17 agosto 2012

Potências

dizer
(como se em não-dito)
essências

abrir
(do que então pequeno)
imensas

tornar
(como se ideias-nadas)
suspensas

mostrar
(do que nunca foram)
presenças

tocar
(no que não-violino)
cadências

trazer
(desde o que desforam)
ex-ciências

saber
(como se ao fora errado)
con-sências

16 agosto 2012

Para as Eleições, para os Candidatos... O Político*

Agora, estão dizendo que sou desonesto. Nada sabem sobre os desígnios de um grande político. Queria que os que me criticam estivessem em meu lugar. Eu também já fui um grande idealista. Em minha juventude, queria mudar, não, mais que isso, queria revolucionar minha cidade, meu Estado, minha Pátria, e, por que não? o mundo. Eu me sentia capaz das maiores realizações, dos feitos mais nobres e grandiosos, dos atos de heroísmo, do sacrifício pela nação... E eu me via, em meu magnânimo futuro, rodeado de todas as glórias, adorado pelo povo, um símbolo do que é correto, justo, enfim, um grande homem, o maior dos políticos.

Mas não pensem, meus senhores, minhas senhoras, não pensem que eu abri mão de todos esses ideais sublimes. Não, eu apenas os adaptei aos nossos tempos, às necessidades da sobrevivência. Ao contexto de nossa sociedade. De nossa civilização moderna, onde não há espaço para ingenuidades. Os ideais de um grande homem continuam vivos e ativos em meu interior, em minhas atitudes, sempre arraigadas na honra e na dignidade. Isso é que é ser honesto, honesto em manter a minha palavra de homem, qual seja, a que um dia prometeu lutar pelo bem-estar e pelo progresso do povo e da nação. Isso, eu estou certo que realizo com todos os méritos.

E nos meus discursos, qualquer um poderá comprovar a verdade intrínseca do que afirmo. Vejam, percebam como o meu verbo é forte, intenso, inflamado! Quem poderá duvidar da veracidade das minhas palavras? Quando discurso para o meu povo, eu encarno o espírito dos grandes estadistas, dos paladinos do passado, dos bem-feitores da humanidade. Muitas vezes, já chorei, derramei as minhas lágrimas, lágrimas sinceras, profundas, sentidas, quando me dirigia àquelas pessoas, vendo-as ali, com os olhos brilhantes de esperança, crentes no meu poder de melhorar suas vidas. Ah, como isso é belo, como é emocionante! E eu nunca as decepcionei!

Mas agora, agora vêm esses inimigos do povo, inimigos dos batalhadores da Pátria, atirar pedras na minha vida exemplar, acusar-me de roubo, de corrupção, de tráfico de influência, de crime de responsabilidade, de desvio de verbas... É como sempre digo: quem não está no poder, não sabe como deve agir quando se está no poder. Acreditam que podem ser um grande político sendo um reles santinho. Assim, serão esmagados. Devem entender, esses ingênuos, que estamos no meio de lobos. Entre feras. Já dizia o poeta que quem vive entre feras sente necessidade de também ser fera. Isso não é ser corrupto. É apenas ter consciência do lugar em que nos encontramos. Já que estou aqui e que cumpro com o meu dever, por que não? É justo que eu seja muito bem pago pelo meu serviço, que é fruto de anos, anos! de esforço, de dedicação, de reflexão sobre a vida, de criação de laços de amizade, de enfrentamento de inimigos, de sacrifícios voluntários, de dias e dias longe da família, da pessoa amada, para ficar ali, em meio a homens sórdidos, raposas ardilosas, criando pactos, alianças, sabendo a hora certa de apertar o gatilho. E aí, então, depois disso, eu sou um ladrão? Mas o que é isso? Onde é que estamos?

Meus amigos, tudo depende do ponto de vista. O que é desviar uma verba? O que é uma verba? Entendo que a verba pública, e os senhores hão de concordar comigo, é para o bem-estar do povo. Então, digamos que eu tenha me apropriado de alguma verba pública. Se o fiz, foi porque considero que foi para o bem-estar de todas aquelas pessoas as quais represento. Exatamente. Compreendo perfeitamente a importância da minha pessoa para a nação. Deixemos de falsa modéstia. Eu merecia aquele dinheiro. Merecia, primeiro por que batalhei muito para estar onde estou. E cumpro as obrigações de um homem eleito pelo povo. Estou dia e noite preocupado com o bem-estar da população, com o desenvolvimento do país. O que mais desejo nesta vida é contemplar a felicidade do meu povo. E estou trabalhando para isso. E quero trabalhar ainda mais. Então, agora, entendam este ponto fundamental: para isso eu preciso de dinheiro.

