I - não escrevo
para que os outros me leiam
me entendam me decifrem
escrevo para eu fazê-lo
com os outros
II - não escrevo
para melhorar ninguém
(só o si
melhora a si
quando cai em si)
escrevo a meu ser
que saindo da miséria que sou
se vá além do que nem sei
e do que nem vou
III - poeta
é saber que não se pode:
é perceber
que não se percebe
é dar-se conta
de que não se dão conta
14 maio 2019
11 maio 2019
Van Gogh, Goethe, Bach
ler Van Gogh
ouvir Goethe
contemplar Bach
se não causar
um além do que se é
(não falo de ciência nem de fé)
se em nossos dias pequenos
não mover minúsculas partículas
de mínimo mais amor (ao menos)
se não trouxer
uma certa irmandade
(ou coisa que há-de)
com uma simples estrela
ou com (por exemplo)
um complexo esquilo
de que adianta
(sobre Van Gogh, Goethe, Bach...)
decifrá-lo
entendê-lo
senti-lo?
ouvir Goethe
contemplar Bach
se não causar
um além do que se é
(não falo de ciência nem de fé)
se em nossos dias pequenos
não mover minúsculas partículas
de mínimo mais amor (ao menos)
se não trouxer
uma certa irmandade
(ou coisa que há-de)
com uma simples estrela
ou com (por exemplo)
um complexo esquilo
de que adianta
(sobre Van Gogh, Goethe, Bach...)
decifrá-lo
entendê-lo
senti-lo?
10 maio 2019
Sobre os Homens Ocos*
nós somos os homens ocos
(e já nem digo cagados)
em cujas cucas já poucas
há um caldo de água de coco
vazado pelos buracos
que ao menor toque de tocos
se faz em cacos
os nossos crânios
esmagados por tacos
a pauladas da vida mecânica
pelos socos do mundo vácuo
antes fôssemos loucos
mas nos acocoramos
diante do caos
como os porcos
que curvam as fuças
diante dos céus
não valemos nem para troco
menos do que macacos
pior do que meros tolos
nós somos os homens ocos
chocos botando ovos
na vida de só rebocos:
já nos disseram os corvos
que somos os homens mortos
*Poema inspirado em T.S.Eliot:
“Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada.”
(e já nem digo cagados)
em cujas cucas já poucas
há um caldo de água de coco
vazado pelos buracos
que ao menor toque de tocos
se faz em cacos
os nossos crânios
esmagados por tacos
a pauladas da vida mecânica
pelos socos do mundo vácuo
antes fôssemos loucos
mas nos acocoramos
diante do caos
como os porcos
que curvam as fuças
diante dos céus
não valemos nem para troco
menos do que macacos
pior do que meros tolos
nós somos os homens ocos
chocos botando ovos
na vida de só rebocos:
já nos disseram os corvos
que somos os homens mortos
*Poema inspirado em T.S.Eliot:
“Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada.”
07 maio 2019
A Morte e as Quatro Canções Graves de Brahms
em 1896 Brahms compôs as Quatro Canções Graves
sua penúltima obra (Opus 121)
Brahms morreu um ano depois.
em 1896 faleceu Clara Schumann
viúva de Robert Schumann
e o grande amor não-concretizado (talvez tocado)
de Johannes Brahms.
em 1896 Brahms compôs as Quatro Canções Sérias
músicas de um pessimismo absoluto.
meses depois Brahms estaria de luto
pela morte de Clara Schumann.
em 3 de abril de 1897
Johannes Brahms faleceu
(meu compositor favorito)
e ficou de luto por ele mesmo.
"Ó Morte, quão amarga tu és"
diz um dos trechos das 4 Canções Graves.
Brahms sabia que em breve
seu amor Clara Wieck Schumann
doente
estaria com a Morte.
em 1896 aos 63 anos de idade
Brahms compôs as Quatro Canções (bem) Sérias
e dedicou a ele mesmo
no seu aniversário em 7 de maio de 1896.
menos de um ano depois
Brahms morreria de câncer de fígado.
em 7 de maio de 2019
Brahms completou 186 anos
de Imortalidade
sua penúltima obra (Opus 121)
Brahms morreu um ano depois.
em 1896 faleceu Clara Schumann
viúva de Robert Schumann
e o grande amor não-concretizado (talvez tocado)
de Johannes Brahms.
em 1896 Brahms compôs as Quatro Canções Sérias
músicas de um pessimismo absoluto.
meses depois Brahms estaria de luto
pela morte de Clara Schumann.
em 3 de abril de 1897
Johannes Brahms faleceu
(meu compositor favorito)
e ficou de luto por ele mesmo.
"Ó Morte, quão amarga tu és"
diz um dos trechos das 4 Canções Graves.
