fazer parte da humanidade
ser obrigado por lei
a viver de acordo com a lei
a lei que foi acordada por outros
sem que você participasse do acordo
fazer parte da humanidade
ter que trabalhar quando não se quer
quando não se pode
quando não se deve
naquilo que não se quer
para fazer algo que se queira
fazer parte da humanidade
ter que aparentar o normal
parecer como os parecidos
aceitar para ser aceito
e depois se preocupar
se enervar se estressar se matar
para poder viver em paz
fazer parte da humanidade
passar a vida inteira cansado
para poder enfim descansar
deixar de fazer o que se quer
para dizer que tem a vida que se quis
e ter que ser responsável
para assumir a responsabilidade
de que se é infeliz
fazer parte...
meu Deus, quanta miséria!
ainda bem
que se faz Arte
21 maio 2018
19 maio 2018
Quando Música
I - o bom da música (quando música)
não é que ela pode dizer tudo sem dizer nada
é que ela diz o que se quer
sem ser coisa explícita ou explicada
II - o bom da palavra
é que se eu quero dizer fúria
eu digo fúria
e se eu quiser dizer vida
eu digo nada
III - o bom da ironia
é que ela debocha
mas não traz alegria
é que ela faz graça
mas não é coisa engraçada
não é que ela pode dizer tudo sem dizer nada
é que ela diz o que se quer
sem ser coisa explícita ou explicada
II - o bom da palavra
é que se eu quero dizer fúria
eu digo fúria
e se eu quiser dizer vida
eu digo nada
III - o bom da ironia
é que ela debocha
mas não traz alegria
é que ela faz graça
mas não é coisa engraçada
17 maio 2018
Sol, vai dormir!
Sol, poupa-te , não te sejas...
para que fazer que acordem
os que não ouvem teus acordes?
mulambentas múmias humanas
marionetes mancas mecânicas
aquelas
no que resta
do que nem são elas
entre poeiras e esteiras
um buraco em meio às telas
dos seus vazios inchados de nadas
aos sorrisos das vidas falhadas
enfeites entre as duas orelhas
intervalos das cabeças
retrocedidas retorcidas retardadas
Sol, para que iluminas?
que luz entrará
pelos porões de ratos
( inúteis fúteis trabalhos)
dos humanos corações?
o coração...
este músculo gorduroso
entre estúpidos pulmões
Sol, pra que acordas essa gente?
aqueles olhares
(restos hospitalares)
de almas que se lepraram
e roeram seus próprios dentes
Sol, basta de clarear
o fundo da nossa decepção
deixa-nos e vai além
para que nascer para todos
se o todos inclusive eu
não somos nada nem ninguém?
para que fazer que acordem
os que não ouvem teus acordes?
mulambentas múmias humanas
marionetes mancas mecânicas
aquelas
no que resta
do que nem são elas
entre poeiras e esteiras
um buraco em meio às telas
dos seus vazios inchados de nadas
aos sorrisos das vidas falhadas
enfeites entre as duas orelhas
intervalos das cabeças
retrocedidas retorcidas retardadas
Sol, para que iluminas?
que luz entrará
pelos porões de ratos
( inúteis fúteis trabalhos)
dos humanos corações?
o coração...
este músculo gorduroso
entre estúpidos pulmões
Sol, pra que acordas essa gente?
aqueles olhares
(restos hospitalares)
de almas que se lepraram
e roeram seus próprios dentes
Sol, basta de clarear
o fundo da nossa decepção
deixa-nos e vai além
para que nascer para todos
se o todos inclusive eu
não somos nada nem ninguém?
14 maio 2018
Tornado
Tornado que retorna eterno à minha torre
se contorce entre o interno teu olhar em torno
e que em (re)volta sopra o que trovoa os nervos
como ciclone-valsa a me voltear em sangue
a tornear infernos como vertigem-corvo
em beethoven-raios do que revolto venta
vendaval tormenta que me tornei de novo
momento denso do que me atormenta o tempo
na trompa do que sinto a respingar de vinho:
e na outra vez que de em revolta vieres torno
à
torre de retorno eterno que me hei Tornado...
se contorce entre o interno teu olhar em torno
e que em (re)volta sopra o que trovoa os nervos
como ciclone-valsa a me voltear em sangue
a tornear infernos como vertigem-corvo
em beethoven-raios do que revolto venta
vendaval tormenta que me tornei de novo
momento denso do que me atormenta o tempo
na trompa do que sinto a respingar de vinho:
e na outra vez que de em revolta vieres torno
à
torre de retorno eterno que me hei Tornado...
