14 março 2012

Da Destruição

o que será
será quando o é deixar de ser
e ponto.
fazer-se tabula rasa
e brasa
da lavoura que deu em nada
e plantar do nada
a próxima lavra

já dizia Picasso
que criar é destruir no antes
limpar o terreno
para plantar-se um outro outro
que será pleno
quando houver
e quando ouvir
o que for som de adiantes

tempestade que varre o que é tarde
teu cheiro que sim sem alarde
joga ao não o que já (outra) era

tempestade que é o vir do que espera...

a destruição é a mão do que há-de
e há de surgir uma outra
outrora de (human)idade

12 março 2012

Do Erro

quanto mais me tento acertar
mais me alongo do acerto
se me aproximo me fito entre o longe
e na distância me visto de frio
como o poço que é sempre mais poço
quanto mais está vazio...
talvez porque o certo
não seja o que é acerto
nem o que mais perto

falo para um aquilo
que está num longe onde
e quando digo
é distante o que está comigo
é um sopro que ao não me responde
em que ego o meu eco ecoou pela Terra?
o que me ergue é o que me aterra...

errando pelo meu caminho
tornei-me o deus do que não sou
e matando-me  o espero
deixei minha morte
no alto do cerro:
acertei-me mais
quanto mais mirei no Erro...

11 março 2012

Coca e Pepsi possuem Substância Cancerígena

E alguém achava que não? Praticamente todos os produtos industrializados são potencialmente cancerígenos em maior ou menor grau. Não é à toa que o índice de cânceres é altíssimo em nossa civilização, e continua crescendo. 

A notícia foi divulgada semana passada na internet e em jornais, como no Correio do Povo de 10 de março, na página 11. A substância cancerígena é o 4-metilimidazol, presente no corante caramelo, (e também, pasmem, em agrotóxicos) utilizado em ambas as bebidas. Agora, nos EUA (no Brasil, não, pelo menos por enquanto), Coca e Pepsi terão que modificar suas fórmulas ou se submeter a colocar um alerta em suas embalagens informando sobre os riscos de câncer. O que é curioso é que desde criança eu leio que os corantes são substâncias potencialmente cancerígenas. Por que só agora reagiram a isso? E será que é só na Coca e na Pepsi que há substâncias cancerígenas?

Aliás, alguém já ouviu falar na dioxina? É outra substância cancerígena que é liberada pelas garrafas pet quando são congeladas e depois descongeladas para beber. Aliás, a dioxina é liberada por qualquer utensílio de plástico congelado ou que é colocado no forno micro-ondas. Mas ninguém fala nada sobre isso...

Porém, quanto ao 4-metilimidazol, ambas as empresas não estão querendo nem colocar alertas nem modificar a fórmula, aceitam apenas reduzir um pouco os níveis da substância.  Dizem que o risco de câncer é uma balela. É claro. Logo também irão dizer que Coca e Pepsi não têm nada a ver com o surgimento de osteoporose e diabetes. Ah, e que não engordam. 

09 março 2012

A Criança Degolada (FINAL)

Não obstante tanto horror, aquele rio mirífico permanecia com sua beleza intocada, com suas águas brilhantes e intensas, puras e cristalinas. E as matas do outro lado de suas margens continuavam exuberantes e intactas. Carregando aquela culpa absurda nas minhas costas, desejei sofregamente banhar-me naquelas águas, concender um alívio, ainda que momentâneo, à minha aflição. Porém, quando meu corpo se encontrava totalmente imerso no rio, percebi que algo saía pelos meus poros. Era sangue, sangue em uma profusão absurda. Toda a minha pele, desde a de meu rosto até a de meus pés, sangrava incessantemente. E o sangue que já havia sangrado parecia que se multiplicava em mais e mais sangue, numa progressão que ia ao infinito, até que em toda a extensão avistável do rio somente se avistava sangue em lugar de suas outrora límpidas águas.

E quando eu já não estava mais dentro do rio, em suas águas sanguinolentas, surgiram, boiando sobre o sangue, milhares e milhares de peixes, mortos, mal cheirosos, além de várias outras espécies de animais aquáticos, todos agonizantes. E ocorreu que as águas sangrentas passaram a transbordar e invadiram o lado do rio onde a mata permanecia viva e intacta. É desnecessário que eu diga que aquela água contaminada com meu sangue causou a morte quase instantânea de todas as plantas, árvores e demais seres que ali viviam.

