Cecília Meireles (1901-1964) é com certeza uma das maiores poetisas da língua portuguesa. Entre as brasileiras, na minha humilde opinião, é a maior. A poetisa carioca conseguiu com maestria conjugar o subjetivismo, a melancolia, a espiritualidade e a musicalidade do Simbolismo com a leveza, a simplicidade, a preocupação social e a liberdade formal do Modernismo.
Da sua temática preferida, a transitoriedade do tempo, das coisas, da vida, surgem poemas de profundos questionamentos existenciais, muitas vezes trazendo-nos a aparente antítese de transmitir a sensação de que sentimentos e ideias melancolicamente pesados foram nos passados através de uma suavidade e ritmo musical quase infantis. O poema abaixo é um deles.
Canção
Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
Cecília Meireles
(na imagem, o quadro "Naufrágio", de Vernet.)
O que eu mais amo:
ResponderExcluirRetrato
"Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?"
Cecília Meireles
É verdade! Cecília é maravilhosa!
ResponderExcluirBjos!
aceitação e humildade são minhas favoritas... vc tem razão, para mim ela é a maior. me inspiro nela demais... parabéns por esse post. meu amor pela poesia jamais seria o mesmo se eu não conhecesse os versos da cecília.
ResponderExcluirÉ das melhores realmente, foi uma das primeiras poetisas que conheci quando era criança e continua sendo das melhores.
ResponderExcluir----------------------------------
Serenata
"Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.
Permita que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silencio,e a dor é de origem divina.
Permita que eu volte o meu rosto para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho como as estrelas no seu rumo"
Amo a Cecília Meireles, tenho um livro de poesias lindas. Adorei essa, ainda não conhecia. Brigada.
ResponderExcluir=*
Belo demais, meu querido!
ResponderExcluirTambém sou apaixonada por Cecília Meireles!
Você disse bem: transitoriedade do tempo...
Adorei!
Abraço bem apertado
Reiffer!
ResponderExcluirQue bela escolha!
Leio tudo de Cecília! Do "Romanceiro da inconfidência" aos livros dedicados às crianças.
Foi uma poetisa além e com uma visão que jamais se apagará. Ela é eterna.
Beijos
Mirze
Sem dúvidas ela é a maior do Brasil!
ResponderExcluirE Eu que a conheci cabulando aulas de catecismo: ia refugiar-me na biblioteca do colégio, onde tb conheci Fagundes Varela e Quintana...
Abraços,
Sem dúvida uma escritora para explorar
ResponderExcluirMaravilhoso!
ResponderExcluirPerfeito.
beijos
Salve!
ResponderExcluirBela homenagem...
Eu me identifico demais com:
"Motivo"
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto.
E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.
Abç.
Grandiosa poetisa ,excelente ,sem palavras.Abraços.
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