15 outubro 2017

(Re)conheço

o que me resta de alma
mal dá pra cobrir
um vão do ente
do meu ventre em vão

e vão todas as gentes
no vácuo do (des)humano
a vagar para o abismo
ano após ano
asno após asno
ismo após ismo
sem saber de si mesmo

reconheço que desagrado
e que não toco
nenhum vão do que se sente
com meu taco em não
(e os outros pensam que o são...)

reconheço que me degrado
cataratas de sangue e caos
e outras quedas e tals

é o que se chama Evolução?
então fico com minha busca
(como quem dirige um fusca)
por um resto de consciência
no que me fiz Decadência

12 outubro 2017

Bebida Forte

I - a poesia
(pelos olhos)
é pouco lida
porque exige
(pela alma) 
muita lida

II - em termos de poesia
as pessoas
preferem os eventos
já eu               
ao termo da poesia
prefiro os ao ventos

III - a poesia é vida
e onde há vida
há morte

poesia
também pode ser festa
mas com bebida forte

10 outubro 2017

Ninguém melhora Ninguém

I - não escrevo
para que os outros me leiam
me entendam me decifrem

escrevo
para eu fazê-lo
com os outros

II - não escrevo
para melhorar ninguém

(só o si
melhora a si
quando cai em si)

escrevo a meu ser
que saindo da miséria que sou
se vá além do que sei

III - ser poeta
é perceber
que não se percebe
é dar-se conta
de que não se dão conta

08 outubro 2017

da Rebeldia Brasileira

rebeldes com causa
sem causa
ou rebeldes com cauda
de rato?

rebeldes com calda
açucarada
de leite
de saco

rebeldes com causa?
rebeldes com calça
frouxa
frouxos
trouxas
engolindo os reais
(que dizem ser o real)

rebeldes arcados
alcaides
com o peso do desprezo
do preço...

rebeldes sem calça
com o saco
sem bolas
coçando
e com o saco
dos ricos
puxando

(Poema reelaborado e republicado)

06 outubro 2017

Após Humanidade

o meu verso é de sangue e decadência 
pela percepção viva do que morre 
como se o peso de um cósmico porre 
tivesse elevado a minha consciência 

o meu verso é de alarme e de iminência 
pela percepção óbvia do que (o)corre 
a visão do desabe de uma torre 
além filosofia além ciência 

eu sinto em um após humanidade  
queda da noite que me dura um século 
e sinal da anímica liberdade 

da morte se entende que a alma é círculo 
nada a se dizer a não ser o que há-de 
em meu sangue há catástrofe e espetáculo

03 outubro 2017

Manchetes (anti)Poéticas para os Jornais Contemporâneos (ou Contemporários)

I – Extra! Um modelo de carro a mais
e uma espécie de bicho a menos

II – Nova descoberta da ciência
causa nova encoberta da consciência

III – Tecnologias de última geração
condenam espécies à sua última geração

IV – Robôs quase humanos
são desenvolvidos para tomar o lugar
de humanos quase robôs
e vice-versa

V – Seção Autoajuda:
para conhecer o valor do Bem
possua um bem de Valor

VI – O Ministério da Saúde adverte:
quem pensa não é feliz.
Mas se for pensar, não escreva.
Se for escrever, não pense.

01 outubro 2017

Vida Corrida

I – o homem transformou a vida
numa corrida
em que nunca chega a nada
e nada nunca chega:
enquanto ainda corre a uma chegada
chega a hora da partida

II – pensando só em notas
e não ouvindo nota alguma 
o homem deixou de notar as almas:
só se passa pelos seres
só se cruza nos lugares
e não se nota viva alma
e assim se passa a todo da vida
e não se leva nota nenhuma

III – o caminho da existência
corrido
percorrido
concorrido
não-vivido:
corremos mas não fomos
existimos mas não somos