Brahms sabia que em breve
seu amor Clara Wieck Schumann
doente
estaria com a Morte.
em 1896 aos 63 anos de idade
Brahms compôs as Quatro Canções (bem) Sérias
e dedicou a ele mesmo
no seu aniversário em 7 de maio de 1896.
menos de um ano depois
Brahms morreria de câncer de fígado.
em 7 de maio de 2019
Brahms completou 186 anos
de Imortalidade
04 maio 2019
No Escritório do Homem de Sucesso
o homem de sucesso sentado
engordurado no seu escritório
de brancos tons de ilusório
uma enorme janela fechada (do lado)
e um ar livre de fachada
no marketing da entrada
e dentro o ar-preso-oprimido-condicionado
enquanto lá fora voam pássaros
ali dentro voam notas
enquanto ali dentro nascem notas
lá fora morrem pássaros
vê e nota
o notável homem de sucesso
predador idiota
praga e presa do progresso
a vida passa de mãos vazias
mas o homem vai contando suas moedas
de ouro cheias as moedas passam
e a vida vai matando seus dias
nos dias de morte
e de almas vazias
engordurado no seu escritório
de brancos tons de ilusório
uma enorme janela fechada (do lado)
e um ar livre de fachada
no marketing da entrada
e dentro o ar-preso-oprimido-condicionado
enquanto lá fora voam pássaros
ali dentro voam notas
enquanto ali dentro nascem notas
lá fora morrem pássaros
vê e nota
o notável homem de sucesso
predador idiota
praga e presa do progresso
a vida passa de mãos vazias
mas o homem vai contando suas moedas
de ouro cheias as moedas passam
e a vida vai matando seus dias
nos dias de morte
e de almas vazias
02 maio 2019
Três Tacadas
I (do valor)
para o planeta
um catador de lixo
é infinitamente superior
a qualquer empresário
para o futuro da humanidade
há muito mais valor
em um mendigo
do que num milionário
II (do riso)
quando falo sério
serializo
como faria o serial killer
(quanto ocaso é sério...)
quando é riso
ironizo
(nem falo em sorriso
porque sorriso é mais mistério)
III (do poeta)
para o poeta
não vale a máxima
(que é mínima)
'faça o que eu digo
não faça o que eu faço"
porque o que o poeta fala
é sua poesia
e poesia é o que ele faz.
e poesia é coisa de cor vermelha
que a ninguém se aconselha
para o planeta
um catador de lixo
é infinitamente superior
a qualquer empresário
para o futuro da humanidade
há muito mais valor
em um mendigo
do que num milionário
II (do riso)
quando falo sério
serializo
como faria o serial killer
(quanto ocaso é sério...)
quando é riso
ironizo
(nem falo em sorriso
porque sorriso é mais mistério)
III (do poeta)
para o poeta
não vale a máxima
(que é mínima)
'faça o que eu digo
não faça o que eu faço"
porque o que o poeta fala
é sua poesia
e poesia é o que ele faz.
e poesia é coisa de cor vermelha
que a ninguém se aconselha
30 abril 2019
Do Fim Desta Civilização
tu gato vasto noturno
atento ao tenso vazio da treva
tu vês ainda mais vezes
que vazio sou eu
que não me estou
no que te leva
tu sabes, gato
que toda a ciência
não vale o sentido
do teu olfato
e que tudo na vida
é um inspirar - expirar
inspirar é nascer - crescer
e se cresce até um máximo
expirar é envelhecer - morrer
depois que se enche os pulmões da vida
até o máximo
a vida toda e toda vida
é uma grande inspiração - expiração
desde a existência de um gato
até a história de uma civilização
atento ao tenso vazio da treva
tu vês ainda mais vezes
que vazio sou eu
que não me estou
no que te leva
tu sabes, gato
que toda a ciência
não vale o sentido
do teu olfato
e que tudo na vida
é um inspirar - expirar
inspirar é nascer - crescer
e se cresce até um máximo
expirar é envelhecer - morrer
depois que se enche os pulmões da vida
até o máximo
a vida toda e toda vida
é uma grande inspiração - expiração
desde a existência de um gato
até a história de uma civilização
28 abril 2019
Os Detalhes da Luz
insana palavra de sombra
verbo-clarão na verdade
nada
ilumina o tanto da noite
do que os relâmpagos da tempestade
agouro de coruja amiga
que pia
ao que não me iludo
teus olhos de vastos noturnos
que alertantemente
veem tudo
que segredo que há
entre o que céu
e uma revoada de urubus?
só a sombra
percebe os mínimos detalhes
da luz
verbo-clarão na verdade
nada
ilumina o tanto da noite
do que os relâmpagos da tempestade
agouro de coruja amiga
que pia
ao que não me iludo
teus olhos de vastos noturnos
que alertantemente
veem tudo
que segredo que há
entre o que céu
e uma revoada de urubus?
