É o que desejam todas as vítimas das tragédias ambientais que enfeitarão o "Ano-Novo".
31 dezembro 2011
29 dezembro 2011
A Graça de tanta Desgraça
outra manhã amanhecida
(a mesma manhã
bem amanhecida)
com o ranço e a gordura
de todas as outras manhãs
inutilmente amanhecidas...
as mesmas pessoas ridículas
aos mesmos trabalhos risíveis
na graça de tanta desgraça
ah se eu pudesse morrer de me rir
ah se eu pudesse viver de me ir...
as mesmas pessoas de nada
nadando em pensamentos
de uma mente afogada
na merda
inflada de pensamentos
e nenhum que valha a pena
(pra onde te leva tua perna?)
sentimentalóides debilóides
(e outra manhã de lerda)
e certos de que são profundos...
pelos mesmos caminhos imundos
caminha para o seu sem-sentido
(com o cérebro coberto
com uma tanga)
a moça divinamente bela
( cuja alma é uma baranga)
cuja saliva é de cadela
desta amanhã amanhecida
de que chamam vida
quem me dera morrer de rir...
hora de ir dormir
28 dezembro 2011
dos Desígnios Universais
o Universo
em sua infinitesimal
miseriaecórdia
quando percebe
que não suportamos mais
a nossa dor de estômago
põe o Seu dedo
(ah, então não tinhas medo...)
(ah, então não tinhas medo...)
em nossa cabeça
e dá uma paulada
para que conheçamos
que a dor de estômago
não era absolutamente
nada
27 dezembro 2011
Quem Disse?
I
nem toda palavra
deve ser dita
tanto para o bem...
tanto para o mal...
um poema não é um escrito:
é só um sinal
II
a melhor maneira de dizer
é dizer em segredo...
um verso que se diga
observa
mas nunca aponta o dedo
III
o que é de forma completa explicado
nunca é de forma completa sublime:
quando toda palavra é dita
nada funciona
desde a arte
até o crime
25 dezembro 2011
Minha Mensagem de Natal
talvez te desejasse felicidades
a felicidade que ânsia pelos dramáticos angelicais
anos-luz de desejos que se afogam
nos impossíveis das idades...
mas não vou te desejar felicidades.
talvez te desejasse saúde
a saúde que sol pelos campos em tons azuis
verdes-luz de paisagens que se somem
nas contradanças do alaúde...
mas não vou te desejar saúde.
talvez te desejasse amor
o amor que céus pelas lunáticas infinitais
beijos-luz de sonhar-te que se vagam
ao som da mais clara cor...
mas não vou te desejar amor.
não, não irei desejar...
nem felicidades
nem saúde
nem amor
nem paz
nem calma
eu só te desejo Alma.
a felicidade que ânsia pelos dramáticos angelicais
anos-luz de desejos que se afogam
nos impossíveis das idades...
mas não vou te desejar felicidades.
talvez te desejasse saúde
a saúde que sol pelos campos em tons azuis
verdes-luz de paisagens que se somem
nas contradanças do alaúde...
mas não vou te desejar saúde.
talvez te desejasse amor
o amor que céus pelas lunáticas infinitais
beijos-luz de sonhar-te que se vagam
ao som da mais clara cor...
mas não vou te desejar amor.
não, não irei desejar...
nem felicidades
nem saúde
nem amor
nem paz
nem calma
eu só te desejo Alma.
23 dezembro 2011
À Sombra
- Então ele está vindo?
- Sim, está se aproximando.
- Tens certeza?
- Absoluta.
- Como podes ter tanta certeza?
- É que é uma questão matemática, de cálculos que já foram realizados com certa exatidão. Além do mais, é o que dizem as antigas tradições.
- Ainda que tais tradições estejam perdidas no tempo?...
- Principalmente por isso.
- Sim, mas fora isso, se tu dizes que é também uma questão matemática, é algo que não pode ser contestado.
- Precisamente.
- Então me diz, se os cálculos já estão realizados, a data da vinda dele já deve estar determinada, não?
