o que há
no jornal de hoje que leio
( já ido
de mais um dia vazio e feio)
é o nada de amanhã
inútil fato fatídico:
o que é já foi
e o que vem
já nasce sendo passado...
e nada restará do meu lado
tu, humanidade do agora
(já quase um avantesma)
que observo
(como quem vê passar uma lesma)
vais me dizer o quê?
da filosofia uma oferta?
(cadáveres de boca-aberta)
esperanças de ilusões aladas?
(ridículos finais de piadas)
ou políticas das altas esferas?
(têm mais a me dizer as cadelas)
lá vaga o teu nada
(-adiantar)
nadando na baba
dos sapos dos sábios...
e o que eu farei
com tanta risada
derramada
dos lábios?
aqui neste planeta exangue
(tu bem o sabes)
o que importa é o Sangue...
30 abril 2012
27 abril 2012
Novo Código Florestal: Uma Crítica (Severa) ao Governo Dilma
Vamos aos fatos: o governo Dilma em termos sociais e econômicos (principalmente econômicos) tem sido um relativo bom governo, muito embora ainda deixe bastante a desejar na questão da educação e da saúde.
Porém, na questão ambiental, está sendo de uma incompetência desastrosa. E isso também é fato. A recente aprovação do Código "Antiflorestal", como bem o intitulou o escritor Juremir Machado da Silva, é uma vergonha e um retrocesso para um país que está à beira da Rio+20 e que tem como seu maior patrimônio territorial as suas águas e as suas florestas.
O governo Dilma tem um perfil desenvolmentista em demasia. Isso eu afirmei que assim seria ainda durante a campanha presidencial de 2010, e que por tal motivo ela não teria meu voto. Seu governo parece querer buscar o desenvolvimento a qualquer preço. E qual será o preço? Até onde chegará um desenvolvimento que não leva em consideração a preservação da base sobre a qual se estabelece? Sem rios e sem matas, que espécie de futuro poderemos esperar? Muito bem, vamos plantar sobre todas as terras. Vamos agradar ao agronegócio, isso traz dinheiro, traz riqueza, tornará o Brasil o maior celeiro mundial. Mas com quais reais benefícios para o nosso povo? E por quanto tempo? Repito: por quanto tempo? O tempo de uma reeleição?
E não venham me dizer que o governo não queria a aprovação do Código da forma como foi aprovado. Ele tem maioria no Congresso. Se tivesse realmente se esforçado para a não aprovação, teria conseguido. Por que não houve a mesma mobilização por parte do governo como quando há em outras questões que envolvem seus interesses diretos? No entanto, fez como Pilatos, lavou as mãos. Agora, dizem que a presidente Dilma irá vetar. Sim, vetar, para depois o Congresso derrubar o veto. E o governo lavar suas mãos novamente.
Em questões ambientais, o governo Dilma tem sido um vergonhoso retrocesso. Eu não aprovava o governo FHC, mas um de seus feitos digno de aplausos foi a ampliação da área de reserva legal. O governo Lula, em outro grande feito, conseguiu, com a magnífica atuação da ex-ministra Marina Silva, reduzir drasticamente o desmatamento na Amazônia. Porém, agora, com Dilma, o que vemos, o fato, é que o desmatamento na Amazônia volta a crescer, a destruição do cerrado está em níveis alarmantes, hidrelétricas sem o devido estudo de impacto ambiental espalham-se pelo Brasil e, para completar, agora o governo não age como deveria para evitar a aprovação de um crime contra nossos recursos naturais, que é no que consiste esse Novo Código Florestal. É fato ou não é?
Basicamente, o que conseguiu a bancada ruralista, foi a liberdade para desmatar mais e o perdão de seus crimes. Isso também é fato. Entre outros absurdos, foram derrubadas as restrições de crédito para produtores que não estiverem em dia com a legislação ambiental. Ou seja, agora, mesmo tendo cometido crimes ambientais, os produtores poderão contar com apoio financeiro. Analogamente, seria o mesmo que quem cometeu crime no trânsito, perder a carteira e poder continuar dirigindo com permissão da lei. Essas são as ideologias da bancada ruralista, que tem como um de seus líderes o nosso bem conhecido deputado Luis Carlos Heinze, que representa o que há de mais reacionário no seu PP, partido com tradição em defender os interesses das elites, em manter os ricos no poder. O que também é fato.