só a sombra
percebe os mínimos detalhes
da luz
26 abril 2019
O Messias
Handel
compôs o comovente Oratório "O Messias"
obra imortal
Brézil
elegeu o deprimente mor otário jair messias
obra imoral
imoral também sou eu
em colocar diamante e merda
no mesmo cofre:
um grande e um nada
na mesma estrofe
mas meu poema é universal:
vale para qualquer comparação
entre um artista e um político
(em maior ou menor grau)
em qualquer país
qualquer planeta
qualquer galáxia
e coisa e tal
compôs o comovente Oratório "O Messias"
obra imortal
Brézil
elegeu o deprimente mor otário jair messias
obra imoral
imoral também sou eu
em colocar diamante e merda
no mesmo cofre:
um grande e um nada
na mesma estrofe
mas meu poema é universal:
vale para qualquer comparação
entre um artista e um político
(em maior ou menor grau)
em qualquer país
qualquer planeta
qualquer galáxia
e coisa e tal
24 abril 2019
Poético
reconheço como grande
o homem que NÃO reconhece como grande
os que se acham grandes
só os verdadeiros fortes
não ficam do lado dos mais fortes:
a força está
em não se dobrar à força
poder
é não se curvar ao poder
(não importa o que puderem)
de modo
que não convém a um poeta
estar do lado dos ricos
(e digam o que quiserem)
o homem que NÃO reconhece como grande
os que se acham grandes
só os verdadeiros fortes
não ficam do lado dos mais fortes:
a força está
em não se dobrar à força
poder
é não se curvar ao poder
(não importa o que puderem)
de modo
que não convém a um poeta
estar do lado dos ricos
(e digam o que quiserem)
22 abril 2019
Sobremortos
I - na vida temos a ilusão da escolha
mas tudo nos é imposto:
desde os impostos
passando por custos e preços
desgraças desejos
até nossos postos
até nossos gostos
II – porque nossa vida está condicionada de uma maneira
que não haja maneira de haver vida
e de tal forma
que não se saia da fôrma
III – viver tornou-se apenas sobre:
sobretudo uma sobrevida
de sobremortos
na busca de um sem sentido
sobrenada
mas tudo nos é imposto:
desde os impostos
passando por custos e preços
desgraças desejos
até nossos postos
até nossos gostos
II – porque nossa vida está condicionada de uma maneira
que não haja maneira de haver vida
e de tal forma
que não se saia da fôrma
III – viver tornou-se apenas sobre:
sobretudo uma sobrevida
de sobremortos
na busca de um sem sentido
sobrenada
17 abril 2019
Assombração
a minha parte do que é
estará depois do que já não:
tenho a última máxima extrema
o final tornado lema
o que não foi tornado são
terei o alcanço (al)cansado
quando me tiver tornado vento
o tormento a me ventar tornado
em (re)voltas e (re)tornos
do Tempo em mil pedaços
triunfante e sobre-humano
sobre os meus fracassos
a minha parte irei sem ela
como quem faz e deixa
como quem beija e passa
a graça a lábio a vela
só assombros e alarmas
só escombros e fantasmas
estará depois do que já não:
tenho a última máxima extrema
o final tornado lema
o que não foi tornado são
terei o alcanço (al)cansado
quando me tiver tornado vento
o tormento a me ventar tornado
em (re)voltas e (re)tornos
do Tempo em mil pedaços
triunfante e sobre-humano
sobre os meus fracassos
a minha parte irei sem ela
como quem faz e deixa
como quem beija e passa
a graça a lábio a vela
só assombros e alarmas
só escombros e fantasmas
16 abril 2019
Agrotóxico*
o agro é pop?
o agro é pó
o agro é papo
o agro é podre
o agro é mórbido
o agro é sádico
o agro é sórdido
o agro é estúpido
(o agro é (só)lucro)
o agro é túmulo
o agro é tétrico
o agro é trágico
o agro é tóxico
o agro é pó
o agro é papo
o agro é podre
o agro é mórbido
o agro é sádico
o agro é sórdido
o agro é estúpido
(o agro é (só)lucro)
o agro é túmulo
o agro é tétrico
o agro é trágico
o agro é tóxico
*Este poema se refere somente aos setores e produtores do agronegócio que se beneficiam da brutal e absurda utilização de agrotóxico e pesticidas, a qual se encontra num crescimento desenfreado e monstruoso em nosso país, principalmente durante o governo Temer e MAIS AINDA, agora, com Bolsonaro. Pesquisas comprovam que estamos comendo alimentos e tomando água altamente contaminados.
14 abril 2019
Dois Brasis
I - nesta era
(que logo já era)
de burros e ignorantes
em que escrever é tudo em vão
já está anos-luz adiante
quem lê
as linhas
da sua própria mão
II - existem dois Brasis:
o dos seres vivos
e o dos imbecis
(que logo já era)
de burros e ignorantes
em que escrever é tudo em vão
já está anos-luz adiante
quem lê
as linhas
da sua própria mão
II - existem dois Brasis:
o dos seres vivos
e o dos imbecis
12 abril 2019
(Há)mar
o amor
um quanto de alma
e um tanto de arma
um espanto vasto de tê-lo
e um quando rastro de achá-lo
amargaridas de areias pelas luas
amaremotos de azulado pelas rosas
amarelos de sonhos pesadelos
entre sangues oceanos e castelos
noites entre estrelas e cardumes
entre aromas ares águas e perfumes
amor no que se for
a mar (a)fundo
de armadura
que amar...
