Alguém conhece o poeta José de Espronceda (1808 - 1842)? No Brasil, para variar, é bem pouco conhecido. Mas Espronceda foi um dos maiores nomes do romantismo espanhol, na poesia, talvez o maior. Sua poesia, influenciada por Goethe e Byron (mas sem se prender aos cânones), é de grande força e intensidade, explorando temas quase sempre sombrios, expondo toda a angústia e a desolação humana, chegando por vezes a ser catastrófica.
Em seu vasto poema "El Diablo Mundo (1841)", que ficou incompleto, interrompido por sua morte aos 34 anos, Espronceda, de forma fantástica e filosófica, aborda a questão do desespero e da impotência do homem frente à perversidade implacável da realidade de nosso mundo. Diabo mundo! Abaixo, deixo alguns trechos do espetacular poema.
O Diabo Mundo (trechos)
Puseste em mim a dor que te consome,
Em minha alma teus rancores!
Em minha fronte esta ansiedade louca,
Em meu peito teus furores,
Blasfêmias, maldições em minha boca!
Eu sou parte de ti... Sou este espírito
Que perto sempre vês...
Que não dorme, e te acorda, e te levanta
A novas regiões te impele a planta...
E no teu nada inerme
Infiltra o pensamento – dos arcanjos
Na pequenez – do verme!
(...)
Pobre cega, que vagas louca, errante,
Torpe ou sagaz, na fera escuridão
Interrogando a essência de ti mesma...
Só vendo – confusão
E este verme, que sentes bem no fundo
Teu coração morder,
Esta sombra, que o prisma de teus sonhos
Vês, torva, escurecer,
Teu coração morder,
Esta sombra, que o prisma de teus sonhos
Vês, torva, escurecer,
Sou eu! Sou eu – luzeiro decaído,
Anjo da maldição!
O rei do mal... e fiz o meu inferno
No humano coração.
Feliz quando a esperança a teus delírios
Presta lúcido véu!
Infeliz, se a saudade te envenena
O tempo, que morreu...
Jamais estrela há de aclarar-te... embalde...
Hás de chamar por Deus... Deus não te vê...
Nem te escuta os insultos, que o provocam,
Nem a reza sem fé...
Há de só responder aos teus gemidos
A voz da trovoada...
Para ti não há plaga nem repouso,
Nem plácida enseada!
José de Espronceda
Intensidade nas palavras, dor, angústia, feridas. Espronceda concede ao leitor minuciosamente a dor de ser o que é. Já ouvi falar vagamente sobre este poeta numa de minhas aulas de Língua Portuguesa na faculdade. Boa escolha fizeste, Al Reiffer.
ResponderExcluirBeijos ;)
Sentir, sentir, sentir, sentir.
ResponderExcluirNão há palavras para comentá-lo.
Muito bom! Não conhecia...
ResponderExcluirEle morreu de que?
Uma ferida aberta.
ResponderExcluirNão, eu não o conhecia.
Beijos.
no sabia de él, me gusto....es intenso.
ResponderExcluirBesos
Dá pra sentir a desolação, a desesperança, e o desvario...
ResponderExcluirNão conhecia Espronceda. Pesquisei a biografia, a causa da sua morte só encontrei em uma biografia em espanhol. Morreu de difteria. Muito bom você tê-lo apresentado, Reiffer. Obrigada!...
beijos.