05 dezembro 2013

Gosto de Não Ser Entendido*

gosto de não ser entendido
é bom não ser o que se é
(é o que mais me faz sentido)
que a poesia é para se ser
(independente de clara ou grega)
e isso chega

além do mais
(poesia é só sinais)
por que querer que eu seja
o que sou aqui?
sou no verso que deixo
mas não sou o que deixo do verso
vou muito mais disperso
e falo do que não é meu eu

não me confundam
com o que eu disse
e vice-versa e versa-vice

as palavras que (fatalmente) digo
nem sei se estão comigo
elas vieram e eu as disse
como o mafioso que atira
porque tem que atirar
não importando
o quem vai matar

porém
cada palavra
é cálcula meditada
(ou me ditada)
que tudo é cálculo
por mim mesmo feito
ou de algum jeito
(talvez de outrem
ou talvez imperfeito)
captado
e este mesmo poema é um plano
(que o não sei)
num além executado

(talvez meu talvez não
talvez um nada
talvez prenúncio
de furacão)

não é meu eu que se é
o que sou não é o que sei
ou o que me conduz...

e talvez um poema
seja a verdade
daqui a alguns anos
luz

*Poema reelaborado e republicado


Um comentário:

Sónia M. disse...

Excelente poema!
Talvez por me achar tão pouco entendida, não há muito escrevi um "sussurro" que termina assim:

"Não quero em mim a tua pena, quando sussurro os suspiros da memória.
Sou muito mais do que as peles que visto.

Sou árvore ... e por mim, passam todas as estações." Sónia M.

Abraço!