03 setembro 2010

Gota a Gota ( um horrível poema pós-moderno)

gota a gota
derramarei um poema pós-moderno
legítimo:
começo
espremendo o líquido verde
das minhas esperanças
gota a gota
sobre o sangue de um graxaim
que gota a gota
escorreu pelo asfalto fervente
até ser absorvido pela terra seca
que gota a gota
espargiu seu pó
sobre os meus olhos pingando lágrimas
gota a gota
não de tristeza ou de sensibilidade
porque isso há muito morrera
mas porque sobre mim caía
uma chuva ácida
gota a gota
e caía também sobre o cedro morto
de que há muito
extirparam sua seiva
gota a gota
e as cinzas de suas antigas folhas
agora fumaça pelo ar
caiam como fuligem sobre meus olhos
gota a gota
mas ainda pude olhar para os meus pés
atolados num rio
que transbordava fezes
gota a gota
e ao lado havia um cadáver
de um homem com as mãos abertas
caindo moedas
gota a gota...

11 comentários:

  1. Para nao perder o costume :þ
    Um super mega ultra power beijo!
    Isso sim que acabei de escrever, é horrível.

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  2. A metafora da gota é sempre maravilhosa para dançar

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  3. Gostei das metáforas. Um poema carregado de imagens intensas.

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  4. diferente, ousado, incomum..

    http://terza-rima.blogspot.com/

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  5. Seu olhar poético é um gotejar sempre inspirado.

    Beijo.

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  6. Poderia ser um poema pátrio-político!

    Mas é um belo poema, como é usual!

    Belíssimo esse "gota a gota", que suportamos na vida!

    Beijos

    Mirze

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  7. Sempre achei teus poemas bem ligados ao modernismo e esse é a prova.
    Muito bom!

    http://terza-rima.blogspot.com/

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