29 março 2018

Todo Mundo é Suicida

todo mundo é suicida.
quem é que não se mata?
quem não morre por?
de vício cobiça comida ou amor?

todo mundo morre de tanto
inclusive  de tanto viver 

“o todo
é o prolongamento do indivíduo” (Kant)
quem não sabe
que a humanidade
é um lento firme vasto suicídio?

todos se destroem
por um desejo
ou um sucesso (a)final

já eu não me destruo
nem para prêmio nem para pódio:
me destruo para criar:
que não seja em vão
meu suicídio de tanto morrer

26 março 2018

Patético

Beethoven compôs
a Sonata Patética
na época
que patético
significava “trágico”
estando de acordo
com o romântico
daquele século

hoje mudou-se rápido
e patético
significa “ridículo”
e escrevo um poema patético
estando de acordo
com o homúnculo
desta era-catástrofe

agora
a humanidade é prática
como sinônimo de hipócrita:
as coisas passam súbitas
pútridas estúpidas
e logo o tudo é nada
atônito
fogo de palha
mísera
palhaçada

24 março 2018

Mais um: Rinoceronte Branco do Norte está praticamente extinto

No início do século XX, havia 500 mil rinocerontes na África. Hoje, não chegam a 29 mil. É assim que caminhamos na nossa morte lenta. Morte de um planeta e da sua humanidade, a causadora do Fim. E com a morte do último espécime macho de Rinocerontes Brancos do Norte, ocorrida nesta semana, mais uma subespécie de rinoceronte foi condenada à extinção, pois restam apenas duas fêmeas é não há como ocorrer inseminação artificial. Assim como o Rinoceronte Negro do Oeste, extinto há uns dois anos, a caça foi o que causou o desaparecimento desses majestosos animais.

Das 4 subespécies de rinocerontes da África, restam duas: o Rinoceronte Branco do Sul (em situação relativamente segura, por enquanto) e o Rinoceronte Negro do Leste (mais ameaçado). 

Quando da tragédia da extinção do Rinoceronte Negro do Oeste, escrevi o poema abaixo, que agora republico:

Versos Inexistentes*

Dodô
Emu-Negro
Foca-Monge
Asno-Sírio

Leão-do-Atlas
Leão-do-Cabo
Zebra-Quagga
Ave-Elefante
Arau-Gigante
Íbis-Terrestre
Tigre-de-Bali
Tigre-do-Cáspio
Tigre-de-Java
Lobo-de-Honshu
Vaca-Marinha
Sapo-Dourado
Cervo-Schomburki

Gazela-Vermelha
Dugongo-de-Steller
Antílope-Azul
Raposa-das-FalklSíri

Pombo-Passageiro
Lobo-da-Tasmânia
Cabra-dos-Pirineus
Pato-do-Labrador
Jiboia-da-Ilha-Round
Rinoceronte-Negro

Tartaruga-da-Ilha-Pinta
Lagarto-da-Ilha-de-Ratas
Wallaby-Rabo-de-Prego

Pato-de-Cabeça-Rosa
Periquito-do-Paraíso
Bandicoot-do-Deserto
Rinoceronte-de-Sumatra
Arara-Vermelha-de-Cuba

deixei 34 versos inexistentes
e mais uns outros de adeus:
quem sabe, meus amigos extintos,
um dia o meu fatal destino
beberá vinho tinto
na presença dos teus

(*Todos os animais mencionados estão extintos.)

