse trabalhar. Caso não fosse por ele, seria punido. O que era, segundo eles, perfeitamente justo, uma vez que era tudo para o meu próprio bem.
Convencido, passei, daquele dia em diante a ir trabalhar somente pelo caminho que me fora orientado. Não vi nenhuma vantagem em fazê-lo, creio que era até um pouco mais longo do que o que percorria anteriormente. Mas se eles estavam tão certos que era para o meu bem, como poderia contrariá-los? Sem contar que, se não o fizesse, seria punido. Não me esclareceram, no entanto, que tipo de punição eu sofreria.
Dias depois, estava almoçando em minha casa, quando ouvi batidas na porta. Atendi. Eram eles. Traziam-me algumas viandas com variados tipos de comida, conforme verifiquei instantes depois. Imaginei que as viandas fossem o seu almoço. Convidei-os para entrar e almoçar. Recusaram, declarando que aquela comida não era para eles, mas para mim. Naturalmente, eu deveria pagar pela comida. E o fiz. Acrescentaram que já haviam se encarregado de realizar a encomenda de meu almoço, e que o mesmo seria entregue sempre por volta do meio-dia no meu endereço por um menino escolhido por eles. Eu deveria pagar o almoço ao menino. Todos os dias. E comer, ao menos durante o almoço, somente o que havia nas viandas.
Eram alimentos cuidadosamente escolhidos para a minha mais perfeita saúde. Retruquei que não gostava de vários alimentos que ali estavam. Responderam que isso não fazia diferença, eu deveria comer e me habituar a eles. Era para o meu próprio bem. Caso me recusasse a me alimentar somente com os alimentos das viandas, seria severamente punido. Tive que aceitar.
Quando abri a última das viandas (eram 5 no total), não havia comida ali, mas uma folha de papel cuidadosamente dobrada. Abri-a e li o seguinte:
“Senhor Gilberto, aqui está uma lista dos livros, revistas, músicas e filmes. São os que você deverá ler, ouvir, assistir durante este mês. Não é necessário ler todos os livros, ouvir todas as músicas, assistir a todos os filmes. Porém, o que senhor desejar ler, ouvir ou assistir, deverá estar incluído nessa lista. Nem é preciso que escrevamos que é para o seu próprio bem. E crescimento individual. Tudo o que está na lista foi selecionado pensando-se exclusivamente em seu bem-estar. É igualmente desnecessário que escrevamos que a punição oriunda do descumprimento destas determinações será exemplar. No mês seguinte, junto com alguma das viandas, virá a lista para o mês em questão. E assim sucessivamente. ”
No mesmo dia, providenciei alguns dos filmes, livros e músicas. Eu não gostava de quase nada do que estava na lista. Porém, estava certo de que, com o tempo, aprenderia a gostar, e que o benefício a mim trazido pelas obras seria extremamente recompensador.
Por vezes, desejava encontrá-los na rua para que eu pudesse agradecê-los por tamanha bondade e consideração por alguém tão insignificante quanto eu. Eu, que trabalho em uma indústria de móveis da manhã à noite e que recebo um salário não mais que razoável. Realmente, eu jamais teria tempo para pensar em todas essas coisas que eles têm pensado por mim. Tenho me sentido bem mais tranquilo. Fico imaginando o que devo ter feito de tão meritoso para receber a preocupação e dedicação deles. E chego à conclusão de que não fiz nada. Aliás, nada faço além de trabalhar e voltar para casa. Nos fins de semana, bebo, melhor dizendo, bebia, uma cervejinha com os amigos.
Digo que bebia, porque não o posso mais fazer. Para meu próprio bem. Há alguns dias, acordei com um telefonema às 3h da madrugada. Eram eles. Rapidamente, pois não podiam desperdiçar seu tempo, disseram-me que eu não deveria mais beber nenhuma bebida alcoólica. Eram nocivas, fosse para a minha saúde física, fosse para a psíquica. Nunca, jamais, eu deveria voltar a ingerir um gole sequer de álcool.
Também não deveria sair mais com meus amigos. No fundo, não eram meus amigos, eles sabiam. E eu deveria sentir-me grato por eles estarem agora me alertando, antes que fosse tarde demais. Antes que eu me perdesse e me transformasse em um ser inútil, absolutamente improdutivo para a sociedade. Exclamei que sim, que minha gratidão era infinita, e lembro que chorei ao telefone as mais sinceras lágrimas.
Então se despediram, muito polidamente, lembrando-me das severas punições em caso de desobediência e acrescentando que no dia seguinte eu receberia algo muito importante. Seria um manual, uma cartilha de como encontrar bons amigos. No final da cartilha, haveria uma breve lista com nomes, telefones e endereços de pessoas que seguramente seriam ótimos amigos para mim. Eu deveria procurá-los o mais rápido possível. Poucas vezes senti-me tão feliz em minha vida.
