23 outubro 2015

Em 2009, escrevi sobre o avanço e a inevitabilidade das Mudanças Climáticas

Sim, eu sei que é chato essa coisa de "viu, eu não disse?". É, eu também não gosto. Mas desde que criei meu blog, em 2006 (aliás, bem antes de criar o blog), escrevi  em prosa e verso, sobre a crescente crise ambiental de múltiplas manifestações e proporções que vem afetando o planeta e afirmei que ela chegaria até nós. E sempre disse que a culpa é nossa. Claro que não sou só eu que o digo, mas sou um dos poucos, bem poucos, a escrever sobre o assunto em nossa região, de tendência conservadora e inclinada ao pensamento "desenvolvimentista". 


Quase sempre, fui desacreditado, chamado de "alarmista", "pessimista", "exagerado". A maior parte das pessoas que lia o que eu escrevia não somente não concordava, mas se indignava que eu pudesse ser tão "contra o progresso e a humanidade". O que indica que não entendiam o que eu queria dizer.


Para mim, as alterações climáticas, e a culpa do homem em relação a elas, sempre foram extremamente óbvias. Não entendo como as pessoas não conseguem enxergar algo tão claro. O ser humano tem dificuldade em ver o óbvio. Exatamente por ser óbvio. Há um conto de Poe, "A Carta Roubada", que trata do assunto. No conto, a carta,  muito procurada, foi escondida no local mais óbvio. Exatamente por isso, nunca foi encontrada. As pessoas preferem criar explicações "sofisticadas", acostumadas que estão, condicionadas  uma ciência que prefere a complicação das explicações teórico-racionais labirínticas, do que a simplicidade e a clareza da percepção intuitiva.

Escrevi em 2009: "O certo é que o planeta inteiro passa por um descontrole climático nunca antes visto pela civilização, e que está aqui, diante de nós, e nós fingimos que tudo é natural, e que o homem não tem culpa nenhuma nisso tudo. E sabem por quê? Por que esse descontrole, esse caos, é lento, é progressivo, é insidioso. Não se percebe seu avanço, a não ser quando é tarde demais.

Quero dizer que o homem vem enganando a si mesmo, dando desculpas, buscando evasivas, escapatórias, fugindo à sua responsabilidade quanto à vida do planeta. 

Eu aprendi, por exemplo, quando estudante do então 1º grau, que o clima do RS era um dos mais constantes do Brasil, com raros períodos de grandes cheias ou grandes secas, que havia aqui uma das melhores distribuição de chuvas do país. Eu aprendi isso. E meus pais e meus avós confirmam que as secas e as enchentes extremas aconteciam, mas era de vez em quando. Pois agora, não tem um ano que nós não tenhamos ou uma seca ou uma enchente de proporções catastróficas."

Isso escrevi em 2009. O texto na íntegra pode ser conferido aqui. Agora, em 2015, Santiago vive o pior período de tempestades da sua história, a ponto de as pessoas terem que trocar a cobertura de suas casas, que teoricamente deveria suportar uma chuva de granizo, por materiais mais resistentes. É que esses granizos que estão caindo não são granizos normais. Muitos, eu sei, ainda negarão o óbvio. De que não se trata de mudança climática, e que nem o homem tem culpa. É como escreveu certo filósofo: "As pessoas não aprendem as lições da vida nem a canhonaços". 

21 outubro 2015

de acordo com Fernando Pessoa

é melhor tudo que não é
só por não ser o que é

o que é é sempre menos
do que seria se fosse
porque o ser nunca se alcança

o homem se caracteriza
por nunca atingir
o homem que não é

por isso há o sonho:
se quem sonha sabe sonhar
não se quer realizar o que sonha
porque deixa de ser sonho
mas sonha porque sabe que o sonho
é só quando o que não é
pode ser sem ter que ser
pois ao sê-lo deixará de sê-lo






19 outubro 2015

Árvore é Passado

a árvore passa
porque o progresso passa.
assim, sem sentido,
que a humanidade o perdeu:
atrofiou seu sentido
de encontrar sentido
de fazer sentido
em ser sentido

qual sentido seguir?

