08 julho 2014

da Felicidade *

quem busca a felicidade
não a encontra
(se ofusca)
e muito menos
quem a encontra na busca

que a felicidade não se busca
pois não pode ser buscado
o que não está
em um ponto
a ser alcançado

qual é o ponto almejado?
quem é que o alcança?
se quando alcança
logo vê outro ponto
mais adiante
e naquele ponto (não) visto
e não chegado
vê-se a felicidade imaginada:
só miragem
delirante

quem feliz
(futilmente)
 se julga
apenas um largo gole
de vinho traga:
segura uma chama de vela
que queima
e que a primeira ventania
(fatalmente)
 apaga

a felicidade
é como para o colecionador
o ato de encontrar
um selo raro:
só dura o momento do ato

só pode ser feliz
quem sabe que não pode sê-lo
de fato

*Poema reelaborado e republicado

05 julho 2014

Meus palpites para a Copa: Brasil não passa pela Alemanha, e não é pela ausência do Neymerda

Até agora, acertei todos os meu palpites para os vencedores dos jogos das quartas, que publiquei no meu perfil do Facebook, momentos antes do jogo da Alemanha. Eu já havia acertado todos os palpites das oitavas. Estou com 100% de aproveitamento. Continuando assim, vou acabar ocupando o lugar do polvo Paul que em 2010 acertou todos os resultados da Alemanha na Copa da África do Sul, e também a final, a vitória dos espanhóis. 

No último jogo das quartas, Holanda x Costa Rica, passa Holanda. Depois vêm as semifinais, que serão bem mais imprevisíveis. Mas deixo meu palpite: Argentina x Holanda: Argentina. Brasil x Alemanha: Alemanha. É, na minha opinião, o Brasil não passa pela Alemanha, é não é porque está sem o Neymar.

Pelo contrário, eu até queria que o Neymar continuasse jogando, seria ainda mais fácil para os alemães, e eu continuaria provando minha tese: no início da Copa disse que o Neymar só joga bem mesmo contra times pequenos. E os fatos têm provado o que afirmei. Em qual jogo Neymar jogou bem mesmo nesta Copa? Só contra Camarões, a seleção mais fraca do grupo. Contra a Croácia, jogou meia-boca e contra times mais qualificados, México, Chile, Colômbia, o que o Neymar fez mesmo? Nada, simplesmente nada. Foi um Neymerda. Só não conseguiu ser pior que o poste do Fred, que, aliás, é pior que um poste, porque num poste a bola pode bater e entrar para o gol.

Neymar é muito mais mídia do que craque. Mais papo do que bola. Mais queda do que drible. Não jogou nada na Copa. Veio com toda a bola e voltou de bola murcha. Não porque se machucou, mas porque ele não jogou o que havia prometido. Ou prometeram por ele. O Brasil ganhou da Colômbia pela brilhante atuação da sua zaga, pelo golaço do David Luís, porque o ataque foi de uma nulidade quase que completa. 

Agora, contra a Alemanha, ainda que tivesse Neymar, não passa. Acho até mais difícil SEM o Neymar, porque o time vai jogar mais sério. Mas mesmo assim não passa. O Brasil ainda não pegou uma grande seleção nesta Copa. E quase parou nas seleções médias. Não pegou um time com marcação e ataque eficiente, como é a Alemanha. Porque a Alemanha ataca com força e se defende bem. Não vai dar um show de bola, mas vai passar pelo Brasil, é o meu palpite.

E na FINAL, então, para mim, é Alemanha x Argentina. Quem ganha? Não saberia ir para um lado, mas, tenho que escolher. Então, no chute, Argentina. Tricampeã.

(Na imagem, o polvo Paul prevendo o campeão da Copa de 2010, a Espanha.)

02 julho 2014

Três Antipatias

I

ser poeta
é ser líder e único membro
de sua própria gangue
e preparar-se
para um banho
(entre palavras)
de sangue

II

um poema
além de segredos
é dar nos dedos
e tirar sarro:
é como soltar na cara
de quem não fuma
uma baforada de cigarro

III

o mais corajoso dos soldados
é o que deserda
o mais corajoso dos homens
é o que manda
a tudo e a todos
à merda

29 junho 2014

Diversão e Inteligência

o problema da ironia
é que ela se ri dos imbecis
e os imbecis
por serem imbecis
não entendem ironias

pois uma boa ironia
é o deboche inteligente
(quase sempre)
sobre alguém
que não tem inteligência
para entender o deboche

de forma que a ironia
se torna uma brincadeira ácida
entre sagazes:
a ironia é a diversão
da inteligência

27 junho 2014

A Hipócrita e Midiática Punição de Suárez

O "caso Suárez" na Copa do Mundo não foi uma punição de uma agressão, foi o atendimento estúpido de uma demanda artificial da mídia que, por achar o caso inusitado e ver nele uma forma de "ganhar ibope" deu atenção demasiada a uma agressão sem maiores consequências para a vítima, enquanto vemos em jogos, todos os dias, agressões bem mais sérias, com potencial ofensivo e risco para o agredido muito maior. E que, muitas vezes, não resultam nem em cartões para os agressores. Muito menos em uma punição absurda de 9 jogos, privando uma seleção de seu melhor jogador em uma Copa do Mundo. 