Certo dia, estava eu em um shopping, experimentando roupas em um provador de uma loja. Enquanto vestia a camiseta que provavelmente levaria, escuto um som de respiração, como se alguém estivesse muito próximo a mim. No meu lado esquerdo havia uma cortina. Parecia ser detrás dela que o som provinha. Abri-a. E ali estavam eles. Logo, declararam que estavam me observando, através de um pequeno orifício na cortina, enquanto eu experimentava as novas roupas. E, com um ar de profunda gravidade e decepção, que me estremeceu, disseram-me que não gostaram nem um pouco das roupas que eu estava pretendendo comprar. Eu não estava os agradando dessa forma. As roupas não combinavam comigo, garantiram, não podiam combinar. Elas não me deixariam melhor como pessoa. Eram de muito mau gosto.
Exclamei, bastante envergonhado, que, fosse como fosse, era o meu gosto pessoal. Eles não quiseram saber. De súbito, retiraram de seus paletós várias sacolas, cada uma com uma peça de roupa diferente. Disseram-me que, a partir daquele dia, para o meu próprio bem e crescimento individual, deveria usar aquelas roupas. E sempre que eu fosse comprar vestimentas novas, deveriam ser naquele estilo e com aquelas cores. Qualquer dúvida, deveria consultar um manual, uma cartilha de bem vestir-se que eles deixariam com a gerente da loja. Em caso de desobediência... eu já sabia. Claro que as roupas que eles me deram não eram de graça. Paguei por elas.
Levei-as comigo e experimentei-as somente em casa. De início, foi um choque. Senti-me verdadeiramente ridículo. Aquelas roupas não tinham nada a ver comigo. Porém, mantive firme minha força de vontade e segui as usando. Fui trabalhar com elas. Percebi que todos me olhavam na rua com sorrisinhos mal disfarçados e troçavam de como eu estava me vestindo. Mantive-me altivo e não dei atenção. Idiotas, pensei, que não sabem de nada. Se eles me garantiram, é porque assim eu estou bem melhor. De modo que os dias se passaram, segui usando aquelas roupas, adquirindo outras que não fugissem àquele estilo, e, ao fim das contas, nunca me senti tão bem vestido.
As semanas, os meses, os anos foram seguindo seu curso, e, de tempos, em tempos, eu os encontrava na rua, ou em algum local público, ou em meu trabalho, ou eles vinham até minha casa, com o nobre intuito de me transmitir mais instruções de como eu deveria viver, a melhor forma de se viver. E eles aproveitavam tais ocasiões para me inquirir. Desejavam saber se eu estava cumprindo com todas as determinações que me foram outorgadas. Garanti que sim, simplesmente porque era verdade. E mesmo que eu quisesse mentir, seria uma catástrofe, porque eles sempre sabiam de tudo. E então, com a mentira, a punição seria triplicada.
Questionavam-me apenas para verificar o meu nível de sinceridade. É óbvio que jamais os decepcionei, nunca deixei de agradá-los, sempre agi e me comportei de acordo com o que esperavam de mim, esforçava-me, em suprema abnegação, em mantê-los plenamente satisfeitos. Afinal, eles estavam sempre certos, a razão estava sempre com eles, suas opiniões eram as mais corretas, seus gostos, os mais perfeitos, suas ideias, as mais brilhantes. É assim, que posso fazer?
As últimas instruções que recebi referiam-se a uma lista das mulheres que eu poderia namorar e, posteriormente, casar-me. Não era uma lista longa, havia ali apenas cinco mulheres. Também não eram muito bonitas. No entanto, em hipótese alguma eu poderia escolher para namorar alguma mulher que não estivesse na lista. A punição seria impiedosa. Como deve ser, para que nos mantenhamos na linha. Ainda estou escolhendo qual delas será. Uma vez escolhida, não posso mais trocar. E a moça deve me aceitar em namoro. Ela não tem escolha. E é melhor realmente que não tenha, daria muita confusão. São as leis, justíssimas, para o nosso próprio bem.
É claro que desde que os conheci, minha vida tem se tornado difícil. Mas eu não reclamo, eu não protesto, jamais me rebelo, nunca questiono. Por que o faria? Sei que tudo o que eles fazem, os sacrifícios por mim e por tantos outros, todas as suas instruções, regras, ordens e disciplinas constituem um esforço tenaz em me tornar um exemplo de cidadão, um bom homem em todos os sentidos, cumpridor de seus deveres, um indivíduo correto, que conhece o seu lugar e as suas responsabilidades, que vive sua vida dentro da lei e da ordem estabelecidas e que, apesar de todos os percalços, é um homem satisfeito e bem sucedido.
Lembro que certa vez um antigo amigo, que, graças, nunca mais o vi, perguntou-me: “Mas como assim, eles decidem tudo por ti e tu achas bom?” Eu, sereno, limitei-me a responder: “É claro, por que não acharia, se assim sou feliz?”