11 maio 2018
Música ouvida entre o antigo e o moderno
melodia do que me ias
(quando era nos meio dias)
e agora é minha companhia
a esta matilha de finais
quanto mais eu quando convosco
eu restrinjo-me ao que me afrio
melodia de astro e foice
fogo-fátuo que me assinais
melodia do que me entarde
sois som que vos busca e me mata
sois rosa esmagada entre o ver-me
fostes ar que não mais brilhais
melodia do que me ocaso
sois voz em silêncio e desprezo
sois sino que flauta ao que beijo
(não melodia: melonoite)
entre Poe e seu Nunca Mais
(quando era nos meio dias)
e agora é minha companhia
a esta matilha de finais
quanto mais eu quando convosco
eu restrinjo-me ao que me afrio
melodia de astro e foice
fogo-fátuo que me assinais
melodia do que me entarde
sois som que vos busca e me mata
sois rosa esmagada entre o ver-me
fostes ar que não mais brilhais
melodia do que me ocaso
sois voz em silêncio e desprezo
sois sino que flauta ao que beijo
(não melodia: melonoite)
entre Poe e seu Nunca Mais
09 maio 2018
Manchetes (anti)Poéticas para os Jornais Contemporâneos (ou Contemporários)
I – O Ministério da Saúde adverte:
quem pensa não é feliz.
Mas se for pensar, não escreva.
Se for escrever, não pense.
II – Robôs quase humanos
são desenvolvidos para tomar o lugar
de humanos quase robôs
e vice-versa
III – Extra! Um modelo de carro a mais
e uma espécie de bicho a menos
IV – Nova descoberta da ciência
causa nova encoberta da consciência
V – Tecnologias de última geração
condenam espécies à sua última geração
VI– Seção Autoajuda:
para conhecer o valor do Bem
possua um bem de Valor
quem pensa não é feliz.
Mas se for pensar, não escreva.
Se for escrever, não pense.
II – Robôs quase humanos
são desenvolvidos para tomar o lugar
de humanos quase robôs
e vice-versa
III – Extra! Um modelo de carro a mais
e uma espécie de bicho a menos
IV – Nova descoberta da ciência
causa nova encoberta da consciência
V – Tecnologias de última geração
condenam espécies à sua última geração
VI– Seção Autoajuda:
para conhecer o valor do Bem
possua um bem de Valor
07 maio 2018
Uma Lenda e um Tributo a Brahms
Hoje, 185 anos de Johannes Brahms, um dos maiores gênios que já existiram. Exemplo de arte e de vida. Meu compositor favorito. Em 2009, escrevi o conto que segue em homenagem ao gênio musical de Brahms e à sua influência sobre minha vida. Em 2013, reelaborei e republiquei o conto. Agora, publico-o novamente:
É manhã. E caminho pelo campo a descobrir o que é que me observa. E o campo é verde, vivo e vasto. Alguém, algo, algum ser, de forma permanente e misteriosa, oculto sob o invisível, vigia-me cheio de presságios... É aurora e o sol sobe como quem canta. E a aurora é bela e fria. No céu imensamente azul, no céu estranhamente azul, uma grande ave paira sobre meus sonhos. É ela que me observa? Porém quem é que toca a Sinfonia nº. 1 de Brahms? Sim, porque vibra essa obra em meus tímpanos, porém não sei de onde ela nasce.
Dos grandes e roxos olhos da ave eu fito a saudade. E a ave parte ao longe sob o sol que brilha e assim percebo que não é ela que me observa. Sol que brilha como quem ama. Imperador , doador da vida, que também mantém fixo seus olhos de luz, fogo e raio sobre minha consciência. Mas não é ele que me observa. À medida que caminho por entre flores e enxames de borboletas, vejo que o astro solar ascende entre o que existe, cintila sobre a tranquilidade escura e iminente das folhas ancestrais das árvores das matas que avisto na distância do meu desejo. E a cintilar nas árvores fêminas, o sol proclama com cristalinas trombetas que não é ele que me observa, porque ele somente o faz durante o dia, e quem me observa o fará eternamente... Porém quem é que toca o concerto para piano nº. 2 de Brahms? Sim, porque vibra essa obra em meus tímpanos, mas não sei de onde ela nasce.
Vem uma névoa do onde não é. Névoa densa e fria e longa e bela. Um céu nublado que amorteceu a luz solar. E o sol se mortifica em benefício à sombra. Um gelado estremecimento anímico traz consigo um inconcebível enigma... Que almas são aquelas que diviso flutuando invisíveis por entre a neblina? Que dança de espectros assoma solene ascendendo em alto cedro negro. Espíritos brancos e céleres valsam em perfeito equilíbrio e simetria e miram meus olhos, mas não são eles que me observam, apesar de tão fantástico espetáculo. Quem é que berra dentro do bosque? Bosque em sonhos, sombrio. Contudo não sou eu que sonho. Porém quem é que toca o Trio para piano, violino e violoncelo n°1de Brahms? Sim, porque vibra essa obra em meus tímpanos, mas não sei de onde ela nasce.
É Tarde. Sinto que parte minha inspiração, ainda que permaneça ouvindo tantos gritos e grunhidos e rugidos e urros e gemidos e lamentos e murmúrios e sussurros que caem e sobem, que vão e voltam, que voam e brilham, que crescem e morrem, que dançam e beijam na tarde em névoa da mata inaudita. E sei que não são essas coisas que me observam. Há segredos e arcanos inacessíveis por trás de tão largo labirinto. Porém, quem é que toca o quarteto para piano e cordas nº. 3 de Brahms? Sim, porque vibra essa obra em meus tímpanos, mas não sei de onde ela nasce.