O senador petista Jorge Viana, um dos poucos realmente preocupados com a questão ambiental, afirmou, em entrevista, com relação ao Novo Código Ambiental: "Eles destruíram tudo. É uma anistia geral e irrestrita, é muito pior que a emenda 164. Tirou desde os princípios às salva-guardas e destruiu o Cadastro Ambiental Rural. Não tem solução. O texto da Câmara, simplesmente, tira toda a proteção das águas do Brasil." Isso também é fato.
A vitória do agronegócio, mascarada com aqueles discursos demagógicos e hipócritas de que representa os interesses dos pequenos agricultores, dará início a uma fase de destruição ambiental no Brasil sem precedentes. E então ficará pairando no ar a queixa dos pequenos produtores rurais: "Minha terra não produz mais nada, está dura, não tenho água, está tudo seco. E eu acabado." Esse será o fato.
25 abril 2012
A Arte é que Sabe
o que era
na Arte já havia sido
e o que é
na Arte já foi
a Arte não é da sociedade o reflexo
ela nunca está sendo naquilo que está
não é espelho
mas o outro lado
(trago ainda não tragado)
do que não é lado no agora
é um verbo lançado ao distante
(a Arte será
no então ido embora)
emissário a um o quê? latente
que retorna com invisíveis bandeiras
(entre infinitos e abismos às beiras)
para tornar visto o não-avistado
próximo o que ainda é próximo
e trágico o que ainda lépido
a Arte é a sensação de um todo
que é ainda parte
e ainda não sentida
a vivência em cedo do que será vida
antecipação amental da humanidade
e do que além o homem não...
(símbolo não dito do que verdade)
prenúncio de um além-noite
aurora do que não-dia
(só a Arte é que sacia)
epílogo:
se os dias que nos esperam
fossem luminosos
não haveria Shostakovich
ou Penderecki
ou
...
24 abril 2012
"Em que momento, entre 1960 e 2012, transformamo-nos em idiotas?"
Abaixo, transcrevo o texto que foi publicado no jornal Correio do Povo de domingo, 22/04, na coluna do jornalista Rogério Mendelski. O texto não de é autoria do mencionado jornalista, está sendo divulgado na internet de forma anônima. Acompanhem:
"Estamos em 1960. Joãozinho não fica quieto na sala de aula. Interrompe e perturba o ambiente. É mandado à secretaria da escola e fica esperando até o diretor dar-lhe uma advertência com a sugestão de uma suspensão e até expulsão da escola. Joãozinho esconde o ocorrido dos pais com medo de alguns “cascudos” em casa, mas voltou a se comportar e nunca mais perturbou a classe. Vamos para 2012. Joãozinho é mandado para a psicóloga da escola, o diagnóstico fala de hiperatividade com transtornos de ansiedade e déficit de atenção e recomendado a tomar Rivotril. O garoto transforma-se num zumbi e os pais reivindicam uma subvenção por ter um filho incapaz e ainda processam a escola. Voltamos para 1960. Luizinho quebra o farol de um carro, no seu bairro. O pai tira a cinta e lhe aplica um corretivo no traseiro. Luizinho sentiu o poder paterno, nunca mais foi vândalo, cresceu, entrou na universidade e hoje é um profissional de sucesso. Estamos em 2012. O pai de Luizinho é processado por maus tratos e fica proibido de ver o filho. Luizinho volta-se para as drogas, delinqüe e é colocado numa casa de recuperação para adolescentes. Outra volta a 1960. Paulinho cai no pátio da escola e machuca o joelho. A professora encontra o garoto chorando e o abraça para confortá-lo. Rapidamente, Paulinho se sente melhor e continua brincando. Pátio em 2012. A professora é acusada de não cuidar das crianças e Paulinho tem cinco anos de terapia pelo susto, seus pais processam a escola por danos psicológicos e a professora por negligência. A professora renuncia à docência, entra em aguda depressão e se suicida. Retorno a 1960. Qualquer bagunça na aula era motivo de repreensão do professor com advertência aos pais e em casa sabíamos o que nos esperava… Em 2012, bagunça na aula resultava no professor pedindo desculpas por alguma palavra áspera. Mas os pais vão à escola, registram queixa contra o mestre e trocam o notebook do filho para evitar algum trauma futuro. Onde foi que erramos? Em que momento, entre 1960 e 2012, transformamo-nos em idiotas?"
