Abaixo, transcrevo trecho de um texto de Caco Coelho, publicado em sua coluna "Crônicas da Cena" no jornal Correio do Povo do dia 2 de junho.
"Estamos vivendo o limiar de uma nova era. O momento tão propalado do país do futuro chegou. E quem somos? O que restou de nós mesmos? Possuímos a língua mais devastada de todo mundo. Nossos hábitos foram forjados pela cultura imperialista. As coisas mais banais vão deixando claro uma predominância, cada vez mais, subliminar. Isso tudo para que não haja contrastes. Sem distinção, vão se apagando os desejos e, em consequência, sendo subtraída à identidade até a quase completa alienação. Hoje, o que assistimos na televisão, na busca desesperada por audiência, é uma total degradação moral e ética. Debochamos de nós mesmos, rimos de nossas mazelas, sem transpô-las. Estamos chapados diante de uma total falta de distinção. Achando graça da própria desgraça e tudo bem."
Caco Coelho
A propósito do texto, deixo o poema abaixo, que escrevi ainda em 2011, publicando-o aqui no blog, mas que passou por alterações, e agora o republico:
Meu Mundo Humano
eu sempre esperei-me mais de ti
meu mundo humano
(como quem espera o chegar
de alguém especial em um trem
que sempre chega vazio)
eu sempre esperei-te mais de mim
meu mundo humano
que foi tudo menos meu
e que, de tanto não-ser,
já nem mais é humano
para ver a altura suprema
dos teus arranha-céus
olhei para o fundo de um abismo
em que também era eu
e quando voei nas tuas naves
o meu nada não se ergueu do chão
e contemplando o verde
dos teus campos cultivados
murchou o verde último
que ainda alentava a minha esperança amarela
e quando na multidão das tuas grandes cidades...
tornei-me ainda mais sozinho
do que ainda serei
e as descobertas da tua ciência
ocultaram-me eu mesmo de mim
e todos os teus potentes veículos
não me movimentaram da miséria
em que sempre me situei
e tudo o que construíram tuas indústrias
contribuíram com a minha destruição
durante uma noite serena...
só a Arte vale a pena
Tuas lâmpadas de neon
ResponderExcluirOfuscaram-me nas pistas negras
Dos teus asfaltos sem fim
Das tuas vitrines
Tive que cria asas para voar
Entre teus arranha-céus
Que tentam tocar o céu
Da minha boca perplexa
Mas mesmo assim caminho
Entre a multidão de transeuntes
E a solidão do meu ser
Olhando o luar refletido
Nos teus esgotos
Repletos de latas de sopas
Campell’s e latas de Coca-Colas
Lendo poemas concretos
Pichados nos teus muros
E coração assustados
Só a pena do poema
vale a pena.
Belo poema de um texto belo.
Luiz Alfredo - poeta
Olá vim agradecer,a sua visita e seu comentário bjs.
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