a esperança (que tem por princípio bater na cara a porta) e o fracasso que nos debocha a cada passo que importa? que importa o que se chama sonho este irmão de sangue do horror e do medonho? que importa isso de vida aquilo de morte? isso vitória aquilo derrota? vitória ou sucesso é só acaso destino boa sorte. o nada que não veio a ausência que não tive o inútil que não pude? que importa? que importa a-final os meus não desígnios os meus não ditames? não tem importância. o que importa é que existe Brahms.
caçador filhodaputa montedebosta por que não pega tua arma e te atira na cara com os dois canos da tua espingarda? caça-dor filhodaputa montedemerda por que não te dá um tiro por trás e deixa a vida selvagem em paz? caça-horror filhodaputa montedeesterco por que não pega tua arma e bate punheta e deixa a vida viva em nosso planeta? caça-desgraça filhodaputa montedefezes por que não pega tua arma e te arrebenta a cabeça e deixa que a vida entre a vida aconteça? caçador filhodaputa montedenada só quem deve ser caçado é tu: pega tua arma e arrebenta teu cu.
Estrela que te és longe do que somos tu que não nos sabes é que és feliz aquilo que te vemos nem és tu tua luz que a nós chega já passou a tua verdade é sempre distante e por ser distante é que é verdade por não nos saberes não te fracassas triunfas por nunca nos iluminares ser indiferente é tua vitória e nos dar as costas é o teu poder Estrela, o que é isso onde tu estás? onde tu estás nisso onde não nos és? o que é que existe nesse teu abismo? sim, porque o NOSSO abismo... é logo ali...
como eu queria fazer poemas leves daqueles que me congelassem e esta minha eterna chuva a transformassem em neve como eu queria fazer poemas breves daqueles que se leem sozinho que quando em pensasse em uva eu já me tivesse o vinho mas eu só faço poemas graves: como eu queria ao pensar em vida que estivesse em eterna greve mas nestes tempos de horror e febre de caos e erros de sul ao norte só se encontram rimas para a morte
o filhodaputa que te matou (porque quem mata um gato é um filhodaputa: se for por acidente é filhodaputa por um tempo se for por intenção é filhodaputa para sempre) o filhodaputa que te matou deixou mais triste a minha rua (cada felino que morre deixa mais triste o mundo) o filhodaputa que te matou tirou da minha rua a tua graça a tua dança o teu alto a tua grandeza arrancou da minha rua a tua presença de paz arrancou do meu olhar a inocência do teu extirpou o encantamento em que me elevava com tua leveza em que eu sorria com tua ternura em que eu sonhava com teu mistério minha rua ficou mais triste e o mundo ficou mais chato onde quer que tua alma agora esteja estão estes versos nos teus bigodes ou tocados por tuas patas enquanto retornas triunfante para a próxima civilização
Bach Nosso que estais nos Sons interpretadas sejam as Vossas notas venham a nós os Vossos concertos sejam erguidas as Vossas cantatas assim nas casas como nos seres a Paixão nossa de cada dia nos mandai hoje perdoai as nossas supérfluas assim como nós perdoamos aos que não têm te ouvido e não nos deixeis ouvir música em vão mas ensinai-nos a amar em nome de Bach Beethoven e de Johannes Brahms Amém. Hoje, 334 anos de Johann Sebastian Bach, o Pai da Música.
fazer parte da humanidade: ser obrigado por lei a viver de acordo com a lei lei que foi acordada por outros sem que você participasse do acordo fazer parte da humanidade: ter que trabalhar mais do que viver durante as melhores horas do dia quando não se pode quando não se deve naquilo que não se quer para fazer algo que se queira quando já não há mais tempo de se fazer fazer parte da humanidade: ter que aparentar o normal quando o normal é a doença parecer com os parecidos chafurdar na merda para ser aceito e depois são preocupações e estresses desesperos e crises de nervos para poder viver em paz fazer parte da humanidade: cansar-se uma vida inteira para poder enfim descansar deixar de fazer o que se quis para dizer que tem a vida que se quer até tornar-se responsável pelo sua máscara de parecer feliz fazer parte... meu Deus, quanta miséria! menos mal que se faz Arte
seja a justiça não-feita esteja a justiça torta por mais que se saiba ninguém se importa quer passe por rio podre quer passe por mata morta por mais que se mate ninguém se importa se não pulsa alma nos olhos nem corre sangue na aorta por mais que se morra ninguém se importa ninguém se importa até que se escute as quatro notas do princípio da Sinfonia Quinta de Beethoven a bater na sua porta
as pessoas querem ser agradadas acariciadas justificadas querem autoajudas que lhe digam que suas merdas não fedem tanto e que podem seguir cagando ad infinitum até transbordar o planeta. as pessoas querem ler coisas belas-bonitas daquelas de se pendurar em paredes como uma samambaia inofensiva ou palavras-vassouras que varram seu próprio horror para debaixo do tapete que encobre sua miséria. as pessoas querem palavras light que podem ser digeridas-lidas durante banquetes que não pesem nem no estômago nem na consciência. as pessoas querem palavras legais-boazinhas de sorrisinho humilde como mordomo de palácio que entregam cartinhas e flores em bandejas de ouro. enfim, as pessoas até gostam de escritores-poetas desde que façam literatura de enfeite. mas eu como sou um desastre me bati contra a mesa e derrubei todos os vasos.