Já escrevi, aqui no blog, sobre a INVOLUÇÃO de nossas crianças. Sim, porque eu não tenho dúvida que não só a mentalidade e a sensibilidade de nossas crianças regrediram e continuam regredindo, mas também a forma como as tratamos. É claro que a violência contra crianças e adolescentes deve ser duramente combatida. Agora, proibir um pai de dar uma palmada no filho? É um absurdo, simplesmente isso.
Chegamos a uma completa inversão de valores. Hoje são os filhos que batem nos pais. E nos professores. E o conselho tutelar "moderninho", baseado em um Estatuto da Criança e do Adolescente hipócrita e imbecil, que acabou por retirar a necessária autoridade dos pais para a estrutura e organização das famílias, passa a mão na cabecinha de crianças desrespeitosas, estúpidas, violentas, enchendo-as de direitos e não obrigando a quase nenhum dever. Eu levei muitas palmadas e hoje agradeço a meus pais por todas que levei.
"Estamos em 1960. Joãozinho não fica quieto na sala de aula. Interrompe e perturba o ambiente. É mandado à secretaria da escola e fica esperando até o diretor dar-lhe uma advertência com a sugestão de uma suspensão e até expulsão da escola. Joãozinho esconde o ocorrido dos pais com medo de alguns “cascudos” em casa, mas voltou a se comportar e nunca mais perturbou a classe. Vamos para 2012. Joãozinho é mandado para a psicóloga da escola, o diagnóstico fala de hiperatividade com transtornos de ansiedade e déficit de atenção e recomendado a tomar Rivotril. O garoto transforma-se num zumbi e os pais reivindicam uma subvenção por ter um filho incapaz e ainda processam a escola. Voltamos para 1960. Luizinho quebra o farol de um carro, no seu bairro. O pai tira a cinta e lhe aplica um corretivo no traseiro. Luizinho sentiu o poder paterno, nunca mais foi vândalo, cresceu, entrou na universidade e hoje é um profissional de sucesso. Estamos em 2012. O pai de Luizinho é processado por maus tratos e fica proibido de ver o filho. Luizinho volta-se para as drogas, delinqüe e é colocado numa casa de recuperação para adolescentes. Outra volta a 1960. Paulinho cai no pátio da escola e machuca o joelho. A professora encontra o garoto chorando e o abraça para confortá-lo. Rapidamente, Paulinho se sente melhor e continua brincando. Pátio em 2012. A professora é acusada de não cuidar das crianças e Paulinho tem cinco anos de terapia pelo susto, seus pais processam a escola por danos psicológicos e a professora por negligência. A professora renuncia à docência, entra em aguda depressão e se suicida. Retorno a 1960. Qualquer bagunça na aula era motivo de repreensão do professor com advertência aos pais e em casa sabíamos o que nos esperava… Em 2012, bagunça na aula resultava no professor pedindo desculpas por alguma palavra áspera. Mas os pais vão à escola, registram queixa contra o mestre e trocam o notebook do filho para evitar algum trauma futuro. Onde foi que erramos? Em que momento, entre 1960 e 2012, transformamo-nos em idiotas?"
Já escrevi, aqui no blog, sobre a INVOLUÇÃO de nossas crianças. Sim, porque eu não tenho dúvida que não só a mentalidade e a sensibilidade de nossas crianças regrediram e continuam regredindo, mas também a forma como as tratamos. É claro que a violência contra crianças e adolescentes deve ser duramente combatida. Agora, proibir um pai de dar uma palmada no filho? É um absurdo, simplesmente isso.