22 março 2018

De(x)ploração: ao Dia Mundial da Água

Republico poema escrito e publicado originalmente em março de 2016:

ao erguer-se a luz empurecida do sol
brilha a claridade etérica de éter
das espumas dos rios
das sangras, dos arrotos, dos diachos
ao render-se à luz emputecida do sol

castelos de sabão
aves cheias de graxas
e aquelas formas alvas
das névoas lépidas fétidas
formas brancas
acagadas
formas claras
de ovos
infinitos e intestinais

a serenidade impassível intragável
das águas plácidas
pútridas
ácidas
básicas
aquelas águas plásticas
de folhas flores e fezes

aquelas águas tranquilas
imperturbáveis
onde nem um peixe
causa alguma onda

aquelas águas-espumas
aclaradas brilhantes
acabadas desinfetantes
como resultado tardo
de ter gentes

19 março 2018

a vida esmaga a Vida

pé por pé no dia a dia
e passo a passo de pouco em pouco
a vida esmaga a Vida
que não é vivida: só consumida

de sol a sol de hora em hora
o que é de vida se põe no lixo
o que é de alma se joga fora
e de grão em grão de ovo em ovo
o homem choca o homem chora
a encher o papo a encher o bolso
a encher o saco a encher o vácuo
do seu olho por olho
que o tempo traga

o homem
de queda em queda
dente por dente
pós-decadente
aos lusco-fuscos
não mais que cuscos
e quando se vê
é fogo-fátuo
menos que fósforo
que avança ao dedo
deixando só...
da cinza à cinza
do pó ao pó

17 março 2018

Esta é a Tua História

tu te sentas abostado no teu sofá de porco
e sorris arrogante dizendo que não é nada
que não há ameaças reais nem à humanidade nem ao planeta
e quando há, as ameaças nunca vêm de ti
a baba se derrama pelo ranço do teu sorriso
e tu manténs tua vidinha cômoda e teu suficiente dinheiro
enquanto um sol vermelho fura os olhos no horizonte
e o sangue de milhões de bichos escorre pelas estradas

mas pra ti vamos de vento em popa
por mais que os mares se abismem negros ao teu redor
por mais que na África tombem a bala elefantes e leões
por mais que na Ásia tombem a bombas mulheres e crianças
por mais que berre em miséria todo um povo
apenas para que meia dúzia posso desfrutar do seu  iate particular

tu sentas tua bunda na grama ressecada
enche tua boca estúpida e convencida
para grunhir que tudo isso é só um acidente de percurso
um efeito colateral do progresso e da evolução
que será rapidamente solucionado se fizerem o que tu dizes
tu te olhas no espelho e te vês como progresso e evolução
ou tu nem te olhas no espelho
afundado em descartáveis e agrotóxicos
asfixiado pelo veneno do bafo do lucro
tu estás certo de que as soluções estão nas tuas ideias

e nas tuas ideias apenas se sente o cheiro podre 
da produção e do dinheiro
das quinquilharias e inutilidades a atulhar o mundo
e nas tuas soluções está o massacre dos que não são como tu
e com o teu sorriso nos cantos dos beiços acha
que a merda que transborda nos esgotos da terra
nunca é a tua merda
que o lixo que se infiltra nas entranhas das árvores
nunca é o teu lixo

mas tu que vês no outro a escória, tu és a escória
tu que vês no outro o problema, tu és o problema
e o mundo que tu julgas que irá muito bem se tirarem dele o mal
este mundo vai mal por causa de gente como tu 
que é o mal que está nele e que tu não queres que tirem

e tu, que não sentes nada 
que não percebes nada
que não te importas com nada
tu me perguntarás com ódio e ironia:
"Então tu que é o bom, é o cara, é o máximo? 

Qual é a diferença de ti pra mim?"
e eu te responderei:
a diferença de mim pra ti é que eu sei

que não sou nem o bom nem o cara nem o máximo
pelo contrário
e por isso percebo que tudo vai mal
e que a culpa é minha
e que a culpa é tua

16 março 2018

Bolsomito não passa de Mito. Ou nem isso.

