Prossegue no orkut o debate sobre o subjetivismo na arte, mais especificamente na música, e me parece deveras interessante postar o meu ponto de vista a respeito aqui no blog. Que os leitores também exponham suas opiniões. Prometo que essa é a última postagem a respeito do assunto.
"O homens querem fugir do subjetivismo na arte com argumentos racionais como os que você se utiliza, e não conseguem. Porque você dizer que Bach foi mais importante para o desenvolvimento da música está simplesmente baseado, inconscientemente, no seu gosto pessoal por ele, ainda que você não queira e proteste com mil e um argumentos quanto a isso. Sabe por quê? Porque você jamais convencerá um beethoveniano de que Bach foi mais importante. E os beethovenianos tentarão lhe convencer com os mesmos argumentos racionais e perfeitamente válidos como os seus de que Beethoven foi mais importante para o desenvolvimento da música. Já participei de debates sobre tais assuntos, não no orkut, onde cada um defende seu ponto de vista com absoluto brilhantismo, e cada um fica de acordo com seu gosto. Isso é subjetivismo. Não adianta, não há como fugir a ele. É bonito falar em valoração e em critérios objetivos, mas isso é uma conversa da mente racional que sempre procura limitar as definições. Quer ter um ilusório controle das coisas.
Aqueles que julgaram Bach ultrapassado certamente tinham brilhantes argumentos de "valoração" para isso. Assim como os que queriam "corrigir" Bruckner, e os que se julgam aptos para julgar um concurso literário, como aquele em que o genial Fernando Pessoa foi considerado inferior a um escritor medíocre. Com o tempo as coisas são percebidas. Nossos critérios de "valor" sempre serão falhos. Porque sempre serão subjetivos. Quem você convencerá com seus argumentos? Aqueles que pensam como você. Aqueles que GOSTAM mais de Bach que de Beethoven. Se fosse o contrário, os beethovenianos viriam com mil e um argumentos contra os seus. Eu, particularmente, acho que ambos têm o seu valor em níveis completamente diferentes. Por exemplo, sem Beethoven, não haveria romantismo. Sem romantismo, Bach não seria o deus que é hoje. Essa é a verdade. E será que se fosse assim você estaria aqui nesta comunidade? Talvez nem houvesse a comunidade. Como querer afirmar que um é mais importante que outro a não ser com subjetivismo?
A sua comparação com Bruno e Marrone foi um ótimo recurso de retórica, mas não procede. É um argumento sofismático. O subjetivismo nesse caso vai ocorrer numa comparação entre esses cantores e Chitãozinho e Xororó, por exemplo. Qual dessas duplas é melhor? Eles estão em níveis semelhantes, e estou certo que os defensores de uma dupla e de outra teriam ótimos argumentos racionais para defender seu subjetivismo. Assim como em níveis superiores os defensores de Bach e os de Beethoven se digladiariam eternamente para um tentar convencer o outro de que um é mais importante. E ninguém convenceria ninguém, o subjetivismo sempre vence, mesmo que um lado esteja certo de que está com a razão. Aqui muitos podem concordar contigo porque têm pensamentos e visões semelhantes. Em outras comunidades seria diferente.
Os mozartianos, por exemplo, dizem que Mozart foi o mais genial de todos porque ele compunha com mais facilidade que os outros compositores músicas originais, belas, melodiosas e profundas. E acham que esse é um critério de valoração perfeitamente válido. Para mim, isso também é subjetivo. Se eu fosse defender Beethoven, diria que ele é o mais genial porque foi o único que causou uma revolução bombástica na música. Isso também é subjetivo. A arte é e sempre será subjetiva. Uma certeza de um momento, pode ser quebrada adiante. E graças a Deus elas são quebradas. Porque se houvesse objetivismo na arte, os que julgaram Bach ultrapassado estariam certos até hoje.