I- ser poeta é estar enchendo a cara no final da reta ter chegado antes e contemplar já bêbado a chegada acabada e cágada aos trancos e aos rastejos do que resta dos humanos sãos com seus saudáveis e vãos desejos II- o verso é o outro caminho do paralelo ao fracasso onde sopra uma vida de vento e uma alma sem aço III- ser poeta é um ato infame e vil: é perceber indiferente e indignado olhando nos olhos de cada um e de mim o quanto há de humano e o quanto há de imbecil
I - época contraditória: pessoas tão sentimentais e insensíveis: se emocionam. mas só com merdas: choram pelo mocinho da novela cagam para o massacre do que é vida II – a tarefa do artista é apenas ingrata e inútil: atingir o sentimento humano (???) é trabalhar cada vez mais com o nada seja de seu seja de outros III - de modo que o artista que mais alcança o coração alheio é o que melhor esgota o seu
o fóton da tua luz não fala porque vela e flui por entre meu vale e é lá por onde o meu amor se esconde meu verbo versa porque se vaga em vento e se ruma aos teus rumores e é lá que sino o teu sinal destino meu sopro sobe porque te ouve além e se designa ao que te sinta e é lá que me escuro em teu dizer sussurro atenta ao em torno dos teus ares que onde não estou em meus olhares meus versos te olham
e te sentem e febram
em todos os lugares
construí meu verso sobre o sangue era tudo o que me restava derramado duro pela terra aberta coagulado seco pelo pó da enxada: deserticamente meu sangue escorre construí meu verso sobre o sangue era uma força que me obrigava de água morta derramada escura sangue visco-negro pela areia: poluidamente meu sangue escorre construí meu verso sobre o sangue era meu destino que amaldiçoava de seiva-lágrima em derramada queda verde sangue de imensidão tombada: devastadamente meu sangue escorre construí meu verso sobre o sangue era um cosmos que me massacrava do guará atropelado ao horizonte sangue vivo-lago derramado das estradas: extintamente meu sangue escorre construí meu verso sobre o sangue era só meu sangue o que continuava
* Filhos e ministros de Bolsonaro atolados em corrupção; * Desmatamento na Amazônia aumentou 54%; * Violência contra mulheres atingiu níveis recordes; * Projetos A FAVOR da caça desarquivados; * Investimentos em Educação zerados e declarada guerra contra professores; * Possibilidade real de expansão dos horrores da mineração para terras indígenas e reservas ambientais; * Aposentadoria passando para 65 anos para homens e 62 para mulheres; * Agrotóxicos altamente cancerígenos sendo liberados diariamente; * Continuação piorada da guerra do governo Temer contra direitos trabalhistas; * Perdão de dívidas de ruralistas e de grandes empresas; * NENHUMA ação efetiva a favor do povo; * Combate e desmantelamento de programas sociais; * Bobagens, confusões, gafes e desrespeitos sendo proferidos diariamente; * Puxassaquismo declarado ao governo Trump; * Desastres em relações internacionais frequentes prejudicando exportações; * Total despreparo do presidente e de sua equipe para governar o país; Faltou alguma coisa? Foi pra isso que você votou? Na imagem, desmatamento para garimpo ilegal em terras indígenas no Pará.
quando dizemos que somos todos irmãos dizemos o quê? que dividimos uma mesma essência um ponto em comum em nossa substância? eu sou o outro e vice-versa? sou irmão do tigre porque somos filhos da mesma Terra e onde corre sangue que é rubro ou porque o seu sangue é uma parte do meu em elo espiritual? se ele morre escorre algo do meu vital... se os homens se dilaceram na guerra ou se degeneram em miséria que sonho do meu ser é que se vai? que olho do meu peito chora e se contrai se a floresta se esvaece em fumaça? quando o planeta sofre que vida ou que porre se derrama da minha taça? o sangue derramado ao longe sou eu derramado aqui? o que é isso que goteja das minhas mãos quando uma cabeça é esmagada? é lágrima é sangue ou indiferença do nada? quando o sol se obscurece no céu anoitece uma luz no que sou eu? e isso que digo é para algum fim ou sou só eu que sinto assim?
Schumann compôs seu sublime Concerto para Violoncelo e Orquestra pouco antes de enlouquecer e se internar ele mesmo num manicômio porque sua loucura não lhe tirava a consciência. a melodia que inicia seu Concerto para Violoncelo é de uma sublimidade absurda e dilacerante e logo depois Schumann tentou se matar nas águas geladas do rio Reno. Schumann compôs o seu tenso e nervoso Concerto para Violoncelo na época em que dizia ouvir anjos e demônios lhe ditarem músicas aos gritos em seus ouvidos e dentro de sua cabeça. o Concerto para Violoncelo de Schumann está entre as músicas mais belas já feitas e foi uma das últimas coisas que Schumann compôs pouco tempo depois decidiu se isolar do mundo por ser louco e para não enlouquecer também sua mulher e seus filhos: foi uma forma de sacrifício. o denso e inquietante Concerto para Violoncelo de Schumann tem 169 anos e é um dos concertos mais tocados ao redor do mundo mas Schumann nunca pôde ouvir esse concerto porque morreu antes aos 46 anos num manicômio. os médicos diziam que ele sofria de "melancolia psicótica" (os médicos não entendem porra nenhuma de arte nem da vida). Schumann foi um dos maiores nomes do romantismo musical e quanto mais perto da loucura ele chegava mais obras sublimes ele fazia mas ele não podia dormir à noite porque os anjos e demônios não deixavam e ele tentou suicídio no rio Reno em 27 de fevereiro de 1854 quatro anos depois de finalizar seu enlouquecido Concerto para Violoncelo e Orquestra Opus 129.