Correu por entre o tenso um gato-do-mato. Dizem que há algo que não é nos olhos dos felinos. Escondeu-se atrás de um cipreste. Que nuvens etéreas se evolam daquele cipreste, carregadas de intensa paixão desesperada?... No entanto, a paixão não é minha. Talvez eu perca minha paixão. Sei que a vertigem em um dos galhos do cipreste mergulha na emotividade psíquica daquelas nuvens vermelhas que não sei de onde caem. Só sei que não existem ciprestes em nossas matas nativas... Portanto, não é nem o gato nem o cipreste que me observam. E nem mesmo aquele seres inclassificáveis que agora cruzam montados em lobos-guarás. Porque eu os conheço. Avistando as longínquas colinas e coxilhas longas e adormecidas sob as nuvens densas, tensas, nervosas e carregadas, eu sei que não é ele. Seu sorriso lembra algo absolutamente familiar. Eu, um cavaleiro de uma coroa perdida há muitos séculos, eu, um nada absoluto, fitando os cavalos e as ovelhas pastarem ao longe... Sei que não pode ser ele. Porém, quem é que toca o Concerto para Violino de Brahms Op.77 de Brahms? Sim, porque vibra essa obra em meus tímpanos, mas não sei de onde ela nasce.
Inverno magnífico e trágico! Vejo teus olhos com febre nos horizontes. Olhos que choram e sangram lilases. Talvez sejam eles que me observam. Talvez eu esteja atingindo o ápice do segredo, o auge de todos os enigmas e mistérios... Mas não... O que é que importa? Porém quem é que toca o Quarteto para Cordas n°1 de Brahms? Sim, porque vibra essa obra em meus tímpanos, mas não sei de onde ela nasce.
A névoa se dissipa. Meu coração se acalma e segue batendo lento, muito lento, sublimemente lento, canhestramente lento. Já que não sou mais eu. Sou talvez uma possibilidade de fuga. Aqueles perfumes balsâmicos dos pântanos e arbustos já assombrados e alarmados surgem melancólicos, enquanto o sol asfixiado em incensos desmaia cantando no chumbo, no verde, no roxo do céu de ocaso. Simultaneamente, aos berros de sapos, uma lua titânica surge em plenilúnio, carregada, fantasmagórica, ascendendo rápido por entre invisibilidades e nimbos. Inauditamente amarela e dourada. Uma lua noturna nasce triunfante e pungente. Quantos anseios e ânsias, e desejos e sonhos cavalgam com ela naquele conhecido dramático tropel? E quem é que me observa? E quantos fantasmas violinam no crepúsculo tardio que avança? E quantos seres que não sei que seres dançam nas nuvens avermelhadas, arroxeadas, acinzentadas e inflamadas na noite que ainda não é? Que Dança Fatal é esta que me inquieta e perturba? Divina ou demoníaca? Porém quem é que toca o Quinteto op. 34 de Brahms? Sim, porque vibra essa obra em meus tímpanos, mas não sei de onde ela nasce.
E aquela lua onírica que me observa? E aquela lua de vinho? E aquela noite em que te amo? E aquela coruja? Aquela noite sangrenta... Aquela lua de lábio... Aquelas estrelas de Eros... Aquele longe de alma... Aquele vento de olhos... Aqueles astros pagãos... Aquela noite que é tua. Mas não é ela que me vigia, que me contempla, que me observa. Aquela lua não é a lua. Aquela lua é um sinal, talvez Trono, talvez Virtude. Talvez Deusa-Mãe. E dela goteja o que sonhei. Grotescos sentimentos. Gotejam olhos e tristezas de distante. Existências que se calamitam. Coisas rubras ao redor das árvores se abraçam com as minhas aspirações inexistentes, estranhamente velhas, nunca-vistamente verdes. E quem é que me observa? Porém quem é que toca o Réquiem Op.45 de Brahms. Sim, porque vibra essa obra em meus tímpanos, mas não sei de onde ela nasce.
Ainda não é noite, é quase. Subindo, eu fito a noite se menstruando de onde partem sussurros e músicas em surdina, e cantos de despedaçados espíritos, e sonhos de amores fatais, febres de inflamações cardíacas, tragédias de sublimes arquétipos do espaço infinito, da eternidade que assombra, de beijos sanguíneos na boca, na língua, que pairam nos dilacerados outonos entristecidos. Vejo olhos em todos os cantos, em todos os rios, em todas as matas, em todos os céus, em todos os seres! Quem é que me observa? E quem é que toca Brahms? Quem é que toca Brahms numa tormenta apocalíptica, a febre de Brahms, a fúria de Brahms, o sonho de Brahms! Quem é que toca Brahms, quem é que me observa? A Tristeza? A Tragédia? A Paz? A Força? A Paixão? A Tempestade? De Brahms? Que jamais se rende, que jamais se verga, que jamais se entrega!
Sim, porque vibra a Sinfonia nº. 4 de Brahms em meus tímpanos, e agora eu sei de onde ela nasce... É tu que tocas, é tu que me observas...
