A sociedade brasileira em geral não apoia greves. Quase sempre fica contra os grevistas e favor dos governantes, e exige que os grevistas voltem a trabalhar e negociem sem paralisações. É que a greve não é um protesto festivo e descompromissado. A greve, quando bem feita e organizada, fere profundamente o seio da sociedade. Porque é só neste momento, no da greve, é só nesse momento que todos sentem na pele como determinada categoria trabalhadora faz falta às pessoas.
Mas então, o que ocorre? Por que quase sempre as greves não dão resultado no Brasil? Porque os governos ficam na situação cômoda de ter a sociedade a seu favor. As pessoas, sentindo-se prejudicadas com as paralisações do serviços, não são capazes de se solidarizar com as reivindicações autênticas dos grevistas, daqueles trabalhadores oprimidos pelo mecanismo injusto do sistema. Não saem para as ruas com cartazes e palavras de ordem. Não exigem que o Brasil "acorde". Não saem trancar o trânsito e invadir congressos. Assim, ao invés de pressionar os políticos, pressionam os grevistas e acabam por tirar toda a força do movimento.
É o que tem acontecido com as greves do magistério. A hipocrisia que reina na sociedade brasileira quando o assunto é educação é gritante. Todos garantem estar a favor da educação, porém, na hora do "pega pra capar", quando a classe dos professores quer se manifestar de forma real e efetiva, não com protestos inofensivos, o que é que faz a sociedade? Indigna-se contra os professores, afirma que estão reclamando de "barriga cheia", que estão prejudicando inocentes, que são os seus filhos, que terão que recuperar aulas, e que não poderão aproveitar direito as férias de verão indo para a praia.
Quero ver agora todos esses manifestantes que protestam por educação apoiar a primeira greve de professores que surgir em qualquer canto deste país. Quero ver a sociedade ficar a favor dos professores, como tem ficado com relação às atuais manifestações.
Sinceramente, eu duvido. Insisto no que afirma o trecho de Fernando Pessoa publicado no texto abaixo. As pessoas querem revolucionar o país, o mundo externo, sem revolucionar a si próprios. Não se apercebem de que o todo é a extensão da parte. De que a massa é a extensão do indivíduo. O que é nossa nação é o que é cada um de nós. Se o país ou o mundo estão mal, é porque nós, interiormente, estamos mal. Mas mudar a si próprio é dificílimo. Melhor protestar para que os outros mudem.