mostra-me uma gota d’água
ainda não tocada
pela merdaria humana
merdaria vai desde
a merda do organismo
que é o preço que se paga
de se viver o dia a dia
até a merda do progresso
a que se chama
com pompa mijo e baba
de tecnologia
passando pelo que sai da boca
(e pelo que faz com as mãos)
de certa porcaria
mostra-me uma gota-mar
ainda não tocada
pela quinquilharia humana
mostra-me uma gota-ar
ainda não tocada
pela bafaria humana
mostra-me uma gota-vida
ainda não tocada
pela mortaria humana
mostra-me uma gota-lágrima
ainda não tocada
pela hipocrisia humana
mas fiquem tranquilos:
cagar dia sim dia não
é a solução
24 agosto 2019
22 agosto 2019
A Catástrofe Ambiental de Bolsonaro: o passo a passo da Desgraça
1) Durante a campanha:
* Bolsonaro promete que tanto as terras indígenas como as reservas e parques nacionais serão reduzidos e abertos para exploração. Para ele, índios não devem ter terras, e o Brasil tem reservas ambientais demais.
* Pretende levar a mineração para áreas de proteção permanente da Amazônia.
* Declara guerra contra ambientalistas e cientistas, contrariando, sem nenhuma fundamentação, fatos e estatísticas, afirmando que o Aquecimento Global é um complô comunista.
* Realiza vídeo ao lado de caçadores, afirmando em alto e bom som que "A caça é um esporte saudável" e que irá "implementar a caça" se for eleito.
* Ruralistas, madeireiros, caçadores, garimpeiros, que acumulam crimes ambientais, declaram apoio a Bolsonaro, na esperança de que tenham seus crimes perdoados e liberdade para destruir.
2) Depois de eleito:
* Bolsonaro começa o desmonte do IBAMA, reduzindo o poder de multa e pretendendo que fiscais do IBAMA sejam PROIBIDOS de portar armas.
* Pretende acabar com o Ministério do Meio Ambiente, mas devido às enormes pressões, volta atrás.
* Coloca no Ministério do Meio Ambiente um homem totalmente indiferente às questões ambientais e que havia sido CONDENADO POR FAVORECER MINERADORAS ILEGALMENTE.
* Demite de todos os órgãos ambientais pessoas realmente preocupadas e conhecedoras do meio ambiente, colocando no lugar delas ruralistas ou militares.
* Multado por pesca ilegal, Bolsonaro se vinga e demite o fiscal do IBAMA que o multou.
* Afirma para a imprensa que com a nova lei do porte de armas pretende "facilitar a vida dos caçadores".
* Proíbe que o IBAMA faça apreensão de maquinário de madeireiros que estão devastando áreas de proteção permanente na Amazônia.
* Perdoa crimes e multas ambientais de ruralistas.
* Filhos de Bolsonaro criam projeto de lei que pretende acabar com a reserva legal das propriedades rurais.
* Coloca no departamento de florestas um ex-deputado que quer legalizar a caça no Brasil.
* Projeto de lei que permite a caça de animais silvestres é unido à nova lei que libera armas e vai para votação no Congresso.
* Mês após mês, são batidos recordes de desmatamento na Floresta Amazônica.
* Bolsonaro diz que preocupação ambiental é "coisa de vegano."
* Diretor do INPE divulga dados realistas e assustadores sobre o desmatamento recorde na Amazônia, e é demitido por Bolsonaro.
* Bolsonaro afirma que os dados são falsos, mas não mostra outros em seu lugar.
* Alemanha e Noruega cortam auxílio financeiro para preservação da Amazônia.
* Aproveitando a época de secas, ruralistas promovem o Dia do Fogo, em apoio a Bolsonaro, e iniciam focos de incêndios em várias regiões da Amazônia.
* Incêndios de proporções catastróficas se alastram por toda região sul da Amazônia, e nunca o Brasil se envolveu em tanta fumaça.
* A cidade de São Paulo escurece em plena luz do dia com as cinzas da Amazônia.
* Cientistas relacionam os incêndios ao Aquecimento Global e ao aumento do desmatamento na Amazônia.
