30 novembro 2025

Um Mundo Feio

a civilização humana atual 
(essa coisa horrorosa que nos cerca)
fez um mundo feio 
uma vida sem sentido e 
feia, simples assim: feia.
cidades modernas feias pra caralho
 
sem graça sem vida sem nada 
tudo reto quadrado prático
previsível mecânico robótico
um tédio absoluto e apático
entediante vazio raso chático
certinho apertado pragmático 
(pra pessoas que não precisam viver
só trabalhar para o sistema)
tudo mesmíssico iguálico

ruas cimentadas e mortas
vidas de plástico
há muito já mortas 
sem vontade sem interesses 
sem consciência sem paixões 
(nem ao menos são tortas)
engomadinho e informático
tudo bobo babado babaca
tudo falso fake pseudo

que não servem pra nada 
não há mais o que se sinta 
não há mais o que se pense 
não há mais o que se ame
a não ser o que se morre.
 
todo esse clima de Fim
que me embriaga dia e noite 
manhã e tarde 
só eu sinto.
mas há uma saída para o Fim 
que se chama Eternidade.


20 novembro 2025

Versos Diretos n°168, 169 e 170

n°168: do (Não)Reconhecimento

grandes artistas
são mais lembrados
depois da morte
não é só porque com o tempo
as pessoas compreendem suas obras.
é também porque em vida 
eles se enchem de inimigos 
de antipatizantes
de haters
de gente chata do caralho 
e de pessoas que os veem
como só mais uma pessoa.


n°169: das Asas

durante a vida
no dia
as asas de todos os pássaros 
na noite 
as asas das corujas dos morcegos 
depois da morte 
as asas dos anjos 
ou as asas dos demônios
e durante vida e morte 
as asas da poesia
que conhecem
tanto a morte como a noite 
tanto a vida como o dia.

n°170: do Fim da Humanidade

e só restaram dois humanos.
e os Tigres se ergueram 
do barro da terra
junto ao resto das águas dos rios 
para os matar e os comer.
mas deixaram as suas cabeças
humanas e mortas.
e vindo dos ares
em meio ao fogo e à fumaça 
os abutres sentiram o cheiro podre 
do imundo e morto sangue humano 
pousaram nas cabeças mortas
e arrancaram seus olhos mortos.
olhos há muito tempo mortos.

09 novembro 2025

Soneto em que o Fim está entre Parêntesis

palavras! ergam versos melodias
obedeçam às ordens do que sinto
derramem à terra tudo que for tinto
de angústia repletem as veias vazias

reconheçam-me em corações famintos
lacrimem de sangue as escadarias
morram pelo que eu jamais morreria 
se fúriem por céus enquanto me extinto

transmutem em vinhos a minha má-sorte
construam almas com meu sofrimento
por mais que o humano em nada se importe

penetrem em seus olhos e ventem a Morte.
(não é em vão todo o nada que tento:
que esteja contigo o meu sentimento.)










 








08 novembro 2025

O Dia é a Noite que ainda não chegou e vice-versa

o mal é o bem ao contrário:
é o que nós desejamos no espelho.
no consciente temos que desejar o bem
mas no inconsciente (no espelho)
o mal é livre 
e muito nosso familiar:
quem é que nunca viu o seu reflexo?
é familiar mas não é percebido.
entre ver e perceber 
há um abismo de não-ser.
é o como é acima é abaixo. 
o inferno é o céu que caiu
(os anjos que caíram)
o pesadelo é um sonho
que deixou de querer ser sonhado.
a esperança é uma espera?
e o medo também é 
só que de algo ruim.
tudo no universo 
é um virar de contrários: 
o ódio, por exemplo,
é o amor 
que se queria que fosse 
mas que não foi e azedou.