a árvore passa
no sentido de que é passado
o progresso passa
no sentido de que anda

mesmo sem sentido
que é passo a passo
(é fato
não pessimismo)
ir no sentido do abismo


17 outubro 2015

do que Impede a Vida

o que impede a vida
são os que querem saber para todos:
“não olhe pela janela,
eu já olhei
e não há nada lá fora”

são como aquelas visitas indesejadas
que te impedem de sair
por nunca irem embora

o que impede a vida
no homem efêmero
são os que querem
que calcemos os seus próprios sapatos
de menor número

o que impede a vida
é estar-se certo
de que o mundo
está certo
dentro dos limites
que ele  (não) tem

é como sempre pisar no seco
da estrada já pronta
para evitar de pisar
no vasto do campo
e molhar o pé

os que vivem
e criam
são os que veem o que não é



15 outubro 2015

Tempestades cada vez piores...

Não recordo de nenhuma outra sequência de anos com tempestades tão severas como as que têm afligido o RS a partir de 2011. Nestes últimos cinco anos, não tivemos um só, principalmente no período da primavera, que não trouxesse destruição em massa, perdas  materiais e humanas cada vez mais alarmantes, medo e até pânico na população gaúcha. Chuvas de granizo beirando o absurdo, vendavais avassaladores (às vezes ciclones e tornados), chuvas torrenciais quebrando recordes, enchentes constantes, erosões de áreas cada vez maiores, e, no polo oposto de tudo isso, períodos extremamente prolongados de impiedosas estiagens. 

Claro que nossa região, o Sul do Brasil, é historicamente propícia a eventos de temporais e tormentas. Elas sempre ocorreram por aqui, e algumas marcaram época. Mas a questão agora é a frequência e intensidade: cada vez mais frequentes, cada vez mais intensas, cada vez mais generalizadas. Eu não tenho dúvidas de que o clima não é mais o mesmo. Nosso planeta está dando sinais claros de que algo está errado, cada vez mais errado. Obviamente, a intensificação das catástrofes naturais não ocorre somente no RS. A ONU alertou em 2008 que o índice global de desastres ambientais vem crescendo constantemente. No Brasil, segundo o CENAD (Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres) a ocorrência de desastres naturais aumentou em 268% no século XXI. Um índice, no mínimo, assustador.

As mudanças climáticas não são uma projeção de pessimistas. É a realidade que vivemos. E que estamos todos sentindo na pele. E muito provavelmente (para não dizer certamente), sentiremos cada vez mais. 

(A foto acima é da cidade gaúcha de Santa Maria, e foi tirada por Guilherme  Escosteguy.)

13 outubro 2015

Humanidade Nenhuma

reconheço-te que me desconheço:
digo a ti que me lês
que nem eu a ti te falo
nem tu a mim me vês

somos todos outros nadas
uns para os outros todos

de modo
que nem existe do humano todo nenhum
porque nenhum homem sabe o que é
nem sabe porque faz aquilo que faz
e nem vive qualquer vida nenhuma

e se chega à conclusão absurda
que nem pode a humanidade acabar
porque nem existe humanidade alguma




11 outubro 2015

O Gênio inesgotável de Fernando Pessoa


Até o advento da genialidade de Fernando Pessoa, Camões era considerado o maior gênio poético da literatura em língua portuguesa. Camões e Pessoa têm o comum o fato de que a maior parte de suas obras não foi publicada em vida e viveram sem o merecido reconhecimento, uma constante quando se trata de gênios. Mas não há mais dúvidas de que Pessoa superou Camões. Sua obra é tão vasta, em todos os sentidos, em quantidade e em qualidade, que ainda hoje seguimos conhecendo suas poesias inéditas, descobertas após sua morte, catalogadas e preparadas pelos estudiosos de sua obra para publicação. E impressiona que tudo, absolutamente tudo, é poesia do mais alto nível, que faz de Fernando Pessoa um dos maiores gênios poéticos de todos os tempos, não só dentro da língua portuguesa, mas em âmbito universal. De suas poesias inéditas, selecionei 10 trechos (e poderia ter escolhido quaisquer outros 10, porque, falando em linguagem pessoana, nele tudo é tão alto que nada é menor que nada), cuja profundidade, originalidade e riqueza interpretativa são, no mínimo, assombrosas.

