Os
protestos e manifestações que se proliferam pelo Brasil é algo a se aplaudir e
apoiar. Sem dúvida, sou inteiramente a favor de que se proteste. Mas não sou
alguém que se deixa levar por entusiasmos. Todo entusiasmo tem algo de
ingenuidade. Estou ciente de que sou um chato pessimista desmancha-prazeres.
Principalmente quando o assunto é “evolução” da humanidade. Não sou dos
partidários de que esses protestos são um real começo de mudança no Brasil.
Para mim, constituem muito mais uma moda, uma onda, algo como
“maria-vai-com-as-outras”, não vejo tais manifestações como uma verdadeira
consequência de evolução da consciência do brasileiro. Pode ser que eu esteja
errado, é claro, mas deixarei meus argumentos.
Não consigo
ver nesses protestos um amadurecimento de consciência e de visão sociopolítica.
Começa que não há um direcionamento consciente às manifestações. Pelo que estão
protestando mesmo? Por tudo? Mas tudo o quê? Por exemplo: há protestos de
pessoas a favor PT e protestos de pessoas contra o PT. Não há nenhuma coerência
nos manifestantes. Não que tenham que ser 100% coerentes, mas deve, ou deveria
haver algum direcionamento, um sentido de combate. Será que todos sabem os
motivos dos seus protestos?
Parece-me
que cada um protesta por algo diferente, muitas vezes em sentidos opostos. Será
que não há manifestantes que estão ali apenas pela diversão de protestar, em
fazer um novo tipo de “festa”, para “dar uma mão à galera”, para fazer uma
bagunça que apareça na mídia, seja pela lado que for? Bem, ainda que os motivos
sejam esses, não deixa de ser válido, ainda assim é um protesto, e só o fato de
enfrentar as autoridades e os abusos dos policiais já é alguma coisa. Porém,
parece-me que falta algo, e algo essencial. Falta a consciência individual.
Falta algo semelhante ao que afirmou Fernando Pessoa, como Bernardo Soares, em
seu polêmico “O Livro do Desassossego”:
“Revolucionário ou reformador - o erro é o mesmo. Impotente
para dominar e reformar a sua própria atitude para com a vida, que é tudo, ou o
seu próprio ser, que é quase tudo, o homem foge para querer modificar os outros
e o mundo externo. Todo revolucionário, todo o reformador, é um evadido.
Combater é não ser capaz de combater-se. Reformar é não ter emenda
possível."
Não digo
para se concordar necessariamente com Fernando Pessoa, mas não há dúvida que aí
está um sério ponto a se refletir. Fora isso, creio ser interessante deixar
algumas questões:
- Há
pessoas protestando contra o governo do PT. Tudo bem, mas querem tirar o PT e
seus aliados para colocar o PSDB e seus aliados? Ou será que alguém tem alguma
ilusão de que saindo PT e Cia entrará qualquer outro partido que não PSDB e
Cia? E dos males o menor. O governo do PT é ruim? Tem muita merda nele, sem dúvida,
mas havia ainda mais no de FHC. Para não se dar conta disso só sendo ou um
desmemoriado ou um alienado completo alienado ou um direitista babaca endinheirado. O
PSDB e Cia representam da maneira mais perfeita todo o ranço das elites
brasileiras, o apoio à ditadura, ao colonialismo. Aqui em Santiago,
representado pelo PP. Sempre apoiados pelo poder financeiro e pela grande
mídia.
- Por que, então, não votam em outros partidos, nos partidos pequenos, que não têm dinheiro
nem apoio da mídia? É o que eu sempre fiz, muitos antes desses protestos. O
problema é que a garotada quer só votar “em quem pode ganhar”. Essa é a
verdade. Protestam, protestam, mas na hora de votar, votam sempre nos mesmos.
Querem o novo votando no velho. Acabam sempre convencidos pela mídia. Depois
reclamam. E protestam contra a mídia.
- Os que
estão protestando contra a Copa do Mundo irão depois assistir e vibrar com os
jogos tomando uma cervejinha?
- Por que
também não protestam contra os grupos de funk, contra o Michel Teló, contra o
sertanejo universitário? Será que ninguém percebe que são merdas desse tipo as
responsáveis pela atrofia mental e emocional dos brasileiros?
- Será que
os que protestam para que o governo dê mais verba para educação irão depois
apoiar os professores quando estes fazem greve, ou ficarão do lado da sociedade
em geral, que julga que os professores fazem greve “de barriga cheia” e que é
um crime contra seus filhinhos paralisar as aulas?
- E grande
parte desse pessoal todo que agora está se manifestando, daqui a algum tempo
estará onde? Lendo um livro, por exemplo, ou tomando cerveja na praia, ouvindo
sertanejo universitário, discutindo os novos modelos de carro, atropelando
animais nas estradas e planejando a próxima balada?
É por essas
e outras que não me deixo levar por entusiasmos. Como diria Machado de
Assis, “a esperança, esse demônio de olhos verdes...”
Além do
mais, governos sempre existirão, e governos quase sempre servem para oprimir. Aproveito para publicar um dos meus poemas sobre o assunto:
Contra Governos e Leis
e Autoridades
I
governo
é o empregado
pago e autorizado
por todo o povo
para mandar no povo
em benefício de alguns
que fazem do povo
um bando de nadas
e de nenhuns
II
lei
é estabelecer
que todos são iguais
desde que não
sejam os alguns
para que o povo
se iguale sempre ao povo
e jamais
se desiguale do seu nada
a lei é a ordem
e a ordem
é sempre se manter
dentro dos limitados
limites da estrada
III
autoridade
é o imbecil
escolhido entre imbecis
amparado por imbecis
aplaudido por imbecis
para tentar impedir
que os grandes
combatam os imbecis
(e acima de governo e lei)
ponham os pingos nos is
I
governo
é o empregado
pago e autorizado
por todo o povo
para mandar no povo
em benefício de alguns
que fazem do povo
um bando de nadas
e de nenhuns
II
lei
é estabelecer
que todos são iguais
desde que não
sejam os alguns
para que o povo
se iguale sempre ao povo
e jamais
se desiguale do seu nada
a lei é a ordem
e a ordem
é sempre se manter
dentro dos limitados
limites da estrada
III
autoridade
é o imbecil
escolhido entre imbecis
amparado por imbecis
aplaudido por imbecis
para tentar impedir
que os grandes
combatam os imbecis
(e acima de governo e lei)
ponham os pingos nos is