Transcrevo abaixo, na íntegra, a carta do leitor publicado no jornal Correio do Povo do dia 21 de maio de 2012, de autoria de Joice Colbeich, de Farroupilha.
"Gostaria de esclarecer aos milhares de leitores que leram as capas de todos os jornais do dia 18 de maio, nas quais está estampado que 90% dos professores são reprovados no concurso do magistério em 2012, que esse tão fatídico concurso tinha justamente este objetivo, de reprovar os professores em massa para arrastar pela lama o pouco brio que resta a essa classe tão sofrida e mostrar para a população que não são merecedores desse piso pelo qual têm lutado com tanto empenho, pois nem em um concurso conseguem passar.
Essa prova era dividida em cinco partes (português, legislação, conhecimentos pedagógicos, conhecimentos específicos e da área de formação), pois, para passar, o professor deveria acertar, no mínimo, 60% de cada um dos itens. Ou seja, poderia gabaritar todas as questões em quatro itens, porém se não conseguisse apenas uma questão em apenas um dos itens, estaria reprovado. Então, para passar, não bastaria saber 60% da prova. Há alguns colegas que acertaram 48 questões das 60 disponíveis no concurso e nem assim passaram."
Exato, Joice. Concordo contigo. O concurso do magistério tinha sim a intenção de reprovar o máximo possível. Eu fiz o concurso. E não estou concordando porque fui reprovado. Não, eu fui aprovado, e com boa nota, 9,1, acertando 52 das 60 questões. Porém, se eu tivesse errado uma só questão a mais, teria sido reprovado, mesmo ficando com a nota 9,0. Ou seja, é um absurdo alguém ser reprovado em um concurso que ficou com nota 9,0. Explico: na verdade, a parte de legislação contava com 25 questões, subdividida em direito constitucional e em legislação da área da educação. 10 e 15 questões, respectivamente. Gabaritei a primeira parte e acertei os exatos 60% da segunda. Se tivesse errado uma só questão, teria sido reprovado. Mas minha nota continuaria na casa dos 9,0, porque as questões que acertei tinham valor maior. Sei de pessoas que ficaram com nota acima de 8,0 e foram reprovadas.
E mais: 25 questões de 60 só sobre legislação? Para quê? De conhecimentos específicos eram apenas 10! Ou seja, um professor deve saber mais sobre legislação do que da sua própria área de conhecimento? Só pode ser piada. Ah, deve ser porque os professores devem conhecer muito legislação para depois poderem processar o governo do Estado por não estar CUMPRINDO COM A LEI que o OBRIGA a pagar o piso salarial. Cidadão fora da lei não pode, mas governo pode? Fora isso, não vou nem mencionar o fato de que a prova era extremamente cansativa e desgastante, com questões-textos gigantescas.
Juntando todos esses elementos, torna-se claro que o objetivo da SEC era a reprovação em massa. Para quê? Há vários motivos. Como disse a Joice, desmoralizar os professores um pouquinho mais, para tentar fazer eles ficarem quietos. E também para seguir com as contratações, pois um contratado recebe menos que um nomeado e possui menos direitos. E ainda para poder realizar um outro concurso com taxas de inscrição estratosféricas, como foi este último, e assim seguir enchendo os cofres do governo às custas do sacrifício do magistério.
Esse é o Brasil, que deseja ingressar no primeiro mundo. Não, antes vai ter que acertar, no mínimo, 60% de cada lição. A primeira delas: professor desvalorizado resulta em educação ruim. E educação ruim resulta em país de merda.