quero-quero vasto que me olha denso,
o que é que alarma no teu sino antigo?
pampa que crepúsculas,
não te sones antes que eu me vide...
folha de angico que te nervas sopro,
o que é que julga na tua chama acesa?
pampa que te noites,
não te lues antes que eu me ocase...
sanga que adaga em todo um céu de chumbo,
o que é que marcha no teu grito frio?
pampa que te sangues,
não te doenças antes que eu me febre...
coxilha em cosmo que me fúria um sonho,
em quais sentenças é que te levantas?
pampa que te fins,
não te mortes antes que eu desperte...
27 fevereiro 2017
25 fevereiro 2017
Ah! O Progresso!
ah o progresso...
“há quem passe pelo bosque
e só veja lenha para a fogueira” (Tolstoi)
ah o progresso...
há quem sente na grama da mata
e só veja escavações para minérios
ah o progresso...
há quem observe uma cascata
e só veja inundações para hidrelétricas
ah o progresso...
há quem fite o olhar do tigre
e só veja um inimigo a ser massacrado
e substituído o mistério que vem da vida
pelo lucro que vem da máquina
ah o progresso...
há quem olhe para o céu
e só veja seca ou chuva
para a lavoura de soja
ah o progresso...
explorar planeta e humanidade
para encher os cofres de um punhado
dos homens que fazem
dos homens de bem
amém
“há quem passe pelo bosque
e só veja lenha para a fogueira” (Tolstoi)
ah o progresso...
há quem sente na grama da mata
e só veja escavações para minérios
ah o progresso...
há quem observe uma cascata
e só veja inundações para hidrelétricas
ah o progresso...
há quem fite o olhar do tigre
e só veja um inimigo a ser massacrado
e substituído o mistério que vem da vida
pelo lucro que vem da máquina
ah o progresso...
há quem olhe para o céu
e só veja seca ou chuva
para a lavoura de soja
ah o progresso...
explorar planeta e humanidade
para encher os cofres de um punhado
dos homens que fazem
dos homens de bem
amém
23 fevereiro 2017
A Seleção de Emprego ideal para os novos tempos brasileros
Já pensou em como pode ser a sua seleção de emprego em breve? O cômico vídeo abaixo não é brasileiro, mas se aplica perfeitamente para a época que passamos, para os tempos pós-impeachment e suas medidas CONTRA TODOS os direitos trabalhistas e sociais que estão sendo implementadas pelos governos federal, estaduais e, muitas vezes, municipais que vieram com a reação direitista (e completamente imbecil) de grande parte do povo brasileiro. O que, aliás, e como indica o vídeo, é um fenômeno de nível internacional, não se restringe ao Brasil. As taxas crescentes e absurdas de desigualdade social estão aí para provar.
21 fevereiro 2017
da Vida Moderna
I - a lei quer que você faça
uma posição de
Sentido!
quando merda nenhuma mais
faz sentido
II – a vida moderna perdeu tanto o sentido
que isso nem foi sentido
III – ainda há para a humanidade
um sentido a pegar:
o sentido contrário
IV – miserável, tento encontrar meu sentido:
todos os meus sentidos
sentidos na arte
uma posição de
Sentido!
quando merda nenhuma mais
faz sentido
II – a vida moderna perdeu tanto o sentido
que isso nem foi sentido
III – ainda há para a humanidade
um sentido a pegar:
o sentido contrário
IV – miserável, tento encontrar meu sentido:
todos os meus sentidos
sentidos na arte
19 fevereiro 2017
Dia de Ira (ao Réquiem de Mozart)
Dies irae, dies illa
solvet saeclum in favilla…
I - carta enviada ao destino
sem selo
vida vazada de humano
sem sê-lo
II - algo estrago de raio e fogo
se gatilha no olho e no logo
relâmpago do tigre
III - homem com sede de fome
que há muito perdeu sua sede
e seu nome
IV - algo sangue no oculto do sol
se vermelha entre buracos de estrelas
sendo aves de outros planetas
ou graves de surdos sonetos
V - corvoos por todos os réquiens
carvões por todos os prados
cor vãs por todos os pratos
rãs-águas por todos os restos...
se réquiam os destinos
por cartas marcadas
com o número 626
de Mozart
solvet saeclum in favilla…
I - carta enviada ao destino
sem selo
vida vazada de humano
sem sê-lo
II - algo estrago de raio e fogo
se gatilha no olho e no logo
relâmpago do tigre
III - homem com sede de fome
que há muito perdeu sua sede
e seu nome
IV - algo sangue no oculto do sol
se vermelha entre buracos de estrelas
sendo aves de outros planetas
ou graves de surdos sonetos
V - corvoos por todos os réquiens
carvões por todos os prados
cor vãs por todos os pratos
rãs-águas por todos os restos...
