viverá a minha voz ou meu verso
no zumbido de alguma mosca
no zunido de algum mosquito
a azucrinar ouvidos
não-existentes
naquele quase silêncio
dos malditos
que é ainda mais que um grito
um além no quando
que nem poderá ser dito
ficará o meu nada
no ruflar das asas
de alguma barata
no rangir escroto
de algum gafanhoto
no irritante estribilho
do triunfo do grilo
e será o meu verso no que me resto
vitorioso como os artrópodes
naqueles dias de vazio
naqueles densos de mistério
em que o planeta estará repleto
de insetos
e sobre o mundo
de moribundos
no caos circunscrito
cairá o sopro das asas
do retorno
de um hipogrifo
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