* Os incêndios continuam se alastrando durante semanas sem que Bolsonaro tome uma única medida sequer, a não ser a de culpar ONGs.
E aí? Foi por acaso?
19 agosto 2019
Tempos de Caos
I - escrever em tempos de Fim
não te recompensa em nada:
se você escrever uma ideia
e ela estiver errada
você será odiado
pela ousadia e insensatez
de dizer merda
se você escrever uma ideia
e ela estiver certa
você será odiado
pela ousadia e insensatez
de dizer verdades
II - em tempos de caos
surgem dois tipos de pessoas:
os que dizem que do caos
surgem os embriões
e os que dizem que do caos
surge mais caos
eu digo que há dois tipos de caos:
o caos que surge pelos conflitos de grandes ideias
e o caos que surge pela ausência de grandes ideias
do último não sai nada
ou sai mais caos
que leva ao nada
o nosso tempo de caos
é daqueles que é só caos
e deu.
não te recompensa em nada:
se você escrever uma ideia
e ela estiver errada
você será odiado
pela ousadia e insensatez
de dizer merda
se você escrever uma ideia
e ela estiver certa
você será odiado
pela ousadia e insensatez
de dizer verdades
II - em tempos de caos
surgem dois tipos de pessoas:
os que dizem que do caos
surgem os embriões
e os que dizem que do caos
surge mais caos
eu digo que há dois tipos de caos:
o caos que surge pelos conflitos de grandes ideias
e o caos que surge pela ausência de grandes ideias
do último não sai nada
ou sai mais caos
que leva ao nada
o nosso tempo de caos
é daqueles que é só caos
e deu.
17 agosto 2019
O Meu Lado*
eu sempre estarei do lado dos que não têm lado
dos oprimidos dos esquecidos dos explorados
dos combalidos dos excluídos dos exilados
eu nunca serei pelos lucros das empresas
eu nunca serei pelas lavouras dos latifúndios
eu nunca serei pelos produtos das indústrias
eu nunca serei pelo ouro das mineradoras
eu nunca serei pelos tanques dos exércitos
eu estou do lado de quem paga a conta
e não de quem cobra o juro
eu estou do lado de quem cuida pra que a planta cresça
e não de quem a enche de veneno
eu estou do lado do animal que é caçado
e não de quem dá o tiro
eu estou do lado dos que sofrem pela vida
e não dos que vivem para a morte
eu sempre estarei do lado
dos que não têm vez:
é o único lado
que representa um poeta
*poema publicado originalmente em 20 de outubro de 2018.
dos oprimidos dos esquecidos dos explorados
dos combalidos dos excluídos dos exilados
eu nunca serei pelos lucros das empresas
eu nunca serei pelas lavouras dos latifúndios
eu nunca serei pelos produtos das indústrias
eu nunca serei pelo ouro das mineradoras
eu nunca serei pelos tanques dos exércitos
eu estou do lado de quem paga a conta
e não de quem cobra o juro
eu estou do lado de quem cuida pra que a planta cresça
e não de quem a enche de veneno
eu estou do lado do animal que é caçado
e não de quem dá o tiro
eu estou do lado dos que sofrem pela vida
e não dos que vivem para a morte
eu sempre estarei do lado
dos que não têm vez:
é o único lado
que representa um poeta
*poema publicado originalmente em 20 de outubro de 2018.
15 agosto 2019
12 agosto 2019
Vitrines Lotadas
o mundo de hoje é muito apertado:
não cabe a vida interior
entre as lotadas vitrines das aparências
por isso não mais falo do que sinto:
a qual alguém pode interessar
o que um outro sente
se o alguém nem sente por si mesmo
e nem quer saber do outro?
(talvez, se estiver morto)
só há sentido no sentimento expresso
quando o outro o reflete e o encontra
expresso no seu ser
mas ninguém
nem se encontra no seu ser
nem reflete por si mesmo
nem se expressa o que não sente
e por Fim
nem sentido há algum
não cabe a vida interior
entre as lotadas vitrines das aparências
por isso não mais falo do que sinto:
a qual alguém pode interessar
o que um outro sente
se o alguém nem sente por si mesmo
e nem quer saber do outro?