Sim, eu sei que dirão que deputados e senadores já ganham muito. Mas dizem apenas por ignorância.  Por absoluto desconhecimento das inúmeras funções e atribuições de um bom político. Nosso salário não dá para nada, no que se refere ao exercício de nossas funções. Se eu não fosse um grande político tão cheio de responsabilidades, se não necessitasse de tantos assessores, de tantas pessoas de confiança, de tantas amizades imprescindíveis para o devido desempenho do meu cargo, tudo bem, o salário seria ótimo. Porém, infelizmente, não é assim. Eu preciso comprar pessoas. Digam o que quiserem, mas é assim. Se eu não comprar pessoas, que político serei? Quem estará do meu lado? Quem apoiará minhas ideias? Quem divulgará o meu nome, as minhas promessas, as minhas inúmeras realizações? Quem alardeará para toda a nação o grande homem, o genial político que sou?

Percebam, eu precisava daquele dinheiro, daquela pequena, exígua, parcela daquela verba para continuar a realizar o bem para o povo. Foi uma necessidade que somente os grandes homens compreendem. Eu tenho que fazer favores para aqueles que me auxiliam nesta dificílima empreitada que é engrandecer a nação e tirar o povo da miséria. Ou será que não sabem que ninguém faz nada de graça? Aqueles homens e mulheres que me auxiliam, que possibilitam a minha atuação pelo povo, também necessitam da sua parte. Do seu pagamento. Claro que esse pagamento nem sempre se refere a uma soma em dinheiro. Às vezes, é alguma outra necessidade dessas pobres pessoas, tão serviçais, que dão suor e sangue pelo nosso Brasil. Eu, como o homem justo que sou, devo atender justamente às reivindicações dessa gente que vende os seus prestimosos serviços, os serviços de suas empresas, de seus jornais, de seus blogs, que vendem as suas valiosas opiniões, enfim, que vendem a si próprias! Observem o gigantismo de tamanhos sacrifícios! E isso nem sempre sai barato, naturalmente.

Claro, às vezes, apenas pedem como pagamento um empreguinho aqui, uma informaçãozinha ali, uma participaçãozinha acolá, um patrociniozinho mixuruca, enfim, essas coisas simples, nada de mais. Porém como que vou possibilitar tais coisas a essas pessoas tão úteis, que são tantas, se eu não tiver dinheiro, poder econômico, influência política? E vou tirar dinheiro de onde? Ora, claro que das verbas públicas, exatamente pelo motivo de que eu as usarei para o bem da nação, e isso é algo inquestionável, indubitável, irrebatível, conforme atestam meus argumentos. Não é um desvio de dinheiro, é um emprego inteligente de uma verba que seria desperdiçada em alguma obra desnecessária. E que depois ainda acabaria abandonada. E esse dinheiro indevidamente definido como “desviado” nem ficou em minhas mãos. Foi para quem mais necessitava: aqueles que estão sempre do meu lado (e, por conseguinte, do lado do povo), auxiliando-me na minha divina missão.

Ah, irão dizer que isso a lei não permite? Ora, os grandes homens, os gênios devem estar acima da parca lei humana. Quantos feitos grandiosos nunca teriam sido realizados se não houvesse os corajosos que enfrentam todas as leis, nem sempre justas, os padrões estabelecidos, o senso comum, que vão contra todos os preconceitos e julgamentos ofensivos? Sei que este é o meu caso. Sim, podem me classificar como um ladrão, um salafrário, um cafajeste, seja o que for, eu aceito, em nome da nação pela qual sofro e me sacrifico. A minha consciência resplandece em absoluta tranquilidade. A tranquilidade do dever cumprido.

*Republicação do conto, tendo em vista as eleições. (Na imagem, o quadro "La Lampe Philosophique" de Magritte.)


