Senhores e senhoras que fazem, que atuam, que
trabalham incansavelmente em prol do avanço econômico, homens do progresso e do
desenvolvimento , altos dignitários, titânicos mandatários, monumentais coronéis,
solenes empregadores, vastos
proprietários de nossa cidade, venho por meia desta conclamá-los aberta e magnanimamente
para combaterem a escória, a vagabundagem, a marginalidade, a baderna, a falta de respeito e de reverência
que anda degradando a honra e dignidade duramente obtidas pela nossa nobre
estirpe.
Unam-se, formem trincheiras, exércitos se for
preciso, porque alguns desaforados inimigos da ordem, da paz, da prosperidade
estão espalhando mentiras, boatos e covardias invejosas contra as verdades já
estabelecidas e naturalmente inquestionáveis em nossa cidade. Estão ferindo
nosso domínio justo, natural, nosso direito divino e praticamente
constitucional de mandar e desmandar segundo nosso bem entender e nosso bel
prazer, o qual, mui obviamente, não se questiona, uma vez que está
profundamente encravado nas tradições imodificáveis do seio augusto da nossa sociedade.
Querem acabar com tantos anos de dedicação e
merecimento, desejam emporcalhar nosso nome imaculado impregnado de peso e de
razão eterna, apenas para terem o prazer de satisfazer seus ódios mesquinhos e
porque não podem estar no nosso lugar, nos nossos tronos absolutistas. De onde julgam tirar argumentos contra nossas
verdades há tanto tempo estabelecidas e nunca perturbadas? Como podem se pronunciar contra o poder
financeiro que é o que, gostem ou não gostem, vem mantendo viva nossa cidade?
Vejam quantos empregos temos formados, olhem para a
massa de trabalhadores assalariados que construímos e que recebem todos os
meses seus magníficos salários mínimos. Observem como essa gente quieta e
conhecedora do seu lugar vive feliz e contente em sua rotina de trabalho por
nós traçada e determinada com justiça e bondade. Vejam como são a nós gratos
pelos favores que lhe fizemos em oferecer tantas e tantas vagas de miríficos empregos.
Vejam como caminham humildes e satisfeitos com as vidas tranquilas com que lhes
presenteamos. Agora vêm esses animais, essa corja de malandros que não tem o
que fazer dizer que há algo errado, que duvidam de nossa benignidade e generosidade?
Iremos permitir que espalhem o mal em nossa cidade de forma tão sórdida, cruel
e sorrateira?
Reajam, senhores e senhoras, façam algo, esperneiem,
chorem, intimidem, ameacem, processem, mas defendam vossas verdades, direitos,
comodidades, regalias, defendam vossos privilégios que indubitavelmente foram
obtidos com real sacrifício e com alianças, tratos, tratados e apertos de mão
históricos e revolucionários.
Tiremos fotos juntos, abraçados, de mãos dadas,
estampando vivos e celestiais sorrisos de vitória e de religiosidade, para
ostentar altivamente contra os que simbolizam a maldade e a violência.
E tenho dito.