Cada um bebe em uma influência e, se for genial, transforma essa influência em algo novo, como Beethoven, como Wagner, como Schoenberg. Bach também bebeu em várias fontes. Seria Monteverdi mais importante que Bach? Não foi Bach que inventou o barroco na música, foi, praticamente, Monteverdi. Olha que usando critérios supostamente "objetivos" pode surgir aqui um monteverdiano dizendo que Monteverdi é mais importante que Bach, pois sem ele não existiria barroco, e não existiria Bach. Tudo subjetivismo. É inútil...
E um outro ponto? Como você vai convencer um fã de Bruno e Marrone de que Bach é melhor com os SEUS critérios de valoração? Isso não existe. Vai dizer que Bach é melhor porque o ritmo é perfeito, porque o contraponto é infinitamente superior, porque é muito mais complexo, porque sua melodias são mais belas, mais profundas, porque sua música é muito mais original, porque ele necessitou de mais estudo, porque ele é mais genial, enfim... O fã de Bruno e Marrone dirá simplesmente: "mas no meu critério de valor, Bruno e Marrone é melhor. Eu procuro simplicidade na música, melodias fáceis, que me emocionam sem eu precisar de concentração, músicas para momentos de festejos, e para isso Bach não serve." Então, onde ficam seus critérios de valoração?
É uma utopia você querer estabelecer critérios de valoração. Eles não existem, serão sempre relativos, sempre subjetivos. Por que, no meu caso, eu julgo Bach infinitamente melhor que Bruno e Marrone? A minha resposta é simplíssima: porque Bach me eleva, Bruno e Marrone não, pelo contrário, me dá nojo. Pronto. Esse é o meu critério de valoração. E é subjetivo. E o mesmo acontece com Gershwin. Bach é para mim superior porque Bach me eleva muito mais que Gershwin. Agora você vai usar critérios que dizem que o contraponto é melhor, o ritmo, a melodia, etc. Mas o fã de Bruno e Marrone não acha que isso seja um valor. Para ele não é. Não há como estabelecer valores universais. O que há são níveis de consciência. E os níveis de consciência são subjetivos. Eu sei que Bach é melhor porque tenho consciência disso. Os fãs de sertanejo não tem essa consciência. E não há critérios de valores para transmitir a eles essa consciência. Você diz que a forma e o contéudo são critérios de valores. Tudo bem, mas quem vai estabelecer que Bach tem mais forma e mais conteúdo que Beethoven? Quem? E o que é forma? Forma é perfeição formal ou é inovação formal? Quem foi mais inovador? O que é conteúdo?
No que há mais forma e mais conteúdo? Na Paixão Segundo São Mateus de Bach ou na 9ª Sinfonia de Beethoven? Quem pode afirmar com certeza que há mais em um ou em outro? Pode ser que daqui a um século, a PSM e a 9ª Sinfonia sejam esquecidas ou tenham sua importância minimizada, porque podem surgir outros critérios de valores. Só o que pode nos dizer o real valor de uma obra de arte é a nossa alma, a nossa psique. Não existem critérios objetivos. Os homens de grande alma sabem o imenso valor que essas obras possuem. Os homens de alma pequena não sabem, não entendem. Não adianta querer estabelecer critérios de valoração objetivos. O que nos dá a certeza do valor das obras dos mestres é uma certeza interna, espiritual, anímica, psíquica, como quiserem, e não critérios objetivos."
"O homens querem fugir do subjetivismo na arte com argumentos racionais como os que você se utiliza, e não conseguem. Porque você dizer que Bach foi mais importante para o desenvolvimento da música está simplesmente baseado, inconscientemente, no seu gosto pessoal por ele, ainda que você não queira e proteste com mil e um argumentos quanto a isso. Sabe por quê? Porque você jamais convencerá um beethoveniano de que Bach foi mais importante. E os beethovenianos tentarão lhe convencer com os mesmos argumentos racionais e perfeitamente válidos como os seus de que Beethoven foi mais importante para o desenvolvimento da música. Já participei de debates sobre tais assuntos, não no orkut, onde cada um defende seu ponto de vista com absoluto brilhantismo, e cada um fica de acordo com seu gosto. Isso é subjetivismo. Não adianta, não há como fugir a ele. É bonito falar em valoração e em critérios objetivos, mas isso é uma conversa da mente racional que sempre procura limitar as definições. Quer ter um ilusório controle das coisas.
