I - o que é de forma completa explicado
nunca é de forma completa sublime:
quando tudo fica claro nada funciona
desde a arte... desde o beijo...
até o crime
II - a poesia ou é direta ou é segredo:
ou sugere como sangue no lábio
ou aponta na cara o dedo
(e de preferência na minha)
III - poesia não é explicação.
se eu tivesse que a explicar não seria poesia
e nem toda palavra deve ser dita
seja para o bem seja para o mal
e ter que se explicar
é uma merda de um mau sinal
28 fevereiro 2018
26 fevereiro 2018
Falta d'Água
qual água preencherá
o vazio de se não-ser?
mais seco que qualquer leito
(de qualquer rio em qualquer seca
pela terra agoniante)
é o vácuo humano esvaziado em pó
(e varrido de horror
sempre mais adiante)
...mais seco
que qualquer leito...
é a terra árida
do humano peito
todo o esgoto
das águas do mundo
não é páreo
ao seu coração esgotado
como quem cortasse
sua própria artéria
de cima abaixo
e de lado a lado
não há semente que germine
nem das mais reles ervas
nem das mais tênues palmas
na esterilidade esfarelenta
disto que chamam de
“humanas almas”
e, meu Deus, que Sede...
quando é que chove
nisso que é trágica?
vou ver se te (sobre)vivo
com a minha última gota
de lágrima
o vazio de se não-ser?
mais seco que qualquer leito
(de qualquer rio em qualquer seca
pela terra agoniante)
é o vácuo humano esvaziado em pó
(e varrido de horror
sempre mais adiante)
...mais seco
que qualquer leito...
é a terra árida
do humano peito
todo o esgoto
das águas do mundo
não é páreo
ao seu coração esgotado
como quem cortasse
sua própria artéria
de cima abaixo
e de lado a lado
não há semente que germine
nem das mais reles ervas
nem das mais tênues palmas
na esterilidade esfarelenta
disto que chamam de
“humanas almas”
e, meu Deus, que Sede...
quando é que chove
nisso que é trágica?
vou ver se te (sobre)vivo
com a minha última gota
de lágrima
24 fevereiro 2018
Vinho Tinto
o que digo pode
não estar a te atingir no que venho
mas está a te tingir no que vinho
mais tinto indistinto
que tu vês como um gole sublime
mas a poesia
é todo um sangue espalhado
entre um rastro do que resta de mim
e o meu crime
não estar a te atingir no que venho
mas está a te tingir no que vinho
mais tinto indistinto
que tu vês como um gole sublime
mas a poesia
é todo um sangue espalhado
entre um rastro do que resta de mim
e o meu crime
21 fevereiro 2018
Nada a (me) Declarar
para quê ler os jornais cansativos de hoje
se no outro cansativo dia
as cansativas notícias serão outras que são as mesmas
de cansativos dias que já passaram sem nunca passar?
e logo tudo será um cansado passado.
tu, humanidade cansada,
além da arte, não tens nada a me dizer.
as tuas filosofias, estes cadáveres de boca-aberta.
as tuas esperanças, estes finais de piadas.
as tuas políticas, estes começos delas.
têm mais a me dizer as cansadas cadelas.
ah o cansaço da baba dos que falam em tudo
o nada-adiantar das suas teorias babadas babacas cansadas
que a tudo explicam a não-ser o que se precisa saber.
aqui neste planeta cansado e exangue
(tu bem o sabes)
só o que não cansa é o Sangue.
se no outro cansativo dia
as cansativas notícias serão outras que são as mesmas
de cansativos dias que já passaram sem nunca passar?
e logo tudo será um cansado passado.
tu, humanidade cansada,
além da arte, não tens nada a me dizer.
as tuas filosofias, estes cadáveres de boca-aberta.
as tuas esperanças, estes finais de piadas.
as tuas políticas, estes começos delas.
têm mais a me dizer as cansadas cadelas.
ah o cansaço da baba dos que falam em tudo
o nada-adiantar das suas teorias babadas babacas cansadas
que a tudo explicam a não-ser o que se precisa saber.
aqui neste planeta cansado e exangue
(tu bem o sabes)
só o que não cansa é o Sangue.
