14 fevereiro 2019

Hipogrifo

viverá a minha voz ou meu verso 
no zumbido de alguma mosca
no zunido de algum mosquito
a azucrinar ouvidos  
não-existentes 
naquele quase silêncio 
dos malditos 
que é ainda mais que um grito
um além no quando 
que nem poderá ser dito 

ficará o meu nada 
no ruflar das asas 
de alguma barata 
no rangir escroto 
de algum gafanhoto 
no irritante estribilho 
do triunfo do grilo 

e será o meu verso no que me resto 
vitorioso como os artrópodes 
naqueles dias de vazio 
naqueles densos de mistério 
em que o planeta estará repleto 
de insetos 
e sobre o mundo 
de moribundos
no caos circunscrito
cairá o sopro das asas
do retorno
de um hipogrifo

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