08 outubro 2010

Poema Catastrófico nº1 – Uma Valsa

A partir de hoje, criarei poemas para as catástrofes ambientais e sociais que assolam nosso planeta. Não que tais acontecimentos já não fossem temas de minhas obras, sempre foram, obviamente, porém agora alguns poemas farão referência direta a fatos catastróficos específicos. Começo com um poema para o vazamento tóxico de “lama vermelha” de uma fábrica de alumínio na Hungria, considerado o pior desastre químico da história do país. O desastre causou a morte de várias pessoas, feriu e contaminou muitas outras, contaminou o solo e pequenos rios, e há o temor que o vazamento atinja o famoso rio Danúbio, que corta inúmeros países europeus e consagrou-se na famosíssima valsa de Johann Strauss "Danúbio Azul".

Poema Catastrófico nº1 – Uma Valsa

eu dormia e sonhava
com as valsas de Liszt e de Strauss
e bailavam na minha esperança
os cânticos das ninfas azuis...
mas acordei-me com um berro
e as pernas afogadas no rubro do ferro...

quedou na leveza do meu sono
o pesar do chumbo
e o ritmo frenético de um bumbo
que fez valsar as minhas pernas em lavas
na febre ardente do mercúrio
as arrancou como se fossem asas...

serpenteavam sarcásticas pelos meus costados
nas hemácias ácidas de um sangue artificial
as correntes dos metais pesados
sonhava com valsas
e acordei com metal...

voei de um leito para um leito
de hospital
valsando às chibatadas
de um líquido relho...
saio do céu do Danúbio Azul
para o inferno de um Danúbio Vermelho...

11 comentários:

  1. Espetacular!
    Também gosto muito dos temas relacionados às catástrofes!
    Abraço, querido!

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  2. Adoro sua poesia e essa
    temática é profunda , densa ...

    Adorei .


    Bjo e obrigada pelo carinho
    da presença e comentário.

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  3. Muito boa.
    Gostei do poema apesar de não gostar do desastre, mas vale não deixar-o DanÚbio passar em branco. Bela iniciativa.
    beijos

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  4. sensível

    gostei da luz que você deu a esse fato triste, porém necessário, espero os outros.

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  5. Sensacional a tua ideia, muito bem sacada. E, como sempre, poesia de alto nível. Abraços.

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  6. Reiffer!

    Maravilhoso! Já atingiu o Danúbio!

    Esse poema-valsa, onde você tem a batuta do maestro está sublime.
    A reação de problemas sociais que atingem não só o meio ambiente, mas destróem e dizimam seres é deveras contagiante e humano.

    E isto você, já provou que tem essa imensa sensibilidade!

    Parabéns!

    Aplausos!

    Mirze

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  7. Muito bem descrito...
    E, acima disso: muito bem sentido!!!

    Linda-triste canção!!!

    Abraços carinhosos =)

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  8. A poesia como um brado de protesto, de dor, de sofrimento.
    A poesia cumprindo seu papel de expor a alma e vencer a cegueira do olhos falando direto ao coração.
    Um belíssima idéia executada primorosamente.
    Beijokas.

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