Para o Dia do Índio, comemorado hoje (mesmo não havendo o que comemorar), nada melhor que um trecho terrível do poema "Os Doentes", do grande Augusto dos Anjos:
Os Doentes (Trecho)
E o índio, por fim, adstrito à étnica escória,
Recebeu, tendo o horror no rosto impresso,
Esse achincalhamento do progresso
Que o anulava na critica da História!
Recebeu, tendo o horror no rosto impresso,
Esse achincalhamento do progresso
Que o anulava na critica da História!
Como quem analisa uma apostema,
De repente, acordando na desgraça,
Viu toda a podridão de sua raça...
Na tumba de Iracema!...
De repente, acordando na desgraça,
Viu toda a podridão de sua raça...
Na tumba de Iracema!...
Ah! Tudo, como um lúgubre ciclone,
Exercia sobre ela ação funesta
Desde o desbravamento da floresta
À ultrajante invenção do telefone.
Exercia sobre ela ação funesta
Desde o desbravamento da floresta
À ultrajante invenção do telefone.
E sentia-se pior que um vagabundo
Microcéfalo vil que a espécie encerra,
Desterrado na sua própria terra,
Diminuído na crônica do mundo!
Microcéfalo vil que a espécie encerra,
Desterrado na sua própria terra,
Diminuído na crônica do mundo!
A hereditariedade dessa pecha
Seguiria seus filhos. Dora em diante
Seu povo tombaria agonizante
Na luta da espingarda contra a flecha!
Seguiria seus filhos. Dora em diante
Seu povo tombaria agonizante
Na luta da espingarda contra a flecha!
Veio-lhe então, como à fêmea vêm antojos,
Uma desesperada ânsia improfícua
De estrangular aquela gente iníqua
Que progredia sobre os seus despojos!
Uma desesperada ânsia improfícua
De estrangular aquela gente iníqua
Que progredia sobre os seus despojos!
Mas, diante à xantocróide raça loura,
Jazem, caladas, todas as inúbias,
E agora, sem difíceis nuanças dúbias,
Com uma clarividência aterradora,
Jazem, caladas, todas as inúbias,
E agora, sem difíceis nuanças dúbias,
Com uma clarividência aterradora,
Em vez da prisca tribo e indiana tropa
A gente deste século, espantada,
Vê somente a caveira abandonada
De uma raça esmagada pela Europa!
A gente deste século, espantada,
Vê somente a caveira abandonada
De uma raça esmagada pela Europa!
Augusto dos Anjos
enquanto lia, lembrava também de índios de legião,
ResponderExcluiro que fizemos com os verdadeiros filhos dessa terra?
o que demos a eles, dessa pátria amada?
nada,
mas tiramo-lhes o direito mais sagrado, e aquele ao qual, eles faziam jus: a liberdade!
Ou hoje estou no auge de minha sensibilidade... ou simplesmente as lágrimas brotam em protesto - hipocrisia da data!
ResponderExcluirBeijos =_)
O século é outro, passou-se mais de dois, e nada mudou, piorou! Não são mais só os louros europeus!
ResponderExcluirAdoro a poesia de Augusto dos Anjos!
Excelente post, Reiffer. Muito bem lembrado, e justo.