(talvez, se estiver morto)
só há sentido no sentimento expresso
quando o outro o reflete e o encontra
expresso no seu ser
mas ninguém
nem se encontra no seu ser
nem reflete por si mesmo
nem se expressa o que não sente
e por Fim
nem sentido há algum
10 agosto 2019
A vida esmaga a Vida
pé por pé
no dia a dia
e passo a passo
de pouco em pouco
a vida esmaga a Vida
que não é vivida
só (con)sumida
de sol a sol
de hora em hora
o que é de alma
se joga fora
e de grão em grão
de ovo em ovo
o homem choca
o homem chora
a encher o papo
a encher o bolso
a encher o saco
a encher o vácuo
do seu olho por olho
do seu óleo por óleo
como álcool
que o tempo traga
o homem
de queda em queda
dente por dente
pós-decadente
aos lusco-fuscos
não mais que cuscos
e quando se vê
é fogo-fátuo
menos que fósforo
que avança ao dedo
deixando só...
da cinza à cinza
do pó ao pó
no dia a dia
e passo a passo
de pouco em pouco
a vida esmaga a Vida
que não é vivida
só (con)sumida
de sol a sol
de hora em hora
o que é de alma
se joga fora
e de grão em grão
de ovo em ovo
o homem choca
o homem chora
a encher o papo
a encher o bolso
a encher o saco
a encher o vácuo
do seu olho por olho
do seu óleo por óleo
como álcool
que o tempo traga
o homem
de queda em queda
dente por dente
pós-decadente
aos lusco-fuscos
não mais que cuscos
e quando se vê
é fogo-fátuo
menos que fósforo
que avança ao dedo
deixando só...
da cinza à cinza
do pó ao pó
08 agosto 2019
Não ter Tempo pra Nada
há tanta coisa no tempo de vida
que não sobra mais tempo pra vida:
viver se tornou uma ordem a ser acatada
dada por alguém ou algo que não se sabe
sob a fachada de uma escolha
em que não se escolhe
nossa vida tornou-se verbos no imperativo:
- faça o certo/seja correto/tenha bens
- trabalhe/estude/se forme
- compre/consume/ostente
- vá à academia/faça curso de inglês
- caminhe no asfalto
- não beba/não fume
- vá para a praia nas férias
- tenha um celular avançado
- seja o que se espera de você
- não decepcione
- tenha planos/metas/ambições
- ostente sempre um sorriso
- leia autoajuda/seja otimista
- alcance o sucesso
- seja feliz
- mostre que você tem sucesso
- mostre que você é feliz
faça isso tudo do seu tempo de vida
e depois lamente
não ter tempo pra nada
que não sobra mais tempo pra vida:
viver se tornou uma ordem a ser acatada
dada por alguém ou algo que não se sabe
sob a fachada de uma escolha
em que não se escolhe
nossa vida tornou-se verbos no imperativo:
- faça o certo/seja correto/tenha bens
- trabalhe/estude/se forme
- compre/consume/ostente
- vá à academia/faça curso de inglês
- caminhe no asfalto
- não beba/não fume
- vá para a praia nas férias
- tenha um celular avançado
- seja o que se espera de você
- não decepcione
- tenha planos/metas/ambições
- ostente sempre um sorriso
- leia autoajuda/seja otimista
- alcance o sucesso
- seja feliz
- mostre que você tem sucesso
- mostre que você é feliz
faça isso tudo do seu tempo de vida
e depois lamente
não ter tempo pra nada
06 agosto 2019
Ladeira Abaixo
lá nos começos do século XIX
fugia-se do mundo externo:
a isso chamaram de fuga da realidade.
aqui nos começos do século XXI
foge-se do mundo interno:
o eu foge do si mesmo o si mesmo
esconde o ser.
a isso chamaremos
de fuga do que somos?
faz-se tudo para não se encarar
escolhe-se um outro ou um algo
para se pôr a culpa
e elimina-se um possível espelho:
os espelhos são temidos
porque é onde vemos
que não valemos nada
ninguém quer saber do si mesmo
enche-se de tudo
para não se ter de sentir nada
do nada que se sente
e que em realidade ainda é tudo
sem seu mundo interior
o homem deixa de ser
e nessa fuga do que ele não conhece
perdeu-de do que ele nunca foi
ladeira abaixo
des-sendo
fugia-se do mundo externo:
a isso chamaram de fuga da realidade.