Jair Bolsonaro é alguém que deve ser desmascarado. Nem é necessário comentar sobre suas declarações racistas, misóginas, preconceituosas, desumanas, que beiram à monstruosidade. Elas falam por si próprias, montadas em sua ignorância escrachada. A tão propalada "honestidade" de Bolsonaro não passa de um verniz falsificado, e o seu recebimento de propina da JBS nos tempos do PP, devolvida ao partido (não à JBS, vejam bem) e recebida de volta como verba partidária, assim como seu rápido enriquecimento e suas suspeitas de lavagem de dinheiro, estão aí para desmoronar o "mito" do Bolsonaro honesto. Sem falar nas suas constantes mentiras e notícias falsas espalhadas a torto e a direito por ele e por sua "equipe". Sem falar nos inúmeros casos de nepotismo que realizou durante os seus longos e VAZIOS 26 anos de vida pública. De mamador público, diga-se de passagem, em que ainda ostenta sua falta de respeito com o miserável povo brasileiro dizendo que usava auxílio moradia para "comer gente"". Tudo isso também é desonestidade. E das mais vergonhosas. 


No entanto os eleitores de Bolsonaro formaram uma seita de fanáticos e não querem saber de nada. Talvez, porque sejam como ele. Os eleitores de Bolsonaro não têm paciência ou vontade ou inteligência para analisar as questões a fundo. Seus defensores tentam justificar das maneiras mais esdrúxulas todos os seus atos e não-atos. O discurso vazio e simplista do Jair serve para criar uma série de refrões que lembram os refrões de músicas de funk: não dizem nada, mas pegam, grudam, ficam na cabeça dos que não se ocupam em pensar muito. Ou seja, é fácil, como as "soluções" apresentadas por Bolsonaro na sua quase ausência de projetos para o país. A partir disso, desenvolvem-se justificativas que pouco importa se são fundamentadas ou não, como as justificativas utilizadas por torcedores de time de futebol numa discussão: não entra racionalidade, só o fanatismo. Por exemplo: para solucionar o problema da violência no Brasil, segundo os bolsonetes, é só armar a população, e as pessoas mesmas matarem os bandidos, ou quem elas acham que são bandidos. Pronto, tudo resolvido fácil, fácil.


E uma das justificativas mais disseminadas é para o fato de o deputado carioca ter apenas dois de seus projetos aprovados em 26 anos de vida pública. Para os bolsonetes, foi por culpa dos outros deputados que não votaram pela aprovação. Bolsonaro apresentou cerca de 170 projetos. Na verdade, não interessa quantos projetos eles apresentou, mas o que consta nesses projetos. E surgem alguns pontos:


1) O pessoal que vota no "Messias" afirmava, na época do impeachment da Dilma, que ela deveria deixar o governo porque não conseguiria aprovar projetos na câmara ou no senado... Humm, mas o Bolsomito consegue, não é? Dois em 26 anos.

2) Eu pesquisei o conteúdo dos projetos do "Mito". Dos 170 projetos, mais de 60 são para beneficiar apenas os militares. Ou seja, corporativismo descarado. É compreensível o porquê de militares o apoiarem tanto.

3) Do restante dos projetos, muitos estão naquela coisa do nacionalismo fajuto do qual ele tanto se orgulha. Por exemplo: cantar o hino com o mão direita no peito, aplaudir a bandeira (tipo o que ele fez, há algum tempo, diante da bandeira dos EUA e do Trump), proibição do uso de palavras estrangeiras em estabelecimentos comerciais, fazer homenagens a militares famosos... Outros projetos têm a ver com a sua "moral" e "bons costumes", que se relacionam ao planejamento familiar DENTRO DA SUA VISÃO MONSTRUOSA. O planejamento familiar deve ser para que não nasçam mais mulheres ou negros. 

4) O que sobra dos projetos tem a ver com a regulação de uso de álcool e fumo em determinados locais e com algumas medidas vitais para a economia do país, como isenção tributária para grupos bem específicos, nunca para o povo em geral. Bolsonaro queria, por exemplo, conceder isenções fiscais para a indústria automobilística e para taxistas. Para os taxistas eu concordo. E até tem umas coisas boas nas suas ideias, como descontos para portadores de diabetes e para idosos em transporte aéreo.

Uau, esse cara vai salvar o país!