Acabado, definitivamente acabado, parti daquele horror causado pela minha culposa presença. Caminhei até minhas pernas perderem as forças. Foi então que divisei extasiado a mais impressionante das visões. Uma planície que aparentava ser infinita, de uma tonalidade de um verde tão vívido que parecia inacreditável, e sobre ela um número incontável de animais das mais diversas espécies. Era algo como uma savana africana, das mais preservadas, das mais belas, porém, ia ainda além, de alguma forma inaudita que eu não saberia explicar. Sentei-me e contemplei aquele cenário quase onírico tocado pela mais profunda e sublime emoção. No entanto, decidi não ir até lá. Estava certo que a minha presença no local causaria alguma forma de catástrofe que acabaria por trazer à morte aos animais e destruiria a totalidade da beleza da planície.

E ali permaneci, observando atentamente, comovido com a visão de todos aqueles animais que conviviam de acordo com as leis do equilíbrio natural. E chorei. Porém, minhas lágrimas eram abundantes em demasia, absurdamente abundantes, e eu não conseguia controlá-las, o meu choro descia de forma infrene. Por mais que eu me esforçasse, não me era possível conter as lágrimas. De modo que elas se espalharam de tal maneira que desceram a colina onde eu me encontrava e atingiram a planície em que viviam os animais. E chegando lá, minhas lágrimas, as minhas lágrimas inflamadas de culpa, febrentas, exalaram algo como um vapor venenoso, fatal. E todos os animais morreram sufocados pela névoa maligna das minhas lágrimas. Todos! E o verde da planície transformou-se em um marrom desbotado e deprimente.

Destruído, absolutamente destruído, decidi retornar para a cidade. Durante o caminho de volta, inesperadamente, encontrei aquela que, acredito, era a mais bela das mulheres.  Ela caminhava em minha direção. Aparentava emitir algum tipo de luminosidade. Mas era apenas uma impressão minha, causada, creio, pelo meu estado doentio de exaltação psíquica diante de tão angélica mulher. Ela parou bem à minha frente, olhou fundo nos meus olhos, abraçou-me com um imenso calor humano e, por fim, beijou a minha boca com indizível paixão. E foi somente o instante de beijar. Em menos de um minuto, aquela mulher tão bela passou a sentir náuseas, fortes dores estomacais e golfejou algo como um sangue grosso com pedaços de vísceras liquefeitas. A princípio, o sangue era de um vermelho mórbido, mas foi se transformando em um espesso e viscoso líquido arroxeado. Por fim, já era completamente negro. E a mulher morreu ali, na minha frente. Esquálida, como se tivesse murchado de uma hora para outra, expelindo aquele líquido negro por todos os orifícios de seu organismo.

Morto, irremediavelmente morto, retornei à cidade e dirigi-me ao corpo da criança degolada. Ela ainda estava lá. Já apodrecendo, esverdeada, arroxeada. Vermes passeavam em seus olhos, em sua boca. O fedor já era insuportável. Sentei-me ao seu lado e ali permaneci. Como um idiota. No meu rosto, não havia a mínima expressão. Em minha alma, não se encontrava o menor sentimento. Todo o horror daquela criança ali degolada, e eu não sentia nada. Nada.

E foi com uma suprema indiferença que me dei por conta que aquela criança ali era a que eu fora. Ela era eu. E ela se suicidara.

(Na imagem, detalhe do tríptico, "O Jardim das Delícias" (asa esquerda), de Hieronymus Bosch.)
            

08 março 2012

A Criança Degolada

Encontrei seu cadáver ainda quente naquele beco escuro e imundo. Era um menino. Sua garganta fora cortada de um lado ao outro. O sangue ainda golfejava. Não devia ter que mais que sete anos de idade. Sua expressão angelical contrastava com o horror impiedoso do talho que estraçalhou sua laringe.  O beco e as ruas próximas ao local se encontravam completa e funestamente vazias. Ou, ao menos, assim aparentavam. Não havia nenhum sinal ou vestígio no local de que alguém havia ali estado e assassinado a criança. Nenhuma arma. Nada.