Aqueles que julgaram Bach ultrapassado certamente tinham brilhantes argumentos de "valoração" para isso. Assim como os que queriam "corrigir" Bruckner, e os que se julgam aptos para julgar um concurso literário, como aquele em que o genial Fernando Pessoa foi considerado inferior a um escritor medíocre. Com o tempo as coisas são percebidas. Nossos critérios de "valor" sempre serão falhos. Porque sempre serão subjetivos. Quem você convencerá com seus argumentos? Aqueles que pensam como você. Aqueles que GOSTAM mais de Bach que de Beethoven. Se fosse o contrário, os beethovenianos viriam com mil e um argumentos contra os seus. Eu, particularmente, acho que ambos têm o seu valor em níveis completamente diferentes. Por exemplo, sem Beethoven, não haveria romantismo. Sem romantismo, Bach não seria o deus que é hoje. Essa é a verdade. E será que se fosse assim você estaria aqui nesta comunidade? Talvez nem houvesse a comunidade. Como querer afirmar que um é mais importante que outro a não ser com subjetivismo?
A sua comparação com Bruno e Marrone foi um ótimo recurso de retórica, mas não procede. É um argumento sofismático. O subjetivismo nesse caso vai ocorrer numa comparação entre esses cantores e Chitãozinho e Xororó, por exemplo. Qual dessas duplas é melhor? Eles estão em níveis semelhantes, e estou certo que os defensores de uma dupla e de outra teriam ótimos argumentos racionais para defender seu subjetivismo. Assim como em níveis superiores os defensores de Bach e os de Beethoven se digladiariam eternamente para um tentar convencer o outro de que um é mais importante. E ninguém convenceria ninguém, o subjetivismo sempre vence, mesmo que um lado esteja certo de que está com a razão. Aqui muitos podem concordar contigo porque têm pensamentos e visões semelhantes. Em outras comunidades seria diferente.
Os mozartianos, por exemplo, dizem que Mozart foi o mais genial de todos porque ele compunha com mais facilidade que os outros compositores músicas originais, belas, melodiosas e profundas. E acham que esse é um critério de valoração perfeitamente válido. Para mim, isso também é subjetivo. Se eu fosse defender Beethoven, diria que ele é o mais genial porque foi o único que causou uma revolução bombástica na música. Isso também é subjetivo. A arte é e sempre será subjetiva. Uma certeza de um momento, pode ser quebrada adiante. E graças a Deus elas são quebradas. Porque se houvesse objetivismo na arte, os que julgaram Bach ultrapassado estariam certos até hoje.
Cada um bebe em uma influência e, se for genial, transforma essa influência em algo novo, como Beethoven, como Wagner, como Schoenberg. Bach também bebeu em várias fontes. Seria Monteverdi mais importante que Bach? Não foi Bach que inventou o barroco na música, foi, praticamente, Monteverdi. Olha que usando critérios supostamente "objetivos" pode surgir aqui um monteverdiano dizendo que Monteverdi é mais importante que Bach, pois sem ele não existiria barroco, e não existiria Bach. Tudo subjetivismo. É inútil...
E um outro ponto? Como você vai convencer um fã de Bruno e Marrone de que Bach é melhor com os SEUS critérios de valoração? Isso não existe. Vai dizer que Bach é melhor porque o ritmo é perfeito, porque o contraponto é infinitamente superior, porque é muito mais complexo, porque sua melodias são mais belas, mais profundas, porque sua música é muito mais original, porque ele necessitou de mais estudo, porque ele é mais genial, enfim... O fã de Bruno e Marrone dirá simplesmente: "mas no meu critério de valor, Bruno e Marrone é melhor. Eu procuro simplicidade na música, melodias fáceis, que me emocionam sem eu precisar de concentração, músicas para momentos de festejos, e para isso Bach não serve." Então, onde ficam seus critérios de valoração?
