30 novembro 2010

ao Compasso das Gargalhadas

...ao compasso das gargalhadas
dos abutres sobre o sangue
passo a passo dos gargalos
cataratas das garrafas
e o catarro das risadas
dos abutres sobre a terra
garra a garra pela carne
em brasas de santa graça
e a branca alada da garça
assanguinada em faca fraca
do compasso das metralhas
dos deboches alastrados
e os abertos bicos dos abutres
na cantata das gargalhas
e as pernas já trançadas
nas vagas claras do teu riso
os cruéis dentes em vãs asas
como o branco das cascatas
e o sarcástico dos asnos
e o rastejo das serpentes
e o gaguejo dos macacos
e o gorgolejo das galinhas
e o grotesco destes sapos
e o motejo destas cabras
e o manquejo destes diabos
soaram como graves larvas
ou como bruxas engasgadas
de ironias devoradas
e zombarias pelas águas
e gangrenas golfejadas
entre as línguas engraçadas
de lagartos arrastados
em macabras largas danças
com mefistófeles e gárgulas
na valsa destas risadas
dos abutres sobre o sangue
ao compasso das gargalhadas...

9 comentários:

  1. A.,

    Lí teu texto em ritmo de um cordel. Os bons cordéis que retrataram épocas sangrentas.

    Versos apocalípticos escritos numa estética incomum.

    Gosto da tua assinatura poética.

    abraço

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  2. Agradável. No meio do poema cheguei a me perder, no entanto o desfecho me encontrou um caminho.

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  3. Heil Reiffer!

    Algumas vezes, depois de ler você, pergunto-me: que quis dizer? - E daí concluo que nem sempre o dito é para ser entendido, senão sentido.

    Gargalhadas: de felicidade ou de loucura. Presumo que sejam desta última...

    Abraços,

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  4. Que LINDO, Reiffer!

    A humanidade vai parar de gargalhar, com a extinção dos abutres. Seres inocentes que não atacam, só cumprem sua função!

    Assim como os abutres, borboletas, tigres e golfinhos agora em extinção.

    Lástima!

    Beijos, poeta!

    Mirze

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  5. Meu querido Poeta

    Simplesmente divino...gritado no profundo das entranhas da terra...que é poeta...é.

    Beijinhos
    Sonhadora

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  6. É isso que a Mai disse, esse texto é ritmo puro, que obriga a gende a dançar.

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