20 agosto 2014

A Ironia na Política

I – Ana Amélia

a Dama das Camélias
de Hamlet a Ofélia
e do PP a Ana Amélia
nenhuma é do povo:
a primeira é da corte
a segunda da nobreza
a terceira das elites

II – Deputado

em termos sonoros
deputado
é um nome feio

tem puta
bem no meio

e se tirar a puta
fica o dedo

 III - da Campanha Gaúcha

a Música dA Campanha
enche o moral  do nosso povo

a música dE campanha
enche o escrotal do nosso povo

18 agosto 2014

A Metralhadora da Ironia e a fast foda

A arma mais eficiente nas mãos do escritor da atualidade é a Ironia.  Sim, Ironia com letra maiúscula, como os poetas do Renascimento e Barroco escreviam Amor. A Ironia, quando bem disparada, é impiedosa e não deixa possibilidades de reação. Vazia por um lado e vulgarizada e saturada de tudo por outro, a humanidade é como um paciente que consumiu tanto antibiótico contra sua doença que agora o medicamento já não faz nenhum efeito. Nada a sensibiliza.

A não ser a Ironia, a figura de linguagem do século XXI, uma das raras formas de mexer, de instigar as pessoas. Isso se explica porque hoje todo mundo quer tanto "parecer" que acaba temendo parecer ridículo. E a Ironia é temida porque comete esse crime: ridiculariza. E ridiculariza exatamente porque desvela as aparências. É como escreveu Fernando Pessoa: "A ironia é o primeiro indício de que a consciência se tornou consciente." De modo que encerro com algo irônico:

Instantâneo

agora
a comida é rápida
nos dois sentidos:

fast food
fast foda

16 agosto 2014

Chutes no Otimismo

a cada árvore plantada
há mil derrubadas
ou ainda mais
e tantas
quem nem mais deixam sinais

a cada água que é clara
há mil esgotadas
ou com fedor
e tantas
que nem se nota o horror

a cada balada composta
há mil baladas na testa
ou pauladas
e nem adianta
que é somente o que resta

a cada animal que é cuidado
há mil massacrados
ou sob tortura
e é como doença
que não tivesse cura

a cada beijo que é dado
há mil que são fingidos
e ainda mais outros mil
daqueles
que também são malditos

e tenho ditos

14 agosto 2014

Liberdade x Controle

há dois tipos de pessoas:
as que buscam a liberdade
e as que buscam o controle

buscam o controle
os que julgam que liberdade
é sinônimo de anarquia
e que podem e devem
decidir pelos outros
(e para outros)
o comportamento de todos

e para ter o controle
pensam ter a razão e o saber
e o direito de exercer o controle
e o como, o a quem e o para quê?
controlar

mas como estão certos
de que estão certos?
e que outros lhes deram o direito
de ter direitos sobre outros?

buscam a liberdade
não os que desejam
a ausência de controle
mas os que promovem ao homem
as condições de a si próprio
exercer a consciência
de saber quando ser livre
e de quando se controlar

12 agosto 2014

Assim funciona o sistema, de acordo com Mario Puzo e seu Don Corleone

Pode parecer simplificado demais, mais no fundo não é assim?

"- Você vai aos tribunais e espera meses. Gasta dinheiro com advogados que sabem muito bem que lhe farão de bobo. Aceita o julgamento de um juiz que se vende como a pior prostituta das ruas. Quando você precisa de dinheiro, vai aos bancos e paga juros exorbitantes, espera de chapéu na mão como um mendigo, enquanto eles farejam por aí, metem o dinheiro até onde não devem, para ter certeza de que você poderá pagar..."

" -  Você achava a América um paraíso. Você tinha um bom negócio, tinha uma vida boa, em que você achava que poderia obter o prazer que desejasse. A polícia o guardava, havia tribunais de justiça, você e os seus não podiam sofrer mal algum...
(...)
Então você não tem do que se queixar. O juiz decidiu. A América decidiu. Leve flores para sua filha e uma caixa de bombom quando fores visitá-la no hospital..."

