13 junho 2011

Fernando Pessoa e suas Quadras

Hoje, o mundo comemora os 123 anos do maior gênio da poesia em língua portuguesa na minha opinião: o inatingível Fernando Pessoa. Sua obra é vastíssima. E algumas delas ainda são bem pouco conhecidas. Por exemplo, as suas "Quadras ao Gosto Popular". Simples, melodiosas e belíssimas, intensamente poéticas. Em homenagem ao nosso maior poeta, deixo algumas dessas quadras. Quase todas são como declarações de amor ternas, melancólicas. Por vezes, amargas e irônicas.

Quadras ao Gosto Popular (apenas algumas poucas)

Morto, hei de estar ao teu lado
Sem o sentir nem saber...
Mesmo assim, isso me basta
P'ra ver um bem em morrer.

Se ontem à tua porta
Mais triste o vento passou -
Olha: levava um suspiro...
Bem sabes quem to mandou...

Tens o leque desdobrado
Sem que estejas a abanar.
Amor que pensa e que pensa
Começa ou vai acabar.

Duas horas te esperei
Dois anos te esperaria.
Dize: devo esperar mais?
Ou não vens porque inda é dia?

Trazes a rosa na mão
E colheste-a distraída...
E que é do meu coração
Que colheste mais sabida?

Teus olhos tristes, parados,
Coisa nenhuma a fitar...
Ah meu amor, meu amor,
Se eu fora nenhum lugar!

Teus brincos dançam se voltas
A cabeça a perguntar.
São como andorinhas soltas
Que inda não sabem voar.

Adivinhei o que pensas
Só por saber que não era
Qualquer das coisas imensas
Que a minh'alma sempre espera.

Rosa verde, rosa verde...
Rosa verde é coisa que há?
É uma coisa que se perde
Quando a gente não está lá.

Há verdades que se dizem
E outras que ninguém dirá.
Tenho uma coisa a dizer-te
Mas não sei onde ela está.

Quem me dera, quando fores
Pela rua sem me ver,
Supor que há coisas melhores
E que eu as pudera ter.

Dei-lhe um beijo ao pé da boca
Por a boca se esquivar.
A ideia talvez foi louca,
O mal foi não acertar.

A tua saia, que é curta,
Deixa-te a perna a mostrar:
Meu coração já se furta
A sentir sem eu pensar.

7 comentários:

  1. Excelente! me encanta Pessoa. Lei mucho acerca de su obra.
    Beijo

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  2. Pessoa é o meu poeta, querido Reiffer!
    Um verdadeiro tesouro é o que você nos oferece neste magnífico post!
    Abraço da
    Zélia

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  3. Pessoa era o poeta que eu gostaria de ter sido contemporânea.

    Excelente escolha, à qual acrescento, caso não se incomode:


    "É fácil trocar as palavras,
    Difícil é interpretar os silêncios!
    É fácil caminhar lado a lado,
    Difícil é saber como se encontrar!
    É fácil beijar o rosto,
    Difícil é chegar ao coração!
    É fácil apertar as mãos,
    Difícil é reter o calor!
    É fácil sentir o amor,
    Difícil é conter sua torrente!"

    Belo Post!

    Beijos

    Mirze

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  4. Unanimidade (com exceção de um certo brasileiro que acha que o poeta não tinha imaginação), Pessoa é o grande professor de quem tenta fazer poesia hoje. Gosto das quadrinhas, principalmente esta:

    Teus olhos tristes, parados,
    Coisa nenhuma a fitar...
    Ah meu amor, meu amor,
    Se eu fora nenhum lugar!

    Sem imaginação, pois sim!!

    Abraços

    PAZ e LUZ

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  5. Alberto Caeiro é meu joão Pessoa preferido.


    Pouco me importa.
    Pouco me importa o que? Não sei: pouco me importa.

    ****

    "A água chia no púcaro que elevo à boca.
    «É um som fresco» diz-me quem me dá a bebê-la.
    Sorrio. O som é só um som de chiar.
    Bebo a água sem ouvir nada com a minha garganta."

    "Poemas Inconjuntos". Poemas Completos de Alberto Caeiro.

    Ótimo post, Reiffer.

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  6. Muito boas e as duas ultimas com um humor de primeira.
    beijos

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