Chegamos a uma completa inversão de valores. Hoje são os filhos que batem nos pais. E nos professores. E o conselho tutelar "moderninho", baseado em um Estatuto da Criança e do Adolescente hipócrita e imbecil, que acabou por retirar a necessária autoridade dos pais para a estrutura e organização das famílias, passa a mão na cabecinha de crianças desrespeitosas, estúpidas, violentas, enchendo-as de direitos e não obrigando a quase nenhum dever. Eu levei muitas palmadas e hoje agradeço a meus pais por todas que levei.
O texto abaixo é a republicação de um trecho de um texto de minha autoria já publicado aqui no blog:
"As crianças de hoje são muito “espertinhas”, raciocinativas, entendem de computadores, de máquinas, de tecnologias, das coisas práticas da vida, mas nada sabem sobre a vida em si. Nada sabem sobre seu papel no mundo. E não conseguem nem pensar sobre isso. Muito menos sentir. Parece que atrofiaram grande parte de suas inteligências. Não conseguem se sensibilizar com nada. Não falo de sentimentalismos, mas de uma sensibilidade consciente, madura, uma capacidade de captar as grandes questões do mundo, da humanidade, do universo. E de se posicionar dentro delas. As crianças de hoje não fazem mais isso. Não estão nem aí para nada. Isso é ser inteligente? Falta-lhes a inteligência emocional. A inteligência artística. A inteligência intuitiva. A inteligência da sensibilidade. Falta uma inteligência que torne as crianças mais sensíveis, mais conscientes. Falta uma inteligência que faça as crianças perceberem que estão inseridas na humanidade, que possuem responsabilidade para com o planeta e para com seus semelhantes.
Na imagem, o quadro "As Filhas de Catulle Mendes", de Renoir.
22 abril 2012
Um Último Capítulo (ao Dia Mundial da Terra)
o tremendo
homem
ascendido de otimismo
após
(em seu poder)
ter aterrado todas as terras
desaguado em todas as águas
arrematado todas as matas
acampado em todos os campos
amontoado em todos os montes
(a não mais poder)
a pós
acendido de otimismo
(diante de mim me rendo)
agora está ali
abismado à beira do abismo
o homem
tremendo...
21 abril 2012
da Verdade em Zero Hora
O jornal Zero Hora de hoje publicou o meu poema abaixo, na seção do Almanaque Gaúcho. Aproveito para republicar o poema aqui no blog. Alguns dirão que estou fazendo autopromoção. É óbvio que estou. Modificando um pouco aquele chavão do Chico Anysio: "Faço. E quem não faz?" Tanto é que os políticos eleitos são os que mais se autopromovem. Não é?
da Verdade
aquilo que é dito
é dito apenas para si mesmo
e para quem é como o si mesmo
porque já o era assim
antes daquilo que foi dito
ninguém quer ser con(vencido)
e menos ainda
quem já é convencido
cada um tem sua própria verdade
e só se convence daquiloque convence sua própria verdade
quem sabe
sabe apenas para quem sabe
então
por que é que digo?
para que a minha verdade
seja ainda mais comigo
20 abril 2012
Aviso
o fóton de luz
não fala porque vela
e flui por entre o vale
e é lá por onde
o meu soprar se esconde
o verbo versa
porque se vaga em vento
e ruma-se em rumores
e é lá que sino
o meu sinal destino
o sopro sobe
porque se (h)ouve além
e designa o de cima
e é lá que escuro
o meu dizer sussurro
atenta ao que te (a)tenta
que onde não estou em meus olhares
meus versos olham-te em todos os lugares...
19 abril 2012
Para o Dia do Índio, Os Doentes, de Augusto dos Anjos
Para o Dia do Índio, comemorado hoje (mesmo não havendo o que comemorar), nada melhor que um trecho terrível do poema "Os Doentes", do grande Augusto dos Anjos:
Os Doentes (Trecho)
E o índio, por fim, adstrito à étnica escória,
Recebeu, tendo o horror no rosto impresso,
Esse achincalhamento do progresso
Que o anulava na critica da História!