1 - Ó curva do horizonte, quem te passa

Passa da vista, vão de ser ou estar. 
Seta, que o peito enorme me transpassa,
Não doas, que morrer é continuar.

2 - Dói viver, nada sou que valha ser.
Tardo-me porque penso e tudo rui.
Tento saber, porque tentar é ser.
Longe de isso ser tudo, tudo flui.

3 - O prometido nunca será dado,
Porque no prometer cumpriu-se o fado.
O que se espera, se esperar é gosto,
Cumpriu-se no esperar, e está acabado.

4 - O que soubemos, o perdemos.
O que pensamos, já o fomos.
Ah, e só guardamos o que demos
E tudo é sermos quem não somos.

5 - Eu amo tudo que foi,
Tudo que já não é,
A dor que já não me dói,
A antiga e errônea fé,
O ontem que dor deixou,
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.

6 - Hoje, vou confessar, quero sentir-me
Definitivamente ser ninguém,
E de mim mesmo, altivo, demitir-me,
Por não ter procedido bem.

7 - Não digas nada, que dizer é nada!
Que importa a vida, e o que se faz na vida?
É tudo uma ignorância diluída.
Tudo é esperar à beira de uma estrada
A vinda sempre adiada.

8 - A ciência, a ciência, a ciência...
Ah, como tudo é nulo e vão!
A pobreza da inteligência
Ante a riqueza da emoção.

A ciência! Como é pobre e nada.
Rico é o que a alma dá e tem. 

9 - Ninguém suporta o peso mau dos dias
Salvo por interpostas alegrias.
Bebe, que assim serás o intervalo
Entre o que criarás e o que não crias.

10 - Tudo foi dito antes que se dissesse.
O vento aflora vagamente a messe,
E deixa-a porque breve se apagou.
Assim é tudo-nada. Bebe e esquece.

09 outubro 2015

de Governos e de Leis

I - governo
(quando ditadura)
é alguém dos alguns
metido a força
que pensa poder mandar em todos
para benefício desses alguns
e governo
(quando democracia)
é o empregado
autorizado e pago
pelo povo
para mandar em todos
em benefício dos mesmos alguns
que querem fazer do povo
um bando de nadas
e de nenhuns

II - lei
é estabelecer
que todos são iguais
desde que não
sejam os alguns
para que o povo
se iguale sempre ao povo
e jamais
se desiguale do seu nada
a lei é a ordem dos alguns
e para estes
lei é sempre se manter
dentro dos limitados
limites da estrada





07 outubro 2015

A Queda da Humanidade

despencaste dos próprios tamancos
tropeçaste nos próprios barrancos
afundaste nos próprios buracos

não foste o ser que és
nem chegaste a ser o que não foste
daquilo que conseguiste desististe
o que fracassaste levaste adiante

puxaste a carta  mais baixa
do teu castelo de vento

quebraste o orgulho do teu salto
sem nem ter chegado ao alto

e eu
como nunca fui nada
entre o que está entre ti
naquele dia de Queda
não estarei nem aqui


05 outubro 2015

Crime

palavra
“Sublime”
para onde foste?
perdeste tanto teu ser
que talvez eu tenha
que te explicar
para um alguém
que for me ler

se eu te usasse
como adjetivo
soaria pomposo e antigo
um nada babaca

morreste
de algum novo vírus
sanguíneo
ou suíno
ou só
deixaste a casa
por nojo
de tantas baratas
pela mesa?

seja como for
que assim seja

estás agora em segredo:
dizer-te em meio ao fim
causa arrepios de medo...

encontraste uma rima
no que há de sublime
em só haver esperança
no Horror e no Crime

  


03 outubro 2015

Quando podemos não podemos

Querer não é poder. Quem pôde, quis antes de poder só depois de poder. Quem quer nunca há-de poder, porque se perde em querer.