aqui nos começos do século XXI
foge-se do mundo interno:
o eu foge do si mesmo o si mesmo
esconde o ser.
a isso chamaremos
de fuga do que somos?
faz-se tudo para não se encarar
escolhe-se um outro ou um algo
para se pôr a culpa
e elimina-se um possível espelho:
os espelhos são temidos
porque é onde vemos
que não valemos nada
ninguém quer saber do si mesmo
enche-se de tudo
para não se ter de sentir nada
do nada que se sente
e que em realidade ainda é tudo
sem seu mundo interior
o homem deixa de ser
e nessa fuga do que ele não conhece
perdeu-de do que ele nunca foi
ladeira abaixo
des-sendo
03 agosto 2019
Agora que estou morto
Certo dia, disseram-me que seria bem melhor se eu me matasse. Obviamente, não acreditei. Mas aos poucos, bem aos poucos, muito gradualmente, através de insidiosos detalhes, de sugestões sordidamente subliminares, de fatos e acontecimentos quase que imperceptíveis, a ideia nefasta do suicídio foi tomando forma no meu universo psíquico...
Na verdade, era algo extremamente difícil, quase impossível, escapar à atuação daquelas sugestões suicidas. Muitas vezes, chegavam a ser mais do que sugestões, tornavam-se mesmo imposições, não imposições violentas ou forçadas, mas imposições daquela categoria que, sem deixar de ser elegante, não nos deixam alternativas. Era como pisar nosso pé com educação, com um doce sorriso no rosto. Diziam-me eles, e me provavam, que todos já haviam se suicidado. E que não se arrependiam. Que assim estariam de acordo com todos aqueles que pensavam no que seria melhor para as nossas existências. Insistiam que eu deveria ser sensato e analisar com racionalidade a questão. Assim exigia a categoria de mundo em que vivíamos.
Durante muito tempo hesitei. Havia algo dentro de mim que me transmitia a sensação de que eles mentiam, ou que, ao menos, omitiam uma parcela fundamental da verdade. Ou ainda que talvez eles estivessem realmente convencidos do que me preconizavam, mas que deveriam ter sido enganados, iludidos por outros, assim como agora intentavam fazer comigo. Seja como for, seus argumentos eram irresistivelmente convincentes, duvidar de suas palavras chegava a ser um sacrilégio.
Com o tempo, descobri que eram sinceros e que estavam
imbuídos das mais nobres boas intenções. O que não significa que estivessem com a razão. Acreditavam no que diziam, pensavam de fato aquelas coisas, que pareciam soar em suas palavras com tanta sensatez e bom senso. Porém, creio que tais pensamentos não eram autenticamente seus, talvez fossem incutidos em suas mentes por outros, ou por algum poder obscuro, que eu desconhecia, algo como uma lavagem cerebral. Agora, a lavagem seria em mim.
Para eles, o suicídio era o padrão a ser seguido. Por não tê-lo ainda cometido, causava-me espanto o isolamento em que aos poucos fui constatando que me encontrava. Quase todos os outros já haviam se matado ou estavam a caminho de fazê-lo. Alguns, para tomarem coragem, antes de cometer seu suicídio, tentavam convencer as demais pessoas a realizar o mesmo. Desejavam veementemente o suicídio em massa. Já outros, após o ato suicida, vinham para provar que agora viviam absolutamente tranquilos, sem nenhum tipo de preocupação, existindo como se não existissem, o que constituía, para eles, o auge de uma vida perfeita, aceita e compreendida por todos. Enfim, acreditavam-se felizes. E muitos vinham, por piedade, para ajudar os que ainda não tinham se matado, dispostos a ensinar e encorajar o maior número possível de suicídios.
Viviam aqueles suicidados com a firme aceitação geral.