se réquiam os destinos
por cartas marcadas
com o número 626
de Mozart
17 fevereiro 2017
Dia Mundial do Gato
Dia 17 de fevereiro é o Dia Mundial do Gato. Eu, amante desses animais superiores, não posso deixar de homenageá-los. Por isso, republico o poema abaixo e o dedico a minhas gatas de estimação (minhas e da Patrícia) Sophie (foto) e Gaia:
A um Amigo
gato quieto
sentado no meio do pátio
como se fosse no meio do cosmos
tu
que sentes tudo
sem perderes o gelo
eu sei que tu sabes
sem me dizer palavra:
olha por mim
como se eu te orasse
ora por mim
como se eu te houvesse
gato
tu és todo sentido
e indiferença
vês o sentido do todo
e o todo sem-sentido
da humanidade em sentença
no teu passo felino
há à presa perigo
porque nele há silêncio
e a quem te agride de pedra
tu respondes mistério
gato meu amigo
exemplo de homem
a ser seguido
14 fevereiro 2017
Humanidade... Vai Dormir!
vai dormir!
queres seguir acordada
no final desse teu dia
que (viste?) não deu em nada?
queres caminhar ainda?
mas caminhar para onde?
e caminhar para quê?
se já caminhas em círculos
e tuas estradas voltam
sempre a este mesmo lugar?
pensas ainda avançar?
que sentido que encontraste
em tudo que (não) fizeste?
realizaste o que sonhavas?
te orgulhas do que deixaste?
chegaste a teus ideais?
engrandeceste o que é vida?
encontraste a gran resposta?
seja o que for do que fores
vem agora o gran finale,
que não há passo a ser dado
que em si já não tenha sido
nem há nada a ser dito
nem um feito a ser erguido
nem um algo acreditado:
só resta um vasto cansaço
só resta a casa vazia...
Humanidade...vai dormir
que amanhã é outro dia...
queres seguir acordada
no final desse teu dia
que (viste?) não deu em nada?
queres caminhar ainda?
mas caminhar para onde?
e caminhar para quê?
se já caminhas em círculos
e tuas estradas voltam
sempre a este mesmo lugar?
pensas ainda avançar?
que sentido que encontraste
em tudo que (não) fizeste?
realizaste o que sonhavas?
te orgulhas do que deixaste?
chegaste a teus ideais?
engrandeceste o que é vida?
encontraste a gran resposta?
seja o que for do que fores
vem agora o gran finale,
que não há passo a ser dado
que em si já não tenha sido
nem há nada a ser dito
nem um feito a ser erguido
nem um algo acreditado:
só resta um vasto cansaço
só resta a casa vazia...
Humanidade...vai dormir
que amanhã é outro dia...
11 fevereiro 2017
Felicidade não se busca
felicidade não se busca
porque não pode ser buscado
um ponto que não está em um ponto
a ser alcançado
quem alcança o ponto almejado
logo vê o outro ponto mais adiante
e naquele ponto visto e não-chegado
mora a felicidade imaginada
e delirante
quem feliz se julga
é só um largo gole de vinho que traga
segura uma vela de chama fugaz
que a primeira ventania
(e todo mundo sabe)
apaga
a felicidade
é como para o colecionador
o ato de encontrar
um raro selo:
só dura o momento do ato
só pode ser feliz
quem sabe que não pode sê-lo
de fato
porque não pode ser buscado
um ponto que não está em um ponto
a ser alcançado
quem alcança o ponto almejado
logo vê o outro ponto mais adiante
e naquele ponto visto e não-chegado
mora a felicidade imaginada
e delirante
quem feliz se julga
é só um largo gole de vinho que traga
segura uma vela de chama fugaz
que a primeira ventania
(e todo mundo sabe)
apaga
a felicidade
é como para o colecionador
o ato de encontrar
um raro selo:
só dura o momento do ato
só pode ser feliz
quem sabe que não pode sê-lo
de fato
09 fevereiro 2017
Dedicatória à Noite
entre o haver da noite
o que há por trás dos entes
do ventre da mata
que a manhã
desentranha e mata?
é isso talvez que me alta:
ver que o que há
(sendo ou não comigo)
vai em frente
numa cósmica noite
mais longa mais funda mais vasta
há o sempre haver da noite
e os seres que no atrás da mata
não existem entre os que não entreveem
trago no meu ser
como quem traga
grandes goles de álcool-éter
essa desestranhada estrada
que assim como eu:
é culpada!
em sempre haver a Noite...
o que há por trás dos entes
do ventre da mata
que a manhã
desentranha e mata?
é isso talvez que me alta:
ver que o que há
(sendo ou não comigo)
vai em frente
numa cósmica noite
mais longa mais funda mais vasta
há o sempre haver da noite
e os seres que no atrás da mata
não existem entre os que não entreveem
trago no meu ser
como quem traga
grandes goles de álcool-éter
essa desestranhada estrada
que assim como eu:
é culpada!
em sempre haver a Noite...
