Tendo em vista que hoje o grande Edgar Allan Poe, a quem a literatura, a arte moderna, o cinema e até mesmo a psicologia devem muito, completaria 204 anos, deixo alguns trechos de uma obra bem pouco conhecida, mas não menos importante, do gênio americano. Trata-se da Marginalia, algo como uma reunião de breves escritos entre filosóficos e poéticos, algumas vezes passando por uma intensa ironia.
No trecho a seguir, percebam o acerto do poeta quanto à sua previsão da "rapidez" da vida moderna:
"O progresso realizado em alguns anos pelas revistas e magazines não deve ser interpretado como quereriam certos críticos. Não é uma decadência do gosto ou das letras americanas. É, antes, um sinal dos tempos; é o primeiro indício de uma era em que se irá caminhar para o que é breve, condensado, bem digerido, e se irá abandonar a bagagem volumosa; é o advento do jornalismo e a decadência da dissertação."
No seguinte, deixa-nos um conceito de artista:
"Um homem de certa habilidade artística pode muito bem saber como se obtém certo efeito, explicá-lo claramente e, contudo, falhar quando quer utilizá-lo. Mas um homem que possua certa habilidade artística não é um artista. Só é artista aquele que pode aplicar, com felicidade, seus mais abstrusos preceitos."
Abaixo, Poe fala de como se adquirir inimigos:
"Aprouve-me, algumas vezes, imaginar qual seria a sorte de um homem dotado - para desgraça sua - de uma inteligência superior em muito à de sua raça. Naturalmente, ele teria consciência dessa superioridade e não poderia, por ser, sem dúvida, constituído como os outros homens, deixar de manifestar essa consciência. Adquiriria, assim, inúmeros inimigos. E como suas opiniões difeririam profundamente das de todos, seria ele facilmente colocado no número dos loucos."
Sobre a calúnia:
"Caluniar um grande homem é, para os medíocres, o meio mais rápido de, por sua vez, alcançarem eles a grandeza. É provável que o escorpião jamais se tivesse tornado uma constelação se não tivesse tido a coragem de morder o calcanhar de Hércules."
Da nossa adoração:
"Os romanos honravam suas insígnias, e a insígnia romana era , algumas vezes, a águia. A nossa insígnia não é senão o décimo de uma águia - um dólar - mas não nos embaraçamos em adorá-lo com uma devoção dez vezes mais forte."
Para finalizar, sobre a vingança, onde Poe deixa uma sutilíssima ironia:
"Pode haver coisa mais doce para o orgulho de um homem e para a satisfação de sua consciência do que o sentimento de se haver vingado plenamente das injustiças de seus inimigos com o ter-lhes sempre e simplesmente feito justiça?"
O que ele deixou é fascinante.
ResponderExcluirBeijos.
Bem lembrado, Reiffer.
ResponderExcluirOs clássicos iluminam o nosso saber e orientam seus seguidores.
Apesar de viver apenas 4 décadas, Poe deixou-nos um profundo e instigante legado poético.
Olá Reiffer,
ResponderExcluirSempre excitante (excelente).
Parabéns!! Bj
E é por esse homem de 204 anos que sou apaixonada.
ResponderExcluirSempre ouvi falar dele, mas nunca li nenhuma publicação do mesmo.
ResponderExcluirGOSTEI!!!
Vou correndo atrás de algo. Estou curiosa.
Beijo