Sim, porque quais as consequências da mordida do Suárez em Chiellini? Uma dor momentânea, passageira e uma marquinha de dentes no ombro. Talvez, sangrasse um pouquinho. Só. Nada mais além disso poderia acontecer. Agora, a cotovelada de Neymar em um jogador da Croácia, por exemplo, poderia ter quebrado os dentes, até mesmo o nariz, da vítima. Poderia lhe lesionar um olho. Mas nem falta foi marcada, e ninguém viu nem se mostrou nada. Porque isso acontece todos os dias.  Não foi algo "diferente", como a mordida de Suárez, que foi tomada como mais um showzinho para a hipócrita "Sociedade do Espetáculo se "impressionar" com a "violência" de Suárez. 

O trecho abaixo, retiro da coluna de Hiltor Mombach, no jornal Correio do Povo:

"... o lance envolvendo Marchisio e Arévalo Rios, aos 14 minutos finais. O italiano levanta a perna, enfia o pé na canela de Arévalo e, não satisfeito, pressiona com a clara intenção de machucar o rival. Machucou, apenas, quando poderia ter quebrado a perna. Pela solada que poderia ter aleijado Arévalo, Marchisio levou o vermelho. Ficou nisto. "

Injustiças como a cometida pela FIFA, no fundo, nem são culpa da entidade. É culpa de uma sociedade que elevou a hipocrisia e a aparência a patamares absurdos, onde o diferente é punido pelo simples fato de ser diferente dos "padrões estabelecidos". A agressão de Suárez foi uma agressão? Claro. Foi violenta? Não, foi diferente, inusitada. O jogador foi punido por isso. E ponto final.

Porém, creio que agora a garra e a força uruguaias, com esse episódio, serão triplicadas para compensar a ausência de Suárez, e, de uma certa forma, vingar a injustiça. É para o Uruguai que torço. Inclusive, se jogar contra o Brasil. 

26 junho 2014

Adeus, Poesia

I

adeus, Poesia

não vês
que o fim te bate a porta?
só os raros ainda vivos
não pensam
que tu estás morta

II

Poesia
não serves para nada
sempre foste muito
para ser (f)útil

sábia demais
para os sermões

e alta
entre os anões

III

da tua última carta
mais ninguém
abrirá o selo.
melhor assim...
o que verdade
(agora)
antes morrer
do que dizê-lo

IV

adeus, Poesia
abandonas o mundo
para ir com a alma
que abandona os homens

e isto ficará escrito
em sangue 
e espírito

22 junho 2014

Sobre Copas

qualquer um que queira
melhorar a humanidade
perderá uma Copa
todos os dias

não adianta
as pessoas não mudam
a não ser de capa

o melhor
é ir para a copa do bar
encher o copo
e a cara

20 junho 2014

dos Homens que Temem a Morte

I

há homens
que temem a morte
porque não se conhecem:
quem não se conhece
não sabe o que faz
quem não sabe o que faz
não sabe o que segue
após o que se fez

II

há homens
que temem a morte
porque se conhecem

III

há homens
que temem a morte
porque não conhecem

IV

há homens
que temem a morte
porque não conhecem
que já estão mortos

V

há homens
que temem a morte
porque só conhecem da vida
aquilo que morre

VI

só não temem a morte
os que conhecem
o que vivem

(Na imagem, "Death on a Pale Horse", de William Blake)


18 junho 2014

Não Jogar Pérolas aos Porcos

ontem
tentou elevar a humanidade
propondo o amor
como o maior desafio...
hoje
imenso
foi à puta que pariu

ontem
tentou ampliar horizontes
trazendo às pessoas
uma reflexão profunda...
hoje
grandioso
tomou na bunda

ontem
tentou derrubar limites
dissolvendo egoísmo
entre o meu e o seu...
hoje
monumental
se fodeu

(Na imagem, detalhe de "O Jardim das Delícias Terrenas" de Hieronymus Bosch)


17 junho 2014

Alemanha, Tetra?