15 agosto 2012

O Fracasso nas Olímpiadas – A Vergonha na Educação – e 50% das Vagas das Universidades para Escolas Públicas

         Para um país com quase 200 milhões de habitantes, 6ª economia do mundo, com uma extensão territorial das maiores do planeta, com uma diversidade de povos imensa, conquistar apenas 17 medalhas em uma Olimpíada, sendo míseras 3 medalhas de ouro, é, no mínimo, um fracasso. Que se torna ainda maior se levarmos em consideração que as próximas olimpíadas serão no Brasil.

            A maioria culpa pelo desastre a falta de investimentos nos esportes e em nossos atletas. O que é uma parte da verdade. Embora os investimentos e incentivos aos esportes tenham quase dobrado nos últimos 4 anos, ainda é pouco. O governo investe pouco e as empresas, principalmente as privadas, menos ainda.  Estas só querem saber de lucros imediatos. Principalmente no Brasil. As maiores empresas aqui são de outros países, por que vão querer investir em nossos atletas? Preferem, é claro, investir nos atletas dos países deles.

            Mas há um ponto da questão que quase ninguém toca: um bom atleta não é formado depois que se decide a ser atleta, já na fase adulta. Um bom atleta começa ainda criança, na escola, tendo o incentivo e a estrutura para a prática dos mais diversos esportes e atividades físicas. Porém não há incentivo e muito menos estrutura em nossas escolas públicas para tal.  Sem educação, sem nada. Inclusive, sem bons atletas. E sem medalhas. Mas no Brasil, o que todos desejam, em todas as coisas, são os resultados imediatos. Investir em educação? Não, isso demora muito, leva tempo, exige muito dinheiro, há que se começar pagando bem os professores, enfim, não vale a pena. O povo quer ver resultados imediatos, coisas que saltem aos olhos, obras faraônicas, que ostentam uma majestosa aparência.

            Tanto é que o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) do Brasil é ridículo. E dizer ridículo ainda é um eufemismo. É catastrófico! Nas Olimpíadas ficamos em 22º lugar, e fomos mal. E na educação, então? Na educação, estamos em 53º lugar entre os países analisados, atrás de Chile, Argentina, Uruguai, Colômbia, países que superamos nas Olimpíadas.  Nossos jovens saem do Ensino Básico sem saber interpretar um texto. Só isso. Não há nem mais o que comentar.

            E quando surge uma rara boa notícia na educação brasileira, bem, aí os ricos não gostam. Agora, os riquinhos estão putos da cara porque 50% das vagas das universidades públicas devem ser destinadas para estudantes que tenham cursado somente o ensino fundamental e médio em escolas públicas. Nada mais justo. As universidades públicas são pagas com dinheiro de todo o povo (e todos sabem que os pobres são os mais penalizados com os altos impostos brasileiros), mas os que mais preenchem as vagas dessas universidades são os filhos de ricos, que podem pagar as melhores escolas particulares e ainda cursinhos. Sem contar que não precisam trabalhar, podem se dedicar somente aos estudos. E adquirir os livros que necessitam, que quase sempre custam os olhos da cara em nosso país. O ensino público deve ser melhorado a ponto de se equiparar ao particular? Óbvio que sim. É o que estou sempre dizendo e pelo que sempre combati aqui no blog. Mas enquanto isso não ocorre (e vai demorar, se é que vai acontecer), a medida do governo é um paliativo muito bem-vindo como forma de ajudar a equilibrar um pouco as enormes diferenças sociais do Brasil.

Quanto à charge acima, eu poderia realizar uma simples alteração. No lugar do atleta, poderia ser um escritor. Que vai até os governos, até as empresas pedir apoio e patrocínio, mas recebe sempre um polido, mas definitivo, não. Depois, governos, empresas e população em geral querem que os escritores sejam difusores de cultura, de saber, de pensamento, de sensibilidade, enfim, em um país absolutamente carente de todas essas coisas.  Ou então querem dar e ostentar títulos a determinados municípios, como “Terra dos Poetas”.

