07 março 2019

Sobre o Sangue

construí meu verso sobre o sangue
era tudo o que me restava
derramado duro pela terra aberta
coagulado seco pelo pó da enxada:
deserticamente meu sangue escorre

construí meu verso sobre o sangue
era uma força que me obrigava
de água morta derramada escura
sangue visco-negro pela areia:
poluidamente meu sangue escorre

construí meu verso sobre o sangue
era meu destino que amaldiçoava
de seiva-lágrima em derramada queda
verde sangue de imensidão tombada:
devastadamente meu sangue escorre

construí meu verso sobre o sangue
era um cosmos que me massacrava
do guará atropelado ao horizonte
sangue vivo-lago derramado das estradas:
extintamente meu sangue escorre

construí meu verso sobre o sangue
era só meu sangue o que continuava

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