Eram tomados como exemplos, para todos, de pessoas decididas, conscientes de seu lugar no mundo, sensatas, trabalhadoras, vitoriosas, que obtiveram o pleno sucesso na vida. Os outros, os que não se mataram, os poucos, os raros, que ainda insistiam em não se suicidar, eram duramente condenados, acusados de mil e uma tolices, erros, equívocos, fracassos, absurdos e, até mesmo, de infâmias e crimes. De modo que a pressão psicológica para que também se matassem era gigantesca.
Eu, hesitando em me suicidar, era visto com muito maus olhos, naturalmente. Chamavam-me de louco. Não entendiam, os suicidados, o que eu buscava na vida. Era ostensível, para eles, que eu só obteria derrotas e fracassos, desgostos e desilusões, aflições e angústias, miséria financeira, todo tipo de insegurança e de incompreensão, que sentiria na pele a crueldade do mundo, talvez me tornasse um pária, um marginalizado, e provavelmente acabaria meus dias na mais completa solidão, sem família, sem amigos, sem trabalho, talvez até mesmo em um hospício ou na prisão.
Até que não vendo saída, cercado por todos os lados, pressionado por aqueles que supostamente vinham me ajudar e convencido por seus irrepreensíveis e avassaladores argumentos, decidi-me pelo meu suicídio.
E o cometi. Agora sou um suicidado. Sinto uma moderada tranquilidade que, no entanto, não é sinônimo de paz. Casei-me com outra suicidada, não creio que realmente a ame. E isso também não importa. Ela também não deve me amar de uma forma verdadeira. Aliás, quem ama de verdade? Temos uma linda filha, que, com o tempo, também aprenderá a se suicidar. Assim desejamos, assim devemos desejar. Vivemos de forma relativamente segura, com uma regular independência financeira. Não temos grandes preocupações. Praticamente, não há alterações nos dias de nossa rotina, creio que atingimos, de forma mediana, todos os nossos medianos objetivos. Sim, objetivos moderados. Grandes objetivos, ideais, vastos sonhos são sempre inatingíveis. E trazem dores insuportáveis. Aprendi que devemos sempre evitá-los.
Tenho um bom emprego, trabalho 40h por semana, não é muito, há alguns suicidados que trabalham bem mais. Não é o emprego de meus sonhos, admito, um pouco estressante, é verdade, meio sem graça, mas paga bem. Nos fins de semana, saímos para nos divertir, tomamos umas cervejas, jantamos fora, às vezes viajamos, é uma vida agradável. E é isso. Não há muito que acrescentar. Não me interesso pelas coisas que acontecem no mundo exterior, a não ser aquele interesse indiferente de quem assiste a um telejornal. Lamento as tragédias, sorrio com as boas notícias, mas também o que poderia fazer por elas?
Sou, agora, uma pessoa sossegada, não quero nada mais que venha me inquietar, perturbar o meu morno sossego. Agora sou como todos. Agora estou morto.
01 agosto 2019
Dedicatória à Noite
entre o haver da noite
o que há por trás dos entes
do ventre da mata
que a manhã
desentranha e mata?
é isso talvez que me alta:
ver que o que há
(sendo ou não comigo)
vai em frente
numa cósmica noite
mais longa mais funda mais vasta
há o sempre haver da noite
e os seres que no atrás da mata
não existem entre os que não entreveem
trago no meu ser
como quem traga
grandes goles de álcool-éter
essa desestranhada estrada
que assim como eu:
é culpada!
em sempre haver a Noite...
o que há por trás dos entes
do ventre da mata
que a manhã
desentranha e mata?
é isso talvez que me alta:
ver que o que há
(sendo ou não comigo)
vai em frente
numa cósmica noite
mais longa mais funda mais vasta
há o sempre haver da noite
e os seres que no atrás da mata
não existem entre os que não entreveem
trago no meu ser
como quem traga
grandes goles de álcool-éter
essa desestranhada estrada
que assim como eu:
é culpada!
em sempre haver a Noite...
30 julho 2019
Alguns Chutes na Bunda do (Des) governo Bolsonaro
A seguir, uma reunião de postagens que realizei na minha página do Facebook, sem alterações:
- Finalmente, com Bolsonaro, estamos no caminho de ser uma Venezuela: ditadura imbecil, censura hipócrita, caos social, ausência de investimentos, desemprego e pobreza em alta, educação e saúde sucateadas, nepotismo descarado... Bom, pelo menos a Venezuela não entrega suas riquezas de mão beijada para os EUA e nem permite tão absurda destruição ambiental.