- Não, a data não, não há como prever a data de sua chegada, por mais que os cálculos estejam exatos, porque estamos lidando com números muito altos, cuja menor variação pode ocasionar uma alteração em muitos dias, até meses, talvez anos. Poderíamos até mesmo falar em variações de décadas.
- Décadas?!!
- Sim, poucas décadas.
- E onde ele estaria agora?
- Isso eu não posso precisar, mas em algum lugar relativamente próximo. Entendes quando eu falo em “relativamente”, não é mesmo?
- Sim, sim, creio que posso compreender...
- Mas a questão não é tanto a data em que ele chegará. O que seria essa data para ti? Quando tu pudesses vê-lo ao vivo e em cores?
- Sim, naquelas cores fatais de que tu já me falaste...
- Sim, naquelas cores fatais, perigosas, sanguinolentas...
- Pois é, sim, eu acho que seria isso mesmo, vê-lo, digamos... pessoalmente.
- Entendo, mas tu tens que perceber o seguinte: a data a que me refiro não seria necessariamente essa, de vê-lo “pessoalmente”, creio que seria até mesmo antes, é uma questão relativa, mais uma vez. Isso a que tu te referes, de ver pessoalmente, de uma forma absolutamente clara, já seria um fato extremo, em que provavelmente tudo já estará consumado, ou a caminho definitivo da implacável consumação.
- Queres dizer que antes da sua chegada tudo já terá ocorrido?
- Sim e não. Talvez o mais importante já tenha acontecido, mas não tudo. Também não se pode prever, estabelecer com exatidão o que ocorrerá em tal momento, se será um pouco antes ou um pouco depois, mas o certo é que tudo ocorrerá no momento que for julgado como mais adequado. E tal pode ser dar quando se espera alguma coisa ou quando não se espera absolutamente nada. A segunda hipótese é a mais provável.
- E, como já me disseste, serão acontecimentos graduais?
- Exatamente, agora tu mencionaste uma palavra fundamental: “graduais”. Isso é essencial, compreender a questão da gradação dos acontecimentos. É algo que depende substancialmente do ponto de vista.
- Como assim, do ponto de vista?
- Se tu estiveres envolvido nos acontecimentos, terás dificuldade de perceber o seu desenrolar, a sua evolução. E quanto maior é o envolvimento, menor será a capacidade de percebê-los. Por isso, é vital manter certo distanciamento. E quanto mais for possível esse distanciamento, tanto melhor. Claro que consegui-lo não é tarefa das mais fáceis.
- Admito que não estou entendendo...
- É um pouco complicado de explicar, mas vou tentar explanar melhor. Distanciar-se, não física, mas mental, psiquicamente, é, neste caso, mudar de ponto de vista. Nesta intrincada questão, todos nós, seres humanos, a princípio, partimos do mesmo ponto de vista quanto à sua chegada e aos acontecimentos que ela acarretará. E temos esse ponto de vista em comum porque estamos dentro dos acontecimentos. Somos partes dele. Suas vítimas. Por isso não os percebemos como deveríamos. No momento que desenvolvermos nossa consciência e nossa capacidade observativa (que, no fundo, consistem na mesma coisa), poderemos captar determinadas transformações que indicam claramente que os fatos estão realmente ocorrendo e que são causados pela chegada dele. Poderemos realizar inferências relativas a isso.
Não podemos ficar de fora dos acontecimentos trágicos, mas podemos identificá-los bem mais apropriadamente. Creio que com este exemplo deixarei mais claro: imagina uma pessoa que está se viciando em uma droga. Na grande maioria das vezes, como ela está por demais envolvida em seu vício, não irá perceber que está se viciando, a não ser quando surgirem os seus efeitos e consequências inconfundíveis e irrevogáveis. Mas quem está de fora, seus amigos, seus parentes, irão se dar conta, desde o princípio, que a pessoa está se viciando.
- Ah sim, agora começo a compreender...
