naquela noite
tu serás tu mesmo:
ao que homens se mostram
tu te ocultas
como se não
como se nem fosses
e os sábios sopram
que sendo tu
tu nada sabes
pois o que é que leste?
mas tu
tu nem estás
em teu não estar
que bem escondeste
não sendo nada
só o teu Ser é que é:
e teu ser não seria
se te mostrasses em aberto
alardeando sob o sol
o que só vê
teu olho noturnal...
mostrar-se
não é de um urutau
paira de ti
o espectro do que não
um verbo que se fantasma
grito não-dito
e lamento-punhal
no invisível
do ser a dor apunhalada
quem te vê quando cantas?
o que cantas é um susto
que não nos deixa sinal...
por isso este poema:
também ninguém vê o Natal
*Para os que não sabem, o Urutau é uma ave da América do Sul de hábitos noturnos e solitários que possui uma capacidade de mimetismo (disfarce) e de imobilidade tão grandes que muito raramente é vista na mata, mesmo que seu canto possa ser ouvido. Canto, alías, dos mais pavorosos entre as aves, que lembra a agonia de uma mulher ou até mesmo lamentos de seres espectrais.
(Este poema foi reformulado e republicado aqui no blog.)
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