14 agosto 2012

Perdendo o meu Tempo...

perdendo o meu tempo...
(mas como diria Fernando Pessoa:
o que é o tempo para que eu o perca?)

se eu ler um romance
no lugar de ganhar dinheiro
perderei o meu tempo?
se eu ouvir música
no lugar de ler um romance
perderei o meu tempo?
se eu brincar com um gato
no lugar de ouvir verdades
perderei o meu tempo?

se eu tocar  em sonhos absurdos
buscando antigas inspirações
que não inspirarão ninguém
perderei o meu tempo?

e se eu entender toda a humanidade
sem sair da minha preguiça
(que necessidade que há
de se sair da preguiça
para se entender a humanidade?)
perderei o meu tempo?

real ou irreal...
o que é um ou é outro?
qual dos dois é perda de tempo?

a falsa felicidade de todos
veio do ganho de tempo?

por mais
que eu engendre planos
que por mais se sucessem
que sucesso é que terei
que tempo eu ganharei?

lembro do tempo
em que eu me esquecia
e escrevo algumas linhas
que são ainda mais esquecimento...

por que
devo fazer alguma coisa à humanidade?
ser produtivo
é um ato falho.
não produzir nada:
o mais difícil trabalho.

12 agosto 2012

Quatro Batidas na Porta

I

dizer...
para quê?
que verbo será ouvido
seja verso de amor
seja quebra de vidro
ou de...

II

nada vale...
ainda que fale
de dores
ou que verse
das flores
do vale

III

fosse em tragédia
fosse em alegria
quem dera ficasse
aquilo que fica
da 5ª Sinfonia

IV

ninguém se importa.
...
até que se ouçam
quatro batidas na porta...


10 agosto 2012

12 Dicas para ser Odiado

Hoje, um textinho de auto-ajuda.  Para aqueles que quiserem ser odiados, deixo minha contribuição:

1) Seja independente. Não se prenda a nada nem a ninguém.
2) Pense.
3) E cometa a ousadia de dizer o que pensa. De preferência, argumentando. Se souber argumentar e sustentar suas ideias, tanto maior será o ódio.
4) Não submeta suas opiniões às opiniões dos outros.
5) Procure não seguir o que está na moda.
6) Contrarie os gostos populares, rejeitando e/ou questionando tudo o que for considerado bom pelo povo em geral. 
7) Desenvolva uma personalidade forte, firme e corajosa. Ninguém suporta uma pessoa assim.
8) Jamais adule, ou puxe o saco, ou se venda.
9) Procure dizer a verdade sobre aquilo que nos cerca. Ironize um pouco também.
10) Julgue o que for medíocre como sendo realmente medíocre.
11) Tenha talento. E quanto mais talento tiver, maior será o ódio.
12) Por fim, faça algumas coisas que os outros não aprovam que você faça.


09 agosto 2012

A Propósito da Seca

a humanidade erra
quando só considera luz
o que sendo
como luminoso

há vezes
as belezas mais profundas
estão na escuridão da mata
e não no campo
aberto em sol

o sublime é o fruto
da tragédia do gênio

dizer-se que um sorriso
é sempre bem-vindo
seduz...
mas para
quem vive na seca
não o sol
mas a tempestade
é que é a luz

07 agosto 2012

O Momento Oportuno

o momento mais oportuno
é aquele momento
que não é oportuno a ninguém:
é assim que se vai mais além

deixar que se espere
até quando já não mais se espera
é a forma mais severa
de se provar que se é grande
surpreender na batalha
quando se pensa
que não há batalha alguma
é já estar na batalha adiante

o silêncio
prolongado ao intolerável
deixa de ser silêncio
e se torna ausência
(sendo então um auge
do que consciência)
e quando for absoluta a ausência
é o instante de falar...
onda imperceptível
que se torna maremoto
desde o invisível do mar

o que não... é o que há.
quando deixar claro
que não é,
então será

06 agosto 2012

Não, pelo Contrário

a palavra
quando bem dita
(e sempre melhor se maldita)
é o que não se espera dela:
a palavra que fala
é a que não está escrita

um pulso do que se passa
de outro lado por outro além
sombra cristalina
do que não se encontra
desde o submerso da atlântida
até as muralhas da china

a minha palavra
que agora te intenta atingir
tingi-te de outro vinho
algo a mais que (dis)tinto
que tu não vês:
a poesia é um invisível assangrado
entre o de mim
e o em vocês

surge do que não se quer
amargo do que não se aceita:
poesia que é tanto mais sublime
quanto mais a vida é imperfeita

a poesia
é um ar que trago
mas não respiro
por isso que errei em tudo
para acertar com  a palavra
como se fosse um tiro

05 agosto 2012

Vote em mim para vereador. Mas... por que mesmo?