- O problema da humanidade é permitir-se envolver-se demais pelas coisas que acontecem com ela, é como se deixassem se hipnotizar. E assim não percebem os acontecimentos, tornam-se vítimas de todas as circunstâncias. Quando forem dar-se conta, já será tarde demais.
- Sim, entendo... Mas... o que fará a humanidade?
- Talvez o melhor seja acostumar-se à sombra.
22 dezembro 2011
Morreste
morreste
e já não sabes
que não és o que foste
e talvez nem foste
aquilo que em ti te morreste
deixaste acabar-te os olhares
e quando olhaste ao acima
já te estavas abaixo
do palmo a palmo do sonho enterrado
morreste
e por morreres pensas que vives
te corroeste em tudo que é alto
te contentaste em varrer o teu pó
deixaste escorrer os teus astros
desbotaste todas tuas noites
naufragaste pelos teus castelos
e defecaste sobre teus lagos
e foi enquanto sorrias
por entre certezas suínas
lama no céu da tua boca
açúcar dentro em teu vômito
morreste
e agora já é tarde:
lá um sol que não bate
queima um peito
que não arde
20 dezembro 2011
Papai Noel Canalha
papai noel
o que foi que me deste?
cada vez que recebo um teu presente
o meu viver pelo destino
se torna ainda mais doente
o que foi que nos deste?
cada um teu presente
é um roubo criminoso
de um planeta moribundo
para um homem decadente
olha para tua barriga
infestada da gordura extirparda
daqueles que morrem de fome
cada um presente teu
é um roubo (para os ricos)
de um planeta que se consome
touca de bandido
e saco de consumista
puxador de saco
dos que têm dinheiro
já os miseráveis
têm o nome riscado
da vergonha da tua lista
o que foi que me deste
papai noel?
só trouxeste mais pesar
com teu peso obeso
para a tormenta do meu céu...
19 dezembro 2011
Um Show de "Belas" Notícias pelo Brasil e pelo Mundo
- A presidente Dilma sancionou a lei que dá poderes aos municípios para atuar sobre a fiscalização ambiental, enfraquecendo a fiscalização do Ibama. Nas questões ambientais, a fiscalização federal é sempre mais eficiente, porque todos sabem que em municípios, principalmente nos pequenos, há muito apadrinhamento, "amizades" que se acobertam entre si, enfim, todos esses conluios que todos conhecemos bem. Se com o Ibama multando poucos são os que pagam, imagine sendo os municípios... Nem multa irão aplicar.
- Sabiam que as penas do mensalão vão prescrever? É, isso aí. Ou seja ninguém será punido. Alguma novidade em nosso país?
- Enquanto isso, no RS, o empresário Lair Ferst confirmou as denúncias de corrupção no Detran e afirmou que o dinheiro desviado era destinado ao PP e ao PMDB. O PP e PMDB nunca me decepcionam. Sempre espero o pior deles.
- Agora os pais não podem dar uma palmada nos filhos. Os filhos não podem receber palmadas, mas podem bater em professores e espancar colegas.
- Nos últimos 10 anos, tivemos 9 secas no RS. E algumas das mais fortes da história. Quem viaja pelo interior vê os nossos rios agonizando, assoreados, poluídos, com as margens devastadas. E o Novo Código florestal pretende diminuir a área de preservação de mata ciliar. E anistiar os desmatadores. "É justo, é muito justo, é justíssimo".
- O BNDES planeja dar R$ 24,7 bilhões do nosso dinheiro para os bancos privados emprestarem aos contratantes que querem construir a barragem de Belo Monte. O banco concordou em não financiar projetos que causem danos sociais e ambientais irreversíveis, exatamente o que Belo Monte vai fazer, e está sendo investigado por infringir a legislação ambiental brasileira para acelerar a início das obras. Mas lobbistas estão pressionando o banco para poder colocar as suas mãos nos bilhões de reais agora.
- Enquanto isso, o Japão está usando o dinheiro que originariamente era para as vítimas do Tsunami para organizar uma frota baleeira com o intuito de? Caçar baleias, obviamente.