(h)ámargura
mas (h)ámar
(Poema escrito em 8 de abril de 2018.)
um quanto de alma
e um tanto de arma
um espanto vasto de tê-lo
e um quando rastro de achá-lo
amargaridas de areias pelas luas
amaremotos de azulado pelas rosas
amarelos de sonhos pesadelos
entre sangues oceanos e castelos
noites entre estrelas e cardumes
entre aromas ares águas e perfumes
amor no que se for
a mar (a)fundo
de armadura
que amar...
(h)ámargura
mas (h)ámar
(Poema escrito em 8 de abril de 2018.)
100 Dias (Desastrosos) de Governo Bolsonaro
O presidente Biroliro disse que 95% das metas do seu desgoverno para os três primeiros meses foram atingidas. E eu acredito. Vejamos suas metas:
- Aumentar a destruição ambiental deixando tudo na mão de ruralistas.
- Liberar o máximo possível de agrotóxicos cancerígenos.
- Puxar o saco do Trump e entregar o país pra os EUA.
- Demitir o fiscal que o multou por pesca ilegal.
- Brincar de guerrinha virtual contra a Venezuela.
- Zerar investimentos em educação, cultura e ciência, ajudando a estabelecer o culto à ignorância dele e sua trupe.
- "Facilitar a vida" de caçadores.
- Empenhar-se em aprovar a Deforma da Previdência e fazer as pessoas trabalharem mais recebendo menos.
- Continuar a destruição dos direitos dos trabalhadores iniciada por Temer, e mesmo assim aumentar o desemprego.
- Aumentar os índices de violência contra a mulher.
- Falar asneiras, absurdos, passar fiasco e envergonhar o país.
- Encobrir a corrupção de sua família e de seus ministros.
- Glorificar os horrores da ditadura.
- Colocar no governo um bando de corruptos e imbecis.
- Fazer de bobo você que votou nele.
- Aumentar a destruição ambiental deixando tudo na mão de ruralistas.
- Liberar o máximo possível de agrotóxicos cancerígenos.
- Puxar o saco do Trump e entregar o país pra os EUA.
- Demitir o fiscal que o multou por pesca ilegal.
- Brincar de guerrinha virtual contra a Venezuela.
- Zerar investimentos em educação, cultura e ciência, ajudando a estabelecer o culto à ignorância dele e sua trupe.
- "Facilitar a vida" de caçadores.
- Empenhar-se em aprovar a Deforma da Previdência e fazer as pessoas trabalharem mais recebendo menos.
- Continuar a destruição dos direitos dos trabalhadores iniciada por Temer, e mesmo assim aumentar o desemprego.
- Aumentar os índices de violência contra a mulher.
- Falar asneiras, absurdos, passar fiasco e envergonhar o país.
- Encobrir a corrupção de sua família e de seus ministros.
- Glorificar os horrores da ditadura.
- Colocar no governo um bando de corruptos e imbecis.
- Fazer de bobo você que votou nele.
09 abril 2019
Ave Averno!
"nada é tão ruim
que não possa ficar pior"
tudo já rui
em um poço de horror
nada é tão poço
que não possa afundar mais
nada que eu possa
vai afastar a cova
nada que eu faça
vai apagar o fogo
ou abrir a fumaça
já é muito esgoto
no fundo do posso
está tudo a um passo
dos corvos do morta
do nada do abismo
da beira do findo
não foi por falta
de verso e de aviso
a minha alma já torta
caiu de asas no mundo
nada é tão fundo
que possa abismar
o meu pessimismo
vendaval furacão
as cismas e os sismos
nada é tão mero
que não tenha ficado grave:
começar do zero
outros seres outros olhos
outras árvores outras aves
outras vezes outras vozes outras naves...
Ave!
que não possa ficar pior"
tudo já rui
em um poço de horror
nada é tão poço
que não possa afundar mais
nada que eu possa
vai afastar a cova
nada que eu faça
vai apagar o fogo
ou abrir a fumaça
já é muito esgoto
no fundo do posso
está tudo a um passo
dos corvos do morta
do nada do abismo
da beira do findo
não foi por falta
de verso e de aviso
a minha alma já torta
caiu de asas no mundo
nada é tão fundo
que possa abismar
o meu pessimismo
vendaval furacão
as cismas e os sismos
nada é tão mero
que não tenha ficado grave:
começar do zero
outros seres outros olhos
outras árvores outras aves
outras vezes outras vozes outras naves...
Ave!