Assistindo ao jogo entre Itália e Inglaterra, sábado, ocorreu-me calcular os anos que os maiores campeões de Copas do Mundo levaram para conquistar seus títulos. Uma curiosidade interessante que constatei, a qual publiquei em meu perfil do Facebook domingo, é esta: O Brasil foi tricampeão do mundo em 1970 e tetra em 1994, 24 anos depois. A Itália foi tricampeã em 1982 e tetra em 2006, 24 anos depois. A Alemanha foi tricampeã em 1990. Fica a pergunta: a coincidência da "transição" dos tris para os tetras prosseguirá, e a Alemanha será tetra em 2014, 24 anos depois? A julgar pelo seu jogo de estreia, com a goleada que humilhou Portugal, é bem possível. Aliás, é o meu palpite. Alemanha tetra.

15 junho 2014

Entre Horrores e Alguns Risos

os homens
acreditam que fazem...
mas nada fazem:
têm a ilusão de que o que é feito
é feito por eles
quando em verdade o que é feito
é feito pelas circunstâncias

o homem não age
é vítima

o que o homem faz
é se arrastar pelo que acontece
desviando-se aqui e ali
com uma hipocrisia
e uma desonestidade
como um verme se desvia na lama
entre horrores e alguns risos
entre infâmias e alegrias
medos erros e cagadas
(seus autênticos feitos)
segue o homem pelo engano
de que o seu nada
é um nada feito

é só um nada acontecido
que estaria onde está
de qualquer jeito:
coisas erguidas tortas
por uma humanidade torta
com objetivos torpes:
explorar seus humanos toscos
para (dizendo) fazer um mundo melhor
que acaba sempre mais torto

o homem pensa
que faz o seu feito
mas o faz
como quem larga um peido:
involuntário e (uma hora) inevitável
que acaba sendo só vento
levado pelo tempo

13 junho 2014

O Corte de Pinus na BR 287 e a Genialidade de alguns em Santiago



Em Santiago há muitos gênios incompreendidos. Alguns deles são aqueles que defendem o corte de pinus em trechos entre Santiago e Jaguari nas margens da BR 287. Estão cobertos de razão. Os pinus são plantas mortíferas e traiçoeiras, que se antepõem entre os motoristas e seus naturais desvios de percurso. Além de serem plantas absolutamente feias. Observem, por exemplo, acima, as imagens horríveis e deprimentes onde, em rodovias da atrasada Europa, os pinheiros ameaçadores ficam quase que dentro da estrada. Um absurdo! E percebam ainda que, na Europa, continente onde a educação é desprezada, nem há acostamento naquelas rodovias. O que farão os motoristas quando vier um caminhoneiro enlouquecido invadindo a pista contrária? Ou dirão agora, talvez, que na Europa não existem caminhoneiros enlouquecidos?

Definitivamente, nossos gênios estão certos, os pinus devem ser extirpados. Ou vão querer proibir os homens de bem e progressistas, cultos e conscienciosos, de dirigirem seus carros, de último tipo e potentíssimos, a 160, 170 km/h? E na eventualidade de algum acidente com esses motoristas absolutamente inocentes, para que acidente mais humilhante do que bater o carro em um pinheiro, naquelas plantas exóticas e com clima de cemitério? Melhor é espatifar o carro em uma parede de terra,  direto na vívida terra brasileira, ou, melhor ainda, capotar algumas vezes em uma planície aberta. Ou descer barranco abaixo, afundando em um perau. É mais belo e mais emocionante.

Além do mais, árvores estão fora de moda. Ou melhor, a moda são as árvores cortadas, seus tocos à vista, parecendo banquinhos em praças bucólicas. Ou seja, os gênios santiaguenses, além da segurança, também estão preocupados com a beleza, com a estética de nossas rodovias. Por isso que eu os parabenizo e os louvo, e estou certo de que farão bom uso dos troncos dos pinus cortados, enfiando-os naquele lugar propício. 


12 junho 2014

da Decadência II – O Sem Sentido

no mundo atual
não há espaço
para o mundo interior:
o lírico foi asfixiado
entre as vitrines da aparência

por isso
não mais falo
do que sinto:
a qual alguém pode interessar
o que um outro sente
se o alguém nem sente
por si mesmo
e nem quer saber do outro?

só há sentido
no sentimento expresso
quando o outro
o reflete e o encontra
expresso no seu ser

mas ninguém
nem se encontra no seu ser
nem reflete por si mesmo
nem se expressa o que não sente
e por Fim
nem sentido há algum

09 junho 2014

Opinião Unânime*

desconfio
de toda opinião unânime
ou quase unânime:
pusilânime
desconfio
de tudo que é tido
como já tido
como aceito
do tipo
“isso é o certo
o correto
e não tem jeito.”

desconfio
de tudo que é dado
para se ficar
do lado
do que é dado
como fato
e ato
do que é bom
e sensato

porque isso
me cheira
a enfático
a acrítico
midiático
patriótico
idiótico
mecânico
robótico

porque isso
me cheira
a coisas
empurradas
pela goela
com cobertura
de chocolate

ou enfiadas
mais adiante
(lá embaixo)
bem untadas
com azeite
e lubrificante

*Poema reelaborado e republicado

06 junho 2014

Bêbado

I

ser poeta
é estar enchendo a cara
no final da reta
ter chegado antes
e contemplar já bêbado
a chegada cágada
aos trancos e aos rastejos
do que resta
dos humanos sãos
com seus saudáveis desejos

