20 dezembro 2012

Um Trágico Delírio


No meio da mata, durante a manhã, ele delirava. Já há tempos. Digamos que perambular solitário entre a natureza, sonhando, fantasiando, delirando por entre riachos, lagos, bosques, prados era o seu hobby. Uma das poucas coisas que ainda lhe davam prazer. Ainda não afundada na indiferença apática que vem dominando sua psique de forma lenta, insidiosa, mas inexorável.

Pela tarde e à noite, trabalhava enfurnado em um escritório de uma grande empresa do ramo da informática. Conhecia tecnologias de ponta. Avançadíssimas. Não podia reclamar do seu salário. Muito menos, do status e das vantagens que sua profissão lhe proporcionava. No entanto, como tudo isso era maçante, tedioso, insípido, sem graça. Todos os dias, a mesma coisa. Uma rotina massacrante. De vez em quando, surgia uma variação, mas era apenas para perturbar seus já dilacerados nervos.

Em seus breves momentos de descanso, em que poderia usufruir de seu dinheiro e dos inúmeros bens materiais com ele adquiridos, ou estava tão cansado que não tinha a mínima energia para fazê-lo, ou eram tantas e tamanhas as preocupações profissionais, as ânsias com relação ao futuro, à família, que mal se recordava que deveria se divertir e aproveitar os instantes de lazer. Com o tempo, o lazer passou a ser não um momento de descanso, mas uma obrigação moral ou um ato mecânico Se ganhava tanto financeiramente, deveria aproveitar o dinheiro de alguma forma. Sentia-se obrigado, ou simplesmente impelido a fazer alguma coisa. Mesmo que no fundo preferisse não fazer nada.

Em algumas manhãs, contudo, quando conseguia instantes de folga, partia para sua propriedade no interior do município para realizar suas habituais caminhadas. Somente então se sentia liberto. E sonhava. O sonho puro, o sonho pelo sonho, o sonho sem esperança. Era o único momento em que realmente sonhava em toda sua vida.

Contemplava sem paz, fumando cigarro atrás de cigarro, as águas e as pedras dos rios, imaginando ou delirando, que eles estavam ali cumprindo a sua função com um objetivo perfeitamente estabelecido, havia um sentido absoluto para suas existências. E ele imaginava, na fantasia absurda, que um dia, todas essas águas, essas pedras e essas rochas, essa areia iriam se tornar esplêndidas plantas, magníficos vegetais. Esse seria o sentido da suas existências. Se era irreal ou não, pouco lhe importava naqueles instantes.

Não ignorava o absurdo do seu pensamento, porém o alimentava e se satisfazia nele com imensa volúpia, em um prazer análogo, para ele, ao ato de fumar.

Permaneceu nesse delírio por alguns longos minutos, ao cabo dos quais passou a observar em profunda compenetração todas as plantas ao seu redor, fossem elas musgos, arbustos ou gigantes e seculares árvores. Encontrava-se, agora, no segundo estágio de sua fantasia. Sentado sobre a grama bem ao centro de uma pequena clareira na mata, imaginava que todas aquelas plantas viviam, existiam com um sentido plenamente claro e definido. Um dia, por processos misteriosos que ele mesmo não conseguia engendrar em sua mente, e nem desejava, aqueles vegetais todos deixariam de ser vegetais para ascender na hierarquia da evolução. Transformar-se-iam em animais de diferentes espécies. Seria esse, nos seus pensamentos delirantes, o objetivo, ao menos um dos objetivos, de existirem todas aquelas infinidades de plantas. Era algo como uma preparação para a ascensão a um nível superior.

E, finalmente, no último estágio de sua estranha fantasia, aquele homem cansado, exausto de sua vida e de si mesmo, consolava-se perambulando e observando, ao máximo que lhe era possível, os animais pelos quais passava ou que passavam por ele. Divisava aves de diversas espécies, alguns lagartos, borboletas, cigarras, macacos bugios, lebres, graxains etc. E para o caminhante em seu sonho absurdo, esses animais e todos os outros que habitam a face terrestre existem e concretizam suas vidas tendo em vista um único ponto: o de em algum momento oculto entre os desígnios universais tornarem-se seres humanos. Sim, no seu delírio, talvez até loucura, consistia nisso o sentido de, para eles, animais, existirem.

