naquela noite de Natal
tu serás tu mesmo:
enquanto os homens se mostram
tu te escondes
como se nem fosses.
enquanto os homens se mostram
tu te escondes
como se nem fosses.
tu não estás nem aí
para o que os homens fizeram de 2020
ou de todos os anos que passaram
tu és pássaro
és noite e oculto
tu existes no teu não estar
não sendo nada além de Ser
tu existes no teu não estar
não sendo nada além de Ser
és um verbo que se fantasma
grito do não-dito
és um lamento-punhal
és toda a Dor
grito do não-dito
és um lamento-punhal
és toda a Dor
de uma era final
quem te vê quando cantas?
quem te vê quando cantas?
quem te sente quando choras?
o que cantas é um susto
que não nos deixa sinal
por isso este poema
o que cantas é um susto
que não nos deixa sinal
por isso este poema
ninguém te vê ninguém te quer por perto
porque dizem que és ave-funeral
mas tu sabes, Urutau
que ninguém também
que ninguém também
vê o Natal.
Obs.: o urutau é uma ave noturna que se utiliza muito bem da sua incrível capacidade de camuflagem. Por isso, raramente é vista. Vive da Costa Rica até a Argentina. Seu nome, urutau, em tupi-guarani significa "Ave-Fantasma". O motivo do nome, além de sua quase "invisibilidade", é que o seu canto melancólico é uma espécie de gemido muito triste, que lembra um lamento humano.
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