Nesta postagem, retiro trechos de três matérias, todas publicadas no jornal Sul21, cujos temas estão intimamente relacionados, as quais demonstram o enorme risco que o Bioma Pampa vem correndo em função da sua progressiva e implacável destruição em nome do lucro financeiro sem limites. Tal destruição, logicamente, não afeta somente a flora e a fauna do bioma, mas também a saúde e a vida humana, a qual depende do equilíbrio ecológico para existir .Fato que as pessoas insistem em ou não enxergar ou em fingir que não estão enxergando. Abstenho-me de maiores comentários e deixo as conclusões a cargo do leitores. Peço apenas que atentem para os trechos destacados em vermelho.
Matéria 1: Os Campos do Sul vão virar uma grande lavoura de soja? Entrevista com Valério Pillar, professor do Departamento de Ecologia da UFRGS (A íntegra, aqui.)
Os campos que cobriam vastos territórios no Sul do Brasil, Uruguai e Argentina estão sofrendo uma profunda transformação que, além de alterar suas paisagens típicas, ameaça sua biodiversidade. Eles já desapareceram em muitas áreas e, em outras, correm o risco de desaparecer, sendo substituídos por lavouras (de soja, principalmente) e plantações de árvores. Nos três estados do Sul do Brasil, estima-se que esses campos já estejam reduzidos a menos de 40% de sua área original. Os riscos que essa transformação representa para a biodiversidade dessas regiões é um dos temas centrais do livro “Os Campos do Sul”, uma publicação da Rede Campos Sulinos, com apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que reúne trabalhos de mais de 80 autores e autoras de textos, imagens fotográficas e ilustrações.
São as lavouras, principalmente a lavoura de soja, que têm pressionado tremendamente os campos. Este ano, inclusive, isso está ocorrendo de maneira expressiva, em função do preço atraente. Está se plantando soja mesmo em regiões onde as condições de clima e solo não são as melhores para essa produção. A silvicultura, em um determinado momento, pressionou bastante os campos aqui no Estado, mas essa pressão diminuiu um pouco por questões econômicas. Com a silvicultura parece que a população percebeu melhor a importância dos campos, pois ela cria uma barreira visual e as pessoas percebem que alguma coisa aconteceu. Quando se transforma campo ou pastagem cultivável em lavoura parece que as pessoas não percebem o que está ocorrendo. Parece que antes da lavoura tinha algo ali que não tinha valor…
Muitas espécies que nem eram conhecidas podem já ter se extinguido em algumas regiões onde a transformação foi brutal como ocorreu no Planalto Médio. Nesta região, praticamente não temos mais campos. Há espécies ameaçadas e o livro mostra quais são. As ameaças geralmente decorrem destas mudanças que provocam fragmentação e perda de áreas campestres.
Matéria 2 : .MP ingressa com ação contra o estado para a proteção do bioma pampa. (A íntegra aqui.)
O MP questiona a distinção feita pelo governo do Estado entre as áreas rurais consolidadas por supressão de vegetação nativa por atividade pecuária e as áreas remanescentes de vegetação nativa. Na avaliação dos promotores, o decreto “desconsiderou evidências científicas no sentido de que a atividade pecuária não causa supressão do campo nativo, de modo que os remanescentes de vegetação nativa, no Bioma Pampa, convivem há 300 anos com a pecuária”.
A consequência prática desta distinção, segundo a Promotoria de Defesa do Meio Ambiente, é a dispensa da reserva legal para os imóveis rurais de até quatro módulos fiscais localizados no Bioma Pampa, já que o artigo 67 do Novo Código Florestal, considerado como inconstitucional na ação civil pública, prescreve que, para as áreas rurais consolidadas, a reserva legal será constituída com os remanescentes de vegetação nativa em 22 de julho de 2008.
A ação postula que, quando da aprovação da localização da reserva legal no CAR, o Estado do Rio Grande do Sul respeite o percentual de 20% da área do imóvel, mantida com campo nativo, ainda que ocorra a atividade de pecuária na área de vegetação nativa remanescente. Além disso, pede que “seja reconhecida a ilegalidade da anistia em relação às infrações administrativas praticadas no período de 22 de julho de 2008 a 25 de maio de 2012, já que esta anistia não está prevista no Novo Código Florestal”.
Matéria 3: Análise aponta que 90% de uma população argentina estava contaminada pelo glifosato. (A íntegra aqui.)
Uma pesquisa realizada pela Associação Civil BIOS diagnosticou que 90% das pessoas que participaram do estudo realizado na comarca bonaerense de General Pueyrredó tinham glifosato ou seu metabólito na urina. Participaram do estudo tanto moradores da zona rural como da urbana. Tendo em conta que muitos alimentos industrializados contêm soja, o resultado é preocupante. Também foi demonstrado que os agrotóxicos evaporam e caem com a chuva. E de todos eles, o glifosato foi o herbicida mais encontrado. Em março, a OMS qualificou o glifosato como uma substância “provavelmente cancerígena”. Além disso, pode provocar diabete, Mal de Parkinson e até Alzheimer.
A coordenadora da BIOS assegurou que “o problema é que o nosso corpo recebe centenas de substâncias em diferentes níveis, e moléculas que sozinhas eram relativamente inócuas, mas combinadas, podem ser tóxicas. Por exemplo, em Sierra de los Padres não há grandes plantações e, no entanto, foram encontrados restos de órgãos clorados que simulam ser um hormônio, mas que na verdade desestabilizam o organismo. E não há herbicidas ‘menos danosos’: tudo o que termina com o sufixo ‘cida’, mata. Lamentavelmente, os proprietários de terras, até em períodos de alqueive (quando se deixa de semear em um ou vários ciclos vegetativos) passam glifosato”.
Buján citou um estudo realizado pelo Centro de Pesquisas do Meio Ambiente (CIMA), da Universidade de La Plata, com a assinatura de Lucas Alonso, Alicia Ronco e Damián Marino, no qual se demonstrou que os agrotóxicos também evaporam e depois caem com a chuva. “É como dizer que chove agrotóxicos. O glifosato é um ‘apaixonado evaporador’ e foi encontrado em todas as amostras de água de chuva, que por derivas atmosféricas pode atravessar longas distâncias”.