E concluídas tais fantasias e divagações ilógicas, quase oníricas, quase insanas, aquele homem deveria voltar para sua vida comum de ser humano que já beirava o insuportável. E, mergulhado em densa melancolia, ele retornava para o seu trabalho, que era o único sentido de sua existência, e não só da sua. Perguntava-se a si mesmo qual seria, afinal, o sentido da vida humana. No seu sonho fantástico, os animais viviam para um dia ascenderem a seres humanos. E os humanos deveriam ascender ao quê? Ou não deveriam ascender a nada? Ou, talvez, devessem descer? Ser um homem para ser o quê? 

E, fumando seu último cigarro, voltou para sua vida sem nenhum sentido.

(Na imagem, o quadro "Caminhante Sobre o Mar de Névoa, de Caspar David Friedrich.)

19 dezembro 2012

PSDB, PP e PSD fazem a CPI do Cachoeira virar Pizza. Novidade?

Depois de darem um "show de decência e moralidade" (e um espetáculo de Hipocrisia), exigindo de boca cheia (de pizza) a condenação e a punição dos corruptos do mensalão do PT, agora os partidos de direita, para comemorar sua vitória, resolveram preparar uma pizza especial para a festa. PSDB, PP e PSD, principalmente, foram os responsáveis pela rejeição do relatório final  da CPI do Cachoeira, que pretendia indiciar 29 pessoas e responsabilizar outras 12 pelo envolvimento com a quadrilha de Carlinhos Cachoeira, entre eles o governador de Goiás, Marconi Perillo do (adivinhem!) PSDB, além de jornalistas da revista Veja e do procurador-geral da República, Roberto Gurgel.

Vamos dar nome aos bois, ou melhor, aos ratos de cola atada que votaram contra o relatório da CPI: 

Do PSDB:  deputados Sílvio Costa, Luiz Pitiman, Carlos Sampaio, Domingos Sávio e senadores Álvaro Dias e Cássio Cunha Lima.

Do PP: deputado Gladson Cameli e senadores Ciro Nogueira e Ivo Cassol.

Do PSD: deputados Armando Vergílio e Cesar Halum e senadores Sérgio Petecão e Marco Antônio Costa.

Do PR: deputado Maurício Quintela Lessa e senador Antônio Carlos Rodrigues.

Do Dem: senador Jayme Campos.

Do PMDB: senador Sérgio Souza.

Do PSC: deputado Felipe Pereira

Já disse aqui no blog e repito: o episódio do Mensalão não representa nenhum pretenso "ínicio de moralidade ou de fim da impunidade" em nosso país. A condenação dos mensaleiros não passa de uma vingança das forças de direita (partidos, mídias e simpatizantes) contra o PT. Deviam ser condenados? Na minha opinião, sem dúvida. Mas não vai passar disso. Foi um caso isolado, uma expressão do ódio dos direitistas. E acabou. De resto, segue tudo como antes. E a Pizza do Cachoeira, um dos maiores corruptos e corruptores da atualidade no Brasil, está aí para provar.

E um caso interessante nessa vergonha toda é que o PSD, um partido "novo", estampa em seu site:     
"Queremos transformar a política".  Haha! Só rindo.

(Com a charge acima, finalmente entendi a genialidade do Niemeyer...)

18 dezembro 2012

da Previsão do Tempo


...o

Tempo
é um algo
de mais estranho:
dizem que pode ser marcado
marchado
por ponteiros de cobre
de cobra
ou gadanho

e ele vai
de hora em hora

hora por hora

e quando se vê
já foste embora...

e avança
minuto a minuto

minuto em minuto

e quando se vê
outra vez luto...

de infinito
segundo a segundo

segundo
sobre
segundo

seguindo
cegando

e quando se vê
já nem mais mundo...

nem mais mundo
mais mundo
mundo
o...

Tempo
é um alto
de mais tamanho...