- Dizer que preocupação ambiental é "coisa de vegano" é um dos maiores atestados de idiotice e ignorância de que tenho conhecimento. Como se fosse só o vegano que precisasse de um planeta preservado para viver. Com vocês, o maior idiota da história da política brasileira, Jair Messias Bolsonaro. Mas teve vegano e vegetariano e defensor da natureza que votou nele. Pra esses, meus parabéns!
- Líder indígena é assassinado por garimpeiros, helicóptero do Ibama recebe tiros de madeireiros para que não faça fiscalização, filho do presidente vira embaixador por vontade do próprio presidente, desemprego, desmatamento, pobreza em alta, e o presidente diz que é tudo mentira e quer proibir quem divulga as informações, doentes sem remédio, educação sem verbas, universidades sem dinheiro pra pagar a luz... e por aí vai. Eis o caos anunciado do desgoverno Bolsonaro.
- Lógica de um bolsonete: institutos estão errados, estatísticas estão erradas, ambientalistas estão errados, cientistas estão errados, escritores estão errados, professores estão errados, jornalistas estão errados... Só o Bolsonaro tá certo.
- Lembra da reforma trabalhista do Temer em 2017? Diziam que era pro bem do povo, que com ela o desemprego iria diminuir, que era melhor ganhar menos, ter menos direitos, mas ter emprego. O Bolsonaro votou a favor. Mas hoje, você perdeu direitos, a média salarial diminuiu e o desemprego aumentou. Mas você acreditou na falácia da reforma, como agora você acredita na reforma da previdência, que se resume a duas coisas: você vai trabalhar mais e ganhar menos. Você não percebe que essas reformas, e tudo mais nesses governos, são APENAS para favorecer o lucro das grandes empresas. É o governo para os ricos. E você é só um burro. E um robô.
- O Bolsotário disse que é a favor do trabalho infantil, justificando que quando ele era criança ele ajudava o PAI dele no trabalho. Será que ele dá essas declarações por burrice pura e simples ou por maldade? Ou pelos dois? Como ele pode ser tão imbecil e cruel comparando um trabalho de ajudar os pais (se é que ele realmente fez, porque mais mente do que fala) com a exploração absurda e desumana, semiescrava, que muitas grandes empresas cometem com crianças que para elas, as empresas, não passam de robozinhos controlados, pouco importando suas vidas, saúde ou futuro?
28 julho 2019
Esquecimento (Cair no)
os humanos deixaram-se
tanto se esqueceram
que já nem se sabe o que foi esquecido
nem se sabe o que já nem foi
aquilo que houvera sido
de tanto que não foram
que já agora nem são
tanto não são
que acabaram por não ir
fizeram tantas coisas
que nem chegaram a existir
formaram tantas cidades
onde nem se viu viverem
ao bem pouco que foi feito
deu-se o nome de Arte
que é o que se seria
se o humano chegasse a sê-lo:
o homem não-sendo
ainda foi à arte
para voltar ao Ser
mas se deixou
a destruir tudo o que É
agora sendo só nada
está o homem que não-é
entre o cair
e o des-ser
tanto se esqueceram
que já nem se sabe o que foi esquecido
nem se sabe o que já nem foi
aquilo que houvera sido
de tanto que não foram
que já agora nem são
tanto não são
que acabaram por não ir
fizeram tantas coisas
que nem chegaram a existir
formaram tantas cidades
onde nem se viu viverem
ao bem pouco que foi feito
deu-se o nome de Arte
que é o que se seria
se o humano chegasse a sê-lo:
o homem não-sendo
ainda foi à arte
para voltar ao Ser
mas se deixou
a destruir tudo o que É
agora sendo só nada
está o homem que não-é
entre o cair
e o des-ser
25 julho 2019
Perdendo Tempo
Fernando Pessoa já perguntou?