28 setembro 2017

Na Seca, a Tempestade é a Luz

se você quer da arte só o beijo e não o soco
se quer só o belo e não o chute
se quer só o sonho e não o sangue
se quer só o certo e não o medo
se quer só o leve e não a morte

se você quer arte para se sentir bem
para ser agradado agraciado acariciado
para se manter na sua zona de conforto
para seguir cômodo na sua frívola visão da vida
e prosseguir satisfeito com seu sorriso estúpido
e nunca ter abalos nas suas certezas toscas...

então você não quer arte
você quer autoajuda:
vá ler augusto cury
vá pagar por palestras motivacionais
vá lamber o microfone de um pastor
ou vá para casa
brincar com sua caixinha de esperanças fodida

26 setembro 2017

O Sartorão do Deboche

Esta humanidade é uma piada cósmica. Dentro desta piada, o Brasil ocupa o papel de protagonista. É a piada da piada. E na sigla PMDB, P é de Piada e D de Deboche. O resto vocês podem imaginar. Temer e Sartori são os maiores piadistas da piada que são o Brasil e o RS do PMDB. O governo Sartori é um oceano de nada onde flutua um excremento gigante. Tal excremento é o DEDOCHE. Tudo o que o governador faz é um DEBOCHE. Não há palhaço maior. Se duvidam, acompanhem:

Sua campanha eleitoral foi um DEBOCHE. Não havia ( e ainda não há) proposta nenhuma, mas foi eleito. Enganou dois terços dos "politizados" gaúchos. Um DEBOCHE! 

A letra do Hino Rio-Grandense, com Sartori, virou um DEBOCHE dos gaúchos.

Ver o Sartori falando de seu governo nos dá sempre a impressão de que ele ou não sabe bulhufas do que fala ou está rindo da cara do povo gaúcho. Seja como for, é um DEBOCHE. 

O seu parcelamento dos salários do funcionalismo público, por si só, já é um DEBOCHE. Ao pagar 350 "pila" no fim de agosto aos funcionários, seu DEBOCHE atingiu o estado máximo.

E, por DEBOCHE, ele ainda afirma que não há salários em atraso.

É um DEBOCHE que Sartori ostente que ele e seus secretários irão agora receber por último. Por DEBOCHE, esquece de mencionar que ele e vários de seus secretários recebem EM DIA como deputados "aposentados".

ANTES dos parcelamentos, num DEBOCHE, aumentou seu próprio salário, o do vice, dos secretários, dos deputados e dos juízes.

É um DEBOCHE que ele tenha elevado impostos ano passado argumentando que era para acabar com os parcelamentos. Até que um dia, ele paga R$350,00.

Enquanto afirma que não tem dinheiro em caixa, seu governo promove uma orgia de isenções fiscais e nada faz para combater a sonegação, que ultrapassa os 7 BILHÕES de reais ao ano no RS. Puro DEBOCHE.

E ainda, por DEBOCHE, perdoa dívidas de empresários "amiguinhos".

Mandou os professores pegarem seu piso na Tumelero. DEBOCHE?

Quando há protestos de grevistas, Sartori e seus asseclas do circo, mandam a PM, que também recebe parcelado, por DEBOCHE,"surrar" os manifestantes.

A "solução" que Sartori apresenta, por DEBOCHE, é diminuir vagas nas escolas para aumentar nos presídios. É o DEBOCHE de Victor Hugo, quando escreveu: "Quem abre uma escola fecha uma prisão."



Enfim, Sartori transformou o Rio Grande no caos de uma pintura DE BOSCH.

Seu governo é tão incompetente que não saberia administrar um partida DE BOCHA. Alguém deveria lhe dar um (DE)BOCHAÇO!

E tem gente que ainda defende seu governo. Só pode ser por DEBOCHE.

Ah, e ia esquecendo, Sartori quer a reeleição...