20 junho 2019
Corpus Christi
18 junho 2019
De Pessoas e de Animais Selvagens
I - as pessoas dizem saber que tudo passa
as pessoas dizem entender que tudo passa
as pessoas dizem aceitar que tudo passa
as pessoas repetem como robôs que tudo passa
mas se tudo passa
também passa a humanidade
mas isso as pessoas não aceitam:
elas não entendem que se as pessoas morrem
aquilo que elas formam morrerá também
(se tudo que passa também volta
aí já é outro poema)
II - as pessoas que respeito
são as pessoas que respeitam
o que elas não são
aquilo que está o mais longe delas
aquilo que é melhor que elas
aquilo talvez que nem exista
ou que deixará de existir
só respeito pessoas
(por exemplo)
que respeitam animais selvagens
as pessoas dizem entender que tudo passa
as pessoas dizem aceitar que tudo passa
as pessoas repetem como robôs que tudo passa
mas se tudo passa
também passa a humanidade
mas isso as pessoas não aceitam:
elas não entendem que se as pessoas morrem
aquilo que elas formam morrerá também
(se tudo que passa também volta
aí já é outro poema)
II - as pessoas que respeito
são as pessoas que respeitam
o que elas não são
aquilo que está o mais longe delas
aquilo que é melhor que elas
aquilo talvez que nem exista
ou que deixará de existir
só respeito pessoas
(por exemplo)
que respeitam animais selvagens
16 junho 2019
Árvore é Passado
o que é árvore vai passando
porque vem passando o que é progresso.
abram alas
que o progresso quer passar
por cima de tudo
até não restar nada.
o progresso não tem sentido.
a humanidade perdeu o sentido.
o homem atrofiou seus sentidos
de encontrar sentido
de fazer sentido
de ser sentido.
agora, qual sentido seguir?
a árvore passa
no sentido de que passou seu tempo
o progresso passa
no sentido de que dá passos
num passo a passo ao abismo
com o qual em breve
esta humanidade também
será passado.
porque vem passando o que é progresso.
abram alas
que o progresso quer passar
por cima de tudo
até não restar nada.
o progresso não tem sentido.
a humanidade perdeu o sentido.
o homem atrofiou seus sentidos
de encontrar sentido
de fazer sentido
de ser sentido.
agora, qual sentido seguir?
a árvore passa
no sentido de que passou seu tempo
o progresso passa
no sentido de que dá passos
num passo a passo ao abismo
com o qual em breve
esta humanidade também
será passado.
13 junho 2019
Bêbado
ninguém é o que são:
eu mesmo sou tantos eus
que não sou ninguém.
o que somos
somos de não-ser
ninguém aqui é são:
somos todos doentes
há mais vírus na alma
do que bactérias nos dentes
ninguém é o que seja:
não somos nem o que se deseja
só doentes
se julgam sãos.
todo mundo se acha
um épico
mas mais é si mesmo
um bêbado
eu mesmo sou tantos eus
que não sou ninguém.
o que somos
somos de não-ser
ninguém aqui é são:
somos todos doentes
há mais vírus na alma
do que bactérias nos dentes
ninguém é o que seja:
não somos nem o que se deseja
só doentes
se julgam sãos.
todo mundo se acha
um épico
mas mais é si mesmo
um bêbado
11 junho 2019
Homens de Bem
tantos que se julgam homens
mas não passam de bananas
daquelas do mesmo cacho
tantos que se julgam rochas
mas não passam de farinhas
daquelas do mesmo saco
tantos que se julgam mantos
mas não passam de tapetes
daqueles tipo capacho
tantos que se julgam altos
mas não passam de curvados
a lamber botas e sapatos
tantos que se levam a sério
mas não passam de balela
e de piada e esculacho
tantos que desejam aplausos...
e merecem mesmo palmas
como palhaços
mas não passam de bananas
daquelas do mesmo cacho
tantos que se julgam rochas
mas não passam de farinhas
daquelas do mesmo saco
tantos que se julgam mantos
mas não passam de tapetes
daqueles tipo capacho
tantos que se julgam altos
mas não passam de curvados
a lamber botas e sapatos
tantos que se levam a sério
mas não passam de balela
e de piada e esculacho
tantos que desejam aplausos...
e merecem mesmo palmas
como palhaços
09 junho 2019
Vidas-Relógio
quantas vidas-relógio tu tens?
acordar na hora
dormir na hora
chegar na hora
comer dentro da hora
passear dentro da hora
cagar dentro da hora
terminar
antes que o prazo acabe
comprar
antes que o mercado feche
no banco
antes que as 3 horas bata
pagar
antes que a conta vença
...
uau, conseguiste!
e morreste.
acordar na hora
dormir na hora
chegar na hora
comer dentro da hora
passear dentro da hora
cagar dentro da hora
terminar
antes que o prazo acabe
comprar
antes que o mercado feche
no banco
antes que as 3 horas bata
pagar
antes que a conta vença
...
uau, conseguiste!
e morreste.