“o que é o tempo para que eu o perca?”
ler um romance
no lugar de ganhar dinheiro
é perder meu tempo?
ouvir música
no lugar de ler o romance
é perder meu tempo?
se eu brincar com um gato
no lugar de ouvir verdades
perderei meu tempo?
só me inspirar sem fazer nada
é perder meu tempo?
se eu entender toda a humanidade
sem sair da minha preguiça
(que necessidade que há
de se sair da preguiça
para se entender a humanidade?)
vou perder meu tempo?
se o irreal é a perda do tempo
o real seria o seu ganho?
quem determina o que é real?
e ainda que o real seja o real
o que há de ganho nisso?
a falsa felicidade de todos
veio do ganho de tempo?
ganharei meu tempo
planejando o tempo?
ou ganharei meu tempo
fazendo o que sei que não quero
para ter o que penso que quero?
ganhar tempo é ser útil a mim
e à humanidade?
mas o que seria útil a mim
e à humanidade?
(ser produtivo
é um ato falho.
não produzir nada de útil
é o mais difícil trabalho)
“o que é o tempo para que eu o perca?”
ler um romance
no lugar de ganhar dinheiro
é perder meu tempo?
ouvir música
no lugar de ler o romance
é perder meu tempo?
se eu brincar com um gato
no lugar de ouvir verdades
perderei meu tempo?
só me inspirar sem fazer nada
é perder meu tempo?
se eu entender toda a humanidade
sem sair da minha preguiça
(que necessidade que há
de se sair da preguiça
para se entender a humanidade?)
vou perder meu tempo?
se o irreal é a perda do tempo
o real seria o seu ganho?
quem determina o que é real?
e ainda que o real seja o real
o que há de ganho nisso?
a falsa felicidade de todos
veio do ganho de tempo?
ganharei meu tempo
planejando o tempo?
ou ganharei meu tempo
fazendo o que sei que não quero
para ter o que penso que quero?
ganhar tempo é ser útil a mim
e à humanidade?
mas o que seria útil a mim
e à humanidade?
(ser produtivo
é um ato falho.
não produzir nada de útil
é o mais difícil trabalho)
23 julho 2019
de Humanidade, Ditadura, Liberdade
I - o mais absurdo da humanidade
é haver gente que vê saída
para o absurdo da humanidade
II - têm razão os que querem a volta da ditadura:
acaba-se com os males por decreto:
se alguém fez um mal, ninguém viu, porque é proibido
(não proibido fazer o mal, mas vê-lo)
e se ninguém viu, é porque o mal nem existiu
III - Liberdade não é só se dizer o que se pensa:
é pensar o que se vive
viver o que se sente
sentir o que foi dito
e saber o que está escrito
é haver gente que vê saída
para o absurdo da humanidade
II - têm razão os que querem a volta da ditadura:
acaba-se com os males por decreto:
se alguém fez um mal, ninguém viu, porque é proibido
(não proibido fazer o mal, mas vê-lo)
e se ninguém viu, é porque o mal nem existiu
III - Liberdade não é só se dizer o que se pensa:
é pensar o que se vive
viver o que se sente
sentir o que foi dito
e saber o que está escrito
21 julho 2019
Sem muito o que Dizer
I - do poema futuro:
em cadáverso
um cadáver
em cadáestrofe
uma catástrofe
II - do tempo:
o problema do tempo
é que um dia ele chega
e quando chega
o tempo que passou
não chegou:
o tempo é sempre
insuficiente
em cadáverso
um cadáver
em cadáestrofe
uma catástrofe
II - do tempo:
o problema do tempo
é que um dia ele chega
e quando chega
o tempo que passou
não chegou:
o tempo é sempre
insuficiente
19 julho 2019
A Nossa Queda
não verás saída
para o que te selaram
como preço
pois verás um cerco
que te prensa
e um circo de esterco
que te apreça
é só este charco que te acerca:
desde o que pensas
(que é o que te ditam as imprensas
a te enfiar pelo rabo)
até essa pressa
de consumir a todo apreço
o que te ditam as empresas
a transbordar pelo ralo:
o que te espera
é só esse vaso
sanitário
de modo que a Nossa Queda
é só questão de preço e passo
ao abismo
só o que resta é o alerta:
todas essas eras de alarde
o Tempo com desprezo
esmaga cedo ou tarde
para o que te selaram
como preço
pois verás um cerco
que te prensa
e um circo de esterco
que te apreça
é só este charco que te acerca:
desde o que pensas
(que é o que te ditam as imprensas
a te enfiar pelo rabo)
até essa pressa
de consumir a todo apreço
o que te ditam as empresas
a transbordar pelo ralo:
o que te espera
é só esse vaso
sanitário
de modo que a Nossa Queda
é só questão de preço e passo
ao abismo
só o que resta é o alerta:
todas essas eras de alarde
o Tempo com desprezo
esmaga cedo ou tarde
17 julho 2019
Pequena Marcha Fúnebre com os Pés numa Poça de Sangue
como não falar da morte
que nos olha tão constante
nestes dias que nos mostram
que nos vêm os corvos
que nos vêm os corvos
como não falar no horror
que nos vem de todo lado
com este sangue que nos lembra
de que nós já fomos
de que nós já fomos
nunca a morte foi tão forte
nos cravou tão longa garra...