24 setembro 2017

As Pessoas Passam

as pessoas passam todo dia na espera
de que o dia passe 
para ter no resto do dia
um descanso como resto 
mas já estão tão cansadas 
que nem descansam 
do que não fizeram 
e nem fizeram 
o que valesse a pena descansar 
(seja de bem seja de mal) 

as pessoas passam toda vida na espera
de que a vida passe 
e etc e tal...

22 setembro 2017

Derrame meu Vinho

eu, que não controlo nem o que passo
mas penso controlar meu destino

eu, que não domino nem o que penso
mas brinco a escolher meu caminho

eu, que não entendo nem o que sinto
mas sonho em entender o divino

eu, que não alcanço nem o que sonho
mas sinto que me posso sozinho

eu, que não desejo nem o que busco
mas julgo que satisfiz meu desígnio

eu, que não matei nem a minha sede...
bom, ao menos não derramei o meu vinho

20 setembro 2017

Semana Farroupilha sem Bolas


O texto abaixo eu escrevi em 2011. Mas como as coisas não mudam, ou melhor, mudam, para pior, continua válido:


- A Semana Farroupilha transformou-se em um desfile de agroboyzinhos nas camionetinhas do papai, enquanto gaúchos de verdade, os peões que trabalham duro nas estâncias e cultivam as verdadeiras tradições gaúchas (não para fazer bonito ou para aparecer, mas porque isso é o natural deles) não podem comprar um par de botas. Muito menos desfilar com um cavalo. Cyro Martins, na sua “Trilogia do Gaúcho a Pé", retrata essa realidade de maneira impiedosa.

- Grande parte dos campos dos grandes estancieiros gaúchos é campo que foi roubado na época em que as fronteiras das terras não eram cercadas. É como diz o personagem Juvenal em “O Tempo e O Vento” do Érico Veríssimo, referindo-se ao estancieiro Amaral: “Todo mundo sabe que metade dos campos desse velho é campo roubado!”

- Os agroboyzinhos gostam também de andar por aí enchendo a pança de cerveja e gritando o “Grito do Sapucai”, que é herança de nossos índios guerreiros. Mas os índios ou foram massacrados, ou estão em estado miserável em suas terras devastadas. De vez em quando, o governo tem a “bondade” de dar a eles um cantinho das terras de que eram donos. E os “gaúchos” pouco se importam. Melhor, mais “coisa de macho”, é se exibir em rodeiozinhos para algumas prendinhas chininhas.

- E já aconteceu de alguns “farroupilhas” bem pilchados “apreciarem” matar cavalos esgotados desfilando com bandeiras sob o sol do litoral pra mostrarem que são homens.

- E os nossos “pampeiros”, que dizem amar o pampa, amar a terra, são os mesmos que estão terminando com ela cobrindo tudo de soja, pinus e o diabo. E amando profundamente (as moedas da) sua terra, acabam com os rios, desviam água para plantações de arroz, infestam campos com pesticidas, massacram nossa fauna, causam erosões, assoreamentos, desertificação. E depois vão dançar o bugio em algum campo no qual exterminaram os bugios.

18 setembro 2017

Soneto de um Outro Tempo

não, agora que sangram tempos outros
eu falarei como te sendo o ausente
ou um nada que nem sequer se sente 
ou um doentio pelas mentes dos doutos 

pesteado bicho pelos campos solto 
pingo de sangue na vagina quente 
a poeira de um asteroide incidente 
um palavrão na boca de um louco 

serás o assalto de uma velha astuta 
gosto insentido de cianureto 
os pedaços de carniça em disputa 

a navalha que num fígado eu meto 
saliva morna de um beijo de puta 
e a tua presença entre meu soneto

16 setembro 2017

NASA se pronuncia sobre o Fim da Civilização

“Esta é a moral de todas as histórias humanas:
Não é nada mais que o mesmo ensaio usual do passado.
Em primeiro lugar a liberdade e a glória – depois isso falha,
A riqueza, o vício, a corrupção – a barbárie ao final.
E a história, com todos seus vastos volumes,
Não possui mais que uma única página…"