            Deixei o local absolutamente chocado. E sentindo-me mal. Não que isso não me fosse relativamente comum. Porém, sentia-me mal de uma maneira estranha, inquietante, anômala. Mas o mais curioso foi que todos passaram a me culpar pelo crime. Eu sabia disso. Que me culpariam. De início, foi um pressentimento intuitivo. Depois, conforme perambulava desolado pelas ruas mergulhadas no abismo da noite, pude observar pelas janelas das casas disformes centenas de olhares que me fitavam de maneira condenatória. Aqueles olhares emitiam alguma espécie sinistra de luz fosforescente que me transtornava. Permaneci, no entanto, caminhando sem rumo e sentindo o peso da culpa, de uma culpa que não era minha.

            O dia amanheceu com um sol enfermiço. Exausto, sentei-me em um gramado que mais parecia um pântano. Em questão de minutos, encontrei-me cercado por uma multidão de pessoas definitivamente horríveis, com expressões de absoluta crueldade em seus rostos carrancudos, monstruosos. Não pronunciavam uma só palavra. Porém, apontavam-me seus dedos indicadores, obviamente acusando-me daquele crime que eu não havia cometido. Uma velha repulsiva, sentada em um banco sob uma árvore retorcida, fitava-me com um sorriso maligno, enquanto lia O Processo, de Kafka.

            Mesmo com todo meu cansaço, ergui-me e saí às pressas daquele lugar deprimente. Dirigi-me à solidão do campo. Diante de mim, resplandeceu um magnífico prado absolutamente florido. Eram flores por todos os lados e de todas as cores, um espetáculo que eu jamais vira.  Elas subiam por colinas infinitas e pareciam que se prolongavam a um horizonte indefinido. Comovi-me diante de tão divina visão. Desejei intensamente caminhar por entre as flores, sentir seu inefável perfume, vivenciar um instante daquela paz inaudita. Porém, conforme eu caminhava, e as fitava, e aspirava seu aroma, e as acariciava, as flores, todas aquelas flores celestiais, murchavam, feneciam e secavam diante de mim. O perfume transformara-se em um fedor pungente. E as colinas agora cinzentas e sem vida transmitiam a impressão de um cenário de uma batalha. Desesperado, segui em frente.

            Mais adiante, novamente renasceu-me a esperança. Uma floresta gigantesca assomou-se imponente à minha frente. Árvores de um verde escuro extremamente vivo, imensas, deslumbrantes, que se perdiam por entre montes e vales que me assombravam. Algumas floridas, outras carregadas de frutos silvestres. Pássaros canoros revoavam e pousavam por entre a imensidão das árvores. Ao longe, eu podia escutar o som harmonioso de um rio com corredeiras e cachoeiras. Acelerei o passo e penetrei na floresta. Mas a cada passo meu por entre o interior da mata, centenas de árvores gigantes caiam simultaneamente, já sem folhas, completamente mortas, apodrecidas, fétidas, e com elas outras centenas de árvores menores e plantas diversas morriam em questão de poucos minutos. E aquelas aves tão belas, tão coloridas, cessavam subitamente seu canto e despencavam fulminadas. Eu ouvia o perturbador baque de sua queda no chão. Consegui, no entanto, atingir o rio.  Porém, quando olhei para trás, o que contemplei foi a mais absoluta devastação. Não restara uma só árvore, uma só planta, uma só ave. Apenas um lodo repugnante onde os galhos, troncos e pássaros apodreciam e afundavam. 

Amanhã, o final do conto.

(Na imagem, detalhe de "O Julgamento Final", de Hieronymus Bosch.)

07 março 2012

NASA anuncia que asteroide pode impactar a Terra. E Edgar Allan Poe.

Em 1839, Edgar Allan Poe escreveu um conto filosófico relativamente pouco conhecido, intitulado  A Palestra de Eiros e Charmion. O conto, como o nome indica desenvolvido em forma de diálogo, trata da aproximação de um astro fatal ao nosso planeta, que, mesmo não se chocando, foi ocasionando catástrofes e cataclismas apocalípticos que levaram ao fim a humanidade. Quem conhece a fundo a obra de Poe sabe de sua assombrosa capacidade de prever, compreender e desvendar os mais diversos fatos, adiantando-se a todos, indo muito além dos limites literários. 

Eu mesmo já escrevi vários contos que tratam da aproximação sinistra de astros diversos. Porém, é óbvio, sem a maestria de Poe. Dentro dos meus limites. Recentemente, o tema foi retratado no cinema através do sensacional e depressivo filme Melancolia, de Lars Von Trier.

