31 maio 2010

um Trago do que Sinto

talvez deixasse aqui
o que sinto no momento...
mas é claro que não conseguiria:
sempre seria mais rápido
ou mais lento
e tudo o que escrevesse
não seria o que seria dito
não estaria meu ser
se estivesse meu eu
e vice-versa...
não sou
o que escreveu...

e por que beber do que sinto
se em tudo que trago minto?
é sempre pior do que falo
é sempre mais do que digo
não poderei nem assim
estar a sós comigo...

então deixo o que há mais
e que entendam os loucos
os fracassados os insensatos
e os transcendentais

escrevo o que não consegui
que é para a poesia ser
sem o meu eu
e deixar-me com o meu nada
e o meu ninguém:
deixo que a arte
se eternize
bem mais além...

13 comentários:

  1. Acho que a poesia sempre oferece o beneficio da dúvida aos seus autores... os poetas podem passar incognitas na mutidão dos Eus-eles...

    Abração Alessandro!


    Ps: Descobri uma belissima versão do Dixit dominus de Vivaldi. Coro e solistas maravilhosos.

    ResponderExcluir
  2. Me fez lembrar Fernando Pessoa:
    " O poeta é um fingidor/ Finge tão completamente / Que chega a fingir que é dor/ A dor que deveras sente."

    Quanto ao "mais além", fez-me lembrar Florbela Espanca:

    "Ser poeta é ser mais alto,/ é ser maior/ Do que os homens!"

    :)
    Adorei!
    beijinhos

    ResponderExcluir
  3. ...e eu bebi esse trago com muito gosto!
    Vc é um poeta enigmático.
    Gostei muito do que li hoje.

    abçs

    ResponderExcluir
  4. " Puro e disposto a salire a le stelle, dopo l'amore che muove il mondo..."


    Abraço Alessandro.

    ResponderExcluir
  5. Seu texto, como sempre interessante, me fez refletir uma questão minha.
    Eu consigo me expressar em textos de maneira que verbalmente eu não conseguiria. Por isso eu amo poesia!

    Abraços

    ResponderExcluir
  6. Apesar de ser difícil dizer o que está dentro, apesar de atropelarmos ou irmos mais lento, vc o faz muito bem, sempre encontro muita essência nos seus poemas, bonitos de se ler.

    Beijo.

    ResponderExcluir
  7. como siempre..admirable...
    sus letras salen del alma y eso se percibe desde la primera línea.Simplemente brotan naturalmente, expresa en tus letras lo que a veces con la voz cuesta...
    La poesía es parte de su esencia
    En ud. el don se manifiesta con una estética absolutamente bella.
    Mi admiración y cariño!

    ResponderExcluir
  8. Mais um poema que nos toca fundo! Meu caro poeta tu tens o dom de nos fazer pensar e sentir, enquanto lemos um de seus poemas.Caracteristica de um grande autor.

    ResponderExcluir
  9. Lindissimo poema, descreve lindamente a essência do poeta.


    escrevo o que não consegui
    que é para a poesia ser
    sem o meu eu
    e deixar-me com o meu nada
    e o meu ninguém:
    deixo que a arte
    se eternize
    bem mais além...

    Adorei.

    Beijinhos
    Sonhadora

    ResponderExcluir
  10. Vou deixar o link aqui posso? (já deixando)
    http://musicantiga.blogspot.com/2010/05/vivaldi-sacred-music-vol-3.html

    Acho que ja te enviei esse blog.Tem cada atualização incrivel!

    Grande abraço

    ResponderExcluir
  11. Cheguei aqui através de LIFE Graciela Bacigalupe.
    Gostei do que li e estarei atenta.
    abraço

    ResponderExcluir