15 maio 2010

Testamento de Poeta, de José Régio


Abaixo, um soneto de José Régio, um dos maiores nomes do Modernismo português, poeta que admiro imensamente, genial escritor de um dos, a meu ver, mais intensos poemas da literatura universal, "Cântico Negro", já publicado aqui no blog. Na imagem, o quadro "A Morte e a Donzela", de Marianne Stokes.

Testamento de Poeta

Todo esse vosso esforço é vão, amigos:
Não sou dos que se aceita... a não ser mortos.
Demais, já desisti de quaisquer portos;
Não peço a vossa esmola de mendigos.

O mesmo vos direi, sonhos antigos
De amor! olhos nos meus outrora absortos!
Corpos já hoje inchados, velhos, tortos,
Que fostes o melhor dos meus pascigos!

E o mesmo digo a tudo e a todos, - hoje
Que tudo e todos vejo reduzidos,
E ao meu próprio Deus nego, e o ar me foge.

Para reaver, porém, todo o Universo,
E amar! e crer! e achar meus mil sentidos!....
Basta-me o gesto de contar um verso.

6 comentários:

  1. "já desisti de quaisquer portos.."
    doloroso isso...muito aliás.
    Abraço alessandro

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  2. Amo, adoro José Régio, como tantos outros também símbolos do modernismo português. Processo de ruptura e libertação. Época rica e memorável. Sinto vontade de ter nascido nos inícios do século XX só, e tão somente, para ter o privilégio de testemunhar de perto o nascimento, o êxtase e a ruptura de certos valores através dos versos.


    Um beijo

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  3. Excelente poema de José Regio, Reiffer. Grato por partilhá-lo. Abraço grande.

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  4. Esse poema e esse quadro são um escândalo.
    Beijo
    Denise

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  5. o poder do verso, o poder da criação...o poder do verbo, poder do universo!


    Maravilha, Paz!

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