Recebeu, tendo o horror no rosto impresso,
Esse achincalhamento do progresso
Que o anulava na critica da História!
Como quem analisa uma apostema,
De repente, acordando na desgraça,
Viu toda a podridão de sua raça...
Na tumba de Iracema!...
De repente, acordando na desgraça,
Viu toda a podridão de sua raça...
Na tumba de Iracema!...
Ah! Tudo, como um lúgubre ciclone,
Exercia sobre ela ação funesta
Desde o desbravamento da floresta
À ultrajante invenção do telefone.
Exercia sobre ela ação funesta
Desde o desbravamento da floresta
À ultrajante invenção do telefone.
E sentia-se pior que um vagabundo
Microcéfalo vil que a espécie encerra,
Desterrado na sua própria terra,
Diminuído na crônica do mundo!
Microcéfalo vil que a espécie encerra,
Desterrado na sua própria terra,
Diminuído na crônica do mundo!
A hereditariedade dessa pecha
Seguiria seus filhos. Dora em diante
Seu povo tombaria agonizante
Na luta da espingarda contra a flecha!
Seguiria seus filhos. Dora em diante
Seu povo tombaria agonizante
Na luta da espingarda contra a flecha!
Veio-lhe então, como à fêmea vêm antojos,
Uma desesperada ânsia improfícua
De estrangular aquela gente iníqua
Que progredia sobre os seus despojos!
Uma desesperada ânsia improfícua
De estrangular aquela gente iníqua
Que progredia sobre os seus despojos!
Mas, diante à xantocróide raça loura,
Jazem, caladas, todas as inúbias,
E agora, sem difíceis nuanças dúbias,
Com uma clarividência aterradora,
Jazem, caladas, todas as inúbias,
E agora, sem difíceis nuanças dúbias,
Com uma clarividência aterradora,
Em vez da prisca tribo e indiana tropa
A gente deste século, espantada,
Vê somente a caveira abandonada
De uma raça esmagada pela Europa!
A gente deste século, espantada,
Vê somente a caveira abandonada
De uma raça esmagada pela Europa!
Augusto dos Anjos
Tribunal de Contas, Santiago e Puxa-Saquismo
Parece que a sessão do Tribunal de Contas em Santiago foi uma puxação de saco de dar gosto. Mas um Tribunal de Contas pode aceitar puxa-saquismo? Ele não deve julgar imparcialmente? Bem, mas o Brasil é um caso de literatura fantástica, aqui os maiores absurdos são possíveis. Kafka deveria ter vivido no Brasil. Quero só ver o que dirão os nossos jornais.
E como disse Rubem Braga: "Política é a arte de namorar homem". É uma coisa linda de se ver esse namoro apaixonado. E eu fico contente que alguns dos participantes da reunião tenham lido e aprendido com meu texto Tenha Sucesso Puxando o Saco. Quem ainda não leu, não sabe o que está perdendo:
http://artedofim.blogspot.com.br/2012/04/tenha-sucesso-puxando-o-saco.html
E como disse Rubem Braga: "Política é a arte de namorar homem". É uma coisa linda de se ver esse namoro apaixonado. E eu fico contente que alguns dos participantes da reunião tenham lido e aprendido com meu texto Tenha Sucesso Puxando o Saco. Quem ainda não leu, não sabe o que está perdendo:
http://artedofim.blogspot.com.br/2012/04/tenha-sucesso-puxando-o-saco.html
18 abril 2012
Após uma Melodia de Schubert
essa estrela que eu olho
não é ela que está lá
pois uma outra é que há
que me olha no que eu olho
mas essa estrela que é
que deseja o que eu vejo
nunca é no meu desejo
essa noite que eu vi
nunca foi a que estava
mas voou com outra asa
longe do que pedi
alma do que não foi
e outra noite me envia
voo do que morria
este sonho que eu tenho
não é sonho que pode
eu fiz-me em outra ode
nada que não sustenho
erro do meu não ser
noite que não vou tê-la
nem sonho e nem estrela...