Fernando Pessoa (como seu heterônimo Bernardo Soares)
quando podemos
não sabemos como podemos
(porque queremos primeiro
e aprendemos depois)
e quando aprendemos
o tempo de poder já passou
e jamais obtemos os dois

quando se aprende a poder
ou já não se pode mais
ou já se deixou de querer
(pelo fato de que já não se pode)
e então fingimos querer outras coisas
que são só as que podemos
disfarçadas do que queremos
e quando as conseguimos
percebemos que nada temos
porque não era o que queríamos

a verdade
é que nunca queremos o que podemos
porque o que se pode
(exatamente por se poder)
não tem graça em se querer
e ainda mais lá no fundo
(em relação ao que se quer)
nunca sabemos se é o que podemos
nem conhecemos o que é que queremos



01 outubro 2015

Do que resta

I - pouco faço:
crio
como a água
desce o rio

II - Deus
(ao existir ou não)
deixou de sua obra
a imaginação
como continuação

III - poesia
é o que resta
do que foi vida
hoje vazia

29 setembro 2015

Para quê o homem quer ir a Mar-te?

I – o homem no espaço
quer levar a vida a Marte
o homem na Terra
quer levar a vida à Morte

II – a ciência tenta descobrir
se há em Marte
o metano
mas nem sabe
se há no homem
o humano

III – caro leitor:
o homem quer  ir a Marte
para aprender a amar-te?

IV – ah, o homem quer ir a Marte...
grande marte
grande mar de...
grande merda




27 setembro 2015

A agricultura no Brasil devastou um estado de SP em 10 anos

É o que afirma as mais recentes estatísticas divulgados pelo IBGE. Confira a matéria na íntegra aqui. Tais informações geralmente são subestimadas pela população em geral, e mesmo as pessoas mais cultas e críticas pouca atenção dão a tais fatos. E mesmo que se pensasse mais no assunto, o que poderia ser feito?

Devastar um território quase do tamanho do estado de São Paulo em apenas 10 anos é muita coisa, é um absurdo, na verdade. E isso foi apenas o que devastou a agricultura, a principal responsável, correspondendo a 65% do total de florestas e outras formações vegetais consumidas entre 2000 e 2010 no Brasil. Realizando-se uma operação básica de matemática, e se considerarmos que o Brasil ainda possui 50% de seu território preservado, mantendo-se esse ritmo de destruição, o Brasil teria sua natureza TOTALMENTE DESTRUÍDA EM TORNO DE 100 ANOS.

Quais as consequências dessa catástrofe? A verdade é que ninguém sabe. Mas já podemos vislumbrar algumas tragédias que estão deixando seus obscuros sinais. Estiagens cada vez mais prologadas, fim dos recursos hídricos, consequente impossibilidade de se produzir energia elétrica, aumento de temperatura e outras alterações climáticas, esterilização e desertificação de terras férteis, extinção em massa da biodiversidade... Isso é só o que podemos vislumbrar. Certamente, o que ainda não podemos deverá ser bem pior.

Pouco, bem poucos, dispensam real atenção ao fato, pois, numa sociedade imediatista e superficial, o que importa é suprir as "necessidades" atuais da população. Não se pensa nas consequências. Pensa-se no dinheiro, no lucro imediato. Alegam que a humanidade aumenta e precisa ser alimentada. Realmente. Mas não se leva em conta o "até quando?" e o "de que forma?" Já escrevi aqui, e não foi só uma vez, que em breve, dentro de poucas décadas, haverá um redução drástica, para não dizer catastrófica, na população humana mundial.

Para encerrar:


Mensagem aos Extintos


seres que vos extinguis:
a que oculto
o que mistério
vos leva...?
o que vos leva,
em que mistério
é oculto?...

quando vos fordes
ocultai convosco
meu fracasso humano
quando partirdes
arrastai com força
meus ausentes planos
e meu longínquo sangue
despejai ao longe

o que pulsou comigo
não deixeis que siga
na desalada vida
e o desperado  verso
que perambula e erra
escondei da terra

é o que me esperanço
nos confins
a que vos destinais...

que eu me esqueça do existe
em vossos eternos jamais

mas guardai
em almas
esta arte dos tardes

para quando voltardes

25 setembro 2015

Senha, Casa, Estrada

sei que tenho um cofre
do qual perdi a senha
e só me vem a senha em sonho
mas quando sonho não me sei
e nem sei o que me sofre

sei que tenho um endereço
do qual perdi a casa
que só me vem quando ao acaso
mas é no ocaso que me erro
e nem sei se me mereço

sei que tenho um campo e rio
do qual perdi a estrada
e só me vem quando sou nada
mas só sou nada quando sou-me
e nem sei do meu vazio

para que eu existisse
deixei de ser:
antes eu fosse
sem existir

23 setembro 2015

O Desgoverno de Sartori e as Causas da Revolução Francesa: uma comparação

Já comentei que se o RS fosse a França, com os desmandos, incompetência e injustiças deste governo Sartori, teríamos aqui uma outra Revolução Francesa. Então, façamos um comparativo entre as causas da Revolução na França (RF), que ocorreu entre 1789 e 1799, com o que vem ocorrendo no RS nos últimos meses.