07 abril 2019
Trompas e Trombetas
a céu que não descia
pairava um mas
aquém do verde negro
loucura em vão
um álcool lento a lento
do que mais fiz
um vento em som de adeus
do que não vou
em queda aquela estrela
quando me vi
desejo insana a vida
fracasso e luz
sangrar venena o azul
tristeza o sim
que seja o que escrevi
o que não sou
pairava um mas
aquém do verde negro
loucura em vão
um álcool lento a lento
do que mais fiz
um vento em som de adeus
do que não vou
em queda aquela estrela
quando me vi
desejo insana a vida
fracasso e luz
sangrar venena o azul
tristeza o sim
que seja o que escrevi
o que não sou
05 abril 2019
A Noite é Luz
quando a noite acaba além
além do dia que não venha
o dia continua sendo noite
e vemos a alma que nos resta
como se espiássemos por uma fresta
e assim vemos o que é vida
na noite que nunca termina
o dia é o massacre do que se vive
vidas aniquiladas por trabalho
espancadas por chicote e malho
sempre inútil por mais que se faça
responsáveis por menos que nada
trabalhos em busca de desejos
que não se realizam pelo jugo do trabalho
não é mais o dia que nos traz esperança
o dia mecânico monótono robótico
esmagado por sucessos e progressos
por problemas e pressões e decadências
o dia morreu como morre o homem
a Noite é a última resistência da vida
e o homem ainda vivo é livre na noite
como os animais que só saem quando anoitece
porque são caçados durante o dia:
o dia tornou-se a peste e a morte.
só na Noite é que existe Luz.
além do dia que não venha
o dia continua sendo noite
e vemos a alma que nos resta
como se espiássemos por uma fresta
e assim vemos o que é vida
na noite que nunca termina
o dia é o massacre do que se vive
vidas aniquiladas por trabalho
espancadas por chicote e malho
sempre inútil por mais que se faça
responsáveis por menos que nada
trabalhos em busca de desejos
que não se realizam pelo jugo do trabalho
não é mais o dia que nos traz esperança
o dia mecânico monótono robótico
esmagado por sucessos e progressos
por problemas e pressões e decadências
o dia morreu como morre o homem
a Noite é a última resistência da vida
e o homem ainda vivo é livre na noite
como os animais que só saem quando anoitece
porque são caçados durante o dia:
o dia tornou-se a peste e a morte.
só na Noite é que existe Luz.
03 abril 2019
Alguma Definição de Literatura
se eu escrever otimismos e autoajudas
não terei escrito coisa nenhuma
se eu passar a mão na cabeça do leitor
nem terei sido escritor
literatura não se faz com sorrisos
e gestos de coraçãozinho
não se escreve sob céu azul
não se pensa sobre a vida
assistindo a comédias de finais felizes
literatura é o incômodo o soco no estômago
o ácido do limão o punhal revirando a ferida
a provocação para que se reaja
literatura não é um compêndio de esperanças
não é um manual prático para sucessos
literatura tem que escancarar o verme
que nos rói a alma na normalidade do dia a dia
tem que ser a vela em nosso particular abismo
colocar o espelho diante do nosso horror
a literatura tem que me mostrar
que o mal do mundo sou eu
que não é só o meu vizinho quem destrói o planeta:
quero literatura que me diga que estou morrendo
para que eu perceba que estou vivo
não terei escrito coisa nenhuma
se eu passar a mão na cabeça do leitor
nem terei sido escritor
literatura não se faz com sorrisos
e gestos de coraçãozinho
não se escreve sob céu azul
não se pensa sobre a vida
assistindo a comédias de finais felizes
literatura é o incômodo o soco no estômago
o ácido do limão o punhal revirando a ferida
a provocação para que se reaja
literatura não é um compêndio de esperanças
não é um manual prático para sucessos
literatura tem que escancarar o verme
que nos rói a alma na normalidade do dia a dia
tem que ser a vela em nosso particular abismo
colocar o espelho diante do nosso horror
a literatura tem que me mostrar
que o mal do mundo sou eu
que não é só o meu vizinho quem destrói o planeta:
quero literatura que me diga que estou morrendo
para que eu perceba que estou vivo
01 abril 2019
Corvo
Deus está morto:
fomos a nós que nos matamos.
meu olho absorto:
foi sempre horror por entre os anos
o mundo é este porco:
e fomos nós que o carneamos
o amor é um aborto:
foi entre pós que o causamos
o homem está morto:
somos adeus que nos mandamos
fomos a nós que nos matamos.
meu olho absorto:
foi sempre horror por entre os anos
o mundo é este porco:
e fomos nós que o carneamos
o amor é um aborto:
foi entre pós que o causamos
o homem está morto:
somos adeus que nos mandamos
30 março 2019
Existe Brahms
a esperança
(que tem por princípio
bater na cara a porta)
e o fracasso
que nos debocha a cada passo
que importa?
que importa
o que se chama sonho
este irmão de sangue
do horror e do medonho?
que importa
isso de vida aquilo de morte?
isso vitória aquilo derrota?
vitória ou sucesso
é só acaso destino boa sorte.
o nada que não veio
a ausência que não tive
o inútil que não pude?
que importa?
que importa a-final
os meus não desígnios
os meus não ditames?
não tem importância.
o que importa
é que existe Brahms.
(que tem por princípio
bater na cara a porta)
e o fracasso
que nos debocha a cada passo
que importa?
que importa
o que se chama sonho
este irmão de sangue
do horror e do medonho?
que importa
isso de vida aquilo de morte?
isso vitória aquilo derrota?
vitória ou sucesso
é só acaso destino boa sorte.
o nada que não veio
a ausência que não tive
o inútil que não pude?
que importa?
que importa a-final
os meus não desígnios
os meus não ditames?
não tem importância.
o que importa
é que existe Brahms.