16 abril 2012
Homem Fraco
é, fraco
que mal se aguenta nos cascos
quando lhe dói um dos lados
da imundície do estômago
homem trôpego
pouco mais que macacos
estilhaços
duma mentira aos cacos
vazio de pensamento
em vácuos
fraqueza lépida
que não sabe o que faz
sob a falta
de energia elétrica
homem fraco
pedaços magros
de espírito
trancafiado em frasco
palhaço!
homem lerdo
farás o que
no nada
do teu próprio deserto?
vieste de que ontem?
por que vives o que vives?
e vais para qual onde?
o que é que sabes disso que não sabes?
onde é que sentes o teu não-sentido?
o teu futuro me dá asco
ergue um túmulo
para o teu si mesmo
e para o meu desprezo
ah quem me dera
ser o teu carrasco
homem fiasco
14 abril 2012
Seis Rápidas Considerações sobre a Hipocrisia e à Humanidade *
da Hipocrisia
I – da História
existem escrituras apócrifas
(que ninguém aceita porque são falsas)
que dizem que todos
(eu disse todos)
são hipócritas
II – do Demônio
eu não sou eu
e a água nunca molha.
o diabo é diabo
porque não é diabo
para quem olha.
III – do Lado Oculto da Lua
se tu fosses sempre
aquilo que tu és
eu não te olharia nos olhos
mas te pisaria nos pés
da Humanidade
I
ser humano
é chegar sempre tarde
pelo entre a bonança
que precede a tempestade
II
de ti
não espero nada
e o digo em vasta voz:
é que multiplico por 7 bilhões
o zero que espero
de cada um de nós
III
talvez o melhor
é não estar contigo:
já nem sei
se ser teu benfeitor
é estar do teu lado
ou é ser teu inimigo
(Republicação, com algumas alterações, de dois textos publicados aqui no blog ano passado.)
13 abril 2012
Tenha Sucesso Puxando o Saco
Hoje, meu blog realizará um serviço de utilidade pública. Darei uma pausa nas completas inutilidades de poemas e contos. Obviamente, não servem para nada. Além do mais, dessa forma conseguirei um número recorde de acessos. São poucos os que se interessam por poesias, essas coisas chatas. Agora, quem não quer aprender a ter sucesso na vida de uma maneira fácil (talvez nem tão fácil) e agradável? Pois bem, espero ajudá-los. Peço apenas que leiam com atenção as lições abaixo:
1) Primeiramente, é necessário determinar-se com exatidão a quem puxar o saco. Não pode ser qualquer pessoa, naturalmente. É preciso ter em mente o seguinte: devo puxar o saco com qual objetivo? Para que vou puxar o saco? Quais os benefícios pretendidos? Dinheiro? Status social? Influência política? Favores profissionais? Ou seja, é ostensível que devo procurar a pessoa mais adequada, de acordo com aquilo que desejo obter com meu trabalho em puxar o saco. Lembre-se que só se chega a algum lugar quando se sabe o que se busca.
2) Esqueça esse negócio de honra, dignidade, honestidade. De que adiantam essas baboseiras? Muito bem, você será honrado, digno, honesto, mas e daí? Continuará pobre, sem influência alguma, sem posição social, em um emprego medíocre, e por aí vai. Nos dias atuais, o negócio é ser prático, mais que isso, pragmático, deve se tirar proveito de todas as situações, não importando essa balela de princípios. Princípios é coisa de poetas retrógrados. Princípios não enchem barriga, não lhe darão um carro do ano, não farão com que você esteja sempre em meio aos que podem. Entendido?
3) Ah, você é inteligente e culto e não precisa puxar o saco para ter sucesso? Se afirma isso, então é não inteligente. Se o é, use a sua inteligência para puxar o saco com eficácia. Lembre-se que há dois tipos de Q.I.s. Use o primeiro para obter o segundo. O Quem Indica é até mais importante.