II

o verso é o outro caminho
do paralelo ao fracasso
onde sopra uma vida de vento
e uma alma de aço

III

ser poeta é um ato infame e vil:
é saber
olhando nos olhos
de cada um
o quanto há de humano
e o quanto há de imbecil

04 junho 2014

da Decadência

o que há de mais vazio
do que o discurso de uma autoridade?
o que é perdoável,
sendo o representante
legal oficial
o preparado autorizado
a ser o nada absoluto
que ele interpreta ao absurdo

o que há de mais vazio
do que o decurso desta atualidade?
o que é perdoável,
sendo a época-reflexo
de um espelho
que reflete os vácuos de si-mesmos
um caminho sem-sentido e sem-estrada
entre abismos e desalmas

o que há de mais vazio
do que o percurso desta humanidade?


02 junho 2014

Governo combate cigarro, mas nada faz contra pragas ainda piores: funk e sertanejo universitário

Que o governo tenha eleito o cigarro como bode expiatório e culpado por todos os males da saúde pública é compreensível em um país que, por exemplo, é campeão, há muito tempo, no uso de agrotóxicos e nada faz para acabar com esta situação vergonhosa. 

Agora, o que não entendo, é como se permite que pragas degradantes como funk e sertanejo universitário, ambas, degenerações dos gêneros originais, sejam proliferadas indiscriminadamente em nosso país, infectando psiques e causando a liquefação de milhões de cérebros de vítimas com predisposição à imbecibilidade, na maioria das vezes de indivíduos jovens.

Por isso, já que virou moda se fazer todo tipo de campanha, deveriam criar a campanha "CUIDE BEM DO SEU CÉREBRO!" e o Dia Nacional de Combate ao Funk e ao Sertanejo Universitário. 

Para tal feito revolucionário, deveria ser criado o Ministério da Inteligência e da Sensibilidade. O problema é que para esse ministério não se poderia colocar nossos conhecidos políticos, devido ao fato de que o cargo exige, como sugere o próprio nome, inteligência e sensibilidade. 

Uma sugestão para a campanha seria: "O Ministério da Inteligência e da Sensibilidade adverte: ouvir funk e sertanejo universitário imbeciliza sua psique, degenera suas células cerebrais, deteriora sua capacidade de raciocinar e atrofia suas funções emocionais, podendo causar morte interior precoce." Ou ainda: "Não há níveis seguros para a audição desses coliformes fecais dissimulados em sons".

O mais difícil do problema é convencer as vítimas de que estão ouvindo merda, uma vez que tais degradações sonoras realizam uma insidiosa lavagem cerebral e causam fobia à boa música. 


30 maio 2014

Testamento

escrever uma palavra
antes que a palavra acabe:
nem ao menos um poema
que um poema nem mais há de ...
mas viver uma palavra
que ao menos não nem nada
pois nem mesmo vai ser lida
e se for: mal compreendida
mas sofrer uma palavra
que já era no que foste
e antes que o dizer se morra
e antes que o amor se passe
(como se ele já não fosse)
construir uma palavra
antes que o humano acabe
(como se ele ainda fosse)...

enfim
te deixar uma palavra
entre caos horror e calma
antes que se dane a vida
e antes que se foda a alma...

28 maio 2014

Homem Fraco - Caderno Pragmatha

Poema publicado na edição 57 do Caderno Literário Pragmatha, de Porto Alegre. Para ler, clique na imagem.

25 maio 2014

Final de Sinfonia (e de Humanidade)*

tudo ao mesmo tempo agora
tudo o que já foi
sendo outra vez como não foi
sendo em tons mais abaixo
entrecruzando-se em escalas mais graves
mais graves
mais baixas
a humanidade agora
é todas as humanidades
ao mesmo tempo
e ao mesmo tempo
não é humanidade alguma
é todos os ideais e todas as ideias
e sendo todas não é nenhuma
vê como tudo que foi feito
tende a ser feito outra vez agora
mas não em um após o outro
mas em um sobre o outro
conversões e convivências
feito de forma que se desfaz
para acabar finalmente não sendo

há de tudo hoje pelo humano mundo
mas esse tudo torna-se um nada
que não leva a mundo humano algum

a humanidade é agora todos os seus temas
que foram a sua história
todos os temas
ao mesmo tempo agora
toda a orquestra
tudo o que já foi tocado
tudo foi tocado e nada resta
como o final de uma sinfonia
o final de uma sinfonia
em termos artísticos e humanos
vazia

*Poema reelaborado e republicado.