Quem acompanha os noticiários científicos, percebe que de tempos em tempos, a NASA divulga alguns alertas e informações acerca de possíveis choques de asteroides. Cada vez mais reais e assustadores. Se eu dissesse que tais informações são algo como uma preparação de terreno para algo muito pior que eles sabem mas que não podem revelar para não causar pânico na população, seria tachado de louco ou coisa do tipo. 

A última notícia relacionada ao fato é a seguinte: Asteroide poderia impactar a Terra em 5 de fevereiro de 2040, assegura a NASA.  Clique sobre o link para saber mais. O curioso é que tais notícias são bem pouco divulgadas, não obstante se refiram ao futuro de toda a humanidade, de todo o planeta. Sei que saiu algo a respeito na página 26 da revista Isto É desta semana. Bem discretamente. Por que será? 

Para finalizar, deixo um trechinho do conto de Poe: 

"A catástrofe propriamente dita, como falaste, era por completo imprevista; mas desgraças análogas foram, por longo tempo, objeto de discussão entre os astrônomos."

06 março 2012

Hidrelétricas estão acabando com os peixes da Amazônia

Prossigo com as boas notícias que acalantam a esperança da humanidade. Como já sabem os amigos leitores, nem comentarei nada, é a notícia, com sua fonte, e ponto final.


Peixes do Madeira desaparecem como os cientistas previram. Depois vem Belo Monte.


"Os peixes do rio Madeira estão desaparecendo. E as causas desse desaparecimento são sistêmicas, consequência de uma grande intervenção humana no ecossistema do rio, que os cientistas haviam previsto que teria impacto dramático sobre a população de peixes. E é isso que está ocorrendo neste momento, como revelou a “Folha de S.Paulo” em sua edição de 8/1 : os peixes do rio Madeira já sumiram na região do lago da hidrelétrica de Santo Antônio; outra hidrelétrica está em construção, chamada Jirau, com danos cumulativos previstos há pelo menos seis anos.
As decisões que levaram ao desaparecimento da população de peixes do rio Madeira foram tema de discussão longa nos anos anteriores, com envolvimento de inúmeros cientistas especializados em clima, em hidrografia e ictiologia (estudo dos peixes) e o que está acontecendo foi previsto naqueles relatórios, mas o presidente da República e a ministra da Casa Civil mandaram atropelar os estudos e tocar as obras.
 De todos os rios deste planeta, em todos os países de todos os continentes, o rio Madeira é o 17º maior. E os seus peixes estão desaparecendo como mostrou a “Folha de S.Paulo” no domingo, 8/1. A causa dessa destruição foi a decisão do governo brasileiro de construir duas grandes hidrelétricas naquele rio sem levar em consideração os relatórios ambientais que alertavam para o risco de que a obra poderia dizimar a fauna do rio e por consequência toda a economia formada naquela região da Amazônia em torno da pesca artesanal.
 O rio Madeira é um dos afluentes do rio Amazonas, com uma fauna tão peculiar e rica que é dos únicos rios do mundo de que se pode dizer que tinha uma espécie animal rara completamente exclusiva de suas águas: o boto vermelho do rio Madeira. Sobre essa espécie, ameaçada, ainda não há estudos sobre o que aconteceu nos últimos meses. Mas o jornal revelou em sua reportagem do dia 8 que se inviabilizou a pesca dedicada a uns tantos tipos de peixe (chamados genericamente de “bagres”), que gerava 29 mil toneladas/ano de pescados. São estes peixes que “sumiram” segundo o relato dos pescadores ao jornal. Esta atividade econômica acabou.”

04 março 2012

Aquilo que nem quero dizer

quando digo que digo
nem há alguma coisa dita
não me procure razões
naquilo que nem quero dizer
que uma palavra real
não vale a pena o ser da escrita
não me procure lições
naquilo que nem quis estar
ainda que se diga coisa alguma
tudo do que é humano
permanecerá sendo o que é
pela miséria da bruma

deixa este verso não ser nada
uma realidade fora além inexistente
distante  de tudo o que é
(e o que é que é?)
nem dito para
nem feito por
gente
por que haver aqui qualquer verdade
qualquer filosofia
ou alguma fé
no existente?

não procure aqui uma mensagem
não queira saber se estou certo
há tanto outro tanto
eu mesmo sou outra imagem
do que nunca se irá sonhar
então que isso não passe
de uma canção sem letra
ou de um suspiro que descansa
ou que  se cansa
pelo lago alado do ar
pelo lado amargo da dança...