16 dezembro 2012

(Não-) Palavras a Beethoven *


Tu
que só dizes
ao que é:
de  Ser
a Ser

quanto a mim
que não sou meu eu
não digo palavra
só verso
do nada
que o que música
é silêncio
sublimado em Verbo
e em Verdade
calada

o teu
é um arquetípico
de ideia-alma
substância-essência
síntese e única
em cada nota
ao que se consciência

não mais
que o mais
é o a-final.
o que
em tua música há?
tudo aquilo
que o (não-)homem
jamais será?

*Poema reelaborado e republicado em homenagem aos 242 anos de Beethoven, comemorados hoje.

15 dezembro 2012

Lula deve ser Investigado, e FHC também

Considero de profunda ingenuidade o pensamento geralmente aceito pela população de que o PT e o Lula são corruptos a serem investigados e punidos e os demais partidos, para ser mais específico, o PSDB e seus aliados com FHC no poder, nunca cometeram nenhum crime público digno de investigação e punição. 

Da mesma forma, sempre considerei ridículo o PT, quando na oposição, afirmando que com eles não haveria nunca corrupção alguma. Hipocrisia ou absurda utopia. Com todos os partidos há corrupção. TODOS. E há com o PT. Mas não pode haver investigação e punição somente para um lado. Ou a justiça continuará parcial e podre,como sempre foi no nosso país.

As pessoas sempre são seduzidas pela grande mídia. Pesam graves denúncias contra FHC e o PSDB. Porém, a grande mídia não divulga, não comenta, não pressiona, simplesmente porque divulgá-las e denunciá-las não é dos seus interesses. Afinal, a Globo, por exemplo, e como todos sabem, é uma filha da ditadura, dos partidos de direita que mergulharam o Brasil na opressão e na corrupção. A Globo sempre foi beneficiada pela ditadura. Agora, com a democracia, PSDB, PP, Dem, representam a ditadura e os interesses das elites. Obviamente, qualquer ser com uma inteligência mediana percebe que a Globo quer ver tais partidos eternamente no poder.

Eu sou apartidário. E, para dizer a verdade, não acredito que partido algum solucione os reais problemas do Brasil. Pode amenizá-los. Mas resolvê-los, nunca. Além do mais, seja o partido que for, caminharemos rumo à destruição inexoravelmente. 

De qualquer forma, deixarei alguns trecho sobre o assunto em questão, retirado da coluna digital do jornalista Juremir Machado da Silva. Nem sempre concordo com Juremir em suas opiniões, principalmente quando ele se mostra um tanto otimista com relação ao futuro da humanidade. Porém, quando o assunto é política, o cara manda bala:

"Hoje, aniversário do AI-5, é um ótimo dia para se lembrar disso.

Nossos torturadores jamais foram julgados e punidos.

Já os que se opuseram ao regime militar foram presos, torturados, cassados, mortos, obrigados a viver no exílio, julgados e condenados.

Dois pesos, duas medidas.

A corrupção segue o mesmo caminho.

Eu, que jamais tive partido, posso falar tranquilamente: a corrupção serve, acima de tudo, para a luta política das oposições contra o poder e para abastecer a mídia de manchetes que provocam muito alvoroço.

Era assim quanto o PT estava na oposição e o PSDB mandava no Brasil.

É assim agora, com as posições invertidas. Ainda mais que, neste momento, a mídia extremamente conservadora, que odeia as reformas sociais dos governos Lula e Dima, sente-se mais à vontade para atacar e cobrar.

Mas o faz, apesar das más intenções, com razão.

Lula precisa ser investigado.

As denúncias de Marcos Valério são graves e devem ser levantadas pelo Ministério Público, que não pode se omitir por razões políticas.

É fundamental que provas sejam apresentadas. E, se forem, as punições devem acontecer. Assim é que se faz em democracias consolidadas.

O Brasil precisa ser passado a limpo desde a redemocratização.

O período Collor foi objeto de muita investigação e pouca condenação.

Os governos de FHC ainda não foram realmente investigados.

Por que não?

Já ouço o coro: argumento petista!

Eu me lixo para o PT.

Mas li “A privataria tucana”.

É uma lama interminável.

E a compra da emenda da reeleição por FHC?

Quando entrará em julgamento o mensalão mineiro?