É Noite. E pela primeira vez sinto medo, pois estou no escuro da Noite e sei que é tu que me observas... Eu sigo meu caminho, olhando-te, somente com a lâmpada daquela nota em dó menor...
Uma
05 maio 2018
Explicações
não me explico.
por que deveria dar um motivo?
reservo-me o indizível direito
(com o que faço
só eu devo estar satisfeito)
de dizer-me ou não:
se for pelo sentir mais alto
(ou sonho que me tomou de assalto)
de meu eu me desdigo
que nunca falo do meu falo
e não sou meu próprio umbigo
as palavras são asas veladas
que não tenho e que sustenho
sem ter que ter no meu chão
(só a mim interessa o meu não)
algo de lago sobre o mar
e o lento da morte ante o luto
sempre em segredo a te olhar
a minha palavra é longo longe de mim
e por outra maior estrada
se eu tivesse que explicar tudo
melhor seria não dizer nada
por que deveria dar um motivo?
reservo-me o indizível direito
(com o que faço
só eu devo estar satisfeito)
de dizer-me ou não:
se for pelo sentir mais alto
(ou sonho que me tomou de assalto)
de meu eu me desdigo
que nunca falo do meu falo
e não sou meu próprio umbigo
as palavras são asas veladas
que não tenho e que sustenho
sem ter que ter no meu chão
(só a mim interessa o meu não)
algo de lago sobre o mar
e o lento da morte ante o luto
sempre em segredo a te olhar
a minha palavra é longo longe de mim
e por outra maior estrada
se eu tivesse que explicar tudo
melhor seria não dizer nada
03 maio 2018
Maldição
não sei nunca saberei por que escrevo.
não há nada que eu ganhe no que faço
nem dinheiro nem glória nem abraço
nem curo meu mal e em nada me inscrevo
talvez seja assim meu último credo
único som que deixo como rastro
único sangue a valer meu cansaço
única forma em que sou meu segredo
vale tanto porque não vale nada:
o que vale não merece seu preço
só vale a vida que nos é não dada
escrever é conhecer que me esqueço
sentir o não-ser da vida alcançada
em que serei morto e em que permaneço
não há nada que eu ganhe no que faço
nem dinheiro nem glória nem abraço
nem curo meu mal e em nada me inscrevo
talvez seja assim meu último credo
único som que deixo como rastro
único sangue a valer meu cansaço
única forma em que sou meu segredo
vale tanto porque não vale nada:
o que vale não merece seu preço
só vale a vida que nos é não dada
escrever é conhecer que me esqueço
sentir o não-ser da vida alcançada
em que serei morto e em que permaneço
30 abril 2018
Não Fazer Nada da Vida
quando eles te perguntam:
"O que você faz da vida?"
eles não querem saber o que tu fazes da vida
eles nem sabem de que vida falam
e nem o que é vida
eles só querem saber no que tu trabalhas
e nem tanto pelo trabalho em si
mas por quanto de dinheiro tu ganhas
e por qual a importância que tu tens
e não tanto pela importância em si
mas pelo importância que te acham como tendo
quando eles te perguntam:
"O que você faz da vida?"
tu poderias (por que não?) responder:
eu leio romances
eu escuto música
eu falo com animais
eu caminho pelos campos
eu toco violão
eu cuido do quintal
eu escrevo poemas
eu assisto a filmes
eu descubro sobre coisas
eu converso com amigos
eu procuro mistérios
eu viajo
eu sonho
eu amo
(...)
se tu responderes assim
eles dirão que tu és um vagabundo
e que não fazes nada da vida
mas são eles que não fazem nada da vida.
"O que você faz da vida?"
eles não querem saber o que tu fazes da vida
eles nem sabem de que vida falam
e nem o que é vida
eles só querem saber no que tu trabalhas
e nem tanto pelo trabalho em si
mas por quanto de dinheiro tu ganhas
e por qual a importância que tu tens
e não tanto pela importância em si
mas pelo importância que te acham como tendo
quando eles te perguntam:
"O que você faz da vida?"
tu poderias (por que não?) responder:
eu leio romances
eu escuto música
eu falo com animais
eu caminho pelos campos
eu toco violão
eu cuido do quintal
eu escrevo poemas
eu assisto a filmes
eu descubro sobre coisas
eu converso com amigos
eu procuro mistérios
eu viajo
eu sonho
eu amo
(...)
se tu responderes assim
eles dirão que tu és um vagabundo
e que não fazes nada da vida
mas são eles que não fazem nada da vida.