deixa este verso bem longe
de tudo que se aproxima da vida
que minha mensagem
não passe de passagem
para  ao lá do que me esconde
e deixe aqui minha alma
abismada
mas erguida

02 março 2012

O Fatal do que é Limite

desde aquele auge do sol
que é só o momento de o ser
e tudo o mais é passo à noite...

desde aquele auge instante
é descida que abisma no adiante
ao movimento lento
que te não sustento
desde a queda treva
do fechar cadente
do silente da pálpebra
desde o que é céu
ao que é trágica

desde aquele alento forte
denso intenso vasto
em esperança carregado
( aquele alento forte)
aquele alento último
que precede a morte

desde aquele alento-ápice
desde o fatal do que é limite
o calor que gera a tempestade
o antes do que se decide

o passar ao outro lado
do ponto que é o mais alto
o abaixo do que foi montanha
o balão cujo limite estoura
o reverso do que reluz e doura

a finitude exalando sinais
o não se poder mais
o destino de tudo que sobe
o preço batendo na porta
a gordura entupindo a aorta
aquilo tudo
de que não se pode ir além
o deixar de ser
e o inverso que vem...


29 fevereiro 2012

Amianto: "O produto industrial que mais mortes vai causar na história da humanidade”.

O leitor sabe o que é amianto? É um produto industrial altamente prejudicial à saúde. É o principal material da maior parte das construções. O problema é que a grande maioria das pessoas desconhece onde ele é encontrado.  Já foi proibido na maioria dos países desenvolvidos, embora continue sendo usado. Atualmente, ameaça em maior escala a população dos países mais pobres .  Sabiam que o Brasil é um dos maiores produtores mundiais de amianto?

Francisco Puche, membro da organização Ecologistas em Ação, editor, escritor, que faz parte da Federação Nacional de Vítimas do Amianto, explica que "já existiram até três mil produtos de diferentes tamanhos e condições que continham amianto."

A exposição ao amianto atualmente pode ser ocupacional, doméstica ou ambiental. Em um estudo publicado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), no ano de 2006, estimava-se em cem mil o número de pessoas que morrem por ano no mundo como consequência da exposição ao amianto.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), em um relatório realizado em 2010, assegurava que no mundo há cerca de 125 milhões de pessoas expostas ao amianto no local de trabalho e, segundo cálculos desta organização, a exposição laboral causa mais de 110 mil mortes anuais por causa de câncer de pulmão relacionadas com esse material. 

Câncer de pulmão. O curioso é que no Brasil culpa-se apenas o cigarro pelos casos de câncer de pulmão. Por que ninguém fala nada sobre o amianto? Por que tais dados não são divulgados para a população em geral? Ah, creio que é porque o Brasil quer se desenvolver a qualquer custo. E, para tanto, amianto não pode faltar.

Além disso, afirmava o relatório, um terço das mortes por causa de câncer de origem laboral são causadas pelo amianto. Para Puche, o amianto é "talvez o produto industrial que mais mortes vai causar na história da humanidade”.

Segundo a Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (Abrea), o mineral é utilizado em quase 3 mil produtos industriais, como telhas e caixas d'água. O baixo custo do produto e sua alta resistência favorecem o consumo.

Outra das arbitrariedades que se cometem, diz o ecologista e escritor, é que "países onde seu uso é proibido, como no Canadá, o amianto é extraído mas não consumido, sendo exportado para outros para que o transformem. 

"Costuma-se assegurar que o amianto não prejudica mais a saúde, mas isso não é verdade, porque constantemente ele está sendo quebrado ou manipulado e, como por cada 12 milímetros de largura de uma placa pode sair um milhão de fibras que podem ser inaladas, se torna um enorme risco cancerígeno. Há gente que com uma dose muito pequena pode contrair câncer de pulmão depois de 30 ou 40 anos.

Fonte: Blog Terra Brasilis

28 fevereiro 2012

O que é que se Espaço?

se uma palavra que fora
a que palavra que volta?
que lavra me trará
em suas pancadas na porta?

o que é que é o destino
que se destina no que digo?
o que é que me entrego
naquilo que verbo?

se alada um adejo
no meu verso
em que me beijo?
ave algum canto
pelo segredo
em que não sei
do que certo?

quem foi que me trago
isso que deixo?
quem foi que me fez
ser que não eu?

que preço que pago
pelo sopro que largo?
e daquilo que sinto
o que é que é meu?

quem é que me sonha
lá no que falto?
que deus que não sei
me não sabe e por quem?
que fim e que som e que luz e que alto?
o que é que me vem?

se o espaço é curvo
o que é que é a volta?
eu espero o meu verso
vir partir na minha porta...