É uma utopia você querer estabelecer critérios de valoração. Eles não existem, serão sempre relativos, sempre subjetivos. Por que, no meu caso, eu julgo Bach infinitamente melhor que Bruno e Marrone? A minha resposta é simplíssima: porque Bach me eleva, Bruno e Marrone não, pelo contrário, me dá nojo. Pronto. Esse é o meu critério de valoração. E é subjetivo. E o mesmo acontece com Gershwin. Bach é para mim superior porque Bach me eleva muito mais que Gershwin. Agora você vai usar critérios que dizem que o contraponto é melhor, o ritmo, a melodia, etc. Mas o fã de Bruno e Marrone não acha que isso seja um valor. Para ele não é. Não há como estabelecer valores universais. O que há são níveis de consciência. E os níveis de consciência são subjetivos. Eu sei que Bach é melhor porque tenho consciência disso. Os fãs de sertanejo não tem essa consciência. E não há critérios de valores para transmitir a eles essa consciência. Você diz que a forma e o contéudo são critérios de valores. Tudo bem, mas quem vai estabelecer que Bach tem mais forma e mais conteúdo que Beethoven? Quem? E o que é forma? Forma é perfeição formal ou é inovação formal? Quem foi mais inovador? O que é conteúdo?
No que há mais forma e mais conteúdo? Na Paixão Segundo São Mateus de Bach ou na 9ª Sinfonia de Beethoven? Quem pode afirmar com certeza que há mais em um ou em outro? Pode ser que daqui a um século, a PSM e a 9ª Sinfonia sejam esquecidas ou tenham sua importância minimizada, porque podem surgir outros critérios de valores. Só o que pode nos dizer o real valor de uma obra de arte é a nossa alma, a nossa psique. Não existem critérios objetivos. Os homens de grande alma sabem o imenso valor que essas obras possuem. Os homens de alma pequena não sabem, não entendem. Não adianta querer estabelecer critérios de valoração objetivos. O que nos dá a certeza do valor das obras dos mestres é uma certeza interna, espiritual, anímica, psíquica, como quiserem, e não critérios objetivos."
Vim te convidar a conhecer meu novo blog.
ResponderExcluirhttp://sandra-botelho.blogspot.com/
Te espero lá tá?
Bjos achocolatados
Vim ler te mais uma vez e foi um prazer passar por aqui e alguns minutos mergulhar em sua escrita meu caro...
ResponderExcluirAlém de deixar o perfume das rosas deixo te também beijinhos
rosa amiga
Iana!!!
Querido
ResponderExcluirVocê mesmo respondeu tudo.
"É uma utopia você querer estabelecer critérios de valoração. Eles não existem, serão sempre relativos, sempre subjetivos."
Nós só não podemos ficar irritado com os ignorantes,certo?
Gosto muito do que você pensa e escreve.
Beijos
Denise
Caro,
ResponderExcluirMeu irmão tem cólicas quando ouço Bach, por exemplo. Mas se alegra, cantarola quando ouve lá suas bandas cujos nomes nem sei dizer.
Algo em relação a seu excelente texto tambem precisa ser comentado: tudo faz com que os gostos sejam direcionados. Logo Bach poderá se esquecido, não por ser ruim, mas porque cada vez menos espaços ele tem para o grande público. E embora algo não ser melhor (ou certo) só porque a maioria o elege, infelizmente, é assim que descaminha a humanidade.
Com amizade e admiração,
O subjetivismo na música é fato.Penso que essa eleição de valores faz algum sentido dentro do mesmo estilo e ainda assim é complicado estabelecer esse ou aquele como mais importante ou que tenha contribuido mais ou menos. Sempre haverão divergências por que é impossivel dissociar do gosto pessoal.
ResponderExcluirAtualmente existe um soprano chamado Natalie Dessay, que é um gênio da coloratura. A mulher é impecável no quesito voz e interpretação, mas tem uma vertente crítica que a acusa de ser exageradamente técnica... acho que no fundo nada satisfaz completamente nenhuma opinião.
Abraço Alessandro
Não entendo muito do assunto! Mas gostei de ler a respeito. Você me parece uma pessoa culta, isso é legal em se tratando de blogueiros!
ResponderExcluirObrigada pela visita!
Beijocas