19 fevereiro 2018
Rico só dá pra Rico*
dinheiro chama dinheiro:
que quem o tem quanto mais
no quanto mais quer retê-lo
(e esse é seu único anelo)
e te percebas que os ricos
sempre se unem a outros ricos
que se protegem em mútuos
pois o que importa é seus lucros
então conclui-se que os ricos
por em tudo estarem juntos
(sendo a menor minoria)
mantêm sua merda em dia
mas o pobre que é mais número?
já lhe ordenaram que é nada
e que pobre nunca pode
eis a regra: pobre se fode
*Poema escrito e publicado em 2015.
que quem o tem quanto mais
no quanto mais quer retê-lo
(e esse é seu único anelo)
e te percebas que os ricos
sempre se unem a outros ricos
que se protegem em mútuos
pois o que importa é seus lucros
então conclui-se que os ricos
por em tudo estarem juntos
(sendo a menor minoria)
mantêm sua merda em dia
mas o pobre que é mais número?
já lhe ordenaram que é nada
e que pobre nunca pode
eis a regra: pobre se fode
*Poema escrito e publicado em 2015.
17 fevereiro 2018
Do Futuro da Humanidade
som de tormenta e vingança
por entre a Marcha que avança
névoa e infortúnio nas tardes
doença de um sol que não arde
céu que se cai e desmancha
som de teu lábio e vingança
lábio de seca esperança
gesto que a mão nunca alcança
lagos de sangue e desgraça
morte que olha e não passa
um olho no abismo se lança
lábio de valsa esperança
valsa e o destino que dança
e choro em tua lembrança
sonho que nunca nos leva
criança afogada na treva
Marcha de morta esperança
valsa e um Demônio que dança
por entre a Marcha que avança
névoa e infortúnio nas tardes
doença de um sol que não arde
céu que se cai e desmancha
som de teu lábio e vingança
lábio de seca esperança
gesto que a mão nunca alcança
lagos de sangue e desgraça
morte que olha e não passa
um olho no abismo se lança
lábio de valsa esperança
valsa e o destino que dança
e choro em tua lembrança
sonho que nunca nos leva
criança afogada na treva
Marcha de morta esperança
valsa e um Demônio que dança
14 fevereiro 2018
Poema Bem Longe
aquilo que não. que não o quê? que não tudo:
desde o distante até o infinito
tudo o que negar e que for noturno
aquilo que é sem que seja aonde for
o longínquo que é o que está aqui dentro
o que nunca em nunca nenhum momento
sonho que sonha o meu irreal
o outro lado do que nem me lembro
mas conheço como sendo
além-me-ar estando aqui
pelo sono de noites que não foram mas vivi
névoa que escondeu meu nada
olho que não tocou minha visão
fuga de tudo quanto fosse possível
ao voo do que não me fui
em galáxias de imaginação
o mas do que me distância
em longos por estrelas fundas
mãos pelo éter sem sê-los
luz de ausências em lunares horrores
que terminam em um sempre
e começam em um fim...
aquilo que não
é o que me sim
desde o distante até o infinito
tudo o que negar e que for noturno
aquilo que é sem que seja aonde for
o longínquo que é o que está aqui dentro
o que nunca em nunca nenhum momento
sonho que sonha o meu irreal
o outro lado do que nem me lembro
mas conheço como sendo
além-me-ar estando aqui
pelo sono de noites que não foram mas vivi
névoa que escondeu meu nada
olho que não tocou minha visão
fuga de tudo quanto fosse possível
ao voo do que não me fui
em galáxias de imaginação
o mas do que me distância
em longos por estrelas fundas
mãos pelo éter sem sê-los
luz de ausências em lunares horrores
que terminam em um sempre
e começam em um fim...
aquilo que não
é o que me sim
12 fevereiro 2018
Sobre os Homens Ocos
“Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada.”
T.S.Eliot
nós somos os homens ocos
(e já nem digo cagados)
em cujas cucas já poucas
há um caldo de água de coco
vazado pelos buracos
que ao menor toque de tocos
se faz em cacos
os nossos crânios
esmagados por tacos
a pauladas da vida mecânica
pelos socos do mundo vácuo
antes fôssemos loucos
mas nos acocoramos diante
do caos como os porcos
que curvam as fuças diante dos céus
não valemos nem para troco
menos do que macacos
mais do que meros tolos
nós somos os homens ocos
chocos botando ovos
na vida de só rebocos
já nos disseram os corvos
que somos os homens mortos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada.”