28 abril 2018
Tarde
sou eu que tardo no que sinto
ou é o campo que se nubla com meu sangue
seco e indistinto?
noite que te atrás
o que é que tu me trazes?
e que olho de horizonte
me olha desde o ontem
entre o que vento
e o que silêncio do monte?
sendo humano não posso nada:
só as aves é que auroram dias
só as árvores é que longinquam estradas
sou o que vejo
quando me sinto no que som
e o que não sou
está sendo no que fiz
e o que não fiz
estava feito no que sou
ou é o campo que se nubla com meu sangue
seco e indistinto?
noite que te atrás
o que é que tu me trazes?
e que olho de horizonte
me olha desde o ontem
entre o que vento
e o que silêncio do monte?
sendo humano não posso nada:
só as aves é que auroram dias
só as árvores é que longinquam estradas
sou o que vejo
quando me sinto no que som
e o que não sou
está sendo no que fiz
e o que não fiz
estava feito no que sou
26 abril 2018
Final da Reta
I- ser poeta é estar enchendo a cara
no final da reta
ter chegado antes
e contemplar já bêbado
a chegada acabada e cágada
aos trancos e aos rastejos
do que resta dos humanos sãos
com seus saudáveis e vãos desejos
II- o verso é o outro caminho do paralelo ao fracasso
onde sopra uma vida de vento e uma alma de aço
III- ser poeta é um ato infame e vil:
é perceber indiferente e indignado
olhando nos olhos de cada um e de mim
o quanto há de humano
e o quanto há de imbecil
no final da reta
ter chegado antes
e contemplar já bêbado
a chegada acabada e cágada
aos trancos e aos rastejos
do que resta dos humanos sãos
com seus saudáveis e vãos desejos
II- o verso é o outro caminho do paralelo ao fracasso
onde sopra uma vida de vento e uma alma de aço
III- ser poeta é um ato infame e vil:
é perceber indiferente e indignado
olhando nos olhos de cada um e de mim
o quanto há de humano
e o quanto há de imbecil
24 abril 2018
Sem Conserto
de que adiantam
teus coros a quatro vozes
(ou teus choros enquanto morres)
emudecidos pelo vento
(ou endurecidos de cimento)
já tantas vezes
(já tantas fezes)
ou os teus acordes
com cordas
pelos cortes
do pescoço?
concordas?
as notas do teu piano
(de que caem teclas ano a ano)
o Tempo
nem mais nota
à tua partitura
já não cabe nenhum inserto
Humanidade
(já ouço uma flauta
na tempestade):
tu não tens conCerto
teus coros a quatro vozes
(ou teus choros enquanto morres)
emudecidos pelo vento
(ou endurecidos de cimento)
já tantas vezes
(já tantas fezes)
ou os teus acordes
com cordas
pelos cortes
do pescoço?
concordas?
as notas do teu piano
(de que caem teclas ano a ano)
o Tempo
nem mais nota
à tua partitura
já não cabe nenhum inserto
Humanidade
(já ouço uma flauta
na tempestade):
tu não tens conCerto
22 abril 2018
Sete Poemetos para os Nossos Dias
1. Da Verdade:
pra quê?
ninguém vai acreditar em você
2.Das Ciências:
até serve para um oi:
mais que isso
até iria
mas não foi
3. Do Amor:
você nem imagina:
nem aqui
nem na china
4. Da Esperança:
deixamos de ser criança
5. Da Fé:
essa que se vê
estimula menos
que um gole de café
6. Do Sentimento:
esse que aí está
um saco vazio de cimento
esmagado com pá
7. Do Coração:
com o das galinhas
se faz um sopão
pra quê?
ninguém vai acreditar em você
2.Das Ciências:
até serve para um oi:
mais que isso
até iria
mas não foi
3. Do Amor:
você nem imagina:
nem aqui
nem na china
4. Da Esperança:
deixamos de ser criança
5. Da Fé:
essa que se vê
estimula menos
que um gole de café
6. Do Sentimento:
esse que aí está
um saco vazio de cimento
esmagado com pá
7. Do Coração:
com o das galinhas
se faz um sopão
20 abril 2018
A Verdade está nos Detalhes
I - do fim da civilização:
a força da humanidade...
mas veio um furacão de Shostakovich
e arrancou o cedilha:
a forca da humanidade.
II – da hipocrisia religiosa:
o culto de Deus.
oculto de Deus.
III – da importância da crase e da vírgula:
à humanidade, está morta a poesia, agora é o caos
a humanidade está morta, a poesia, agora, é o caos.
a força da humanidade...
mas veio um furacão de Shostakovich
e arrancou o cedilha:
a forca da humanidade.
II – da hipocrisia religiosa:
o culto de Deus.
oculto de Deus.
III – da importância da crase e da vírgula:
à humanidade, está morta a poesia, agora é o caos
a humanidade está morta, a poesia, agora, é o caos.
15 abril 2018
Maldita Poesia
I - a poesia (pelos olhos)
é pouco lida
porque exige (pela alma)
muita lida
II - em termos de poesia
as pessoas só se interessam
pelos seus eventos
já eu, ao termo da poesia
só me interesso
pelos seus ao ventos
III - perguntam- me a diferença
entre poema e poesia:
poema é a poesia escrita
poesia é a vida vivida
ou maldita
é pouco lida
porque exige (pela alma)
muita lida
II - em termos de poesia
as pessoas só se interessam
pelos seus eventos
já eu, ao termo da poesia
só me interesso
pelos seus ao ventos
III - perguntam- me a diferença
entre poema e poesia:
poema é a poesia escrita
poesia é a vida vivida
ou maldita
11 abril 2018
Indecência
ser feliz... como alguém pode ser feliz?