06 junho 2019
O Lixo Nosso de Cada Dia
somos todos lixo
lixo que se reproduz em progressão geométrica
em breve seremos 8 bilhões de lixos
unidos na lixeira da nossa desgraça.
eu, sendo lixo
tudo o que faço (apoiado por todos
os outros lixos)
é produzir mais lixo
lixo que nós, lixos,
consumiremos e transformaremos
no lixo do lixo
a ir para lixões mares e abismos
não há tempo
para se parar para sentir
para se parar para pensar
para se parar para viver
não posso parar de produzir lixo
de comprar lixo
de vender lixo
de comer lixo
de fazer lixo
de ouvir lixo
de olhar lixo
o lixo é o nosso sentido
se eu parar de produzir lixo
não serei um homem de sucesso
entrarei para o rol dos fracassados
dos que não prestam
dos homens de mal
dos mal sucedidos
se eu não produzir lixo ad infinitum
serei inútil para a ordem e o progresso
desta civilização de parasitas
a viver de lama lodo e lixo
a que chamamos dinheiro
e acaba aqui
este meu lixo de poema
lixo que se reproduz em progressão geométrica
em breve seremos 8 bilhões de lixos
unidos na lixeira da nossa desgraça.
eu, sendo lixo
tudo o que faço (apoiado por todos
os outros lixos)
é produzir mais lixo
lixo que nós, lixos,
consumiremos e transformaremos
no lixo do lixo
a ir para lixões mares e abismos
não há tempo
para se parar para sentir
para se parar para pensar
para se parar para viver
não posso parar de produzir lixo
de comprar lixo
de vender lixo
de comer lixo
de fazer lixo
de ouvir lixo
de olhar lixo
o lixo é o nosso sentido
se eu parar de produzir lixo
não serei um homem de sucesso
entrarei para o rol dos fracassados
dos que não prestam
dos homens de mal
dos mal sucedidos
se eu não produzir lixo ad infinitum
serei inútil para a ordem e o progresso
desta civilização de parasitas
a viver de lama lodo e lixo
a que chamamos dinheiro
e acaba aqui
este meu lixo de poema
04 junho 2019
Três Lembretes sobre Liberdade
I - o livro me torna livre
o livre retorna em livro
mas não livra por ser lido
que só se lê no que é sozinho
e mesmo com tanto verso
e mais palavra em torno
ainda mais me livro e me torno
quando me entorno vinho
II - ser livre
é não ter que ter:
não ter
é não precisar não ser
III - em toda suposta liberdade
há uma prisão latente:
mas há tanto imbecil que se julga livre...
deveriam ler a palavra "livres"
de trás pra frente
o livre retorna em livro
mas não livra por ser lido
que só se lê no que é sozinho
e mesmo com tanto verso
e mais palavra em torno
ainda mais me livro e me torno
quando me entorno vinho
II - ser livre
é não ter que ter:
não ter
é não precisar não ser
III - em toda suposta liberdade
há uma prisão latente:
mas há tanto imbecil que se julga livre...
deveriam ler a palavra "livres"
de trás pra frente
01 junho 2019
Nós, estes Vermes
se soubéssemos quantas pessoas
apodrecem em miséria
a cada riqueza que é concentrada...
se soubéssemos quantos humanos
agonizam de fome
a cada comida desperdiçada...
se soubéssemos quanto de vida
diminui no planeta
a cada plástico que é consumido...
se soubéssemos quanto de morte
se espalha na Terra
a cada bem que é produzido...
nós, estes vermes...
faríamos tudo de novo.
apodrecem em miséria
a cada riqueza que é concentrada...
se soubéssemos quantos humanos
agonizam de fome
a cada comida desperdiçada...
se soubéssemos quanto de vida
diminui no planeta
a cada plástico que é consumido...
se soubéssemos quanto de morte
se espalha na Terra
a cada bem que é produzido...
nós, estes vermes...
faríamos tudo de novo.
29 maio 2019
Fin(do) Mundo
eu:
há um pulso no que sinto
há um preço no que pulsa
há um posso em que me findo
há um peso em que me perco
há poças no que piso
há um puma no que penso
há um passo do mim mesmo
há um ponto em que não passo
a humanidade:
há um preço que se paga
há um prego que se sangra
há um pranto que se alaga
há pressa numa sina
a um pulso de um Fim do...
a um passo de um sismo
a um prazo do destino
a um passo do Abismo
há um pulso no que sinto
há um preço no que pulsa
há um posso em que me findo
há um peso em que me perco
há poças no que piso
há um puma no que penso
há um passo do mim mesmo
há um ponto em que não passo
a humanidade:
há um preço que se paga
há um prego que se sangra
há um pranto que se alaga
há pressa numa sina
a um pulso de um Fim do...