T.S.Eliot
nós somos os homens ocos
(e já nem digo cagados)
em cujas cucas já poucas
há um caldo de água de coco
vazado pelos buracos
que ao menor toque de tocos
se faz em cacos
os nossos crânios
esmagados por tacos
a pauladas da vida mecânica
pelos socos do mundo vácuo
antes fôssemos loucos
mas nos acocoramos diante
do caos como os porcos
que curvam as fuças diante dos céus
não valemos nem para troco
menos do que macacos
mais do que meros tolos
nós somos os homens ocos
chocos botando ovos
na vida de só rebocos
já nos disseram os corvos
que somos os homens mortos
10 fevereiro 2018
O Rastro do Ser Humano
por onde quer que o ser humano passe
deixa um rastro de destruição e morte
tudo para poder manter sua bunda rica
sobre o banco de couro do seu carrão do ano
matas devastadas campos miseráveis
paisagens desoladas rios apodrecidos
tudo em nome da ostentação do sucesso
por onde quer que o ser humano cruze
deixa um banho de horror e sangue
animais caçados massacrados torturados
queimados atropelados extintos
tribos dizimadas escravizadas perdidas
tudo em nome da enganação do progresso
o rastro do ser humano
é um rastro de fedor e doença
o homem caga em tudo mija em tudo cospe em tudo
a tudo suja a tudo estraga
desconstrói sonhos afunda paraísos
enegrece as águas enfumaça os céus
o rastro do ser humano é de óleo e de injustiça
de agrotóxicos e de lágrimas
tudo para que uns se afoguem em moedas
e outros mergulhem em restos
e o que me resta de eu ser humano
é um rastro de cansaço.
deixa um rastro de destruição e morte
tudo para poder manter sua bunda rica
sobre o banco de couro do seu carrão do ano
matas devastadas campos miseráveis
paisagens desoladas rios apodrecidos
tudo em nome da ostentação do sucesso
por onde quer que o ser humano cruze
deixa um banho de horror e sangue
animais caçados massacrados torturados
queimados atropelados extintos
tribos dizimadas escravizadas perdidas
tudo em nome da enganação do progresso
o rastro do ser humano
é um rastro de fedor e doença
o homem caga em tudo mija em tudo cospe em tudo
a tudo suja a tudo estraga
desconstrói sonhos afunda paraísos
enegrece as águas enfumaça os céus
o rastro do ser humano é de óleo e de injustiça
de agrotóxicos e de lágrimas
tudo para que uns se afoguem em moedas
e outros mergulhem em restos
e o que me resta de eu ser humano
é um rastro de cansaço.
07 fevereiro 2018
Homens do Progresso
como se não houvesse sede
estão lá com sede de progresso
os homens de bem e sucesso
como se evoluíssem
ao matar paraísos e semear infernos
como se fossem eternos
como se fossem espertos
em transformar campos em desertos
e como se não bastasse
dizem que é para matar a fome
como se só de fome morresse um homem
mas é para engordar o lucro
e matam como se fosse em nome
do que fosse justo
como se fosse por esperanças
a mascarar o que é só ganâncias
e posam como se fossem heróis
a enriquecer sempre às custas
do que era vida do que era gente
como quem descarada mente
e fazem como se houvesse tempo
como se não tivesse volta
como se o tempo não cobrasse o preço
como se já não fosse tarde
fazem como se não fossem covardes
como se tudo fosse só assim
como se não houvesse aquele rosto diabo
a nos olhar como se fosse o Fim
estão lá com sede de progresso
os homens de bem e sucesso
como se evoluíssem
ao matar paraísos e semear infernos
como se fossem eternos
como se fossem espertos
em transformar campos em desertos
e como se não bastasse
dizem que é para matar a fome
como se só de fome morresse um homem
mas é para engordar o lucro
e matam como se fosse em nome
do que fosse justo
como se fosse por esperanças
a mascarar o que é só ganâncias
e posam como se fossem heróis
a enriquecer sempre às custas
do que era vida do que era gente
como quem descarada mente
e fazem como se houvesse tempo
como se não tivesse volta
como se o tempo não cobrasse o preço
como se já não fosse tarde
fazem como se não fossem covardes
como se tudo fosse só assim
como se não houvesse aquele rosto diabo
a nos olhar como se fosse o Fim
05 fevereiro 2018
Lições da Poeira
vê como tudo se perde
por entre os dedos
do que não vemos
vê como tudo se verte
por entre a vida
que nem é vista
e a água que corre
(só nos resta o porre)
nem percebemos
que já é areia...
lições da poeira
quando vê-se que é
o que nem é já se foi
estamos sempre
um passo atrás
daquilo que nos passa
só somos
(somos sós)
quando nem será mais
e deixamos que morram
antes que o corpo
as nossas almas
até então imortais
mas eram só de areia...
lições da poeira
e o que sobra
é o papel do que fomos
superfície maquiada e derradeira
o pó da face plastificada
e ficam ali as pessoas
num mundo já à beira
sendo um móvel de belo verniz
a se escorrer do nariz
perfilado da máscara
o que os cupins deixaram em lasca
aquelas pessoas ainda vivas
mas só do que não foram
restos vazios de casca
baldes cheios de poeira
e castelos de areia...
