Considero Cruz e Sousa como o maior poeta entre os brasileiros. Estou certo que bem poucos, pouquíssimos, concordarão comigo. O Simbolismo, em nossas terras, não é visto com bons olhos, geralmente. Justifico minha opinião. Cruz e Sousa é um dos raros poetas no Brasil que conseguiu unir perfeição formal com uma expressão absolutamente profunda e original. Se considerarmos o contexto em que criou sua obra, dominada pelo artificialismo parnasiano, a obra angustiada e sincera de Cruz e Sousa surge de forma ainda mais surpreendente.
Para mim, o Poeta Negro é tão elevado quanto os grandes simbolistas franceses. Certa vez, um crítico de que não me recordo o nome, afirmou que se Cruz e Sousa fosse europeu e branco, seria tão reconhecido como os maiores simbolistas do mundo. Dizia ainda o crítico que o poeta brasileiro é mais sublime que Baudelaire, mais profundo que Verlaine, mais sincero que Mallarmé. E eu concordo totalmente.
O que mais impressiona foram as condições em que a obra de Cruz e Sousa foi criada. Não bastasse ele ser negro e sofrer com o preconceito que era muito mais intenso na época, ou mais evidente, pois hoje ele é mais mascarado, ainda sofria de tuberculose (doença que também vitimou três de seus filhos), sua esposa Gavita, que tanto amava, enlouquecera, e recebia um mísero salário da Estrada de Ferro Central do Brasil.
E foi assim que o "Cisne Negro" nos legou uma das obras mais autênticas de nossa literatura, intensamente espiritual, versos advindos da alma capazes de enternecer nosso coração. Uma poesia pulsante de luz e sombra, trágica, angustiada, inquietante, de incomparável musicalidade, mergulhada no mistério da vida e do universo. Abaixo, um de seus Últimos Sonetos.
COGITAÇÃO
Ah! mas então tudo será baldado?!
Tudo desfeito e tudo consumido?!
No Ergástulo d'ergástulos perdido
Tanto desejo e sonho soluçado?!
Tudo desfeito e tudo consumido?!
No Ergástulo d'ergástulos perdido
Tanto desejo e sonho soluçado?!
Tudo se abismará desesperado,
Do desespero do Viver batido,
Na convulsão de um único Gemido
Nas entranhas da Terra concentrado?!
Nas espirais tremendas dos suspiros
A alma congelará nos grandes giros,
Rastejará e rugirá rolando?!
Ou entre estranhas sensações sombrias,
Melancolias e melancolias,
No eixo da alma de Hamlet irá girando?!
Eu não saberia e nem poderia dizer que Cruz e Souza é o maior poeta brasileiro. Afinal, não sou poeta ou crítico literário. Não reúno, assim, qualquer qualidade, mínima que seja, a um julgamento justo e fundamentado. Todavia, posso afirmar - porque isso vem da alma, embora a alma muitas vezes não seja justa ou sensata - que Cruz e Souza é, dentre os nossos, o poeta de que mais gosto e aquele a quem mais admiro. Digo mais: está entre os que mais me fascinam na língua galego-portuguesa.
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