- Segundo as mais recentes pesquisas feitas por cientistas, ao contrário do que alguns otimistas alardearam, o buraco da Camada de Ozônio continua crescendo ano a ano. E este ano atingiu um tamanho recorde, um dos maiores desde que se iniciou a sua medição.
- O Canadá abandonou o Procolo de Kyoto para não ter que pagar multas pelas suas emissões de carbono. Acusaram o governo canadense de ser "irresponsável". Só isso? E qual governo não é irresponsável? Ademais, o Protocolo de Kyoto já nasceu morto.
E essas são apenas algumas poucas das nossas "belas" notícias. Tão somente acidentes de percurso que em nada interferirão no futuro cintilante que nos aguarda.
17 dezembro 2011
Nada a Ser Entendido
parar de dizer
e não falar nada com nada
nenhuma alguma a ser entendida
estendida
ou entediada
sono o vasto do campo
e verbo a música que é
que é nota e não-palavra
a minha amada de amada
e o campo é o que é o campo
e não se precisa explicá-lo
que sente-se mais a dor
do que o significado do calo
por isso é que não me calo
sempre um nada me resta há falar
o que vale
é que ao vale a cavalo
e além do que penso
(há música é o que não me canso)
o universo é mais denso
quanto te perco meu senso
entre o incenso e o que há de luar
(a isso que é vago te danço)
no Nada me hei de cavá-lo
tropas de névoas
e nuvens a se con-formar
em todas as eras
e tu que me esperas
nos parassempres do ar...
viver é sempre ter ido
e ser poeta é não fazer sentido
16 dezembro 2011
Beethoven e o Trio "Fantasma"
Dia 16 de dezembro de 2011, 241 anos de Ludwig Van Beethoven, um dos maiores gênios musicais de todos os tempos. Todo mundo já deve ter ouvido alguma música de Beethoven, mas os seus trios são pouco conhecidos. O que é uma grande injustiça. São obras de uma densidade e de uma profundidade espiritual assombrosas. Considero os trios para piano e cordas de Beethoven, juntamente com os esplêndidos trios de Brahms, como as melhores composições dentro do gênero.
Por isso, hoje, aniversário do mestre, comento brevemente sobre aquele que considero o melhor trio de Beethoven, o Trio para Piano, Violino e Violoncelo nº5, ou, como ficou conhecido, o Trio "Fantasma", composto em 1807, quando Beethoven estava com 37 anos e num período de imensa inspiração. Na verdade, o trio tem 3 movimentos, todos magníficos, mas a sua fama de fantasmagórico provém principalmente do misterioso, nebuloso 2º movimento, que principia e acaba envolto em uma névoa noturna carregada de magias, angústias e inquietações.
As melodias tensas e sinuosas, a densidade dos obscuros diálogos entre os três instrumentos, as atmosferas lunares e espectrais criadas, enfim, todo o movimento evoca a presença de seres de outras dimensões na sensibilidade do ouvinte. Há uma breve frase sombria que sempre se repete e vai sendo acompanhada por desenvolvimentos cheios de presságios e pressentimentos.
Mas quem comenta bem melhor do que eu sobre a obra é o grande contista alemão E.T.A. Hoffmann, um dos pais da literatura fantástica, e também compositor, embora de menor expressão. Hoffmann escreveu em seu ensaio "A Música Instrumental de Beethoven" sobre o "Geister" trio:
"Agora me sinto como se estivesse passeando pelas sendas tortuosas de um fantástico parque, entre uma vegetação estranha, árvores exóticas, flores maravilhosas. Estranhas figuras oníricas dançavam no ar, ora se perdendo em um ponto de luz ora se distanciando uma da outra; formando grupos, afastando-se por turnos, em meio a uma cintilante alegoria fantasmagórica. E a alma arrebatada escutava aquela linguagem desconhecida e compreendia o significado dos obscuros pressentimentos que a haviam invadido."
Fantástico, não?
