10 dezembro 2013

Confessa-te tua Miséria*

confesso-me
que sou um doente
um estranho
um mau
demente
que não consegue ver
bondade amor verdade
nos olhares ditos humanos
por mais que jurem
que ali existam tais
para mim não passam de montes
de nadas e de jamais

atrás dos convincentes discursos
dos homens de bem
de reputação intocável
a minha doença
vê a mentira a farsa a cobiça
e a risada secreta
e o intuito funesto:
não há honestidade alguma
em se mostrar como honesto

há no pastor inflamado em certeza
a vaidade estúpida
de se achar um algo de Deus
e a ocultação
do que perverso
do que egoísta
e todos seus seguidores
entram na lista

bem como o empresário
que dá emprego aos pobres
não para ajudá-los
mas pelo lucro fácil
que corre pelas suas veias
sugadas
de trabalhadores

assim também
as deslumbrantes mulheres
da sociedade alta
(de merda)
que com seus pés com bactérias
e seus intestinos fedendo a fezes
sentam como cadelas e reses
em seu carro do ano
achando que isso
as torna melhores
que as demais mulheres

a minha doença
também vê farsa e fingimento
no sorriso daqueles que andam
sorrindo e andando
com ares de jumento
amigos de todos
felizes com tudo
com uma flor numa mão
e a miséria na outra

e a minha demência escrota
chega ao ponto
de olhar pra uma criança
e imaginá-la esfregando
a bunda pelada
em um baile funk

em todas essas coisas tristes
eu pensava
enquanto ouvia
os quatro trios
de César Franck

*Poema em homenagem aos 191 do gênio da música, César Franck, completados hoje.



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