lá para o fim do futuro,
alguém escreverá sobre mim um poema,
e talvez só então eu comece
a reinar no meu Reino."
Fernando Pessoa
Entre 1914 e 1916, Fernando Pessoa compôs os 14 sonetos de "Passos da Cruz". Trata-se de sonetos absolutamente perfeitos e inovadores em nossa língua, avançando do Simbolismo para o Modernismo, numa linguagem das mais profundas e enigmáticas, por isso, pouco populares, se levarmos em conta que a obra de Pessoa é muito difundida na atualidade.
Nesses sonetos, o gênio português expressou a sua dramática visão de sua missão como poeta, como artista. Julgava-se um predestinado, solitário e incompreendido, cuja missão ele ainda não conhecia totalmente, mas que seria cumprida de qualquer forma e legada à posteridade.
E assim, de fato o foi. Pessoa jamais teve reconhecimento em vida, publicou apenas um livro, fracassou em seus projetos profissionais, viveu em relativa pobreza, sendo sustentado por amigos e parentes, mas hoje é visto como um dos maiores poetas da literatura universal. Hoje anda de boca em boca, amantes e não amantes de poesia conhecem pelo menos alguns de seus versos e não se cansam de expressá-los em blogs, orkuts, twitter, enviar para os amados e amadas, ainda que não os compreendam inteiramente. Seus livros são incansavelmente editados, reorganizados, espalhados pelo mundo todo. Suas obras estudadas e analisadas infatigavelmente. De modo que Fernando Pessoa tinha razão. Ele era um predestinado.
A partir de hoje, sendo um por semana, publicarei aqui os 14 sonetos de Passos da Cruz, sem comentá-los, deixando que o leitor tenha suas próprias sensações.
Passos da Cruz - Soneto I
Esqueço-me das horas transviadas…
O Outono mora mágoas nos outeiros
E põe um roxo vago nos ribeiros…
Hóstia de assombro a alma, e toda estradas...
Aconteceu-me esta paisagem, fadas
De sepulcros a orgíaco… Trigueiros
Os céus da tua face, e os derradeiros
Tons do poente segredam nas arcadas…
No claustro sequestrando a lucidez
Um espasmo apagado em ódio à ânsia
Põe dias de ilhas vistas do convés
No meu cansaço perdido entre os gelos,
E a cor do Outono é um funeral de apelos
Pela estrada da minha dissonância…
Obrigado muito pela visita! É um prazer tê-lo entre minhas amizades. Que Deus bendiga você com muitos êxitos em 2010. Força e luz. Z.A. Feitosa - www.feitosa.net
ResponderExcluirFernando Pessoa foi uma alma singular. Só teve um amor, nunca saiu de Lisboa (excepto quando esteve a morar na Àfrica do Sul quando muito novo), teve mais de 90 heterónimos. As suas grandes alegrias escrever, ler(nas estantes contam-se por exemplo livros de Oscar Wilde e Byron, eu próprio os vi)e obviamente beber...beber bem diga-se... pq foi mesmo essa a causa da sua morte!
ResponderExcluirParabéns pelo tema e esperamos pelos restantes passos:)
Peculi
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