14 dezembro 2011
que sonho que eu sou quando eu for-te
que sonho que eu sou quando eu for-te
no que eu deixei-me em que parte
se tanto eu partia em nos ver-te...
nem chuva não cai mais dos mares
não tenho onde é que vou por-me
ou deixar-te a quem não achar-me
se tanto vi o céu não mais ser-me...
nem lago sai mais dos cantares
a rosa pairou-me em horror-te
beijá-la é o dever-me de arte
se tanto li o som do que verte...
nem sangue sai mais dos olhares
que sonho que eu sou quando há mor-te
no que eu deixei-me em que amarte...
13 dezembro 2011
Glória ao Vinho!
Já escrevi aqui sobre Baudelaire e o Vinho, em seu louvor poético a essa bebida mais que bebida. Agora, além de deixar mais alguns trechos da obra Baudelairiana, deixo também trechos de outros autores, inclusive nacionais.
Charles Baudelaire:
"Profundos prazeres do vinho, quem não os conhece? Quem quer que tenha tido um remorso a aplacar, uma lembrança a evocar, uma dor a esquecer, um castelo na Espanha a construir, todos enfim já o evocaram, deus misterioso escondido nas fibras da videira."
"Muitas pessoas dirão que sou indulgente. 'Você inocenta a embriaguez!' Isso dirão os imbecis ou hipócritas; imbecis, isto é, homens que não conhecem nem a natureza nem a humanidade, artistas que recusam os meios da arte, operários que blasfemam contra a mecânica - hipócritas, isto é, comilões reprimidos, impostores da sobriedade, que bebem sozinho e tem algum vício oculto. Um homem que só bebe água tem um segredo a esconder de seus semelhantes."
Mário Quintana:
"Por mais raro que seja, ou mais antigo,
Só um vinho é deveras excelente:
Aquele que tu bebes calmamente
Com o teu mais velho e silencioso amigo."
Louis Pasteur:
"O vinho não deve ser considerado uma bebida alcoólica: é um produto alimentício. O vinho é a mais sã e a mais pura das bebidas."
Sérgio da Costa Franco:
"Enquanto o vinho se aperfeiçoa, melhorando tipos e qualidades, embalagens e rótulos, o velho H²O se deteriora dia a dia, contaminado por toda a espécie de imundícies.
Paulo Mendes Campos:
"O homem bebe vinho como o poeta escreve seus versos, o compositor faz uma sonata, o místico sai arrebatado pela janela do claustro..."
Cruz e Sousa:
"Que os vossos olhos sombrios
Trazem raros amavios.
Trazem raros amavios.
Que as vossas bocas, de um vinho
prelibam todo o carinho...
Oscar Bertholdo:
"A adega é um mosteiro
erguido ao lado do vinhedo,
há no vinho segredos
tão antigos quanto o amor."
E encerro com Baudelaire:
"Se a água de tua boca então
Aflora em teus dentes,
Bebo um vinho que me infunde
Amargura e calma."
Diz o vinho ao poeta: "Nossa união criará a poesia." Baudelaire
(Na imagem, o quadro "Intitulado III", de Fabian Perez)
11 dezembro 2011
Eu não Falo de Coisa Alguma
olho aquele olhar
que nos olha
sem que esteja
em algum lugar que se entenda
sei que ele gosta de não estar lá
não se ouve uma palavra
quando ele se dessilencia
palavras que ele nunca disse
o que se pensa que é dito
o que não significa que nada faça
mas pelo contrário
ou talvez nem mesmo pelo contrário
ele se realiza não se importando
e deixando que se fale ou cale
aliás ele não se importa
nem em deixar
ele passa sempre a um passo
enquanto se pensa (nós)
no que se pode ser
mas aqueles que julgam pensar
nunca pensam em ele
o que muito lhe agrada
porque quando se pensa em algo
esse algo torna-se um algo
e o melhor é não estar aqui
mas ser só o ser
e logo surgirá alguém
que pensará que entendeu
que talvez eu fale de Deus...
sinal que não
(e talvez o melhor fosse nem pensar)
pensa de nenhum jeito
aliás
eu não falo de coisa alguma
e este poema
como podem bem ver
nem sequer
chegou a ser feito