Lorde Byron


Recentemente, a NASA, a agência espacial dos EUA, divulgou um estudo realizado por ela sobre como seria o fim de nossa civilização. E não, ele não se refere a um possível choque de asteroides ou coisas do tipo, mas  a um fim causado pelo próprio homem. Nada de novo no assunto. Eu mesmo, desde antes do início deste século, já escrevia sobre  o iminente colapso de nossa civilização, incapaz de se manter durante muito mais tempo da forma como vivemos. E que não dá sinais de que alguma verdadeira alteração à vista, pelo contrário. Mas um estudo da NASA, que, teoricamente, baseia-se em informações e fatos científicos, acrescenta um peso indiscutível a esse problema, a meu ver, inexorável. 

A seguir, transcrevo trechos da matéria sobre o assunto publicada no site Yahoo Notícias:



Para a NASA, um dos problemas mais graves seria o fim da civilização ocidental. Esta catastrófica realidade foi imaginada em um estudo financiado com recursos da organização. Neste trabalho foram analisados os motivos que acabaram com outros impérios no passado, como o romano. E a conclusão é clara: a história pode voltar a se repetir.


“Duas importantes realidades estavam presentes em várias sociedades que colapsaram,” diz a conclusão da pesquisa. “A exploração dos recursos devido a uma tensão excessiva sobre a capacidade de produção ecológica e a estratificação da sociedade em elites e classes.” Ou seja, as civilizações que ruíram eram basicamente injustas e exploravam excessivamente os recursos naturais até esgotá-los. Alguma semelhança com a realidade atual?

Os pesquisadores asseguram que nas sociedades pouco igualitárias é difícil evitar o colapso: “Nelas, as elites crescem e consomem muito, o que causa fome entre as classes mais baixas, algo que finalmente leva ao colapso.”

Nestes casos, os mais ricos continuam se aproveitando dos recursos, enquanto os demais passam dificuldades, “exacerbando o problema,” conforme ressaltam os especialistas.

Ainda que nos últimos anos o tema do meio ambiente e da preservação de recursos tenha sido levado mais a sério, os pesquisadores acreditam que está surgindo um novo problema e que a raiz da situação não foi solucionada: “A tecnologia para aumentar a eficiência no consumo de combustível nos carros fez com que a venda de veículos disparasse, com que as novas unidades fossem mais pesadas [e, portanto, consumissem mais] e com que a velocidade na qual eles são conduzidos aumentasse.”

Todas estas situações “engolem” o suposto avanço da eficiência do consumo para proteger o meio ambiente: os carros precisam de menos gasolina para funcionar, mas como cada vez há mais veículos, mais pesados e que andam mais rápido, acabamos consumindo a mesma quantidade de alguns anos atrás.

Os autores dedicam algumas palavras para todos aqueles que pensam que suas conclusões são exageradas e que a sociedade atual é imune a problemas do passado: “Uma olhada rápida sobre todas as sociedades que colapsaram nos últimos séculos demonstra não apenas a ubiquidade do fenômeno, mas também a realidade de que sociedades fortes, ricas e poderosas também podem vir abaixo.”

Na imagem, o quadro "A Maldição do Império - Destruição", de Thomas Cole. A obra é dividida em 5 partes, que expressam o surgimento, o desenvolvimento, a decadência e o colapso de uma civilização.



14 setembro 2017

"...equivocadamente chamado homem..."

se soubéssemos quantas pessoas
apodrecem em miséria
a cada riqueza que é concentrada...

se soubéssemos quantos humanos
agonizam de fome
a cada alimento desperdiçado...

se soubéssemos quanto de vida
diminui no planeta
a cada água jogada fora...

se soubéssemos quanto de morte
se espalha na Terra
a cada bem que é produzido

nós, esses vermes...
faríamos tudo de novo...

