31 outubro 2024

Como é acima é abaixo

nós somos Dia e Noite
assim como o planeta
assim como o universo.
um lado busca o amor 
o outro a destruição.
há um lado que começa 
há outro que termina.
e os dois lados são precisos:
o que diz sim e o que diz não.
agora é dia ou é noite 
no teu coração?


21 outubro 2024

À Presença do Sangue

sangue...
aquilo que pulsa enquanto te houver vida
aquilo que é a vida enquanto te houver pulso
que corre em teu corpo dos pés à cabeça
sempre contigo o que quer que aconteça
que olha no que tu olhas
que é quente quando tu sentes
que está no teu beijo 
que está no teu sexo

sangue... o mais complexo
dos cósmicos líquidos
que quando escorre é sinal de morte
ou são lágrimas de úteros 
sangue símbolo da vida símbolo da dor 
cujo cheiro atrai os tigres e os lobos 
os abutres 
e o amor

tudo o que se herda
se herda pelo sangue
se há doença, ela está no sangue.
se há saúde, ela se vê no sangue
porque o sangue é tudo.

é como ser poeta.
não adianta, está no sangue.

12 outubro 2024

Humano, fiascamente humano

humano-piada
que nem se aguenta nas patas
quando lhe dói 
a imundície do estômago 
homem-palhaço
que nem de macaco
merece ser chamado
(um macaco é muito mais honrado) 
cacófago de cacos
monumento ao vácuo.

fraqueza merréquica
que nem sabe o que faz 
na falta de energia elétrica.
homem-medo: 
quem me dera esmagar-te
entre a amargura dos meus dedos.
farás o que no ardente seco
do teu próprio deserto?

por que vives o que vives? 
vais para qual onde? 
irás tarde 
quando fores embora
(ah, que é já chegada a hora)
não haverá jeito
morrerás com um vazio na alma
e um buraco no peito.

o teu futuro me dá asco 
ergue logo um túmulo 
para o teu si mesmo 
e para o meu desprezo 
ah quem me dera 
ter o machado 
para ser o teu carrasco...
humano-fiasco.

03 outubro 2024

Versos Diretos n°125, 126 e 127

n°125: se quiser
se dar com Deus
vai ter que ficar
aos Deus dará.

n°126:  a Vida nos ensina
que ninguém pertence a ninguém 
e nada pertence a nada.
a Morte nos ensina 
que ninguém pertence a nada 
e nada pertence a ninguém.

n°127: estar faminto 
entre os que participam
de um banquete.
e isso não é sobre sentir fome
nem sobre banquetes.