a um passo de um sismo
a um prazo do destino
a um passo do Abismo
26 maio 2019
As Pessoas Passam
as pessoas passam
todo dia
na espera
de que o dia
passe
para ter no resto
do dia
um descanso como resto
mas já estão tão cansadas
que nem descansam
do que não fizeram
e nem fizeram
o que valesse
a pena descansar
(seja de bem seja de mal)
as pessoas passam toda vida
na espera
de que a vida
passe
e passam
as pessoas passam...
e etc e tal
todo dia
na espera
de que o dia
passe
para ter no resto
do dia
um descanso como resto
mas já estão tão cansadas
que nem descansam
do que não fizeram
e nem fizeram
o que valesse
a pena descansar
(seja de bem seja de mal)
as pessoas passam toda vida
na espera
de que a vida
passe
e passam
as pessoas passam...
e etc e tal
24 maio 2019
Para proteger e aumentar o número de Tigres, Bangladesh mata bandidos caçadores. O contrário do Brasil de Bolsonaro.
A destruição na Amazônia está atingindo níveis catastróficos com o desgoverno bolsonaro. Uma tragédia anunciada. A floresta está perdendo 19 HECTARES POR HORA. Em 15 dias de maio, a devastação corresponde à dos 9 meses anteriores, mas as multas do IBAMA caíram 35%, segundo divulgaram diversas ONGs. Enquanto isso, o número de agrotóxicos liberados até agora este ano já é maior do que foi liberado em qualquer ano COMPLETO anterior. Ou se tira Bolsonaro do poder, ou o nosso país será literalmente destruído. Não vou cansar de postar o meu texto de outubro de 2018, em que "cantei a pedra". Não porque sou um gênio, mas porque era o óbvio dos óbvios. Um trecho:
"O egoísmo também nos fala do lucro a qualquer custo. O custo é mais e mais destruição ambiental e exploração do trabalho humano. Voltamos à era da redução das áreas de preservação ambiental, do massacre dos povos nativos, da liberação da caça e da aniquilação da vida selvagem, pois isso não tem valor para o neoliberalismo, a não ser o valor financeiro. A poluição desenfreada não terá limites, a vida será cada vez mais subjugada pelos meios de produção. Vivemos a era em que os recursos naturais, desde campos, florestas, até a água ficarão nas mãos de muito poucos, assustadoramente poucos."
Enquanto isso, no meio do caos em que se encontra nosso planeta, de vez em quando, surge alguma boa notícia, como a de que a população de tigres de Bangladesh voltou a crescer depois de décadas de quedas devido à caça e à destruição do habitat.
Como que isso aconteceu? O trecho a seguir, retirado do site O Grito do Bicho, explica claramente:
"As autoridades adotaram uma série de medidas para aumentar o número de tigres de bengala na floresta - um dos últimos habitats silvestres remanescentes do mundo para os grandes felinos.
Como parte das medidas, o tamanho do santuário da vida selvagem na floresta foi a mais do que o dobro, enquanto uma força de segurança de elite lançou uma grande repressão contra os piratas que se tornaram caçadores ativos na rede de rios e canais da floresta.
Anteriormente, o santuário da vida selvagem estava limitado a 23% da cobertura florestal, e os moradores e turistas tinham acesso irrestrito ao restante da floresta de mangue.
Um esquema de recompra de armas fez com que quase 200 caçadores piratas entregassem suas armas e munições à polícia em troca de dinheiro, ajuda legal e telefones celulares.
Dezenas de outros caçadores piratas foram mortos a tiros como parte da repressão. Em um dos piores tiroteios, a polícia matou seis caçadores furtivos em agosto de 2015 em um canal da floresta e encontrou as peles de três tigres de Bengala adultos.
A polícia alegou que o esquema de rendição praticamente erradicou a ilegalidade que já existiu nos mangues. "A caça furtiva é uma das principais razões para o declínio da população de tigres", disse Alam, acrescentando que as autoridades já lançaram um projeto de patrulhamento "inteligente" na floresta para reduzir o número de casos de caça furtiva a zero."
Mas no Brasil deprimente do pior presidente da história, seguimos o caminho contrário.
(Na imagem, um dos 114 tigres da reserva de Sundarbans, em Bangladesh.)
23 maio 2019
Para que Você quer Arte?
o que você quer da arte?
só o beijo e não o soco?
só o belo e não o chute?
só o sonho e não o sangue?
só o certo e não o medo?
só o leve e não a morte?
para que você quer arte?
para se sentir bem?
para ser agradado agraciado acariciado?
para se manter na sua zona de conforto ?
para seguir cômodo na sua frívola visão da vida?
prosseguir satisfeito com seu sorriso estúpido?
nunca ter abalos nas suas certezas toscas?
então você não quer arte você quer autoajuda:
vá ler augusto cury
vá pagar por palestras motivacionais
vá lamber o microfone de um pastor
ou vá para casa brincar
com sua caixinha fodida
de esperanças
só o beijo e não o soco?
só o belo e não o chute?
só o sonho e não o sangue?
só o certo e não o medo?
só o leve e não a morte?
para que você quer arte?
para se sentir bem?
para ser agradado agraciado acariciado?
para se manter na sua zona de conforto ?
para seguir cômodo na sua frívola visão da vida?
prosseguir satisfeito com seu sorriso estúpido?
nunca ter abalos nas suas certezas toscas?
então você não quer arte você quer autoajuda:
vá ler augusto cury
vá pagar por palestras motivacionais
vá lamber o microfone de um pastor
ou vá para casa brincar
com sua caixinha fodida
de esperanças
21 maio 2019
Ausência
por que devo dizer alguma coisa
se o que importa é o que se oculta?
