24 fevereiro 2013

Dois Profetas

Manuel Bandeira escreveu o poema Nova Poética em 1949. Porém, creio que em 2013 o poema está ainda mais atual. E provavelmente o será ainda mais nos anos vindouros. Um poema profético. Cada vez mais a poesia, a arte, deixa de ser orvalho para ser nódoa. Cada vez mais assim é a nossa vida. Confiram:

Nova Poética

Vou lançar a teoria do poeta sórdido.
Poeta sórdido:
Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida.
Vai um sujeito.
Sai um sujeito de casa com a roupa de brim branco 
muito bem engomada, e na primeira esquina passa um caminhão, 
salpica-lhe o paletó ou a calça de uma nódoa de lama:

É a vida.

O poema deve ser como a nódoa no brim:
Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero.
Sei que a poesia é também orvalho.
Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas,
as virgens cem por cento e as amadas que
envelheceram sem maldade.

Manuel Bandeira


Profético também é o poema a seguir do poeta alemão Heinrich Heine (na imagem acima), que viveu entre 1797 e 1856. Não é perfeitamente adequado para os nossos dias?

Acreditava antigamente
Que todo beijo que me tiram,
Ou que recebo de presente,
Fosse por obra do destino.

Deram-me beijos e beijei,
Antes com tanta seriedade,
Como se obedecesse às leis
Que regem a necessidade.

Agora sei como é supérfluo
E não me faço de rogado,
Vou dando beijos em excesso,
Incrédulo e despreocupado.

Heine

2 comentários:

  1. Olá Al Reiffer,

    Gosto das obras de Manuel Bandeira, do seu estilo mavioso, simples e direto.

    "O poema deve ser como a nódoa no brim:

    Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero."

    Excelente, rs... A satisfação que segue o desespero é de tirar o fôlego!
    __________________________

    Não foi sem motivos que Heine foi tido como um subversivo... Aplausos! Aplausos!


    Enigma

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  2. Olá, parabéns pelo blog!
    Esta postagem ficou muito bacana.
    Se você puder visite este blog:
    http://morgannascimento.blogspot.com.br/
    Obrigado pela atenção

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