Se Lula e FHC cometeram crimes, devem ser julgados e, quem sabe, se condenados, dividir cela. Getúlio Vargas botou na cadeia o seu guru, Borges de Medeiros, e o ex-presidente brasileiro Arthur Bernardes. Mandou os dois para a Ilha do Rijo para que pudessem colocar seus assuntos em dia.
Há matéria na mídia suficiente para enquadrar FHC e Lula.
Seria interessante aplicar a Teoria do Domínio do Fato aos dois.

É claro que Lula sabia de tudo sobre a compra de votos da direita.
É claro que FHC sabia de tudo sobre a compra da emenda da reeleição e sobre os negócios da privataria. As evidências são acachapantes e fétidas.

Eu torço para que Joaquim Barbosa encarne ainda mais o seu papel e resolva ir além da encenação fácil. Ele percebeu que o seu momento de glória tinha chegado. Eu faria o mesmo. Chama para si tudo o que possa aumentar a sensação de que entendeu o clamor do povo.  Indica que vai faxinar o Brasil.
Está na sua mão pressionar para que o país seja passado a limpo.
No Congresso Nacional, deveria acontecer uma CPMI do FHC e do Lula.
Ou se investiga tudo e todos, ou é só luta política e jogo de mídia.
Isso nada tem a ver com simpatia partidária, que sou imune a todas, mas com isonomia, equilíbrio, justiça, clareza, igualdade de tratamento e seriedade.
Quem diz o contrário, o faz por ideologia antipetista.
É o cara que fala: o PT encheu o saco de todo mundo, agora está pagando.
Tradução: atrapalhou os nossos negócios, precisa ser trucidado. Se não o tivesse feito, poderia ser perdoado. É o discurso do olho por olho.
Quem está de fora, não pode entrar no jogo. Investigação para todos."



14 dezembro 2012

O Saco do Papai Noel


P. noel,
lê a minha carta:
maior que a tua barba
bem perfumada
de capital
(de fazer trança)
é a tua farsa
bem estufada
de caviar
pela tua pança

de bochechas coradas
e gordas
tu só és papai,
P. noel,
a quem deixar
algumas notas
(e outras cotas)
na (pro)fundidade
do teu chapéu

P.noel
o bom velhinho
velhaco:
só ganha presente
quem tiver dedos
(no meio da moeda)
pra te puxar o saco

12 dezembro 2012

O Maldito Baudelaire sabia como tratar a Humanidade

O gênio iniciador da literatura moderna, o (em seu tempo) odiado e execrado Charles Baudelaire legou-nos uma série de delirantes e impiedosos poemas em prosa. Hoje, como uma mensagem de Natal levemente antecipada, deixo um desses poemas. Querido leitor, abaixo, aprenda como tratar o público:

O Cão e o Frasco


— Meu belo cão, meu cãozinho, meu querido totó, vem cá, vem respirar um excelente perfume comprado no melhor perfumista da cidade.

E o cão, agitando a cauda, o que é, suponho, entre esses pobres seres, o sinal correspondente ao riso e ao sorriso, aproxima-se e, curioso, põe o nariz úmido no frasco destampado; mas subitamente, recuando de susto, late contra mim, à maneira de reprimenda.

— Ah, miserável cão! se eu te houvesse oferecido um embrulho de excrementos, decerto o cheirarias com delícia e talvez o tivesses devorado. Assim, ó indigno companheiro de minha triste vida, tu te assemelhas ao público, a quem nunca se devem apresentar perfumes delicados, que o exasperam, mas imundícies cuidadosamente escolhidas.