é a palavra que não está lá
o que importa é a porta ao não-dito
é o destino
dado por quem lê
ao que não foi escrito
o que importa o que (des)espero?
o verso é um silêncio
do que é e não se vê
do que será e ainda se forma
e ele percorre a estrada
entre o que há
e o que é nada
nem sei do que sinto
mais do que vinho tinto
quem dera tivesse consciência...
por que dizer algo
se o próprio Deus
é o mistério da ausência?
se o que importa é o que se oculta?
é a palavra que não está lá
o que importa é a porta ao não-dito
é o destino
dado por quem lê
ao que não foi escrito
o que importa o que (des)espero?
o verso é um silêncio
do que é e não se vê
do que será e ainda se forma
e ele percorre a estrada
entre o que há
e o que é nada
nem sei do que sinto
mais do que vinho tinto
quem dera tivesse consciência...
por que dizer algo
se o próprio Deus
é o mistério da ausência?
19 maio 2019
Decadência
o que me resta de alma
mal dá pra cobrir
um vão do ente:
sou um doente em vão
e vão todas as gentes
no vácuo do (des)humano
a vagar para o abismo
ano após ano
asno após asno
ismo após ismo
sem saber de si mesmo:
eu e meu cinismo
reconheço que desagrado
e que não toco
nenhum vão do que se sente
com meu taco em não
(e os outros pensam que o são)
reconheço que me degrado
cataratas de sangue e caos
e outras quedas e tals
é o que se chama Evolução?
então
fico com minha busca
(como quem dirige um fusca)
por um resto de consciência
no que me fiz Decadência
mal dá pra cobrir
um vão do ente:
sou um doente em vão
e vão todas as gentes
no vácuo do (des)humano
a vagar para o abismo
ano após ano
asno após asno
ismo após ismo
sem saber de si mesmo:
eu e meu cinismo
reconheço que desagrado
e que não toco
nenhum vão do que se sente
com meu taco em não
(e os outros pensam que o são)
reconheço que me degrado
cataratas de sangue e caos
e outras quedas e tals
é o que se chama Evolução?
então
fico com minha busca
(como quem dirige um fusca)
por um resto de consciência
no que me fiz Decadência
16 maio 2019
Sem Paz
I - as pessoas querem acabar
com seus problemas:
se conseguissem
acabariam com elas mesmas
II - as pessoas querem paz
como se paz
fosse não ter com o que se preocupar...
mas paz
é não se preocupar
com a paz que não se tem
III - ter paz de consciência?
se nem consciência se tem?
IV - "ser ou não ser...
eis a questão..."
mas o que é o Ser?
é o que não sou
é o que não és
é o que não são
com seus problemas:
se conseguissem
acabariam com elas mesmas
II - as pessoas querem paz
como se paz
fosse não ter com o que se preocupar...
mas paz
é não se preocupar
com a paz que não se tem
III - ter paz de consciência?
se nem consciência se tem?
IV - "ser ou não ser...
eis a questão..."
mas o que é o Ser?
é o que não sou
é o que não és
é o que não são
14 maio 2019
Poeta é Saber que Não se Pode
I - não escrevo
para que os outros me leiam
me entendam me decifrem
escrevo para eu fazê-lo
com os outros
II - não escrevo
para melhorar ninguém
(só o si
melhora a si
quando cai em si)
escrevo a meu ser
que saindo da miséria que sou
se vá além do que nem sei
e do que nem vou
III - poeta
é saber que não se pode:
é perceber
que não se percebe
é dar-se conta
de que não se dão conta
para que os outros me leiam
me entendam me decifrem
escrevo para eu fazê-lo
com os outros
II - não escrevo
para melhorar ninguém
(só o si
melhora a si
quando cai em si)
escrevo a meu ser
que saindo da miséria que sou
se vá além do que nem sei
e do que nem vou
III - poeta
é saber que não se pode:
é perceber
que não se percebe
é dar-se conta
de que não se dão conta
11 maio 2019
Van Gogh, Goethe, Bach
ler Van Gogh
ouvir Goethe
contemplar Bach
se não causar
um além do que se é
(não falo de ciência nem de fé)
se em nossos dias pequenos
não mover minúsculas partículas
de mínimo mais amor (ao menos)
se não trouxer
uma certa irmandade
(ou coisa que há-de)
com uma simples estrela
ou com (por exemplo)
um complexo esquilo
de que adianta
(sobre Van Gogh, Goethe, Bach...)
decifrá-lo
entendê-lo
senti-lo?
ouvir Goethe
contemplar Bach
se não causar
um além do que se é
(não falo de ciência nem de fé)
se em nossos dias pequenos
não mover minúsculas partículas
de mínimo mais amor (ao menos)
se não trouxer
uma certa irmandade
(ou coisa que há-de)
com uma simples estrela
ou com (por exemplo)
um complexo esquilo
de que adianta
(sobre Van Gogh, Goethe, Bach...)
decifrá-lo
entendê-lo
senti-lo?