13 março 2018

Imperador do Mundo

o tempo é um tanto tão estranho
dizem que pode ser marcado arrastado
por ponteiros de cobre ou de estanho
e que ele passa como se fossem horas
mas ele passa porque nós passamos:
o relógio é tão somente símbolo
de que a vida é um passo a passo
de que a morte é um pouco a pouco

mas o Tempo
que não para e nunca anda
ele vai hora por hora
como se nunca fosse embora
ele vai de poço em poço
entre o almoço e o almoço
é minuto sobre minuto
no castelo de cartas do luto
ele vai de pé por pé
como um fantasma
que existe mas não é
segundo por segundo
marcha o Tempo
imperador do mundo

e tudo num tanto de vida...

e esse tanto é um tempo tão estranho

11 março 2018

Como é Acima é Abaixo

aqui
a água é o melhor símbolo da alma:
está em tudo quanto há vida
sem que se perceba sua estada
está em tudo quanto é cíclico
e em todos os estados
mas não se percebe seu caminho
não se vê a sua estrada

tão vital 
que nem se sente
tão presente e transparente
como algo que nem fosse 
nem amada ou existente
de subida e volta
de retorno e ida 
como se estivesse ao sempre


a alma é o melhor símbolo da água

09 março 2018

Escrever não vale a pena

não vale a pena:
1) o quê? 2) como? 3) pra quem? 4) por quê?

se tudo já foi dito
de tudo quanto é jeito
e mesmo que ainda diga
não há alguém que leia
e mesmo que ainda haja
não há alguém que viva
e mesmo que ainda vida
não há alguém que morra

eu mesmo não morri pelo que disse

escrever é o ato de me dizer a mim

mas se “tudo vale a pena
se a alma não é pequena”
escrevo para sentir
se ainda me resta uma:
não estarei morto
enquanto escreva

07 março 2018

Ninguém é Importante

todo mundo quer ser importante no mundo.
mas num mundo que não vale a pena
ser importante é ter a alma pequena
e ainda que seja no fundo
ninguém é importante.
(porque se passa)
ninguém é mais que traço ou traça

a não ser que se seja gênio
mas gênios são do passado:
já não há mais a grandeza
a independência e a ousadia
(nem mesmo a loucura)
para o que deve ser transformado

as pessoas querem tanto ser importantes.
se querem é porque não serão:
tanto querer é não ter ser
e só o Ser permanece

gênio é quem tem o Ser
sem ter que querer:
é o que não (a)parecem

as pessoas querem ser importantes
só porque querem alguns alguéns
que as “amem”

mas
amém

05 março 2018

Três Considerações Consumistas

I - Suicídio

a humanidade é um suicida
com a pistola do dinheiro apontada para a cabeça:
o gatilho é o lucro
o dedo é das grandes empresas

II - Reflexivo


eu (me) consumo
tu (te) consomes
nós (nos) consumimos

III - Na Cruz

na ânsia absurda
de encher nosso vazio sem fundo
con(sumimos) tudo:
consummatum est

03 março 2018

Ordem x Vida

existe a ordem, e existe a vida. 
quando a ordem quer controlar a vida
a vida quer destruir a ordem. 
porque a vida surge do caos, não da ordem.
e o caos é o nosso destino. 
de onde surgirá mais vida. 
a única ordem é a criação.
a verdadeira ordem 
é a que se cria no interior do caos.
a verdadeira ordem vem de dentro.

28 fevereiro 2018

Mau Sinal

I - o que é de forma completa explicado
nunca é de forma completa sublime:
quando tudo fica claro nada funciona
desde a arte... desde o beijo...
até o crime

II - a poesia ou é direta ou é segredo:
ou sugere como sangue no lábio
ou aponta na cara o dedo
(e de preferência na minha) 

III - poesia não é explicação.
se eu tivesse que a explicar não seria poesia
e nem toda palavra deve ser dita
seja para o bem seja para o mal
e ter que se explicar 
é uma merda de um mau sinal

