eu sempre
e nunca
esperei-me mais de ti
mundo humano
(como quem espera o chegar
de alguém em um trem
e chega sempre vazio
o trem e o alguém)
eu sempre esperei-te
mais de mim
mundo humano
que foi tudo menos humano
e que, de tanto não-ser,
já nem é mais mundo
só um vácuo profundo
olhar teus arranha-céus
é fitar um abismo
em que também vejo a mim
voar nas tuas naves
não ergue meu nada do chão
o verde dos teus campos cultivados
amarelece e murcha
minhas últimas esperanças
a multidão das tuas grandes cidades
torna-me mais sozinho
do que na morte serei
as descobertas da tua ciência
ocultaram-me eu mesmo de mim
todos os teus potentes veículos
não me movimentaram da miséria
em que também sendo humano
eu também me situo
e tudo que construíram tuas indústrias
contribuíram com a minha destruição
durante uma noite serena...
de modo que
só a Arte vale a pena
(Na imagem, "O Navio dos Tolos", um estudo de Hieronymus Bosch.)
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