ou julgar-se ser feliz
(que em tudo é mais fácil julgar-se do que ser)
enquanto crianças e suas inocências
agonizam de miséria e nada?
enquanto animais e suas inocências
se extinguem em crueldade e dor?
somente quem não sente
(que sentir é perceber
que sentir é captar)
não vê também sua culpa
ao passar arrogante e satisfeito
pela família que no lixo
disputa os nojos e os podres
com as moscas e as baratas
somente quem não sente
(que raros sabem sentir)
não se dá conta do horror
que é sorrir pelas estradas
enquanto passamos rápidos absortos
pelos animais atropelados
estrebuchados (des)encarneados
com a sagrada intimidade de suas vísceras
de sua carne de seu sangue
exposta
à indecência da alegria humana
ou julgar-se ser feliz
(que em tudo é mais fácil julgar-se do que ser)
enquanto crianças e suas inocências
agonizam de miséria e nada?
enquanto animais e suas inocências
se extinguem em crueldade e dor?
somente quem não sente
(que sentir é perceber
que sentir é captar)
não vê também sua culpa
ao passar arrogante e satisfeito
pela família que no lixo
disputa os nojos e os podres
com as moscas e as baratas
somente quem não sente
(que raros sabem sentir)
não se dá conta do horror
que é sorrir pelas estradas
enquanto passamos rápidos absortos
pelos animais atropelados
estrebuchados (des)encarneados
com a sagrada intimidade de suas vísceras
de sua carne de seu sangue
exposta
à indecência da alegria humana
09 abril 2018
Há Arte na Ruína
há alma na ruína
algo de belo
no que se acaba
algo de denso
no que se perde
há alto na ruína
algo de vasto
no que se sangra
algo de imenso
no que se resta
há astros na ruína
algo de luz
no que agoniza
algo de fundo
no que se finda
há asas na ruína
algo de pássaro
na despedida
algo de música
no que se morre
minha alma é ruína.
(Na imagem, "O Inverno", de Caspar David Friedrich)
algo de belo
no que se acaba
algo de denso
no que se perde
há alto na ruína
algo de vasto
no que se sangra
algo de imenso
no que se resta
há astros na ruína
algo de luz
no que agoniza
algo de fundo
no que se finda
há asas na ruína
algo de pássaro
na despedida
algo de música
no que se morre
minha alma é ruína.
(Na imagem, "O Inverno", de Caspar David Friedrich)
07 abril 2018
O Próximo Presidente da Grande Nação Brasileira
Irei direto ao ponto. O próximo presidente da "Grande Nação Brasileira" será alguém do PSDB ou do PMDB, ou de qualquer partido com a mesma (ou quase a mesma) orientação ideológica, ou de alguma coligação de que façam parte.
Será o governo mais lógico, o mais adequado ao momento de reação da direita (ou do que se diz "direita", ou do que se comporta como), será um governo que realmente representa o pensamento do brasileiro (eu disse o pensamento, não as necessidades do brasileiro, porque o brasileiro em geral desconhece suas próprias necessidades).
Teremos, em breve, um novo governo plutocrático, ou seja, um governo de ricos e para os ricos, para as grandes empresas, para os latifundiários, para as grandes corporações, para o lucro a qualquer custo. O próximo governo será a continuação e o aprofundamento da política de Temer, que já tem o apoio da grande maioria do Congresso e dos seus partidos (inclusive, sim, o apoio do BOLSÓPAPO em quase todos seus projetos e pretensões).
Nos próximos anos, veremos o prosseguimento lento e insidioso da aniquilação dos serviços públicos e das políticas sociais, a progressão da miséria e da violência, a redução dos direitos e das garantias individuais, o aprofundamento da opressão e a destruição sem limites do meio ambiente.
Ah, e, claro, eu espero estar errado.
Ah, e, claro, eu espero estar errado.
05 abril 2018
Não é necessário haver Liberdade
não é necessário haver liberdade em se vestir
quando todos usam o mesmo uniforme
não é necessário haver liberdade de gostos
quando todos são convencidos a gostar das mesmas coisas
não é necessário haver liberdade de crença
quando todos acreditam no que dizem ser certo
não é necessário haver liberdade de escolhas
quando as escolhas vêm dentro de um pacote já pronto
não é necessário haver liberdade de pensamento
quando as pessoas jamais param para pensar no que for
não é necessário haver liberdade na vida
quando a vida se torna só um ato mecânico
não é necessário haver liberdade de ser a si mesmo
quando todos são todos iguais
quando todos usam o mesmo uniforme
não é necessário haver liberdade de gostos
quando todos são convencidos a gostar das mesmas coisas
não é necessário haver liberdade de crença
quando todos acreditam no que dizem ser certo
não é necessário haver liberdade de escolhas
quando as escolhas vêm dentro de um pacote já pronto
não é necessário haver liberdade de pensamento
quando as pessoas jamais param para pensar no que for
não é necessário haver liberdade na vida
quando a vida se torna só um ato mecânico
não é necessário haver liberdade de ser a si mesmo
quando todos são todos iguais
03 abril 2018
Não gosto de Praia
não gosto de praia.
porque tem gente nela.