12 setembro 2017

Os Homens com suas Merdas

os homens com suas moedas
se acham vastos
mas não passam de vasos

os homens com suas metas
se acham vultos
mas não passam de vulgos

os homens com suas armas
se acham forças
mas não passam de farsas

os homens com suas regras
se acham retos
mas não passam de ratos

os homens com suas naves
se acham fogos
mas não passam de fátuos

estes homens que se acham 
tornados ciclones furacões 
mas não passam de flatos

10 setembro 2017

Confissão de um Parasita

o que o planeta vai querer com alguém como eu?
reles verme racional que vive de despojos
monstro de egoísmo que destrói a vida
para manter em pé meu esqueleto morto?
ainda que mil florestas tombem à minha direita
e 10 mil animais agonizem à minha esquerda
eu tenho que esboçar esse sorriso estúpido
na minha cara cínica
como forma de demonstrar ao vazio social
que NÃO fugi dos padrões e dos contratos
de felicidade fútil e de sucesso inútil obrigatórios
dessa civilização de parasitas homicidas-suicidas

por que o planeta iria se esforçar
para manter vivo o fanfarrão inconsciente que sou
ou que eu nem sei que sou
nem para onde vou
nem por que estou aqui
e na minha vida sem sentido
eu, este lixo
unido na desgraça a outros 7 bilhões
de lixos
só o que faço (apoiado por todos)
é produzir mais lixo
lixo que nós, lixos
consumiremos e transformaremos no lixo do lixo
a ir para lixões mares e abismos

e ai de mim se parar para pensar
se parar para sentir
se parar para viver
como posso parar de produzir lixo
em troca do lixo do dinheiro?
então entrarei para o rol dos fracassados
dos que não prestam
dos homens de mal
dos mal-sucedidos

e dirão mesmo
os outros 7 bilhões de lixos
que este texto é algo lamentável e deprimente
feito por alguém que em nada contribui
para a ordem e o progresso da sociedade...

o que o planeta deve fazer
(para proteger a vida)
com parasitas como nós?

mas corra!
que ainda dá tempo de ficar milionário!

09 setembro 2017

Forca

I - que a força está nos detalhes
é fato conhecido
mas não tanto quanto
o de como a forca está nos detalhes

II – aquilo que é dito o mal
não pode ser de todo mal:
mal que é mal não se diz
porque não se percebe como sendo:
aquilo que é dito o mal
foi percebido mal

III – aquilo que é dito o bem
não seria o bem
se fosse percebido bem

06 setembro 2017

As Tripas da Esperança

esta humanidade faliu não sendo
e o homem não atingiu nem o fracasso
naufragou por entre mar de ouro e de aço
esmagado pelo taco do vento

ainda ouço as lágrimas que te lamento
só álcool e réquiens por onde eu passo
o sonho em sucesso era só cansaço
o riso feliz era de jumento

estes caminhos são os do extermínio
das tripas da esperança no teu rosto
o raio de Saturno em seu domínio

pragas de sapos transbordam os esgotos
e se agiganta um futuro de símios...
mas e quanto às armas? tudo está posto. 

03 setembro 2017

A Doença da Humanidade

Quando eu me refiro, falo, escrevo sobre "FIM" e\ou sobre o meu PESSIMISMO ABSOLUTO com relação a esta civilização, não estou me referindo a apocalipses com data marcada ou catástrofes totais de uma hora para outra. Refiro-me ao que alguns otimistas incuráveis (ou ingênuos, ou hipócritas) classificariam como pequenos "acidentes de percurso". Para mim, são os sintomas de uma doença fatal que se manifestam aos poucos, bem aos poucos, até que, quando percebemos, é tarde demais. 

Refiro-me a coisas como o que fez o nosso (des)presidente Temer, a de extinguir reservas gigantes na Amazônia e praticamente entregá-las às mineradoras, como a Samarco (lembram?), entregá-las à sede insaciável do capitalismo e à exploração e destruição que dela sempre resultam. Ainda que agora o ato tenha sido suspenso, estou certo, lamentavelmente, de que, cedo ou tarde, a região acabará nas mãos das mineradoras e a vida sobre-humana que ali se ergue estará ameaçada pela miséria da cobiça. 