Causa 1 da RF:

Descontentamento do Terceiro Estado, a saber, os trabalhadores urbanos e camponeses e a classe média, que era a grande maioria da sociedade, com os privilégios da nobreza e do clero.

Hoje no RS: 

Descontentamento dos servidores públicos e da população em geral com os privilégios dos deputados, altos membros do Poder Executivo e Judiciário, inclusive recebendo aumentos enquanto os servidores dos serviços básicos têm seus salários parcelados.

Causa 2 da RF:

Os integrantes do Terceiro Estado deviam pagar altos impostos, enquanto clero e nobreza eram isentos. Esta disparidade gerava muita revolta em grande parte da população.

Hoje no RS:

Ontem mesmo foi aprovado o aumento do ICMS, um imposto perverso, que acaba sendo sempre descontado das camadas economicamente mais empobrecidas da população. Enquanto isso, grandes empresas sonegam sem nenhum combate ou cobrança, e grandes fortunas e igrejas altamente lucrativas, no Brasil inteiro, não pagam imposto.

Causa 3 da RF:

Quase todas as terras do território francês estavam nas mãos da nobreza, fato que também gerava muita revolta na população.

Hoje (e historicamente) no RS:

Os grandes latifúndios são "tradições inquestionáveis" no território gaúcho, principalmente na Metade Sul do estado.

Causa 4 da RF:

Elevados gastos da nobreza com luxo (festas, banquetes, roupas caras, joias etc.), enquanto grande parte da população vivia em péssimas condições de vida.

Hoje no RS:

Bom, precisa eu relatar os "gastos" de deputados, membros do alto escalão do governo, os "auxílios" para juízes etc.? Basta lembrar que os gastos com combustíveis da Assembleia Legislativa estão sendo maiores do que os de toda a frota da Brigada Militar. Aliás, da Brigada, que ontem espancou manifestantes que lutavam pelos direitos dos próprios brigadianos.

Nem precisa de outras causas. Essas já seriam suficientes para uma revolução. Mas os gaúchos em geral, que tanto falam em Revolução Farroupilha, Federalista, o diabo, parecem agora aceitar todos esses desmandos goela abaixo. 

E lembrando os ideais da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade, Fraternidade. O que diz na bandeira gaúcha: Liberdade, Igualdade, Humanidade. 



21 setembro 2015

das Vitrines da Aparência

no mundo atual
não há espaço
para o mundo interior:
a psique foi asfixiada
entre o ar seco das vitrines
da aparência

por isso
não mais falo
do que sinto:
a qual alguém pode interessar
o que um outro sente
se o alguém nem sente
por si mesmo
e nem quer saber do outro?

só há sentido no ser
do sentimento expresso
quando o outro
o reflete e o encontra
expresso no seu ser

mas ninguém
nem se encontra no seu ser
nem reflete por si mesmo
nem se expressa o que não sente
e por Fim
nem sentido há algum

18 setembro 2015

Três Garrafas de Vinho

- bebê-lo
é olhar o sou 
do que não tenho
pelo lado oposto
daquele outro gosto
do teu olhar não posto
no espelho

- no vinho
o que é que se afoga?
não se afoga
se afaga
um fogo que é uma faca
afogueada em sangue
de música e ressaca

- há o branco e há o rosa
e há aquele em que não minto
mas o melhor do beijo
é quando ele fica tinto