prefiro o oculto da sanga
entre o perdido do mato
aqueles capões brabos
peraus de cobras
e mosquitos da febre amarela
e estou falando sério:
meu gosto é de antigo
ainda me garoo no mistério:
sou daqueles que não.
me sinto bem entre gritos de sapo
e berros de gavião.
não gosto de praia?
não gosto da ideia por trás dela.
se ainda fosse aquelas praias de tormentas
daqueles mares de Turner:
há menos verdade no que se diz vida
do que naquela tela.
porque tem gente nela.
prefiro o oculto da sanga
entre o perdido do mato
aqueles capões brabos
peraus de cobras
e mosquitos da febre amarela
e estou falando sério:
meu gosto é de antigo
ainda me garoo no mistério:
sou daqueles que não.
me sinto bem entre gritos de sapo
e berros de gavião.
não gosto de praia?
não gosto da ideia por trás dela.
se ainda fosse aquelas praias de tormentas
daqueles mares de Turner:
há menos verdade no que se diz vida
do que naquela tela.
01 abril 2018
Lembrança Breve
para quê serve um poeta?
um poeta não serve pra nada
e não serve a ninguém.
poeta é ser-se
não ser-vos
um poeta não serve pra nada
e não serve a ninguém.
poeta é ser-se
não ser-vos
29 março 2018
Todo Mundo é Suicida
todo mundo é suicida.
quem é que não se mata?
quem não morre por?
de vício cobiça comida ou amor?
todo mundo morre de tanto
inclusive de tanto viver
“o todo
é o prolongamento do indivíduo” (Kant)
quem não sabe
que a humanidade
é um lento firme vasto suicídio?
todos se destroem
por um desejo
ou um sucesso (a)final
já eu não me destruo
nem para prêmio nem para pódio:
me destruo para criar:
que não seja em vão
meu suicídio de tanto morrer
quem é que não se mata?
quem não morre por?
de vício cobiça comida ou amor?
todo mundo morre de tanto
inclusive de tanto viver
“o todo
é o prolongamento do indivíduo” (Kant)
quem não sabe
que a humanidade
é um lento firme vasto suicídio?
todos se destroem
por um desejo
ou um sucesso (a)final
já eu não me destruo
nem para prêmio nem para pódio:
me destruo para criar:
que não seja em vão
meu suicídio de tanto morrer
26 março 2018
Patético
Beethoven compôs
a Sonata Patética
na época
que patético
significava “trágico”
estando de acordo
com o romântico
daquele século
hoje mudou-se rápido
e patético
significa “ridículo”
e escrevo um poema patético
estando de acordo
com o homúnculo
desta era-catástrofe
agora
a humanidade é prática
como sinônimo de hipócrita:
as coisas passam súbitas
pútridas estúpidas
e logo o tudo é nada
atônito
fogo de palha
mísera
palhaçada
a Sonata Patética
na época
que patético
significava “trágico”
estando de acordo
com o romântico
daquele século
hoje mudou-se rápido
e patético
significa “ridículo”
e escrevo um poema patético
estando de acordo
com o homúnculo
desta era-catástrofe
agora
a humanidade é prática
como sinônimo de hipócrita:
as coisas passam súbitas
pútridas estúpidas
e logo o tudo é nada
atônito
fogo de palha
mísera
palhaçada
24 março 2018
Mais um: Rinoceronte Branco do Norte está praticamente extinto
No início do século XX, havia 500 mil rinocerontes na África. Hoje, não chegam a 29 mil. É assim que caminhamos na nossa morte lenta. Morte de um planeta e da sua humanidade, a causadora do Fim. E com a morte do último espécime macho de Rinocerontes Brancos do Norte, ocorrida nesta semana, mais uma subespécie de rinoceronte foi condenada à extinção, pois restam apenas duas fêmeas é não há como ocorrer inseminação artificial. Assim como o Rinoceronte Negro do Oeste, extinto há uns dois anos, a caça foi o que causou o desaparecimento desses majestosos animais.
Das 4 subespécies de rinocerontes da África, restam duas: o Rinoceronte Branco do Sul (em situação relativamente segura, por enquanto) e o Rinoceronte Negro do Leste (mais ameaçado).
Quando da tragédia da extinção do Rinoceronte Negro do Oeste, escrevi o poema abaixo, que agora republico:
Versos Inexistentes*
Dodô
Emu-Negro
Foca-Monge
Asno-Sírio
Leão-do-Atlas
Leão-do-Cabo
Zebra-Quagga
Ave-Elefante
Arau-Gigante
Íbis-Terrestre
Tigre-de-Bali
Tigre-do-Cáspio
Tigre-de-Java
Lobo-de-Honshu
Vaca-Marinha
Sapo-Dourado
Cervo-Schomburki
Gazela-Vermelha
Dugongo-de-Steller
Antílope-Azul
Raposa-das-FalklSíri
Pombo-Passageiro
Lobo-da-Tasmânia
Cabra-dos-Pirineus
Pato-do-Labrador
Jiboia-da-Ilha-Round
Rinoceronte-Negro
Tartaruga-da-Ilha-Pinta
Lagarto-da-Ilha-de-Ratas
Wallaby-Rabo-de-Prego
Pato-de-Cabeça-Rosa
Periquito-do-Paraíso
Bandicoot-do-Deserto
Rinoceronte-de-Sumatra
Arara-Vermelha-de-Cuba
deixei 34 versos inexistentes
e mais uns outros de adeus:
quem sabe, meus amigos extintos,
um dia o meu fatal destino
beberá vinho tinto
na presença dos teus
(*Todos os animais mencionados estão extintos.)
