29 dezembro 2012

Seja Odiado


ser odiado
e durante o almoço
pôr o garfo na ferida
é o ato mais difícil
desta vida

seja odiado
como quem é ousado
em sair do trilho
e pôr em frente
a todos
(inclusive a si)
a verdade de um espelho
e mostrar que não há dentes
para a crueza do milho

seja odiado
diga a quem ama
que em geral este amor
vai pouco além
que prazer na cama
e lembre que ele morre
assim como anoitece o dia
assim como adoece o corpo
que envelhece a pele
e se esvaece a alegria

lembre-lhes que a realidade
asfixia qualquer utopia

seja odiado
lembre-lhes que os finais vêm
e um outro algo
ainda mais além
e que tudo passa e se degenera
sejam gregos sejam romanos
lembre-lhes que cavalga a morte
no temporal dos anos
e que a bela
se torna velha

seja odiado
mostre ao menos um sinal
que quem pensa
o melhor de si ou de todos
não sabe
do próprio mal

dê a César o que é de César
e a Bruto o que é de Bruto:
seja odiado
seja justo

4 comentários:

  1. Eu sou odiada por muito menos que isto.
    beijos!!!

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  2. Hermoso espacio! gracias por dejar la huella que me ha permitido conocerlo. Un placer estar aqui... te sigo.

    Un abrazo desde otra luna

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  3. Um maravilhoso poema... gostei da verdade e da crueza que ele passa. Mas sabe, acho que, muitas vezes, basta existir e viver a própria vida para que nos odeiem!

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