10 maio 2019
Sobre os Homens Ocos*
nós somos os homens ocos
(e já nem digo cagados)
em cujas cucas já poucas
há um caldo de água de coco
vazado pelos buracos
que ao menor toque de tocos
se faz em cacos
os nossos crânios
esmagados por tacos
a pauladas da vida mecânica
pelos socos do mundo vácuo
antes fôssemos loucos
mas nos acocoramos
diante do caos
como os porcos
que curvam as fuças
diante dos céus
não valemos nem para troco
menos do que macacos
pior do que meros tolos
nós somos os homens ocos
chocos botando ovos
na vida de só rebocos:
já nos disseram os corvos
que somos os homens mortos
*Poema inspirado em T.S.Eliot:
“Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada.”
(e já nem digo cagados)
em cujas cucas já poucas
há um caldo de água de coco
vazado pelos buracos
que ao menor toque de tocos
se faz em cacos
os nossos crânios
esmagados por tacos
a pauladas da vida mecânica
pelos socos do mundo vácuo
antes fôssemos loucos
mas nos acocoramos
diante do caos
como os porcos
que curvam as fuças
diante dos céus
não valemos nem para troco
menos do que macacos
pior do que meros tolos
nós somos os homens ocos
chocos botando ovos
na vida de só rebocos:
já nos disseram os corvos
que somos os homens mortos
*Poema inspirado em T.S.Eliot:
“Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada.”
07 maio 2019
A Morte e as Quatro Canções Graves de Brahms
em 1896 Brahms compôs as Quatro Canções Graves
sua penúltima obra (Opus 121)
Brahms morreu um ano depois.
em 1896 faleceu Clara Schumann
viúva de Robert Schumann
e o grande amor não-concretizado (talvez tocado)
de Johannes Brahms.
em 1896 Brahms compôs as Quatro Canções Sérias
músicas de um pessimismo absoluto.
meses depois Brahms estaria de luto
pela morte de Clara Schumann.
em 3 de abril de 1897
Johannes Brahms faleceu
(meu compositor favorito)
e ficou de luto por ele mesmo.
"Ó Morte, quão amarga tu és"
diz um dos trechos das 4 Canções Graves.
Brahms sabia que em breve
seu amor Clara Wieck Schumann
doente
estaria com a Morte.
em 1896 aos 63 anos de idade
Brahms compôs as Quatro Canções (bem) Sérias
e dedicou a ele mesmo
no seu aniversário em 7 de maio de 1896.
menos de um ano depois
Brahms morreria de câncer de fígado.
em 7 de maio de 2019
Brahms completou 186 anos
de Imortalidade
sua penúltima obra (Opus 121)
Brahms morreu um ano depois.
em 1896 faleceu Clara Schumann
viúva de Robert Schumann
e o grande amor não-concretizado (talvez tocado)
de Johannes Brahms.
em 1896 Brahms compôs as Quatro Canções Sérias
músicas de um pessimismo absoluto.
meses depois Brahms estaria de luto
pela morte de Clara Schumann.
em 3 de abril de 1897
Johannes Brahms faleceu
(meu compositor favorito)
e ficou de luto por ele mesmo.
"Ó Morte, quão amarga tu és"
diz um dos trechos das 4 Canções Graves.
Brahms sabia que em breve
seu amor Clara Wieck Schumann
doente
estaria com a Morte.
em 1896 aos 63 anos de idade
Brahms compôs as Quatro Canções (bem) Sérias
e dedicou a ele mesmo
no seu aniversário em 7 de maio de 1896.
menos de um ano depois
Brahms morreria de câncer de fígado.