4) Seja submisso, pratique a subserviência. Sim, é chato, eu sei, mas tenha em mente que é para uma causa maior. Para se puxar o saco com eficiência, deve-se fazer tudo para aquele a quem você puxa. Tudo! E sem reclamar. Pedido feito é pedido realizado. Os invejosos dirão que você é um pato. Mas você esta pensando em seu futuro, é tudo matematicamente calculado. Você nada mais é que um esforçado, alguém que cumpre com prazer as suas obrigações com alguém que é naturalmente superior a você em algum ponto determinado.
5) Não esqueça: quem puxa o saco só tem razão quando essa razão coincide com a razão daquele ser superior de quem você puxa. Portanto, suas opiniões e seu comportamento, ainda que difiram integralmente das opiniões e do comportamento de quem você puxa o saco, devem ser esmagadas, pois não têm valor algum. Quem possui opinião própria e divulga suas opiniões somente consegue inimigos. E quem só possui inimigos acaba como? Sozinho, abandonado. É a lógica. Claro que nem sempre se pode aniquilar totalmente nossas opiniões, elas continuam dentro de nós, fermentando. Porém basta que as guardemos lá, bem sufocadinhas, sem nunca incomodar. Mas o ideal, o ideal mesmo, é que você mude de opinião, que passe a pensar exatamente como aquela pessoa da qual você puxa o saco. Tamanho sacrifício, tamanha abnegação chegam a ser sublimes! Alguém poderá dizer que você é um vendido, sem personalidade. Mas para você, suas ações são a de um grande mártir.
6) Lembre-se: aquela pessoa de que você puxa o saco sempre age corretamente, nunca erra, mas se erra, foi por culpa de outros e não dela. Suas qualidades são sempre muito maiores do que seus defeitos, se estes existirem. E tais qualidades não devem ser apenas reconhecidas por você, não, você deve alardeá-las ao máximo possível. Exagere um pouco, se for o caso. E se alguém intentar lhe contrariar, mostre-se profundamente ofendido, indignado, saia em defesa incondicional de quem você puxa o saco. Tais atitudes serão muito bem recompensadas posteriormente.
7) Existe um ponto de fundamental importância que não deve ser ignorado em hipótese alguma: para todos os efeitos, você NÃO é e nunca será um puxa-saco. A pessoa da qual você puxa o saco é, para os outros (é essa a imagem que você deve passar), alguém que simplesmente merece todo o seu respeito, a sua admiração, um grande amigo seu, um grande homem (ou mulher) pelo qual você faria qualquer coisa, sempre o auxiliando, sempre o ouvindo, sempre o defendendo. Mas por pura e simples convicção, nunca com segundas intenções. Você até poderá me questionar: eu devo, então, ser um fingido? A resposta é: óbvio! Sim, deve fingir, dissimular, utilizar-se da hipocrisia, afinal, nunca ninguém vai saber mesmo (se você for cuidadoso) , e o que vale é a aparência. Não é assim? E é claro que o seu afeto pelo seu objeto de bajulação não precisa ser verdadeiro, autêntico. Você pode até falar mal dele pelas costas. Mas eu não aconselho, é muito perigoso. Imagine se alguém resolve espalhar? Ou chantagear você? Há muita gente invejosa por aí, há que se tomar cuidado.
8) E, finalmente, quando for se dirigir àquela magnífica pessoa de quem você puxa o saco, sempre, sempre! mantenha um sorriso no rosto, uma simpatia irretocável e um ar intensamente serviçal. Prontinho. O sucesso é garantido!
11 abril 2012
do Aquecimento Global
planeta cada vez mais quente...
o silêncio de serpente
do calor em surdina
do calor em surdina
de grau em de grau
cálida mão do calor
que acaricia o mundo todo...
rios que secam
geleiras que derretem
mares que se aquecem
seres que se extinguem
camadas que se furam
terras já desertos
mais calor pelo mundo
ano a ano...
mas segue o caminho inverso
vai na contramão
o meu humano
coração sombrio...
planeta cada vez mais quente
coração cada vez mais frio
planeta cada vez mais quente
coração cada vez mais frio
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