07 fevereiro 2017
a vida esmaga a Vida
pé por pé
no dia a dia
e passo a passo
de pouco em pouco
a vida esmaga a Vida
que não é vivida
só consumida
de sol a sol
de hora em hora
o que é de alma
se joga fora
e de grão em grão
de ovo em ovo
o homem choca
o homem chora
a encher o papo
a encher o bolso
a encher o saco
a encher o vácuo
do seu olho por olho
que o tempo traga
o homem
de queda em queda
dente por dente
pós-decadente
aos lusco-fuscos
não mais que cuscos
e quando se vê
é fogo-fátuo
menos que fósforo
que avança ao dedo
deixando só...
da cinza à cinza
do pó ao pó
no dia a dia
e passo a passo
de pouco em pouco
a vida esmaga a Vida
que não é vivida
só consumida
de sol a sol
de hora em hora
o que é de alma
se joga fora
e de grão em grão
de ovo em ovo
o homem choca
o homem chora
a encher o papo
a encher o bolso
a encher o saco
a encher o vácuo
do seu olho por olho
que o tempo traga
o homem
de queda em queda
dente por dente
pós-decadente
aos lusco-fuscos
não mais que cuscos
e quando se vê
é fogo-fátuo
menos que fósforo
que avança ao dedo
deixando só...
da cinza à cinza
do pó ao pó
05 fevereiro 2017
da Tormenta
o homem
(que já não tem reforma)
para hipocrisiar sua miséria
e na tentativa malinformada
de impedir que as forças se formem
formou toda forma
de (de)formações:
desde patéticas técnicas
inarmônicas
até mecânicas máquinas estúpidas
só para nos acomodarem no nada
de nossas disformes fôrmas vazias
e pensamos entender
aquilo que se forma
com nossas fórmulas cálculos
cossenos
a foder-nos
mas não podemos impedir
que se forme a Tormenta
que se forme a Tormenta
04 fevereiro 2017
Três Considerações sobre o Olhar
I - quando se Olha
(se quem olha tem olhar)
se fala
que há um além
da fala
(se quem olha tem olhar)
se fala
que há um além
da fala
II - já disseram
(Maupassant)
que a alma
está no olhar...
acrescento
que é a alma
quem olha:
quem não a tem
não vê
(Maupassant)
que a alma
está no olhar...
acrescento
que é a alma
quem olha:
quem não a tem
não vê
III - o Olhar
é o palco possível
do impossível
é o palco possível
do impossível
02 fevereiro 2017
Aumento da Desigualdade no mundo, Projeto para permitir a caça de Animais Silvestres... São os Idiotas no poder
Disse Nelson Rodrigues que "os idiotas vão tomar conta do mundo, não pela qualidade, mas pela quantidade". É o que está acontecendo. E não se pode entender por idiota somente os "burros" e os que "não pensam", ou os que não percebem as coisas ao seu redor. Também são idiotas, talvez até mais, os inconscientes, os egoístas, os dominados pelo ganância do dinheiro, os desprovidos de sensibilidade e de compaixão pela vida... Todos esses, que são muitos, demais, dominaram a humanidade, e estão a levando ao abismo. Desgraçadamente, não há lugar para otimismos.
Há pouco tempo, em uma discussão política no Facebook, disseram-me que eu estava errado em afirmar que a desigualdade social estava aumentando no mundo; sustentavam o contrário. Bem, infelizmente, costumo ter razão em meus pessimismos. Há cerca de um ano, 50% da riqueza do mundo estava na mão de 80 pessoas. Hoje, esses mesmos 50% estão nas mãos de 62 trilionários. Quem duvidar, é só pesquisar na internet. Para onde iremos com tamanho absurdo de concentração de riquezas, que cresce a cada ano? Já disse: para o abismo.
E aqui no Brasil (por sinal, um dos países mais desiguais do mundo), um senhor que não merece meu respeito, o seu Valdir Colatto, deputado federal pelo lamentável partido do PMDB, representante do que há de mais estúpido dentro do agronegócio, não bastando todos os crimes cometidos contra nossa fauna todos os dias, como tráfico, atropelamentos nas estradas, comércio de peles, destruição do habitat, etc etc etc, inventou um projeto criminoso para liberar no país a caça de animais silvestres, sendo um dos motivos para abater um animal o fato de ele representar um SUPOSTO risco para proprietários de terras e seus rebanhos. Já imaginaram o que isso significará na prática? Que para abater um animal silvestre, uma onça, por exemplo, basta o assassino alegar que o bicho ameaçava uma das suas vacas. Fácil, não? Além do mais, o projeto do seu Valdir quer reduzir as já pequenas penas e multas por crimes ambientais, entre outros absurdos.
É, Nelson Rodrigues: tu tinhas razão.
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