Das 4 subespécies de rinocerontes da África, restam duas: o Rinoceronte Branco do Sul (em situação relativamente segura, por enquanto) e o Rinoceronte Negro do Leste (mais ameaçado).
Quando da tragédia da extinção do Rinoceronte Negro do Oeste, escrevi o poema abaixo, que agora republico:
Versos Inexistentes*
Dodô
Emu-Negro
Foca-Monge
Asno-Sírio
Leão-do-Atlas
Leão-do-Cabo
Zebra-Quagga
Ave-Elefante
Arau-Gigante
Íbis-Terrestre
Tigre-de-Bali
Tigre-do-Cáspio
Tigre-de-Java
Lobo-de-Honshu
Vaca-Marinha
Sapo-Dourado
Cervo-Schomburki
Gazela-Vermelha
Dugongo-de-Steller
Antílope-Azul
Raposa-das-FalklSíri
Pombo-Passageiro
Lobo-da-Tasmânia
Cabra-dos-Pirineus
Pato-do-Labrador
Jiboia-da-Ilha-Round
Rinoceronte-Negro
Tartaruga-da-Ilha-Pinta
Lagarto-da-Ilha-de-Ratas
Wallaby-Rabo-de-Prego
Pato-de-Cabeça-Rosa
Periquito-do-Paraíso
Bandicoot-do-Deserto
Rinoceronte-de-Sumatra
Arara-Vermelha-de-Cuba
deixei 34 versos inexistentes
e mais uns outros de adeus:
quem sabe, meus amigos extintos,
um dia o meu fatal destino
beberá vinho tinto
na presença dos teus
(*Todos os animais mencionados estão extintos.)
22 março 2018
De(x)ploração: ao Dia Mundial da Água
Republico poema escrito e publicado originalmente em março de 2016:
ao erguer-se a luz empurecida do sol
brilha a claridade etérica de éter
das espumas dos rios
das sangras, dos arrotos, dos diachos
ao render-se à luz emputecida do sol
castelos de sabão
aves cheias de graxas
e aquelas formas alvas
das névoas lépidas fétidas
formas brancas
acagadas
formas claras
de ovos
infinitos e intestinais
a serenidade impassível intragável
das águas plácidas
pútridas
ácidas
básicas
aquelas águas plásticas
de folhas flores e fezes
aquelas águas tranquilas
imperturbáveis
onde nem um peixe
causa alguma onda
aquelas águas-espumas
aclaradas brilhantes
acabadas desinfetantes
como resultado tardo
de ter gentes
ao erguer-se a luz empurecida do sol
brilha a claridade etérica de éter
das espumas dos rios
das sangras, dos arrotos, dos diachos
ao render-se à luz emputecida do sol
castelos de sabão
aves cheias de graxas
e aquelas formas alvas
das névoas lépidas fétidas
formas brancas
acagadas
formas claras
de ovos
infinitos e intestinais
a serenidade impassível intragável
das águas plácidas
pútridas
ácidas
básicas
aquelas águas plásticas
de folhas flores e fezes
aquelas águas tranquilas
imperturbáveis
onde nem um peixe
causa alguma onda
aquelas águas-espumas
aclaradas brilhantes
acabadas desinfetantes
como resultado tardo
de ter gentes
19 março 2018
a vida esmaga a Vida
pé por pé no dia a dia
e passo a passo de pouco em pouco
a vida esmaga a Vida
que não é vivida: só consumida
de sol a sol de hora em hora
o que é de vida se põe no lixo
o que é de alma se joga fora
e de grão em grão de ovo em ovo
o homem choca o homem chora
a encher o papo a encher o bolso
a encher o saco a encher o vácuo
do seu olho por olho
que o tempo traga
o homem
de queda em queda
dente por dente
pós-decadente
aos lusco-fuscos
não mais que cuscos
e quando se vê
é fogo-fátuo
menos que fósforo
que avança ao dedo
deixando só...
da cinza à cinza
do pó ao pó
e passo a passo de pouco em pouco
a vida esmaga a Vida
que não é vivida: só consumida
de sol a sol de hora em hora
o que é de vida se põe no lixo
o que é de alma se joga fora
e de grão em grão de ovo em ovo
o homem choca o homem chora
a encher o papo a encher o bolso
a encher o saco a encher o vácuo
do seu olho por olho
que o tempo traga
o homem
de queda em queda
dente por dente
pós-decadente
aos lusco-fuscos
não mais que cuscos
e quando se vê
é fogo-fátuo
menos que fósforo
que avança ao dedo
deixando só...
da cinza à cinza
do pó ao pó
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