30 julho 2017

Árvore é Passado

a árvore passa
porque o progresso passa.
não tem sentido? 
não, a humanidade o perdeu:
atrofiou seus sentidos
de encontrar sentido
de fazer sentido
de ser sentido

agora, qual sentido seguir?

a árvore passa
no sentido de que passou seu tempo
o progresso passa
no sentido de que dá passos
num passo a passo efêmero 
com o qual em breve 
esta humanidade será passado

27 julho 2017

Free Books Editora

A pedido do amigo Paulo Soriano, divulgo seu site/editora, a Free Books Editora, que realiza a publicação de livros digitais com contos e romances de literatura fantástica. Um dos meus contos antigos, ainda de 2010, Urubus Demoníacos, foi publicado na página. Todos os arquivos podem ser baixados em formato PDF. Para conhecer o site, clique aqui

25 julho 2017

Você é só um Robô

não existem governos
não existem nações
não existem países
não existem povos
existem grandes corporações empresariais
existe o lucro
e existe quem dá o lucro
existe o consumo:

o que eles querem
é só que você consuma
e trabalhe para produzir e pagar 
o que consome
e só

para isso existe o controle:
governos são para controlar
empregos são para controlar
leis são para controlar
mídias são para controlar
escolas são para controlar
polícias são para controlar
a medicina é para controlar
a tecnologia é para controlar
a religião é para controlar
a moda é para controlar
tudo é controle

e você é o objetivo da nossa civilização:
você é só um robô

23 julho 2017

Então o Homem quer ir à Marte?

I – o homem no espaço
quer levar a vida a Marte
o homem na Terra
quer levar a vida à Morte

II – a ciência tenta descobrir
se há em Marte o metano
e nem sabe
se há no homem o humano

III – caro leitor:
o homem quer  ir a Marte
para aprender a amar-te?

IV – aham, o homem quer ir a Marte...
grande marte
grande mar de...
grande merda

19 julho 2017

Mensagem da Ruína

finda teu rastro em ruína
enfia o rabo no reto
risca da face da terra
teu rosto-resto em ruína

homens de raça-ruína
reles que roem e rastejam
porcos que arrancam e arrastam
num riso-reza em ruína

roídos seres-ruína
na rua em raivas e ratos
de ranço e ranho rodeados
roucos de caos e ruína

rompida em fome e ruína
se rega em rugas tua alma
as rãs compõem o teu réquiem
e rolam ao som das ruínas

homem em rápida ruína
larga ao raio tua rosa
rasga essas roupas de rico
rema em teu rio de ruínas

16 julho 2017

Soneto às Palavras Não Ditas (ou Ao Após)

palavra que sinto quando me esqueço
o que é que de ti lembrar-me te faz?
deusa que eterna ao instante fugaz
nada que traga o meu não ao avesso

seja comigo ao altar do teu preço
verbo-destino que sigo-me atrás
silêncio que os muros quebra do mas
sonata que alta ao que nunca mereço

ah se eu corresse em teu rio sempre em chama
íris que fosse no som desta voz
braço sanguíneo que se ergue da lama

verso de espera que se ala no após
ah se teu quem fosse aquilo que chama:
deixa esquecer-me e lembrar-te entre nós

13 julho 2017

Desaforadas (ou Após Ouvir Shostakovich)

porque há risos gargalhadas
em cascatas cataratas
sanguinadas pelas pragas

são cantatas de gargalhas
das risadas alastradas
zombarias pelas águas

são compassos de risadas
entre asas garras e brasas
pelas rubras russas geadas

o deboche dos abutres
o gaguejo de macacos
gorgolejo de galinhas

graves línguas de lagartos
o sarcástico dos asnos
entre gárgulas e cabras

ironias desbocadas
em metralhas e sarcasmos
em grotescos e catarras

há danças valsas e facas
essa desgraça engraçada
a lembrar que a humanidade

é uma piada

11 julho 2017

Poema de Ocaso a uma Sonata de Schubert

é quando ouço aquela sonata de Schubert
que um cavalo vem bater na minha porta:
então estranho o peso dos olhares dos sapos
e escrevo poemas (que) não-sãos

há algo de Poe nunca-lido
e uma desolação de silêncio
de não-flauta na mata

é uma sentença de um quadro de Bosch
que não me sai do que pesadelo

é sonho de sol cada vez mais ao norte
um vento de corvo que abutra no ar
carta carteando selos vermelhos
e um planeta por trás dos espaços

é a ponta de um dedo em um dedo
como se fosse um beijo sinal:
há algo do que já é tarde
e a iminência de um vasto Final

09 julho 2017

Dessilêncio

olho aquele olhar que me olha
sem que dirija algum olhar
a nenhum lugar:
vejo-o lá
quando o olhar que me vê 
não o vejo
porque nem está

não se (h)ouve palavra.
no seu dessilêncio
verbo ausente do denso
que se pensa dito
e é o tudo:
só mais uma gota na taça
e o imenso do nada quanto se faça

o que é feito em verdade
é feito sem que se importe 
no deixe que se fale ou cale
é assim que ficará um sopro no alto
um passo no vale:
só serei o que sou
quando do mim mesmo
me estiver falto
e a um passo do falhe

aliás o de Olhar
não se diz de nenhum jeito
eu mesmo não falo de coisa alguma
e este poema
como bem podem (não) ver
nem chegou a ser feito

06 julho 2017

Sentença

a cada árvore plantada
há mil derrubadas
ou ainda mais
e já são tantas
quem nem deixam sinais

a cada água que é clara
há mil esgotadas
de veneno e fedor 
e já são tantas
que nem se nota o horror

a cada balada composta
há mil baladas 
na cara ou na testa 
e esse rastro de sangue 
é tudo o que nos resta

a cada animal que é amado
há mil massacrados
ou sob tortura
e essa doença da vida 
já não tem mais cura

a cada beijo que é dado
há mil que são fingidos
e ainda mais outros mil
daqueles malditos

e tenho dito

04 julho 2017

Ladrão com Honra

há o ladrão covarde
e o ladrão com honra:
o ladrão covarde
vira político
abre uma empresa
ou funda uma igreja
para poder roubar
com a polícia e a lei do lado

veja bem:
eu não escrevi

que todo político empresário ou pastor
quis sê-lo por ser ladrão
(é preciso que se diga

pois há quem entenda tudo errado)

já o ladrão com honra
(sejamos francos)
assalta bancos

01 julho 2017

A Época da Ausência

a cada passo dado pela humanidade
morre um otimista
que não percebe o passo
e não sabe que morreu
_________________


acreditar (ainda)
nesta civilização
como sendo civilização
é algo menos de ingênuo
e mais de perverso
_________________

dizem que vivemos tempos de desespero...

discordo.
para o desespero é necessária a consciência
de que se perderam as esperanças
essa consciência não a temos:
vivemos tempos de vazio

vivemos a época da ausência