26 fevereiro 2012

"Dever a vida a um malfeitor..."

Hoje, comemoramos 210 anos de Victor Hugo,  o gênio literário que criou umas das maiores obras-primas da literatura universal, "Os Miseráveis", monumental romance profundamente humano, no sentido mais amplo da palavra. Em homenagem ao grande gênio francês, deixo um trecho de "Os Miseráveis", em que Javert, o rígido, o corretíssimo e cego pelo cumprimento da lei, o policial Javert, acaba devendo a salvação de sua vida a um condenado pela própria lei, o inesquecível Jean Valjean. Que Javert tinha obrigação de prender. O trecho abaixo é uma pungente reflexão sobre o que seria a lei e o que seria a justiça, entre o que é correto e o que é justo. Seriam a mesma coisa? O que é a lei? O que é a justiça?

"Dever a vida a um malfeitor, reconhecer esta dívida e pagá-la. (...) Sacrificar a motivos pessoais o dever, que é uma obrigação geral; atraiçoar a sociedade para se considerar fiel à consciência. 
(...)
Havia uma coisa que lhe causara pasmo - o ter-lhe Jean Valjean o perdoado; e outra que lhe petrificara - o ter ele perdoado Jean Valjean.
Que deveria então fazer? Entregar Jean Valjean era mal feito. Deixar Jean Valjean em liberdade era mal feito também. No primeiro caso, caía o homem da autoridade mais abaixo do que o homem da galé. No segundo caso era a lei pisada por um forçado, que se elevava acima dela. Em todas as resoluções que pudesse adotar havia queda.
O que acabara de fazer lhe causava calafrios. Tinha ele, Javert, achado bom o decidir, contra todos os regulamentos de polícia, contra toda a organização social e judicial, contra o código inteiro, a soltura de um preso; sobrepusera os seus próprios interesses aos interesses públicos.
(...)
Não era uma coisa medonha que Javert e Jean Valjean, o homem nascido para empregar o rigor, e o homem nascido para o suportar, que eram um e outro propriedade da lei, chegassem ao ponto de se colocarem acima dela! 
(...)
Jean Valjean desnorteava-o. A generosidade de Jean Valjean para com ele esmagava-o. (...) Um malfeitor benfazejo, um forçado compadecido, clemente, pagando o mal com o bem, dando o perdão em troca do ódio, antepondo a piedade à vingança, preferindo perder-se a perder o seu inimigo, salvando aquele que o ferira, mais vizinho do anjo do que do homem. Javert via-se constrangido a confessar a existência de um tal monstro. "

24 fevereiro 2012

Do Meu Nome

o meu nome quando é dito
(e quem há dito
que meu nome alguma vez
bem dito?)
nunca se sonora como sendo
quando dizem que sou eu
ninguém a mim
me entendo

e quando dizem que não sou
se contradizem em assim mesmo
porque ao dizê-lo o não
o meu ser já é o som

o meu nome é aquilo que não-trilho
um passo dado ao nada e ao brilho
um sim subindo pelo não dizendo

o meu nome é aquilo que não-lendo
palavra nada
na última página
de um livro de vento

o meu nome
é como se fosse o como...
e como
é que se pode vir do vago?...

do meu nome
não se diz nem do que é céu
mas dirão que digo do meu eu...
ledo engano...
mas só quando advir o dano
lerão que sou
mas...
eu não-eu.

23 fevereiro 2012

Não há Nenhuma


não há alguma nem nenhuma
nem há outra (outro)
ou alternativa
nem do lado de cá
nem no que está por lá
nem daqui para ali
e vice-versa
nem de ti para mim
nem de si para si
há o que se versa
há talvez a volta vasta
velha vaga branca
curva reta manca
ou largo lago claro
talvez um som um sem um não
um voo um vão um raro
palavra em nota e tinta
há o note o pague o sinta
mas nenhuma ou alguma
não há
seja em gota ou em pá
há o que não é
e o jamais do que se veja
há o além do nada
e talvez o Nada Seja...