29 março 2019
Aos Caçadores Filhosdaputa
caçador filhodaputa montedebosta
por que não pega tua arma e te atira na cara
com os dois canos da tua espingarda?
caça-dor filhodaputa montedemerda
por que não te dá um tiro por trás
e deixa a vida selvagem em paz?
caça-horror filhodaputa montedeesterco
por que não pega tua arma e bate punheta
e deixa a vida viva em nosso planeta?
caça-desgraça filhodaputa montedefezes
por que não pega tua arma e te arrebenta a cabeça
e deixa que a vida entre a vida aconteça?
caçador filhodaputa montedenada
só quem deve ser caçado é tu:
pega tua arma e arrebenta teu cu.
por que não pega tua arma e te atira na cara
com os dois canos da tua espingarda?
caça-dor filhodaputa montedemerda
por que não te dá um tiro por trás
e deixa a vida selvagem em paz?
caça-horror filhodaputa montedeesterco
por que não pega tua arma e bate punheta
e deixa a vida viva em nosso planeta?
caça-desgraça filhodaputa montedefezes
por que não pega tua arma e te arrebenta a cabeça
e deixa que a vida entre a vida aconteça?
caçador filhodaputa montedenada
só quem deve ser caçado é tu:
pega tua arma e arrebenta teu cu.
27 março 2019
O Nosso Abismo é logo ali
Estrela que te és longe do que somos
tu que não nos sabes é que és feliz
aquilo que te vemos nem és tu
tua luz que a nós chega já passou
a tua verdade é sempre distante
e por ser distante é que é verdade
por não nos saberes não te fracassas
triunfas por nunca nos iluminares
ser indiferente é tua vitória
e nos dar as costas é o teu poder
Estrela, o que é isso onde tu estás?
onde tu estás nisso onde não nos és?
o que é que existe nesse teu abismo?
sim,
porque o NOSSO abismo... é logo ali...
tu que não nos sabes é que és feliz
aquilo que te vemos nem és tu
tua luz que a nós chega já passou
a tua verdade é sempre distante
e por ser distante é que é verdade
por não nos saberes não te fracassas
triunfas por nunca nos iluminares
ser indiferente é tua vitória
e nos dar as costas é o teu poder
Estrela, o que é isso onde tu estás?
onde tu estás nisso onde não nos és?
o que é que existe nesse teu abismo?
sim,
porque o NOSSO abismo... é logo ali...
24 março 2019
Soneto Mau e Manco
como eu queria fazer poemas leves
daqueles que me congelassem
e esta minha eterna chuva
a transformassem em neve
como eu queria fazer poemas breves
daqueles que se leem sozinho
que quando em pensasse em uva
eu já me tivesse o vinho
mas eu só faço poemas graves:
como eu queria ao pensar em vida
que estivesse em eterna greve
mas nestes tempos de horror e febre
de caos e erros de sul ao norte
só se encontram rimas para a morte
daqueles que me congelassem
e esta minha eterna chuva
a transformassem em neve
como eu queria fazer poemas breves
daqueles que se leem sozinho
que quando em pensasse em uva
eu já me tivesse o vinho
mas eu só faço poemas graves:
como eu queria ao pensar em vida
que estivesse em eterna greve
mas nestes tempos de horror e febre
de caos e erros de sul ao norte
só se encontram rimas para a morte
23 março 2019
Versos a um Gatinho Morto
o filhodaputa que te matou
(porque quem mata um gato é um filhodaputa:
se for por acidente é filhodaputa por um tempo
se for por intenção é filhodaputa para sempre)
o filhodaputa que te matou
deixou mais triste a minha rua
(cada felino que morre
deixa mais triste o mundo)
o filhodaputa que te matou
tirou da minha rua a tua graça a tua dança
o teu alto a tua grandeza
arrancou da minha rua a tua presença de paz
arrancou do meu olhar a inocência do teu
extirpou o encantamento
em que me elevava com tua leveza
em que eu sorria com tua ternura
em que eu sonhava com teu mistério
minha rua ficou mais triste e o mundo ficou mais chato
onde quer que tua alma agora esteja
estão estes versos nos teus bigodes
ou tocados por tuas patas
enquanto retornas triunfante
para a próxima civilização
(porque quem mata um gato é um filhodaputa:
se for por acidente é filhodaputa por um tempo
se for por intenção é filhodaputa para sempre)
o filhodaputa que te matou
deixou mais triste a minha rua
(cada felino que morre
deixa mais triste o mundo)
o filhodaputa que te matou
tirou da minha rua a tua graça a tua dança
o teu alto a tua grandeza
arrancou da minha rua a tua presença de paz
arrancou do meu olhar a inocência do teu
extirpou o encantamento
em que me elevava com tua leveza
em que eu sorria com tua ternura
em que eu sonhava com teu mistério
minha rua ficou mais triste e o mundo ficou mais chato
onde quer que tua alma agora esteja
estão estes versos nos teus bigodes
ou tocados por tuas patas
enquanto retornas triunfante
para a próxima civilização
21 março 2019
Bach-Nosso
Bach Nosso que estais nos Sons
interpretadas sejam as Vossas notas
venham a nós os Vossos concertos
sejam erguidas as Vossas cantatas
assim nas casas como nos seres
a Paixão nossa de cada dia
nos mandai hoje
perdoai as nossas supérfluas
assim como nós perdoamos aos que não têm te ouvido
e não nos deixeis ouvir música em vão
mas ensinai-nos a amar
em nome de Bach
Beethoven
e de Johannes Brahms
Amém.