Trechos da resposta de Vito Corleone , durante a conversa entre ele e Amerigo Bonasera, quando este vai pedir a Don Corleone que faça justiça pela tentativa de estupro e pelo espancamento que sofreu sua filha por parte de alguns filhos de políticos que foram libertados pela justiça do governo. (Livro "O Poderoso Chefão", de Mario Puzo, Parte I)

(Imagem de Amerigo Bonasera, interpretado por Salvatore Corsitto, no legendário filme "O Poderoso Chefão", baseado no romance de Mario Puzo e dirigido por Francis Ford Coppola)

11 agosto 2014

Pelo Outro Humano

os homens
com suas moedas
se acham vastos
mas não passam de vasos

os homens
com suas metas
se acham vultos
mas não passam de vulgos

os homens
com suas armas
se acham forças
mas não passam de farsas

os homens
com suas regras
se acham retos
mas não passam de ratos

os homens
com suas naves
se acham fogos
mas não passam de fátuos

estes homens
que se acham mundo
mas são apenas fato

09 agosto 2014

A Exploração da Morte nos Blogs Noti-ociosos

O pseudojornalismo de alguns blogs noti-ociosos é tão lamentável que chega a ser ridículo. Continuam baseando sua "atuação" (talvez porque não consigam fazer coisa melhor e para ganhar dinheiro fácil) na exploração da tragédia e da morte de outras pessoas, exibindo descaradamente, sem ética, sem escrúpulos, fotos e vídeos "sensacionalistas" de acidentes trágicos. 

E assim, tais blogs e seus blogueiros cafajestes vão ganhando "ibope" e,consequentemente, dinheiro, porque sempre têm os imbecis, os estúpidos que acham "curioso" e "divertido" contemplar a desgraça alheia. 

Estou certo de que esses falsos jornalistas que desonram a profissão que dizem seguir não se importam nem um pouco com o sofrimento das famílias e amigos das vítimas, e não estão nem aí se elas estão vendo o sangue derramado, os pedaços de órgãos, o corpo desfigurado de seu ente querido.

E ainda depois esses mesmos blogueiros têm a cara de pau de virem posar de bons moços, de buscadores da "verdade", de pessoas preocupadas com o bem estar da população. Ao menos tivessem o cinismo e a coragem de admitir o óbvio: "Sim, postamos essas imagens para atrair o público acéfalo , ganhar acessos e lucrar em cima da tragédia."

05 agosto 2014

Ebola, Azar, Pesar

I – Epidemia

apesar dos percalços
e dos acidentes de percurso...
a vida prossegue
e a humanidade continua:
agora
ebola pra frente

II – Sorte

depois de pagar
os olhos da cara
pela comida chinesa barata
abriu o biscoito da sorte:
deu azar
só dizia
“te fode”

III – Progresso

o pesar dos descalços
e do esgotamento dos recursos...

(Na imagem, aspecto de um olho de uma pessoa infectada por Ebola.)

01 agosto 2014

A Era da Velocidade

época da velocidade
a jato
a vácuo
a comida comprada pronta
a morte a 200 por hora
ou por milésimo
o amor
dura só alguns dias
ou algumas horas
ou é só o minuto mesmo
do beijo
ou do sexo

com o celular
o computador
a internet
é a vida no agora e no antes
nem há mais adiantes

as correias dos motores mecânicos
a poesia de um sensor eletrônico
as correrias dos centros urbanos
as agonias dos supér(fluos) humanos
as mídias domando as massas
os seres extintos em massa

o instantâneo
da desintegração nuclear
o descartável
do coração e do cérebro
e outros sentidos vitais
e o meu poema
que já durou tempo demais

30 julho 2014

Cheias de Razão

I

algumas pessoas
dizem que me acho
e estão cheias de razão:
eu me acho
e me encontro e me sou
naquilo que faço

II

no hoje
escrever tornou-se um ato
de si para si:
escrevo
para o que escreve do que sou
e disso fica um algo
que (talvez) em outro
pode vir a ser um outro algo
e respectivos outros  algos em outros
(tal vez...)
mas o que importa
é o algo ter ficado