Há algo que sempre me chama a atenção em candidatos para vereador. Eles quase nunca dizem, não ao menos de forma clara, o porquê de quererem ser vereadores. No máximo informam algumas de suas características, de suas supostas qualidades, quase sempre clichês, do tipo: competência e dinamismo, trabalho e honestidade, seriedade e compromisso, e por aí vai, aquelas baboseiras que não dizem absolutamente nada, pois todos dizem a mesma coisa, e se todos dizem a mesma coisa, como escolher entre um e outro? Ademais, como saber se a pessoa realmente possui as qualidades que afirma ter?  Mas o que realmente importa, os objetivos do candidato caso seja eleito, as suas propostas, os seus ideais, enfim, o MOTIVO social de ele querer ser vereador, isso são raríssimos os que explicitam de maneira convincente.

Talvez, nem eles mesmos saibam. Ou, talvez, saibam: ganhar um bom salário sem fazer quase nada, ajudar os seus amigos e familiares, obter certa fama e certo prestígio, "aparecer" mesmo,  estar no meio dos "poderosos", ou seja: nada que diga respeito ao povo. 

Aqui em Santiago, há vereadores que não apresentam uma proposta sequer realmente séria, que seja em prol do desenvolvimento efetivo da comunidade e do município. Há os que estão na câmara porque já se acostumaram a ficar lá e querem sempre se reeleger, contando com seus eleitores acomodados e absolutamente acríticos. Há os que estão pela vontade (e pelo dinheiro) do papai. Há os que estão para fazer belos discursos e impressionar os eleitores com seu verbo vazio. Há os que estão porque gostam de política. Ou de politicagem. Gostam das reuniões (ou festas) de partidos, com churrasquinhos, pratinhos de frios, muita conversa fiada, muita risada, muitos tapinhas nas costas... Claro, quem não quer ser vereador para poder ter parte nesses privilégios? Agora, trabalho em benefício do povo... Para quê? O povo não se importa mesmo. E gosta de votar sempre nos mesmos. De preferência, nos ricos. Por que será?

Recordo agora de um caso verídico. Um candidato a vereador em um município da Bahia (não lembro qual munícipio), pelo fato de ser anão, utilizou-se do seguinte slogan: "Votem no anão 'fulano'. Dos males, o menor". Faz sentido. Muito mais do que escrever embaixo da foto do santinho um lugar-comum completamente vazio: "Trabalho e Competência".

Aproveito a ocasião para declarar meu voto para vereador ao amigo Juarez Girelli. Foi o único que me deu uma ideia satisfatória dos seus objetivos na câmara caso venha a ser eleito. Não direi que não haja outros bons candidatos. Acredito que existem. Porém querem ser vereadores para quê? Isso ainda não esclareceram. 

04 agosto 2012

Por que Surgir?

Sol, não te sejas...
para que fazer que acordem
os que não ouvem teus acordes?

as mulambentas múmias humanas
marionetes mancas mecânicas
aquelas
em que lá vão elas
entre poeiras e cadelas
em seus vazios cheios de nadas
aos sorrisos de vidas falhadas
enfeites entre as duas orelhas
que intervalam
as cabeças de retardadas

Sol, para que iluminas?
que luz que entrará
pelos porões de ratos
( inúteis fúteis trabalhos)
dos humanos corações?
o coração...
nada mais que um gorduroso músculo
entre estúpidos pulmões...

Sol, não acordes
toda essa gente...
pois verás aqueles olhares
(simples restos hospitalares)
de almas que se lepraram
e perderam todos os dentes

Sol, basta de clarear
o fundo da nossa decepção
deixa-nos e vai além...
para que nascer para todos
se o homem é mais que ninguém...?

02 agosto 2012

do se Prestar Atenção

aquilo que vês
(seja aqui ou seja ao não)
vês com qual atenção?
tens certeza
que te atentas?
como sabes do teu atento
se nem podes saber
se o que passa
passa lá fora
ou em ti adentro?

o aquilo que julgas
que atentamente olhas
dando de ti teu melhor
é que olha a ti do seu dentro
por um outro olho
que te acerca pelo todo redor

e o que é afinal que adeja
entre o que tua mente pensa
e o que teu coração
deseja?

estar atento
é saber (o) que se pensa e se sente
seja ao momento que for...
quem sabe assim
(e só quem sabe assim)
ainda se encontre
no fundo do poço do que se é
um absurdo chamado amor

31 julho 2012

E ele veio enquanto todos dormiam...