26 fevereiro 2018

Falta d'Água

qual água preencherá
o vazio de se não-ser?
mais seco que qualquer leito
(de qualquer rio em qualquer seca
pela terra agoniante)
é o vácuo humano esvaziado em pó
(e varrido de horror
sempre mais adiante)

...mais seco
que qualquer leito...
é a terra árida
do humano peito

todo o esgoto
das águas do mundo
não é páreo
ao seu coração esgotado
como quem cortasse
sua própria artéria
de cima abaixo
e de lado a lado

não há semente que germine
nem das mais reles ervas
nem das mais tênues palmas
na esterilidade esfarelenta
disto que chamam de
“humanas almas”

e, meu Deus, que Sede...
quando é que chove
nisso que é trágica?
vou ver se te (sobre)vivo
com a minha última gota
de lágrima

24 fevereiro 2018

Vinho Tinto

o que digo pode 
não estar a te atingir no que venho
mas está a te tingir no que vinho
mais tinto indistinto
que tu vês como um gole sublime
mas a poesia 
é todo um sangue espalhado
entre um rastro do que resta de mim
e o meu crime

21 fevereiro 2018

Nada a (me) Declarar

para quê ler os jornais cansativos de hoje
se no outro cansativo dia 
as cansativas notícias serão outras que são as mesmas
de cansativos dias que já passaram sem nunca passar?
e logo tudo será um cansado passado.

tu, humanidade cansada, 
além da arte, não tens nada a me dizer.
as tuas filosofias, estes cadáveres de boca-aberta.
as tuas esperanças, estes finais de piadas.
as tuas políticas, estes começos delas.
têm mais a me dizer as cansadas cadelas.

ah o cansaço da baba dos que falam em tudo
o nada-adiantar das suas teorias babadas babacas cansadas
que a tudo explicam a não-ser o que se precisa saber.

aqui neste  planeta cansado e exangue
(tu bem o sabes)
só o que não cansa é o Sangue.

19 fevereiro 2018

Rico só dá pra Rico*

dinheiro chama dinheiro:
que quem o tem quanto mais
no quanto mais quer retê-lo
(e esse é seu único anelo)

e te percebas que os ricos
sempre se unem a outros ricos
que se protegem em mútuos
pois o que importa é seus lucros

então conclui-se que os ricos
por em tudo estarem juntos
(sendo a menor minoria)
mantêm sua merda em dia

mas o pobre que é mais número?
já lhe ordenaram que é nada
e que pobre nunca pode
eis a regra: pobre se fode

*Poema escrito e publicado em 2015.

17 fevereiro 2018

Do Futuro da Humanidade

som de tormenta e vingança 
por entre a Marcha que avança
névoa e infortúnio nas tardes 
doença de um sol que não arde 
céu que se cai e desmancha 
som de teu lábio e vingança 

lábio de seca esperança 
gesto que a mão nunca alcança
lagos de sangue e desgraça 
morte que olha e não passa 
um olho no abismo se lança 
lábio de valsa esperança 

valsa e o destino que dança 
e choro em tua lembrança
sonho que nunca nos leva 
criança afogada na treva 
Marcha de morta esperança 
valsa e um Demônio que dança

14 fevereiro 2018

Poema Bem Longe

aquilo que não. que não o quê? que não tudo:
desde o distante até o infinito
tudo o que negar e que for noturno
aquilo que é sem que seja aonde for
o longínquo que é o que está aqui dentro
o que nunca em nunca nenhum momento
sonho que sonha o meu irreal
o outro lado do que nem me lembro
mas conheço como sendo
além-me-ar estando aqui
pelo sono de noites que não foram mas vivi
névoa que escondeu meu nada
olho que não tocou minha visão
fuga de tudo quanto fosse possível
ao voo do que não me fui
em galáxias de imaginação
o  mas do que me distância
em longos por estrelas fundas
mãos pelo éter sem sê-los
luz de ausências em lunares horrores
que terminam em um sempre
e começam em um fim...

aquilo que não
é o que me sim