Abaixo, um soneto de José Régio, um dos maiores nomes do Modernismo português, poeta que admiro imensamente, genial escritor de um dos, a meu ver, mais intensos poemas da literatura universal, "Cântico Negro", já publicado aqui no blog. Na imagem, o quadro "A Morte e a Donzela", de Marianne Stokes.
Testamento de Poeta
Todo esse vosso esforço é vão, amigos:
Não sou dos que se aceita... a não ser mortos.
Demais, já desisti de quaisquer portos;
Não peço a vossa esmola de mendigos.
O mesmo vos direi, sonhos antigos
De amor! olhos nos meus outrora absortos!
Corpos já hoje inchados, velhos, tortos,
Que fostes o melhor dos meus pascigos!
E o mesmo digo a tudo e a todos, - hoje
Que tudo e todos vejo reduzidos,
E ao meu próprio Deus nego, e o ar me foge.
Para reaver, porém, todo o Universo,
E amar! e crer! e achar meus mil sentidos!....
Basta-me o gesto de contar um verso.
Testamento de Poeta
Todo esse vosso esforço é vão, amigos:
Não sou dos que se aceita... a não ser mortos.
Demais, já desisti de quaisquer portos;
Não peço a vossa esmola de mendigos.
O mesmo vos direi, sonhos antigos
De amor! olhos nos meus outrora absortos!
Corpos já hoje inchados, velhos, tortos,
Que fostes o melhor dos meus pascigos!
E o mesmo digo a tudo e a todos, - hoje
Que tudo e todos vejo reduzidos,
E ao meu próprio Deus nego, e o ar me foge.
Para reaver, porém, todo o Universo,
E amar! e crer! e achar meus mil sentidos!....
Basta-me o gesto de contar um verso.
"já desisti de quaisquer portos.."
ResponderExcluirdoloroso isso...muito aliás.
Abraço alessandro
Amo, adoro José Régio, como tantos outros também símbolos do modernismo português. Processo de ruptura e libertação. Época rica e memorável. Sinto vontade de ter nascido nos inícios do século XX só, e tão somente, para ter o privilégio de testemunhar de perto o nascimento, o êxtase e a ruptura de certos valores através dos versos.
ResponderExcluirUm beijo
Excelente poema de José Regio, Reiffer. Grato por partilhá-lo. Abraço grande.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEsse poema e esse quadro são um escândalo.
ResponderExcluirBeijo
Denise
o poder do verso, o poder da criação...o poder do verbo, poder do universo!
ResponderExcluirMaravilha, Paz!