Veio no meio da noite, enquanto todos dormiam. A família, moradora da casa, havia realizado um jantar com os amigos. Fora muito divertido. Aliás, há muito não se divertiam tanto. Ao final, estavam todos bêbados. E assim foram dormir. Alegres e satisfeitos. E no meio da noite ele veio.

            Devia ser por volta das três e meia da madrugada. Quem iria esperar que ele fosse vir justamente naquela noite? Em qualquer noite ele seria inesperado, é claro, ou melhor, seria absolutamente inimaginável que ele viesse em qualquer noite ou em qualquer dia, porém, o fato de ele ter vindo justamente naquela noite foi uma absurda surpresa muito além do terrível.

Porém, seja como for, a verdade é que ele veio. Veio enquanto todos dormiam. Cinco pessoas viviam na casa. O marido, gerente de uma grande empresa, dormia num quarto bastante aconchegante com sua esposa, vereadora. Havia ainda mais três quartos. Cada um ocupado por um filho. O mais velho trabalhava na empresa com seu pai. A filha do meio cursava direito em uma universidade pública. O filho mais moço, ainda adolescente, não participara da janta, pois passara todo tempo no quarto com a bela namorada. Olhavam filmes. Por volta da 1h da madrugada, ele fora a levar para sua casa. E voltara para dormir. Mesmo sendo sábado, o moço teria aula pela manhã, cursava a série final do Ensino Médio.

            E ele veio enquanto todos dormiam. Ele veio enquanto todos sonhavam. Sonhavam com os seus dias seguintes. Com seus planos. Com o que fariam na próxima semana, no próximo mês, no próximo ano. E nunca a vida da família esteve tão próspera, tranquila e promissora. Não obstante, ele veio naquela noite, enquanto ninguém esperava.

            Não que não fossem alertados por outros, conhecidos da família. Foram. Porém, não deram atenção, muito embora tivessem dito que iriam procurar saber mais sobre o assunto.  E foi que, mesmo não sendo esperado em absoluto, ele veio. Assim, de uma hora para outra, sem avisar, obviamente. Então ele veio, enquanto estavam todos desatentos.

            Não poderia haver uma noite mais serena, mais plácida. As estrelas cintilavam apaziguadoras no céu de verão. A família havia dado uma festa. Todos estavam muito bem, apesar da embriaguez. Muito embora os problemas, comuns a toda e qualquer família, eles não chegavam a ser afetados pelos dissabores da vida, não permitiam que os afetassem. “A vida é bela”, diziam, “devemos vivê-la e sermos felizes”. Tal pensamento era como se fosse um lema daquela família.

            Não obstante, ele veio naquela noite mesmo, enquanto todos se riam.

Rapidamente, sobre Beethoven

‎"Seu caráter íntegro e independente suscita contra ele uma hostilidade cega, a estranheza de sua obra, que não pode ser tratada com desprezo, faz com nasça uma mistura de ódio, incompreensão e obscuras invejas." 

Bernard Fauconnier escrevendo sobre BEETHOVEN, em sua biografia sobre o Gênio de Bonn.

29 julho 2012

O artista deve ir aonde o povo está?

por quê?
qual artista?
o que seria um artista?
o que (ou quem) seria o povo?
e onde é que o povo está?
e o que o artista irá fazer
onde o povo está?

como um artista fará
para ir até o povo?
fará o que o povo gosta?
e do que é que o povo gosta?
e para fazer aquilo
de que o povo gosta
o artista será ele mesmo
ou terá que ser
o que o povo quer que ele seja?
e aquilo que o povo
quer que o artista seja
condiz com a consciência
e com a verdade?

quais são os artistas
que vão até o povo?
que tipo de artista
será aquele que foi até o povo?
o artista irá até o povo
dizer o quê?
que povo ouvirá o artista?
e o povo
o que tem a dizer ao artista?

por que é o artista
que deve ir até o povo?
e não o povo
que deve ir até o artista?

o povo é o que é o geral?
o povo é o que é o comum?
então o artista
para ir até o povo
deve fazer uma arte comum?
o artista deve ir ao nível do povo?
qual é o nível do povo?
o artista subirá ou descerá
para ir ao nível do povo?

o artista
(se artista)
nunca deve ir aonde o povo está
porque o onde o povo está
é um lugar muito atrás
daquilo
que um dia será