E eu poderia dar muitos outros exemplos. Esse é um caso, apenas um, um dos muitos, incontáveis, sintomas da doença da humanidade a que me refiro. É claro que eles não ocorrem somente no Brasil, e não são apenas ambientais, mas sociais, humanos, psíquicos, econômicos, espirituais, emocionais, o que queiram. 

O Fim é isso. Uma doença insidiosa, de sintomas isolados, que surgem e ressurgem, aqui e ali, mas cada vez mais, cada vez piores.  Como costumam ser as doenças fatais, de início nem percebemos, ou não damos atenção, ou não nos parece tão grave. Um sintoma aparece, depois passa, some, e nos acreditamos saudáveis Às vezes, acreditamos numa cura, às vezes até tentamos, mas há casos em que é tarde demais. Até que, fatalmente, vem a Morte.

Mas a morte desta humanidade, desta civilização. O planeta continuará, em constante renovação.

01 setembro 2017

Queda de Estrelas

o que dirá a palavra que eu nunca disse?
e nunca vi e nunca ouvi
alguém a dizer que a fosse?
eu sei o que ela (não) é
e sei que eu não consiga
fazer com que ela diga
o que no fundo eu sei a me dizer

mas não é bem que eu saiba
é talvez que eu sinta
mas entre sentir e saber
não cabe só uma palavra
e isso que me indignava
se torna outra coisa além
que não a coisa a ser dita

e também não é bem sentir
é coisa ainda mais maldita
que o sentir ainda não é
bem o que está aqui ou ali
talvez seja um algo mais ao alto
que eu só alcance de assalto
que não vejo do que me veja
e ainda que eu te seja
não me alcanço tornar tornado

mas também
por que eu hei de dizê-la?
seja lá o que dor que eu diga
quem verá cair estrela?

30 agosto 2017

Nós, os Deslivres

I - as dúvidas não me deixam descansar 
tenho uma que é demoníaca: 
liberdade 
é a tudo viver 
sem nada ter que sentir 
ou é a tudo sentir 
sem ter que a tudo viver? 

 II – o processo da civilização 
é um processo de deslibertamento: 
são os seres cada vez menos livres 
no mundo natural desnaturalizado 
e os homens cada vez mais deslivres 
no mundo onde devem 
sentir e viver cada vez menos 
e fazer cada vez mais 
para terem a sensação virtual 
de que seriam livres 
se não fossem obrigados 
a serem (des)libertos

28 agosto 2017

Três Lembretes sobre Liberdade

I - o livro me torna livre 
o livre retorna em livro 
mas não livra sozinho
nem com tanto verso
e palavra em torno
do que me livro 
se entorno vinho 

II -ser livre 
é não ter que ter: 
não ter 
é não precisar não ser 

III - em toda suposta liberdade 
há uma prisão latente: 
ai dos que se julgam livres:
devíamos ler a palavra "livres"
de trás pra frente

26 agosto 2017

Beethoven contra a Tirania

Ludwig van Beethoven (1770 - 1827) compôs entre 1803 e 1804 uma das maiores e mais revolucionárias obras musicais de todos os tempos, a Terceira Sinfonia, que, quebrando os rígidos conceitos do Classicismo, deu início ao tempestuoso período romântico na música. A 3ª Sinfonia, com quase 1h de duração, superava em muito, seja em forma seja em conteúdo, todas as sinfonias até então  realizadas, incluindo as de Mozart, Haydn e as duas anteriores do próprio Beethoven. Sua estreia foi um escândalo. Os críticos da época, em geral, diziam que a sinfonia era "barulhenta e exagerada", e que "não terá  futuro".  Nunca alguém esteve tão errado.