Charles Baudelaire

11 dezembro 2012

da Simplicidade


o dia de ontem
era insuportável
péssimo
horrível

o clima de ontem
era insuportável
o tempo péssimo
o calor horrível

e o era tanto
que não havia
quem se sentisse bem
e tanto o era
que como estava
nem se podia
se ir além

então à noite
veio uma tormenta
que mudou tudo
derrubando céu
e arrancando toco:
era o medo, o caos, o soco

mas depois
como foi melhor
o dia seguinte
(ainda
que em meio à ruína)

o fim
(o Fim)
é isso

simples
assim

09 dezembro 2012

In-poema


poema-não
não do tempo
em que arte era alta

de meu resto de alma
deixo um naco de nada
de um fim de festa
de um sim de falta

faz parte...
que a arte
agora é ínfima
ínfera
inferna
de um vazio de peito
de um afundar de perna
inferior
desinterna

ah deusa arte
adeus
morreste
de inf-arte

07 dezembro 2012

da Marginalidade


no meu vale
o que vale
é à margem
límpida e líbera
miragem
libertária

visionária
argila à beira
de correnteza
intocada pela humana pata
apática
e rasteira

barro de margem de lago
de onde se molda o novo
o alto
e o mago

do centro
sempre distante
avante
como se lança o bandido
despido
e deixa
à sociedade canalha
um banho de metralha

tudo vale a pena
se se cria
no que se extrema

ninguém ao meu lado
verso sem rabo

poeta mau
e marginal

06 dezembro 2012

da Queda


quando morreste
(não que tiveste morrido)
nem soubeste
o que houveste vivo
ou que não és o que foste
e talvez nem foste
o que em ti te morreste:
tiveste sede
e sedeste

acabou-te o olhar
no antes do acima
(per)deste-lo abaixo
aos cachos em palmo
a palmo
do sonho enterrado
errado

agora
(con)tentaste
em varrer o teu pó
(es)correm-te astros
pelo (v)entre das coxas
e vomitaste nas mesas
em podrentas certezas
as entranhas já roxas

e sorrias
como quem ainda ama
deixando à mostra
pelo céu da boca
uma pérola de ostra
e um (re)pasto de lama

e nem há arte
a falar-te

04 dezembro 2012

aos Sábios


são sábios
e co-acham
sobre tudo

sobretudo
coaxam
sem sotaque

embaixo
do sovaque
carregam eterna mente
suas descobertas de eureca
e filosofias de araque

coçando o saco
e o cavanhaque
mantém a (im)potência
da sua dita dura
e o próprio umbigo
empinado em destaque
de com
e im
postura
de ataque

lá vão eles
de matraque
badulaque
e fraque

sabem tudo da vida
de almanaque

02 dezembro 2012

da Arte de não se importar


olho aquele olhar
que nos olha
sem que dirija algum olhar
a nenhum lugar:
vejo-o lá
quando ele que não ele
nem está

não se houve palavra
no seu dessilêncio
breve instante do denso
que se pensa dito:
é o tudo
só mais uma gota na taça
e o imenso
do nada quanto se faça

o que é feito em verdade
é feito não se importando
deixando que se fale ou cale
ou nem mesmo em deixar
um sopro no alto
ou um passo no vale

ele que passa sempre a um passo
enquanto se pensa
no que pode (seu) ser
mas quem julga pensar
há muito
deixou de entender
pois pensar
é ter em mente um algo
e só serei o que sou
quando do mim mesmo
me estiver falto...

aliás
o de Olhar
não se diz
de nenhum jeito
eu mesmo
não falo de coisa alguma
e este poema
(como bem podem ver)
nem sequer
chegou a ser feito

01 dezembro 2012

Mensalão: Esperança ou Só Vingança

Alguns otimistas de direita estão afirmando que a condenação dos corruptos do PT no caso do "mensalão" inicia uma nova era no país, onde a impunidade da corrupção será efetivamente combatida. Ou o dizem por ingenuidade ou por maldade. 

Ora, o mensalão foi uma exceção. Cada vez mais me convenço de que as condenações contra os membros do PT, ainda que merecidas, apenas ocorreram exatamente por se tratar do PT. O ódio da direita contra o PT, e aí se inclui quase toda a grande mídia brasileira, é algo homérico. Jamais haverá tanta dureza e rigor no julgamento de outros casos de corrupção. 

Querem um prova? Deixo uma noticiazinha publicada em um canto de página do jornal Correio do Povo do dia 29 de novembro. Confira:

"CPI do Cachoeira pode acabar em pizza - A CPI do Cachoeira corre o risco de terminar em pizza, sem a aprovação final com as conclusões das investigações. Mesmo após o recuo do relator Odair Cunha (PT-MG), que desistiu de pedir o indiciamento de cinco jornalistas e a investigação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, parte da base, capitaneada pelo PMDB, uniu-se ao PSDB e ameaça derrubar e sequer votar o texto."