em 7 de maio de 2019
Brahms completou 186 anos
de Imortalidade
04 maio 2019
No Escritório do Homem de Sucesso
o homem de sucesso sentado
engordurado no seu escritório
de brancos tons de ilusório
uma enorme janela fechada (do lado)
e um ar livre de fachada
no marketing da entrada
e dentro o ar-preso-oprimido-condicionado
enquanto lá fora voam pássaros
ali dentro voam notas
enquanto ali dentro nascem notas
lá fora morrem pássaros
vê e nota
o notável homem de sucesso
predador idiota
praga e presa do progresso
a vida passa de mãos vazias
mas o homem vai contando suas moedas
de ouro cheias as moedas passam
e a vida vai matando seus dias
nos dias de morte
e de almas vazias
engordurado no seu escritório
de brancos tons de ilusório
uma enorme janela fechada (do lado)
e um ar livre de fachada
no marketing da entrada
e dentro o ar-preso-oprimido-condicionado
enquanto lá fora voam pássaros
ali dentro voam notas
enquanto ali dentro nascem notas
lá fora morrem pássaros
vê e nota
o notável homem de sucesso
predador idiota
praga e presa do progresso
a vida passa de mãos vazias
mas o homem vai contando suas moedas
de ouro cheias as moedas passam
e a vida vai matando seus dias
nos dias de morte
e de almas vazias
02 maio 2019
Três Tacadas
I (do valor)
para o planeta
um catador de lixo
é infinitamente superior
a qualquer empresário
para o futuro da humanidade
há muito mais valor
em um mendigo
do que num milionário
II (do riso)
quando falo sério
serializo
como faria o serial killer
(quanto ocaso é sério...)
quando é riso
ironizo
(nem falo em sorriso
porque sorriso é mais mistério)
III (do poeta)
para o poeta
não vale a máxima
(que é mínima)
'faça o que eu digo
não faça o que eu faço"
porque o que o poeta fala
é sua poesia
e poesia é o que ele faz.
e poesia é coisa de cor vermelha
que a ninguém se aconselha
para o planeta
um catador de lixo
é infinitamente superior
a qualquer empresário
para o futuro da humanidade
há muito mais valor
em um mendigo
do que num milionário
II (do riso)
quando falo sério
serializo
como faria o serial killer
(quanto ocaso é sério...)
quando é riso
ironizo
(nem falo em sorriso
porque sorriso é mais mistério)
III (do poeta)
para o poeta
não vale a máxima
(que é mínima)
'faça o que eu digo
não faça o que eu faço"
porque o que o poeta fala
é sua poesia
e poesia é o que ele faz.
e poesia é coisa de cor vermelha
que a ninguém se aconselha
30 abril 2019
Do Fim Desta Civilização
tu gato vasto noturno
atento ao tenso vazio da treva
tu vês ainda mais vezes
que vazio sou eu
que não me estou
no que te leva
tu sabes, gato
que toda a ciência
não vale o sentido
do teu olfato
e que tudo na vida
é um inspirar - expirar
inspirar é nascer - crescer
e se cresce até um máximo
expirar é envelhecer - morrer
depois que se enche os pulmões da vida
até o máximo
a vida toda e toda vida
é uma grande inspiração - expiração
desde a existência de um gato
até a história de uma civilização
atento ao tenso vazio da treva
tu vês ainda mais vezes
que vazio sou eu
que não me estou
no que te leva
tu sabes, gato
que toda a ciência
não vale o sentido
do teu olfato
e que tudo na vida
é um inspirar - expirar
inspirar é nascer - crescer
e se cresce até um máximo
expirar é envelhecer - morrer
depois que se enche os pulmões da vida
até o máximo
a vida toda e toda vida
é uma grande inspiração - expiração
desde a existência de um gato
até a história de uma civilização
28 abril 2019
Os Detalhes da Luz
insana palavra de sombra
verbo-clarão na verdade
nada
ilumina o tanto da noite
do que os relâmpagos da tempestade
agouro de coruja amiga
que pia
ao que não me iludo
teus olhos de vastos noturnos
que alertantemente
veem tudo
que segredo que há
entre o que céu
e uma revoada de urubus?
só a sombra
percebe os mínimos detalhes
da luz
verbo-clarão na verdade
nada
ilumina o tanto da noite
do que os relâmpagos da tempestade
agouro de coruja amiga
que pia
ao que não me iludo
teus olhos de vastos noturnos
que alertantemente
veem tudo
que segredo que há
entre o que céu
e uma revoada de urubus?
só a sombra
percebe os mínimos detalhes
da luz
26 abril 2019
O Messias
Handel
compôs o comovente Oratório "O Messias"
obra imortal
Brézil
elegeu o deprimente mor otário jair messias
obra imoral
imoral também sou eu
em colocar diamante e merda
no mesmo cofre:
um grande e um nada
na mesma estrofe
mas meu poema é universal:
vale para qualquer comparação
entre um artista e um político
(em maior ou menor grau)
em qualquer país
qualquer planeta
qualquer galáxia
e coisa e tal
compôs o comovente Oratório "O Messias"
obra imortal
Brézil
elegeu o deprimente mor otário jair messias
obra imoral
imoral também sou eu
em colocar diamante e merda
no mesmo cofre:
um grande e um nada
na mesma estrofe
mas meu poema é universal:
vale para qualquer comparação
entre um artista e um político
(em maior ou menor grau)
em qualquer país
qualquer planeta
qualquer galáxia
e coisa e tal
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