Beethoven era um admirador dos ideais de liberdade da Revolução Francesa. Via Napoleão Bonaparte como um símbolo dessa revolução. Na época, Bonaparte era um general que parecia lutar pelos mesmos ideais de liberdade nos quais o compositor acreditava. Antes da estreia da Sinfonia nº3, Beethoven pensou em dedicá-la a Napoleão, chegou a escrever a dedicatória na partitura da sinfonia. No entanto, em maio de 1804, Napoleão cuspiu e pisou nos ideais de liberdade da Revolução Francesa e se autoproclamou imperador. 


Quando soube da notícia, em acesso de revolta, fúria e indignação, tão comuns no gênio da música, Beethoven dirigiu-se à partitura e riscou a dedicatória a Napoleão com tanta força que chegou a rasgar a folha. Napoleão era apenas mais um tirano. E tiranos, ditadores, nobres, Beethoven, em geral, não os suportava. Ele escreveu sobre o tirano Napoleão:



"Então ele não é mais do que um mortal comum! Agora, também, ele vai pisar no pé de todos os direitos do homem, saciando somente a sua vontade; agora ele vai pensar que é superior a todos os homens, se tornando um tirano!" 


Beethoven decide então dedicar a Terceira Sinfonia "À Memória de um Grande Homem", que não era Napoleão, e chamou-a de Sinfonia Eroica. O 2º movimento da obra traz uma trágica e titânica Marcha Fúnebre. A Sinfonia, como um todo, como toda a obra de Beethoven, como o próprio Beethoven, é, no mínimo,   um monumento à Liberdade Universal.


24 agosto 2017

Duas Mil Postagens

Esta é a postagem número 2000 deste blog, em 11 anos de O Fim, completados em 19 de agosto. Creio ser um número a se comemorar, considerando-se que o blog O Fim não é um veículo de notícias, e que a maior parte das postagens consistem em obras de minha autoria. 

Comemorando, republico um de meus sonetos antigos, publicado em 8 de março de 2010, na ocasião, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.


Soneto a Ela

E paira alta grandeza sobre as nuvens
e pesa mau destino sobre os homens.
Em negro mundo os anos se consomem
e mais clara em tua alma tu nos surges...

Caem raios das horas que refulges,
como sonhos de morte que em mim somem
como fins teus ocultos que há em Beethoven
como sombra em ti fêmea viva em luzes...

Tua voz nas tormentas que há nos céus,
teu olhar cataclísmico nos vela
nos sinais do Infinito dos teus véus...

E por ser Una, arcanamente bela,
alguém dirá talvez que vós sois Deus,
mas canto que vós sois no Eterno Ela...

22 agosto 2017

Noturno*

o sopro de vida
que aspira entre o beijo

o sopro de sonho
que anoitece entre a febre

o sopro de paz
que há entre tormentas

o sopro de amor
que goteja entre o sangue

o sopro de morte
que derrama entre os lábios

(*Homenagem a Frédéric Chopin)

20 agosto 2017

Despromessa

que minha poesia
(se é foda
ou se é vadia)
seja qualquer vão de hospício
faz de conta
sem um conto
lá pros quintos
dos abismos

que minha poesia
(seja funda
seja vazia)
não tenha nenhum compromisso
nem com compras
nem promessas
nem comícios

que minha poesia
não seja
nem cela
(daquelas presas em regras)
nem sela
(daquelas que alguém encilha)

a minha poesia
que só seja ela
e quem me dera
(ah, falta da minha estrela)
eu fosse sê-la

18 agosto 2017

de uma Taça

vida é quando tudo que fosse vivido
não fosse vivido como sendo só aquilo que é 
mas como algo que estivesse além 
como se no momento que se vive 
se vivesse um outro alto 
mais profundo e mais do ser 

como se no momento que se age 
se sentisse que há um outro algo 
que só no que não é nos vem 

quem dera eu pudesse 
que em qualquer algo que eu faça 
ou com qualquer alguém que eu sinta 
eu tivesse (em mente em sonho em alma) 
os efeitos de uma taça