10 dezembro 2008

Um Poema do Mestre

A esperança, como um fósforo inda aceso

A esperança, como um fósforo inda aceso,
Deixei no chão, e entardeceu no chão ileso.
A falha social do meu destino
Reconheci, como um mendigo preso.


Cada dia me traz com que esperar
O que dia nenhum poderá dar.
Cada dia me cansa de Esperança ...
Mas viver é esperar e se cansar.


O prometido nunca será dado
Porque no prometer cumpriu-se o fado.
O que se espera, se a esperança é gosto,
Gastou-se no esperá-lo, e está acabado.


Quanta ache vingança contra o fado
Nem deu o verso que a dissesse, e o dado
Rolou da mesa abaixo, oculta a conta.
Nem o buscou o jogador cansado.


Fernando Pessoa

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