03 junho 2012

"Achando graça da própria desgraça e tudo bem."

Abaixo, transcrevo trecho de um texto  de Caco Coelho, publicado em sua coluna "Crônicas da Cena"  no jornal Correio do Povo do dia 2 de junho. 

"Estamos vivendo o limiar de uma nova era. O momento tão propalado do país do futuro chegou. E quem somos? O que restou de nós mesmos? Possuímos a língua mais devastada de todo mundo. Nossos hábitos foram forjados pela cultura imperialista. As coisas mais banais vão deixando claro uma predominância, cada vez mais, subliminar. Isso tudo para que não haja contrastes. Sem distinção, vão se apagando os desejos e, em consequência, sendo subtraída à identidade até a quase completa alienação. Hoje, o que assistimos na televisão, na busca desesperada por audiência, é uma total degradação moral e ética. Debochamos de nós mesmos, rimos de nossas mazelas, sem transpô-las. Estamos chapados diante de uma total falta de distinção. Achando graça da própria desgraça e tudo bem."

Caco Coelho

A propósito do texto, deixo o poema abaixo, que escrevi ainda em 2011, publicando-o aqui no blog, mas que passou por alterações, e agora o republico:

Meu Mundo Humano

eu sempre esperei-me mais de ti
meu mundo humano
(como quem espera o chegar
de alguém especial em um trem
que sempre chega vazio)
eu sempre esperei-te mais de mim
meu mundo humano
que foi tudo menos meu
e que, de tanto não-ser,
já nem mais é humano

para ver a altura suprema
dos teus arranha-céus
olhei para o fundo de um abismo
em que também era eu
e quando voei nas tuas naves
o meu nada não se ergueu do chão
e contemplando o verde
dos teus campos cultivados
murchou o verde último
que ainda alentava a minha esperança amarela
e quando na multidão das tuas grandes cidades...
tornei-me ainda mais sozinho
do que ainda serei
e as descobertas da tua ciência
ocultaram-me eu mesmo de mim
e todos os teus potentes veículos
não me movimentaram da miséria
em que sempre me situei
e tudo o que construíram tuas indústrias
contribuíram com a minha destruição
durante uma noite serena...

só a Arte vale a pena

2 comentários:

  1. Tuas lâmpadas de neon
    Ofuscaram-me nas pistas negras
    Dos teus asfaltos sem fim
    Das tuas vitrines
    Tive que cria asas para voar
    Entre teus arranha-céus
    Que tentam tocar o céu
    Da minha boca perplexa
    Mas mesmo assim caminho
    Entre a multidão de transeuntes
    E a solidão do meu ser
    Olhando o luar refletido
    Nos teus esgotos
    Repletos de latas de sopas
    Campell’s e latas de Coca-Colas
    Lendo poemas concretos
    Pichados nos teus muros
    E coração assustados
    Só a pena do poema
    vale a pena.

    Belo poema de um texto belo.

    Luiz Alfredo - poeta

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  2. Olá vim agradecer,a sua visita e seu comentário bjs.

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