Hoje, 334 anos de Johann Sebastian Bach, o Pai da Música.
interpretadas sejam as Vossas notas
venham a nós os Vossos concertos
sejam erguidas as Vossas cantatas
assim nas casas como nos seres
a Paixão nossa de cada dia
nos mandai hoje
perdoai as nossas supérfluas
assim como nós perdoamos aos que não têm te ouvido
e não nos deixeis ouvir música em vão
mas ensinai-nos a amar
em nome de Bach
Beethoven
e de Johannes Brahms
Amém.
Hoje, 334 anos de Johann Sebastian Bach, o Pai da Música.
19 março 2019
Fazer Parte da Humanidade
fazer parte da humanidade:
ser obrigado por lei
a viver de acordo com a lei
lei que foi acordada por outros
sem que você participasse do acordo
fazer parte da humanidade:
ter que trabalhar mais do que viver
durante as melhores horas do dia
quando não se pode quando não se deve
naquilo que não se quer
para fazer algo que se queira
quando já não há mais tempo de se fazer
fazer parte da humanidade:
ter que aparentar o normal
quando o normal é a doença
parecer com os parecidos
chafurdar na merda para ser aceito
e depois são preocupações e estresses
desesperos e crises de nervos
para poder viver em paz
fazer parte da humanidade:
cansar-se uma vida inteira
para poder enfim descansar
deixar de fazer o que se quis
para dizer que tem a vida que se quer
até tornar-se responsável
pelo sua máscara de parecer feliz
fazer parte...
meu Deus, quanta miséria!
menos mal
que se faz Arte
ser obrigado por lei
a viver de acordo com a lei
lei que foi acordada por outros
sem que você participasse do acordo
fazer parte da humanidade:
ter que trabalhar mais do que viver
durante as melhores horas do dia
quando não se pode quando não se deve
naquilo que não se quer
para fazer algo que se queira
quando já não há mais tempo de se fazer
fazer parte da humanidade:
ter que aparentar o normal
quando o normal é a doença
parecer com os parecidos
chafurdar na merda para ser aceito
e depois são preocupações e estresses
desesperos e crises de nervos
para poder viver em paz
fazer parte da humanidade:
cansar-se uma vida inteira
para poder enfim descansar
deixar de fazer o que se quis
para dizer que tem a vida que se quer
até tornar-se responsável
pelo sua máscara de parecer feliz
fazer parte...
meu Deus, quanta miséria!
menos mal
que se faz Arte
17 março 2019
Beethoven batendo na Porta
seja a justiça não-feita
esteja a justiça torta
por mais que se saiba
ninguém se importa
quer passe por rio podre
quer passe por mata morta
por mais que se mate
ninguém se importa
se não pulsa alma nos olhos
nem corre sangue na aorta
por mais que se morra
ninguém se importa
ninguém se importa
até que se escute as quatro notas
do princípio da Sinfonia Quinta
de Beethoven
a bater na sua porta
esteja a justiça torta
por mais que se saiba
ninguém se importa
quer passe por rio podre
quer passe por mata morta
por mais que se mate
ninguém se importa
se não pulsa alma nos olhos
nem corre sangue na aorta
por mais que se morra
ninguém se importa
ninguém se importa
até que se escute as quatro notas
do princípio da Sinfonia Quinta
de Beethoven
a bater na sua porta
15 março 2019
Um Desastre
as pessoas querem ser agradadas acariciadas justificadas
querem autoajudas que lhe digam que suas merdas
não fedem tanto
e que podem seguir cagando ad infinitum
até transbordar o planeta.
as pessoas querem ler coisas belas-bonitas
daquelas de se pendurar em paredes
como uma samambaia inofensiva
ou palavras-vassouras que varram seu próprio horror
para debaixo do tapete
que encobre sua miséria.
as pessoas querem palavras light
que podem ser digeridas-lidas durante banquetes
que não pesem nem no estômago nem na consciência.
as pessoas querem palavras legais-boazinhas
de sorrisinho humilde como mordomo de palácio
que entregam cartinhas e flores
em bandejas de ouro.
enfim, as pessoas até gostam
de escritores-poetas
desde que façam literatura de enfeite.
mas eu como sou um desastre
me bati contra a mesa
e derrubei todos os vasos.
querem autoajudas que lhe digam que suas merdas
não fedem tanto
e que podem seguir cagando ad infinitum
até transbordar o planeta.
as pessoas querem ler coisas belas-bonitas
daquelas de se pendurar em paredes
como uma samambaia inofensiva
ou palavras-vassouras que varram seu próprio horror
para debaixo do tapete
que encobre sua miséria.
as pessoas querem palavras light
que podem ser digeridas-lidas durante banquetes
que não pesem nem no estômago nem na consciência.
as pessoas querem palavras legais-boazinhas
de sorrisinho humilde como mordomo de palácio
que entregam cartinhas e flores
em bandejas de ouro.
enfim, as pessoas até gostam
de escritores-poetas
desde que façam literatura de enfeite.
mas eu como sou um desastre
me bati contra a mesa
e derrubei todos os vasos.