ah esses olhos que recordam
de que já não somos
de que já não somos
quem me dera fosse amor...
mas a morte nunca esteve
perto mais perto tão perto
e só quem sente é quem sabe
de que vêm os mortos
que nos olha tão constante
nestes dias que nos mostram
que nos vêm os corvos
que nos vêm os corvos
como não falar no horror
que nos vem de todo lado
com este sangue que nos lembra
de que nós já fomos
de que nós já fomos
nunca a morte foi tão forte
nos cravou tão longa garra...
ah esses olhos que recordam
de que já não somos
de que já não somos
quem me dera fosse amor...
mas a morte nunca esteve
perto mais perto tão perto
e só quem sente é quem sabe
de que vêm os mortos
de que vêm os mortos
de que estamos mortos
de que estamos mortos
15 julho 2019
Eu não sou o que Digo
o meu verso nada tem a ver do que penso
por mais que seja o que penso o meu verso
a arte que por ele passa quando passa
vem de um outro todo que nem tenho
vento que se vaga não comigo
lago que se nada no não-dito
deixo que passe o que se passa por mim:
a quem importa aquilo que me sinto
e o que corre no sangue do que tenho?
de que vale o vale que me afundo?
o verso é vasto longo e fundo
vai muito além do que nem está em mim:
por que querer que ele fale de um eu?
por que querer que ele diga o que (nem) sou
por que o verso tem que ser o que é meu?
por mais que seja o que penso o meu verso
a arte que por ele passa quando passa
vem de um outro todo que nem tenho
vento que se vaga não comigo
lago que se nada no não-dito
deixo que passe o que se passa por mim:
a quem importa aquilo que me sinto
e o que corre no sangue do que tenho?
de que vale o vale que me afundo?
o verso é vasto longo e fundo
vai muito além do que nem está em mim:
por que querer que ele fale de um eu?
por que querer que ele diga o que (nem) sou
por que o verso tem que ser o que é meu?
13 julho 2019
A Próxima Guerra
a próxima guerra
dos homens sem água
será pela mágoa
sedenta
de um mundo morto sem trégua
por homens mortos à míngua
A Próxima Guerra
dos homens sem alma
será pela água
barrenta
e de sangue esgotado por terra
e da vida envolvida por fogos
A Próxima GUERRA
dos homens sem vida
será pela alma
num mundo afogado nas trevas
de um poço sem água sem fundo
A PRÓXIMA GUERRA
dos homens sem nada
não será mais por moedas
mas por um pedaço de pedra
de merda
dos homens sem água
será pela mágoa
sedenta
de um mundo morto sem trégua
por homens mortos à míngua
A Próxima Guerra
dos homens sem alma
será pela água
barrenta
e de sangue esgotado por terra
e da vida envolvida por fogos
A Próxima GUERRA
dos homens sem vida
será pela alma
num mundo afogado nas trevas
de um poço sem água sem fundo
A PRÓXIMA GUERRA
dos homens sem nada
não será mais por moedas
mas por um pedaço de pedra
de merda
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