por entre os dedos
do que não vemos
vê como tudo se verte
por entre a vida
que nem é vista
e a água que corre
(só nos resta o porre)
nem percebemos
que já é areia...
lições da poeira
quando vê-se que é
o que nem é já se foi
estamos sempre
um passo atrás
daquilo que nos passa
só somos
(somos sós)
quando nem será mais
e deixamos que morram
antes que o corpo
as nossas almas
até então imortais
mas eram só de areia...
lições da poeira
e o que sobra
é o papel do que fomos
superfície maquiada e derradeira
o pó da face plastificada
e ficam ali as pessoas
num mundo já à beira
sendo um móvel de belo verniz
a se escorrer do nariz
perfilado da máscara
o que os cupins deixaram em lasca
aquelas pessoas ainda vivas
mas só do que não foram
restos vazios de casca
baldes cheios de poeira
e castelos de areia...
03 fevereiro 2018
Lições das Trevas
I – do Gato
tu gato noturno
atento ao vazio da treva
vês ainda mais vezes
que vazio sou eu
que não estou
no que te leva
tu sabes, gato
que toda a ciência
não vale o sentido
do teu olfato
II – da Coruja
e o teu canto
coruja hermética
de olhos autônomos
equivale a uma europa
de filósofos
e de autômatos
e, por fim
há mais sabedoria no teu pio
do que em todo
o povo do Brasil
III – da Estrela
tu que não nos sabes
nunca te fracassas:
sendo estrela és distante
e sendo distante és verdade
triunfas ao iluminares nuncas
e dar as costas
à humanidade
tu gato noturno
atento ao vazio da treva
vês ainda mais vezes
que vazio sou eu
que não estou
no que te leva
tu sabes, gato
que toda a ciência
não vale o sentido
do teu olfato
II – da Coruja
e o teu canto
coruja hermética
de olhos autônomos
equivale a uma europa
de filósofos
e de autômatos
e, por fim
há mais sabedoria no teu pio
do que em todo
o povo do Brasil
III – da Estrela
tu que não nos sabes
nunca te fracassas:
sendo estrela és distante
e sendo distante és verdade
triunfas ao iluminares nuncas
e dar as costas
à humanidade
01 fevereiro 2018
A História Fodida da Arte
Beethoven surdo e bêbado deixando seu testamento de quase suicídio
Dante pondo fim à Idade Média graças à sua amada defunta
Chopin tossindo sangue sobre o piano
Van Gogh arrancando uma orelha antes de levar uns tiros no peito
Rimbaud morrendo na África em meio a armas e guerras
Brahms e Fernando Pessoa destruindo seus fígados
Goya quase cego quase surdo quase vivo
Dostoiévski quase sendo fuzilado na Sibéria
Tchaikovski bebendo de propósito água com cólera
Lorca sendo assassinado pelo governo espanhol
Schumann alucinado morrendo num hospício
Borges sempre no escuro
Baudelaire acabando-se por amar prostitutas
Mozart ainda jovem enterrado como indigente
Poe encontrado semimorto em delírio alcoólico
Shostakovich com os nervos aniquilados
Kafka sangrando tuberculose
Munch bêbado alucinado e paralisado
Jane Austen possivelmente envenenada com arsênico
Schubert compondo suas últimas obras com 31 anos
Bukowski esvaído em sangue e em álcool
(...)
ah esses caras, com tanta presença da morte
nos deram tanto sentido pra vida...
Dante pondo fim à Idade Média graças à sua amada defunta
Chopin tossindo sangue sobre o piano
Van Gogh arrancando uma orelha antes de levar uns tiros no peito
Rimbaud morrendo na África em meio a armas e guerras
Brahms e Fernando Pessoa destruindo seus fígados
Goya quase cego quase surdo quase vivo
Dostoiévski quase sendo fuzilado na Sibéria
Tchaikovski bebendo de propósito água com cólera
Lorca sendo assassinado pelo governo espanhol
Schumann alucinado morrendo num hospício
Borges sempre no escuro
Baudelaire acabando-se por amar prostitutas
Mozart ainda jovem enterrado como indigente
Poe encontrado semimorto em delírio alcoólico
Shostakovich com os nervos aniquilados
Kafka sangrando tuberculose
Munch bêbado alucinado e paralisado
Jane Austen possivelmente envenenada com arsênico
Schubert compondo suas últimas obras com 31 anos
Bukowski esvaído em sangue e em álcool
(...)
ah esses caras, com tanta presença da morte
nos deram tanto sentido pra vida...