13 março 2019
Infame
I- ser poeta é estar enchendo a cara
no final da reta
ter chegado antes
e contemplar já bêbado
a chegada acabada e cágada
aos trancos e aos rastejos
do que resta dos humanos sãos
com seus saudáveis e vãos desejos
II- o verso é o outro caminho do paralelo ao fracasso
onde sopra uma vida de vento e uma alma sem aço
III- ser poeta é um ato infame e vil:
é perceber indiferente e indignado
olhando nos olhos de cada um e de mim
o quanto há de humano
e o quanto há de imbecil
no final da reta
ter chegado antes
e contemplar já bêbado
a chegada acabada e cágada
aos trancos e aos rastejos
do que resta dos humanos sãos
com seus saudáveis e vãos desejos
II- o verso é o outro caminho do paralelo ao fracasso
onde sopra uma vida de vento e uma alma sem aço
III- ser poeta é um ato infame e vil:
é perceber indiferente e indignado
olhando nos olhos de cada um e de mim
o quanto há de humano
e o quanto há de imbecil
11 março 2019
A Era da Superfície
I - época contraditória:
pessoas tão sentimentais
e insensíveis:
se emocionam. mas só com merdas:
choram pelo mocinho da novela
cagam para o massacre do que é vida
II – a tarefa do artista
é apenas ingrata e inútil:
atingir o sentimento humano (???)
é trabalhar cada vez mais com o nada
seja de seu seja de outros
III - de modo que o artista
que mais alcança o coração alheio
é o que melhor esgota o seu
pessoas tão sentimentais
e insensíveis:
se emocionam. mas só com merdas:
choram pelo mocinho da novela
cagam para o massacre do que é vida
II – a tarefa do artista
é apenas ingrata e inútil:
atingir o sentimento humano (???)
é trabalhar cada vez mais com o nada
seja de seu seja de outros
III - de modo que o artista
que mais alcança o coração alheio
é o que melhor esgota o seu
09 março 2019
Do Retorno dos Séculos
o fóton da tua luz
não fala porque vela
e flui por entre meu vale
e é lá por onde
o meu amor se esconde
meu verbo versa
porque se vaga em vento
e se ruma aos teus rumores
e é lá que sino
o teu sinal destino
meu sopro sobe
porque te ouve além
e se designa ao que te sinta
e é lá que me escuro
em teu dizer sussurro
atenta ao em torno
dos teus ares
que onde não estou
em meus olhares
meus versos te olham e te sentem
e febram em todos os lugares
não fala porque vela
e flui por entre meu vale
e é lá por onde
o meu amor se esconde
meu verbo versa
porque se vaga em vento
e se ruma aos teus rumores
e é lá que sino
o teu sinal destino
meu sopro sobe
porque te ouve além
e se designa ao que te sinta
e é lá que me escuro
em teu dizer sussurro
atenta ao em torno
dos teus ares
que onde não estou
em meus olhares
meus versos te olham e te sentem
e febram em todos os lugares
07 março 2019
Sobre o Sangue
construí meu verso sobre o sangue
era tudo o que me restava
derramado duro pela terra aberta
coagulado seco pelo pó da enxada:
deserticamente meu sangue escorre
construí meu verso sobre o sangue
era uma força que me obrigava
de água morta derramada escura
sangue visco-negro pela areia:
poluidamente meu sangue escorre
construí meu verso sobre o sangue
era meu destino que amaldiçoava
de seiva-lágrima em derramada queda
verde sangue de imensidão tombada:
devastadamente meu sangue escorre
construí meu verso sobre o sangue
era um cosmos que me massacrava
do guará atropelado ao horizonte
sangue vivo-lago derramado das estradas:
extintamente meu sangue escorre
construí meu verso sobre o sangue
era só meu sangue o que continuava
era tudo o que me restava
derramado duro pela terra aberta
coagulado seco pelo pó da enxada:
deserticamente meu sangue escorre
construí meu verso sobre o sangue
era uma força que me obrigava
de água morta derramada escura
sangue visco-negro pela areia:
poluidamente meu sangue escorre
construí meu verso sobre o sangue
era meu destino que amaldiçoava
de seiva-lágrima em derramada queda
verde sangue de imensidão tombada:
devastadamente meu sangue escorre
construí meu verso sobre o sangue
era um cosmos que me massacrava
do guará atropelado ao horizonte
sangue vivo-lago derramado das estradas:
extintamente meu sangue escorre
construí meu verso sobre o sangue
era só meu sangue o que continuava
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