16 setembro 2015

Reconheço que me degrado

o que me resta de alma
mal dá pra cobrir
um vão do ente
do meu ser em vão

e vão todas as gentes
no vácuo de ser humano
que é vagar para o abismo
ano após ano
asno após asno
ismo após ismo

reconheço que desagrado
e que não toco
nenhum vão do que se sente
com meu sonho em não

reconheço que me degrado
lago de sangue e caos
e outros vazios e tals

mas se essa praga
é o que chamam Evolução
fico com minha busca
(como quem dirige um fusca)
por um resto de consciência
no que se diz Decadência

14 setembro 2015

Para acabar com a Crise? Taxar as grandes fortunas e combater a sonegação

Não é de hoje que venho comentando sobre o assunto. O Brasil, todos sabemos, é um dos países de maior desigualdade social do mundo. Não é que não temos dinheiro ou riquezas. Temos de sobra. O problema, óbvio, é que estas riquezas produzidas se concentram nas mãos de muito poucos, que nunca deixam de lucrar, seja na crise ou fora dela, que, por terem o dinheiro, têm o poder, e, tendo o poder, impedem que a situação se modifique. Todos sabem disso. Ninguém fala nada. Por quê? É só verificar, por exemplo, a porcentagem de ricos entre nossos deputados que fazem e votam as leis.

O problema é que quem ganha muito dinheiro ganha em cima da exploração de outros. Para alguém ganhar, alguém tem que perder. É matemático. Se alguns têm dinheiro demais, é porque outros não têm quase nada. Já escreveu Balzac: "Por detrás de uma grande fortuna há um crime". E um desses crimes é a sonegação. Sonegação é roubo. Alguns dizem que é justo sonegar porque se paga imposto em demasia. Se o imposto fosse devolvido, no momento da compra, ao consumidor, que é quem realmente paga essa demasia de imposto, tudo bem. Mas o sonegador não devolve. Embolsa dinheiro que não é dele. Ou seja, rouba. Segundo Amir Khair, Mestre em Finanças Públicas, a taxação de grandes fortunas renderia em torno de 100 bilhões de reais aos cofres públicos todos os anos. Confira AQUI.


Por esses e outros motivos, taxar as grandes fortunas é muito mais que um ato de coragem e vontade política. É um ato de justiça que o povo brasileiro merece há muito tempo. Mas o mais triste é que ainda há pobres que são contra tais medidas. Culpa da ignorância, é claro. Durante séculos foram condicionados a "adorar" o seu "senhor", o patrão, que lhes dá uma "oportunidade" de trabalhar, como se o patrão não dependesse do trabalhador para construir sua riqueza. Foram adestrados a amar quem os explora e a beijar o chicote que lhes açoita. Encerro com um trecho de um texto do escritor, professor e jornalista, Juremir Machado da Silva, que pode ser conferido na íntegra AQUI:

"Na lista (da Operação Zelotes) estão empresas gaúchas: RBS, Gerdau e Marcopolo. A RBS teria pago R$ 15 milhões por fora para não ter de entregar R$ 150 milhões ao fisco. O rombo apurado pela Zelotes bota o da Lava-Jato no chinelo: mais de R$ 600 bilhões.
A Zelotes mexe num pulgueiro. Muita gente boa acha que sonegar não é crime. Nas manifestações verde-amarelas contra Dilma, em março, abril e agosto, havia cartazes defendendo que sonegar é ato de legítima defesa. O assunto dificilmente chega às manchetes dos telejornais globais. Mesmos os parlamentares não se ocupam dele. A grande exceção é deputado gaúcho Paulo Pimenta (PT)."



12 setembro 2015

“Viver é não conseguir.” (Variações sobre um tema de Fernando Pessoa)

I – é inútil dizer à frente:
de nada adianta
qualquer coisa que se adiante

II – o mundo é lodo
do tolos todo

III – qualquer palavra que eu diga
é pra(lava) doida varrida

IV – qualquer verso que eu faça
não vale mais
que um gole de vinho
whisky
cachaça

V – quanto mais se insere com todos
mais não se passa de nada
mas sabe ver o seu nada
quem se entende com o Todo

VI – o mundo é mesmo só isso:
para que se consiga
uns secam os mares com redes
outros pescam lambaris de caniço

VII – quem acha que conseguiu
não percebe que a vida é vento:
ou é porque não sabe
que tem o que não quis
ou é porque não vê
que o que quer é só momento