Vejam só, o PSDB, que tanto alardeou durante o julgamento do mensalão que a corrupção deve ser duramente combatida, exigindo justiça e rigor nas condenações, agora quer fazer com que a CPI de um dos maiores corruptos da atualidade vire pizza. Por quê? Porque agora o julgamento não se refere mais ao PT, mas a setores ligados com a direita em que se inclui o próprio PSDB e jornalistas de uma certa revista amiga dos tucanos... Sim, exatamente, a Veja. Quanta hipocrisia, hein!

E onde está o "nosso herói", ministro Joaquim Barbosa? Acho que no Brasil, nem  o Chapolin adianta.

29 novembro 2012

Que o Progresso Não Cessa...


homem pós pós-moderno
e a máquina
que não pode parar
mais combustível para o carro
mais energia para a casa
que o carro não para
e a casa
há de sempre ser clara
lâmpada acesa
geladeira repleta
e comida na mesa
indústria a todo vapor
que o progresso não cessa
nem se confessa
jamais o atraso
(retrocesso é pecado)
deixe que vá o navio
para o lado que for
e o avião
para o lado que ar
mais energia
hidrelétrica termelétrica
e nuclear
mais força e mais poder
que o progresso
ninguém pode deter
o shopping a fábrica a loja
a lavoura o fogo a forja
a mina o carvão
mais alta e vasta energia
para o micro o celular a razão
na água na terra no céu
a máquina e o mundo
acelerador até o fundo
até que o canto se exploda

e o que de alma e de vida
se foda

28 novembro 2012

do Futuro


I

que geração se gerará
desta geração gerada
no nada?

qual questionamento gerarão
que gere um algo
sobre  viver?
que nada!
já será muito
sobreviver

II

foi-ce
um algo melhor
do que não sei de saber
mas sinto
com um resto descido
de ser-me
o homem deixando seu Ser
abaixo
des-sendo

26 novembro 2012

Um Governo Sempre Mente


um governo sempre mente
mesmo quando diz a verdade:
quando mente
tem a verdade como plano de fundo
quando diz a verdade
tem a mentira como base do mundo

não seria governo se não mentisse
mentir
é adiar para o nunca a verdade
governar é a arte de adiar
não seria governo se não omitisse
omitir
é dizer a verdade de que existe o tapete
mas sem erguê-lo para ver-se o debaixo
governar é decidir
sendo capacho

as verdades que um governo esconde
são aquelas que não podem ser verdades
mesmo o sendo
pois não é que um governo minta
ele decide
(a partir do que decidem por ele)
o que pode ser verdade ou não
transforma fato em ilusão
e ilusão em fato
para mais ou para menos
de acordo com o comprimento
da sua cola de rato

governar
é ter bocas de canalhas por trás
sussurrando que o que é
jamais deve ser
e garantindo o tudo
desde que impossibilitado
por milhares de mas...

na organização da mentira
o executivo a extrai de um suposto correto
o legislativo torna lei o que se mente
o judiciário garante que a mentira é o correto
as polícias exigem o respeito à mentira
e o poeta é inútil com sua lira

não
na verdade quem mente sou eu
pois um governo sempre diz a verdade
mesmo quando diz a mentira:
se fosse mentira o que se diz verdade
teríamos que destruir degrau por degrau
tudo o que se diz humanidade

24 novembro 2012

Aos Otimistas


I

os otimistas
dizem que a vida
assim como é vista
e tida
nem é tão pouca
e que a humanidade
apesar do que há-de
não é tão louca
para sair dos seus trilhos

e é exatamente isso
a que me refiro:
o triste
(e o digo sozinho)
é que acham o que se vive tanto
que encho-me de espanto
e que a humanidade
tem seus trilhos no caminho...

II

há alguns
que me acusam de pessimismo
e que desejo o Fim...
como são injustos
quanto a mim:
o que eu desejo é o novo
algo semelhante-análogo
ao que o planeta viu
lá nos tempos áureos
após o fim dos dinossauros