III

aos que acham que me acho
uma deixada quintânica:
quando eu não mais me ache
entre as gentes
as gentes ainda
acharão um algo meu

29 julho 2014

Cada Qual é um Tribunal

cada qual
é um tribunal

que crê poder julgar
cada um de todos
como se fosse seu igual

cada qual
parte do princípio
(por exemplo)
que se o qual gosta de sal
todos também o devem:
é um modelo
um padrão
uma regra
definida não se sabe quando
não se sabe onde
nem por quem
nem por quê
mas que se segue
a que se obedece
e se diz amém

cada nariz
é um juiz
que quer que todos sigam
as mesmas “verdades” pessoais
que ele próprio diz

e é dada a sentença:
“só será absolvido
quem comigo pensa.”

(cada qual é um cão
roendo sozinho
o osso da razão)

cada homem
é um tribunal
que deveria se aplicar
a pena do relho
diante do espelho

27 julho 2014

a verdade é um mero detalhe

I – do fim da civilização

a força da humanidade...
mas veio um furacão de Shostakovich
e arrancou o cedilha:
a forca da humanidade.

II – da hipocrisia

o culto de Deus.
oculto de Deus.

III – da morte da poesia

está morta a poesia, agora é o caos
está morta, a poesia agora é o caos

26 julho 2014

A Vossa Lavagem (Cerebral)

a civilização moderna
é uma tentativa  incessante
de nos convencer que merda não é merda

a sociedade do “espetáculo”
arranca dos bobos aplausos
a qualquer custo
e com qualquer bosta
(e o pior
e que quase todo mundo
com um sorriso estúpido
admira e gosta)
fazendo rato passar por lebre
e pé de chinelo por taco de bota

é a ditadura da lixarada
e da chinelagem

ou a humanidade
é dos idiotas
ou eu estou entre os loucos
(provavelmente os dois)
seja como for
deixo a lavagem
para os porcos


24 julho 2014

Fama

alguns querem, eu não, eu
quero fazer o que quer que seja que eu faço
e só.
não quero olhar no
olho adulador,
apertar a mão
suada.
acho que o que eu faço
é da minha conta.
faço porque se não fizesse
estaria acabado.
sou egoísta:
faço por mim mesmo
para salvar o que restou de
mim.
e quando sou
abordado como
herói ou
semi-deus ou
guru
me nego a aceitar
isso.
não quero seus
parabéns,
sua adoração,
sua companhia.

devo ter meio
milhão de leitores,
um milhão,
dois milhões.
não me importo.
escrevo
como tenho
que escrever.

e, no
início,
quando não havia
leitores
eu escrevia
como eu precisava escrever
e se todo
o meio milhão,
o um milhão
os dois milhões,
desaparecerem
continuarei a
escrever
como sempre escrevi.

o leitor é um
a posteriori,
a placenta,
um acidente,
e qualquer escritor que
pense diferente
é mais idiota que
seus
seguidores.

Charles Bukowski

22 julho 2014

Problemática Ambiental


a humanidade tem problemas
aos montes:
um deles é dar um jeito
nos montes de gente
e amontoá-los
de alguma forma:

prédios cidades favelas
ruas igrejas janelas
e ali os montes de gente
enfiados nos montes
que amontoaram
(informações inúteis
quinquilharias fúteis
moedas e merdas
lixos e nadas)...
dali os montes humanos
(pois não passam de montes)
olham ao longe
para o que restou dos montes
devastados

17 julho 2014

Miniconto-Poema em estado febril

eu sinto o cheiro da tua voz de almas
entre palavras que não mais existem:
melhor dizer o que não tem sentido
e ouvir o sim dos esquecidos cravos...

ali morri como se fosse um lobo
e do sedento eu me acenei teus olhos:
estava ao nunca sempre lá cantando
pelos presságios de um planeta doente...

então me disse o que de agora é morto
que tudo foi no que contei sem nada:
fiz uma história em doze versos-febre
não tenho culpa se não me entendeste...